Tenho me esforçado para postar apenas uma vez por semana, de preferência às segundas-feiras, contudo, por mais que eu tente me manter afastado da web, algo me suga ao ciberespaço, ao mesmo que alguém me empurra para fora dele. Algo e alguém se desentendem e minha vontade de estrangulá-los se dissipa, quando descubro que as Circunstâncias estão se encarregando de cumprir meu desejo.
Tem sido extremamente difícil conviver entre desesperançosos. Ambiente tão rico quanto o Saara. Pára de reclamar. Encare a situação com estágio probatório a um cargo qualquer no Senado, ou na Câmara, ou quem sabe naquele Tribunal onde elevadores exalam à nenúfares azuis . Tenho aprendido a engolhir sapos. Minha imaginação os transforma em rãs e nós sabemos do ossinho da coxa levemente apimentada estralando na boca. Apenas suponho.
Olho para cima como se estivesse visto uma lagatixa. E quando você não puder olhar para cima, Márcio, alguém, que não seja sua terapeuta, vai te estender o lenço? Não. Minhas lágrimas retóricas se comportarão exatamente conforme o texto, uma embaixadora vai entrar na loja, estimular meu poder de persuasão, me levar o sorrir:
-- Você tem rezado, Márcio?
-- Tenho.
-- E já aconteceu um milagre na sua vida?
-- Ainda não.
-- Então está rezando pouco.
-- Espera ai... me aconteceu uma milagre ontem à tarde.
E as lágrimas vieram doce o suficiente para ela espontaneamente me abraçar entusiamada. O almoxarife tatuado, testemunha privilegiada da cena, discretamente movimentou os lábios: "Deu ontem, né, seu puto? Foi rola, não foi?"
Atento-me ao fato que nem poderia estar registrando essa história. Através do link do Dicla no Orkut, alguns amigos podem me descobrir na via dupla. Temos que remover aquele link de lá, depois. Depois, mesmo. Conta logo o ocorrido no fila do Pão de Açúcar. Vangloria-se. Promova-se. Sei que é bem isso que deseja. Diga logo que o pangaré foi safo, que mandou bem, que faturou uma estirpe jurídica.
A latinha de coca-cola quente, a fila parada, a revista Veja, meu comentário sobre a capa ao senhor de gravata, a contribuição ao meu argumento, a troca de olhares no estacionamento, a hesitação, a discreta patolada acompanhada de um sorriso, que de tão tímida tornou-se elegante. Aproximei-me, estendi a mão, apresentei-me, recusei a carona, mas não a conversa.
-- Sou uma pessoa contundente. Bato de frente com o poder. Odeio Brasília. Só consigo permanecer aqui por temporadas.
-- Ela é cosmopoLIta...
--Éeh...
-- ... por causa do corpo diplomático, dos políticos... e provinciana ao mesmo tempo.
-- Exato! O provincianismo mata essa cidade.
Um traço da personalidade me convenceu a fazer o que, onde e como ele queria. Advogado experiente me induziu a falar sobre mim, sem receios, preocupações, abertamente. Descobrimos que somos vizinhos (apenas um kilômetro nos separava), que sua esposa conhece meus padrinhos e que não a nada mais gostoso do que comer torta gelada de chocolate com castanha-do-Brasil na Di Lorenza observando o chuvisco apressar o passo da moça que havia descido com seu labrador.
Parece fugaz isso, e não é.
ResponderExcluirQuem dera um momento aparentemente fugaz assim na minha vida.
Ando cheia de vazios.
Tomara que tu, não ;-)
BEIJÃO
Está bacana este lugar. Você tem uma imaginação fertilíssima, daquelas que fecundam a quilômetros de distância. Anos-luz, talvez. Falta aquela lapidada no texto, mas há tempo. Há tempos...
ResponderExcluirbom o texto. a necessidade de escrever é grande. e a internet possibilita a leitura e a resposta e é isso o que muitas vezes nos movia a continuar escrevendo mais e mais.
ResponderExcluirTem coisa mais gostosa sim, do que torta gelada de chocolate com castanha-do-Brasil na Di Lorenza. Quer que eu conte? ;)
ResponderExcluirCada dia melhor, você.
ResponderExcluirNunca gostei de ser bloqueado, MeSNo. Bom dia das crianças. Hoje comprei flores e lembrei de você.
ResponderExcluirQuerida Dayse,
ResponderExcluirNão foi descartável porque não foi. E nem tem sido. Acredita que chorei copiosamente? Sou um imbecil sem concerto. Mas estou bem. (risos) Beijos
Querido Palhaço Bocudo,
Vou tentar ser mais cuidadoso com meus rascunhos e obrigado pelos preciosos elogios. Abraços!
Caro Luiz Roberto,
O processo acaba desencadeando o hábito. No meu caso, vício. (hehe)Abraços!
Querida Geórgia,
A isso que vc se refere está fora da competição. (hehe) Beijos!
Querido Rick,
Não bloquiei ninguém. Apenas estou sem tempo de até mesmo me lembrar de solidagos para levar para casa. Abraços!