17 de dez. de 2004

Amor, co'a esperança já perdida,
Teu soberano templo visitei;
Por sinal do naufrágio que passei,
Em lugar dos vestidos, pus a vida.

Que queres mais de mim, que destruída
Me tens a glória toda que alcancei?
Não cuides de forçar-me, que não sei
Tornar a entrar onde não há saída.

Vês aqui alma, vida e esperança,
Despojos doces de meu bem passado,
Enquanto o quis aquela que eu adoro:

Nelas podes tomar de mim vingança;
E, se inda não estás de mim vingado,
Contenta-te co'as lágrimas que choro.


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