Sempre depois do coito tomávamos vermífugo. Ela se achava a esclarecida. A tia-madrinha explicava minusiosamente detalhes da genitália feminina, da masculina, como se limpar, o ciclo mestrual, como se desvencilhar de canalhas que "só querem nos ver sofrer." (Ela tinha experiência.)
Eu, por minha vez, procurava os livros, os quais apenas folheava. Não entendia absolutamente nada. Agora percebo que era minha ansiedade não me permitia me concentrar, portanto compreender o que se lia. Não sofria de uma idiotice pressumida. De uma coisa, eu sabia: camisinha era um método contraceptivo eficaz, desde que associada com outros métodos e não podia se confiar na tabelinha.
Todo mês por volta do dia dezessete, eu a perguntava: Laurinha, desceu? Ainda não, mas não se preocupa. Minha tia me explicou que meu ciclo ainda é irregular. É normal atrassar. Eu que comesse minhas unhas até o sabugo. Você, perguntou o que seria aquela dor que eu sinto. Ah! me esqueci. Deve ser doença venéria...
Uma manchinha arroxeada na glande me levou à visitar o consultório de uma renomada infectologista aqui na capital, dez anos mais tarde. Vai ali para aquele canto. Pode baixar as calças. A cueca. Agora expõem para fora a glande. Minhas pernas tremiam. Eu precisava sentar. Com a mini laterna focando a região pélvica, diagnosticou a médica: é um mancha de nascença. Pode vestir a roupa e lavar as mãos naquela pia. Eu queria ter lhe fazer várias perguntas, mas estava com vergonha. Hoje, eu sei que dor era aquela que eu sentia. Mas por que, então, a Laurinha nunca engravidou?
P.S.: Na realidade, ela estava mais para uma tigreza. Unhas grandes, coloridas de tão estravagantes que me marcavam as costas. Eu gostava. Nem sempre. Tenho orgulho das minhas cicatrizes e exibir minhas costas ossudas. Isso aqui foi uma louca. Explico, fingindo indiferença. Me restava, então, ser um lebracho. Admiro-me a misericórdia dela, em nunca ter me devorado a tenra carne que insistia em dizer sim, quando eu queria dizer não.
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