Ele se arrastava no chão, ouvindo versos que só mais tarde depois de noites e noites quentes e frias conseguiu traduzir e mesmo assim com ajuda da amiga que sempre se encontrava on line. A razão residia naqueles castanhos cachos, cabelos selvagens. Fortes. O namoradinho se deliciava com o fato dele se sentir tão à vontade na sua frente. Ele trazia as novidades que as gravadoras enviavam para loja. Incentiva os trejeitos das mãos, o rodopiar da saia azul-anil. Desde que ele fosse o único espectador a saborear a visão proporcionada pelas curvas das coxas. Não era. Nunca foi. Ele era um ganha pão, assim como viria a ser todos os outros. Não que a música lhe aquecesse os brônquios, apenas as paredes não podiam conter o som que se propagava rua abaixo. Duas horas da manhã. Chama a polícia. Alexandre dopiava desequilibrando o eixo da Terra. Ele desistiria de viver ao lado de um cara que, no futuro, dirigiria picapes dissonantes. Pista cheia. Planava ao som da melodia. Sobrevivência dos seus sonhos garantidos por longos três minutos. E pensar que o orgasmo se perderia no cosmo antes infinito. O vício embrionário se apoderando da boca cujos lábios assoprariam velas projetadas especialmente para derreter-se rapidamente. Parafina incandescente. Uma forma de arrancar notas de cem dólares de estrangeiros gordos de tão peludos. Não me importa. Desde que sejam carinhosos. O que eu faço com esse preto consolo borrachudo que enverga quando o jogo para cima. Bestialidades. Os homens se divertiam. E a canção se repetia dentro de si, num ritmo que se alternava entre o pianíssimo ao estrondoso. Ele queria morrer, mas o drama não permitiria que a tragédia se consumasse. Havia regras a seguir. Obediência, subserviência, uniforme completo. Calcinha branca, com fundo puído, o cós com a renda descosturada o que se trazia naturalidade àquele menino. Peito tenro. Não balançavam ainda como viria a balançar, anos mais tarde, pista de apresentação. Um putinho em formação. Ele se divertia a tarde toda, esquecendo-se de preparar o jantar do pai antes que este chegasse do trabalho.
Ao som da voz do Thom Yorke, baixado daqui.
26 de dez. de 2006
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