Era um fevereiro lunar. Minha identidade diluída em álcool barato tentava submergir entre espelhos e pilastras. Copos sujos de tão embaçados emaranhados debaixo da mesa denunciavam nossas piores intenções. Marcas de dedos a comprometer o colarinho azul-claro que se soltava na pressão do polegar contra o indicador. Azul, os olhos; claro céu. Meus cabelos eram rédeas nas mãos do estranho (que mais tarde viria, a saber, quem era). Três da manhã e eu completamente comprometido numa experiência etílico-narcótica. Psicotrópica, enfim. (Eis uma confissão que nem à amiga Dra. Psiquiatra, contei). Beijos musculosos de bíceps hipertrofiados tentavam me convencer a provar da uréia anabolizada. Resquícios. Se fosse semiótica eu aceitaria. Não lhe disse isso. Provocar seria demais. Um apetite descomunal para o pouco de mignon estruturado que eu era. Meu sofrimento traduzido em dor, embora o sorriso me convencesse a entregar-me a luz que refletia no espelho. Essa não me ofuscava. Marcas de mordidas no calcanhar denunciando o quê? Nem satisfatório, por causa da culpa beatificada. Ela me corrói. Estacionada. “Essa tua cintura, é o que tens de mais gostoso”. Era a primeira vez que ouvi um elogio-azeitona. Engoli. Mantenha-me imobilizado junto à cama, poderia lhe suplicar, mas sufocado com uma mangueira de sucção a me lavar o estômago, eu tentava exprimir o máximo de prazer que já não mais sentia, nem poderia. Meus dias de masoquista, definitivamente, haviam sido queimados num beco do conjunto D, em frente à casa 14, numa Guariroba que não mais me reconheceria, nem eu à ela. Vamos fazer novas fotos De Leite... Preciso ir ao banheiro mijar toda cerveja de ontem à noite. De tudo que já foi feito, tomemos posse da nossa herança. (Depois encaixo isso. Volto mais tarde, leitores, minha consciência pesa por não estar lendo Balzac)
— O que você está lendo dele?
— A Comédia Humana. Estou na biografia ainda.
— E o que está achando.
— Necessário.
2 de dez. de 2006
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