9 de abr. de 2007

Ao abrir a lata de chocolate em pó


DSC00523, originally uploaded by ealexg.

Os olhos do anjo nos perseguia por toda avenida. Ninguém vai me impedir de atravessar a ponte que separava o ontem do hoje. Salta! Voltei uns dez passos e correndo, saltei, sob o olhar concupiscente daquele anjo reluzente. Onde mais ele poderia pendurar cordões de ouro? No pescoço dos outros. Eram coleiras. Você não é um outro. Nunca houve ninguém... Melhor teria sido interrompê-lo antes de me voltar para cruzamento, onde veículos limpos e encerrados nos desrespeitava velozmente. Estamos no lugar errado. Na hora certa. Admiro o reflexo do ruído no retrovisor. Olha aquele! Lindo. Seus olhos. Preciso ir. Ir embora. Ir ao supermercado comprar kinos. Não teremos tempo de preparar uma sobremesa. Kino? Kiwano. Ah! E como consigo um convite para essa recepção. Esteja convidado. Espero que se comporte. Passeio completo.Escorreguei do trampolim. Piscina suja de merda. Só a pontinha. Não esquenta. Me preocupava com o bem-estar dos anjos, daquele anjo em especial. Ele queria sentir o cheiro do meu avesso. Fragrância em colônia. De bactérias. Com água boricada, lavei sua asas. Desenvolvidas. Forjadas nas melhores academia de halterofilismo da cidade. Camiseta regata branca sem mancha de ferro. Etiqueta apagada ao gosto da lavadeira.O céu que lhe ofusca, não é mais o mesmo que me impede de sair de casa. Um dia, vou reler tudo isso e vou rir da minha inexperiência. Arrepender-me, nunca. Seus olhos azuis, meu particular mar sem ondas. Sua barba espessa de tão cerrada, meu emaranhado novelo de lã. Com ele, tricotava agasalhos para proteger o Sol do frio da sua indiferença. Doía? Só quando a densa fumaça vinha se alojar nos meus brônquios. Cinza-escura. Jurava que era chocolate amargo. Faz um ano. Poderia ter sido nosso primeiro aniversário, mas outro (sempre haverá um outro, mesmo que demore demais), se pôs a cuidar das nossas orquídeas. Aquelas que me trouxeste supondo que seria eu capaz de regá-las até o florescer. Morremos um pouco quando definitivamente se foste. Algumas mudas esturricaram. Precisavas ver. E renascemos, floridas, como sempre deveria ser. Na esperança de que a enxurrada te arrastasse até as bocas de lobo. Esse ovo de chocolate insosso. As sharrys não exalam mais seu perfume, nem o delas. Chove de arrebentar asfalto. Percorro as salas desocupadas do grande prédio do Tesouro Nacional. Procuro por ti. Meu faro viciado. Seu boné me instiga. Seus óculos-escuros me guiam. Depois os estacionamentos e finalmente na bruma quente e seca. Na vapor. Banheiros de shopping? Seria degradante (somente para quem está fora do círculo, para quem não se senta conosco na mesa do bar.) Nos dos cinema. Vi sem ser visto uns amigos no hall. A fila e a multidão eram as mesmas (noite de amostra). Preferi não cumprimentá-los. Desejar feliz Páscoa a quem deveria ter mandado à puta-que-os-pariu me deixaria frustrado. Convém olhar para cima quando o pé direito é alto. Te encontrei no outdoor da esquina da rua dos restaurantes. Não eras tu. Não aquele que me ameaçou com uma faca de cortar bolo. Estupro consensual. Nossa sociedade com a sorte se derreteu quando me esqueci de fechar a porta do quarto. Quem mais poderia imaginar o vento jogando no chão nossas roupas. Quem mais? Foi um equívoco que me recuso a ruminar.

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