“[...] Para Tereza, o livro era sinal de reconhecimento de uma fraternidade secreta. Contra o mundo de grosseria que a cercava, não tinha efetivamente senão uma arma: os livros que pedia emprestados na biblioteca municipal [grifo meu]; sobretudo romances: lia-os em quantidade, de Fielding a Thomas Mann. Eles não só lhe ofereciam a possibilidade de uma evação imaginária, arrancando-a de uma vida que não lhe trazia nenhuma satisfação, mas tinham também para ela um significado como objetos: gostava de passear na rua com um livro debaixo do braço. Eram para ela aquilo que uma elegante bengala era para um dândi no século passado. Eles a distinguiam dos outros.
(A comparação entre o livro e a bengala elegante do dândi não é inteiramente exata. A bengala era o toque que distinguia o dândi, mas o transformava num personagem moderno e na moda. O livro distinguia Tereza das outras moças, mas a transformava numa pessoa fora de moda. É claro que ela era ainda muito jovem para poder captar o que havia de ultrapassado na sua pessoa. Achava idiotas os adolescentes que passavam por ela com seus rádios barulhentos. Não percebiam que eram modernos.)”
Id., 1985, pp. 53-54.
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