Sinto-me extremamente culpado. Prosas curtas não mais me proporcionam o prazer de outrora. "Postar" transformara-se na obrigação. "Blogar", na ditadura. Gostaria de me sentar diante do teclado para tecer um romance de um mil quinhentas e cinqüenta e sete páginas. Não sei quantos de vocês, leitores, já passaram por isso ou ainda irão passar; é como se meu Co-Orientador, me dissesse, novamente: chega de trabalho de gabinete, Márcio (em outras palavras, coleta de dados/leitura), comece o esboço da dissertação. E dissertação é sempre melhor que monografia. Se nesta, eu fazia um apanhado dos quatro anos da graduação; naquela eu exercitava o Método, ao menos essa foi a idéia que o X. me passou. Idéia que pode ser contestada (que seja!).
E antes que eu comece a discorrer sobre o outro assunto, comunico-lhes, queridas leitoras, amados leitores e DiCla fofinho do coração (ainda vou acabar levando uma balaço na testa por causa dessas efeminadas demonstrações de carinho) que a partir de hoje atualizarei, não mais diariamente, esse nosso pessoal diário íntimo. Com sol, ou com chuva; com velório, ou batizado, aos sábados estarei aqui, publicando uma prosa. NÃO! Esqueçam tudo! Desconsideram meu desatino. Blogar, minha segunda pele, tornou-me minha epiderme. Não tenho outro motivo para me levantar da cama de manhã se não for para escrever no meu íntimo diário pessoal. Eu preciso gritar no meio da multidão: IVETE! IVETE! Encher de calabresa o pão de forma que jaz sobre o tampo de mármore rosado da mesa de pé quebrado.
A CL dissera: pura repetição ou obsessão. Como se tais comportamentos não fizessem parte do seu temperamento. E o Albalat chamara-nos a atenção no sonho da madrugada passada. A Profª. M.ª Teresa Cristina também estava lá. Ele, aberto em cima da escrivaninha do escritório; ela, me ouvindo atentamente explicações sobre mimados posts datados. Após minha explanação, ela abriu a bolsa e me deu uma nota de mil dólares enrolada num cheque de duzentos reais. "Cuidado com o cheque. Não o desconta na boca do caixa." Eu já pensando no Finnegans Wake e ela me vem com essa preocupação em não deixar lastro. Dinheiro sujo lavando minha alma, saciando meu desejo oculto. Eu sei, professora! Estou acostumado a emitir notas frias.
Na livraria, na ponta dos pés, tentava pegar a tradução do prof. Schüler, localizada na prateleira que tocava o céu estreito. Cricri, impiedosa doutora em Crítica, me mostrava um revista que eu não reconhecia. "Foi você que escreveu esse texto, Márcio? "Drão, o amor da gente é como um grão"...
Acordei ao som da melodia; as crianças correndo em volta do divã. A sala infestada de gente ruidosa. Saudade. Ciúme. Parentes de cabelões lisos beijando minha bochecha barbuda. "--Calma, aí, gente, calma! Deixa-me ir ao banheiro, pelo menos (enxaguar a boca)." Gritaria geral, sufocando meus berros nervosos. Vamos, todos no banheiro, então! A dona da infeliz idéia, minha prima, muitas vezes me cobrara um post em sua homenagem. (Só escrevo porque seus esmeraldos olhos fechados me seduzem.)
E agora não me sinto mais culpado, a prosa parece um salsichão de couve, que poderia muito bem ser usado para bater NA CARA da Tatá. Isso mesmo! Interromper meu sono vespertino na terça-feira disfarçada de domingo para me dizer: sonhei com você. Foi crueldade premeditada. Minha vontade naquela hora, Tatá, era de estrangular teu pescocinho desnudo. Diga lá, meu amor, que sonho foi esse (eu puto espumando):"--Sonhei que você havia ido para S. Petersburgo aprender russo." Eu abri o maior sorrisão. Quem não abriria? "--Oh, meu Deus! Você sentiu medinho, sentiu? Se eu fosse para longe, muito longe para além de lá, todos os dias você receberia, uma e-carta minha. Longa, carinhosa, repleta de pormenores, embriagada de saudade .
Quem sabe até lhe daria o endereço do meu brogui (ela desconhece tua existência, DiCla) para você me deixar um comentário. Não! Melhor não. Talvez você não saiba distinguir a ficção da realidade. Se você passar na FAC, te prometo de presente o original do romance de mil quinhentas e cinqüenta e sete páginas. Pronto, de promessa, te fiz dívida. Um livrinho vai ter que sair, nem que eu peça ajuda aos ghost-writers do Congresso Nacional. O compromisso agora é com a nanoaudiência.
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