6 de ago. de 2007

A multidão não mais me intimida, posso viajar pelo mundo atrás fogo que nos arde a pele; desde que meus olhos brilhem sinceramente. Qualquer dia desses conto-lhes a história do sabonete, prova irrefutável de todas as minhas perversões. Onde se viu resumir uma noite de fantasias num espumante souvenir? Estupidez, hoje. Lígia, incrédula, sorriu e mesmo assim relutava em acreditar no branco objeto perfumado que segurava em sua mãos. É para você. Depois joga fora para não lhe comprometer. Na fila que se formou, difícil seria reconhecer seus doces cílios louros espalhando rímel por onde passava. Há sempre um perfume exagerado a nos guiar pelo apertado labirinto. Ali estávamos. E o longo abraço revelava muito mais do que o reencontro de velhos amigos. Ela perguntou pela minha barba. Suas mãos acariciando repetidamente minhas maçãs lamentavam a ausência do que fora motivos de tantos desentendimentos. Deixei de usar, desde que abandonei a religião. Quanto radicalismo trazes ainda dentro de ti. A segunda pessoa era meu fraco, sua melhor arma de sedução. Corretamente combinados, pronome e verbo. Espontaneamente articulados. Quem ela ouvia falar assim, com essas vogais tão abertas, sem interferência ou distorções. Podia ter aproveitado a aproximidade do seu hálito levemente achocolatado e finalmente ter-lhe beijado os lábios. Ainda bem que não o fiz. Nunca sabemos quem surge subindo as escadas com um ramalhetes de girassóis nos braços.

2 comentários:

  1. Anônimo11:05 AM

    um beijo especial que me recorda uma noite especial...sentimento maravilhoso e estranho

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  2. a multidão continua a me dar pavor. quero ser esquecido no fundo do quarto, em casa.

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