4 de abr. de 2011
Banho de gato
O tempo me devora. O rascunho permanecerá. Cada erro, o editor se encarregou de corrigir, suprimir, revisar. A solidão desliza pela face. O coração agradece. Gabi pede um afago. Olho e ignoro. Seu pai está escrevendo. A tese da minha vida. Ao estudar a propaganda, na qual o apartamento cuja a janela de onde se pode contemplar a skyline de Nova Iorque, confrontou-se com os fatos. Como consegui fazer isso da minha vida? Até o ajudante do piscineiro tem mais dentes na boca do que minha pessoa. Paro e leio o que poderia ser um primeiro parágrafo. Respiro fundo e continuo. Acho que ao relê-lo daqui há alguns anos não conseguirei identificar o autor. Digito catando as letras pelo teclado com medo de errar na escolha precisa das palavras. A doença do perfeccionismo alimentado pela descrença em si próprio. Gabi se levanta, foi dormir no sofá da sala, suponho. Nem ela suporta esse cheiro de tristeza que exala forte quando tomo uma decisão cujo o cumprimento ou não dependerá de quanto durar o desconforto no peito. Algo por dentro de mim se aperta, se torce e retorce, como se ainda houvesse vida dentro de mim. Ao contrário do último araticum, queimado por fora, mas com seiva por dentro; a seca se instalou aqui dentro em algum lugar e queima silenciosamente sem fazer fumaça. Preciso continuar, mesmo com as gotas de suor a escorrer pelo rosto, caindo pelo teclado. Nem quando me masturbo transpiro tanto assim. A pretensiosa idéia de começar finalmente a transformar minha história de vida em literatura me assusta, mais do que me tira o sono. Na cama deitado, vou ficar pensando na estrutura do enredo. Como vou reorganizar temporalmente os fato na narrativa? A infância vai ser contada no início ou em forma de reminiscência? Preciso me apoderar das técnicas literárias dadas. Analisá-las com o mínino de inteligência que os candidados ao Nobel costuma apresentar. Já eu que nunca ganhei nada (Ele respiraria fundo ao conseguir se livrar do cacófato, Jacquie (leia-se: jaqui), ao inserir o pronome eu entre a locução adverbial de... justificativa?? perderia o ritmo da frase, a sequencia da idéia e o leitor hipotético que iria interromper a leitura sem saber que o protagonista da peça chorou ao visualizar mentamente toda frase. A lembraça do pai ainda o abala emocionalmente. As lágrimas o atrapalham a visão, mais do que a tempestade o atrapalhara a ouvir a festa rave na rua de cima de onde ainda deve morar e se perderia para sempre a continuação da frase responsável por toda essa digressão. Subterfúgios, máscaras que lhe a ajudavam a respirar quando receio ser pedante lhe imobilizava os dedos. Reler o parágrafo não me fizera bem. A solução do cacófato mudara o sentido da frase anterior a ele. Está ficando maçante! ... nem mesmo um abraço do meu pai, pelo menos me permito sonhar com o improvável, com fatos além de mim ou... Espera! Funcinou. Estou satisfeito. Vou dormir. Acho que daqui há alguns ao encontrar esse texto perdido entre os milhares de documentos salvos de tão mal arquivados, conseguirei me reconhecer nele. E vou me orgulhar mais do que do brilho das orações bem concatenadas. Posso ouvir a gargalhada por saber que o ridículo da vida não se limita ao Tempo, somente ao Espaço. Esse toshiba não está nos ajudando.
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