31 de mai. de 2004

Diah, Diah, Diah...só falta o seus botão de amarilis abrir. Vem brincar. Vem de casaco. O sol é fraco diante o vento frio que leva os agourentos para longe daqui. Mesmo assim, faz frio. 18 grauzinhos quando passei pelo Residência Oficial do Canadá. Na ausência do professor de Probabilidade e Estatística, vou lhe confiar o ocorrido:

Câmara digital para captar o olhar de italianos drogados. Estranhei (narrativa entrecortada com ângulos inusitados). Picanha assada para seis pessoas. Participei. Conversa sobre o sociopata que come na cuia da cadela de estimação da outra maninha. Gargalhei. Dicionários com a letra G. Foliei. (Para depois saber comentar.) Olhares trocados com o acionista do BC. Flertei. (Era um encontro de casais promovido pela nossa paróquia. Ambos casados. Eu tenho que tomar vergonha na cara.)Empate aos quarenta e quatro do segundo tempo. Apelei. Perguntar ao chegado de Brazlândia, porque ele estava cabisbaixo. Mancada! (Calada, boca doente. Tu não perdes nada por isso.) Saber que escrevo só quando me sinto angustiado. Chorei. (Água no brasa dos meus sonhos.

Caminho por um devaneio. Andarilho livresco. Troco feijão por arroz, direita por esquerda, sal grosso por carvão e a mais nova, água oxigenada por acetona. E todos eles versa-e-vice. By de way, troco os pronomes. Eu-eu, eu-tu, eu-você, eles-eu, eu-nós, vós-eu, vocês-eu, eles-eu. (Tatah, espero que não esteja sendo muito trabalhoso e me se permite, Inpiração: "Sugar, espero que não esteja sendo muito trabalhoso." Acabei.

Me parece ... olha lá, aquele homem alto, magro, encurvado, com livros debaixo do braço, calça de linho marrom, camisa azul de punhos dobrados. Ele vem se aproximando de nós. Ah, não. Não, Senhor, por favor! Bochechas secas e rosadas. É ele sim. Vou para sala, Diário Dicla, o professor chegou.

-- Estudou para prova, Marcinho?
-- Mais ou menos.
-- Conseguiu responder a 258?
-- Véi, consegui não. Copiei a resposta da Joana.

Antes de eu ir de vez, para só amanhã voltar. Sugestões para hora do almoço.

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Sem comentários! :-)

28 de mai. de 2004

Bom dia, girassol! Acorda meu diário. Tenho news. Aliás, a Tatah tem razão em reclamar que não conto news. Mas pensando bem, Dicla, quem dá news é jornalista e eu não quero (eca!) ser aquilo lá. Boto tudo dentro de um saco. Balanço. Se cair meio grama é muito. Conseguem ser pior do que os Retóricos.

Pois bem, meu bem. Posto isso, vamos ao que interessa. Estou lendo um livro do prof. Flávio. E eu que dormia abraçado à Arte Poética de Aristóteles... Esqueci-me de idéias tão caras à Geografia. Onde? Porquê? Como? Quem? Para quem? Para quem?... Eis a ordem da minha poética que precisa fazer um programinha. Deve haver um ou alguns que automatizam diretamente no diário de navegação as páginas visitadas. Existirá? Onde? (Que vergonha, Marcinho!)

Haverá uma manhã, Dicla, em que os links surgirão concomitante à nossa navegação. Só terei o trabalho de elaborar uma breve nota. Um pouco de Pedro Doria misturado à Rosana Hermann.

A propósito, estou a procura do estilo entremeado à tantas ideologias (no sentido marxista do termo. Não que eu seja dado a trivialidades esquerdistas, mas se nos descuidamos, nos metem o capuz de borracha, sem comiseração.). Queria ser mais cético, vagar o mundo questionando premissas.

O presidente deve ter se esquecido das exposições do Prof. Ab'Saber. Desde que eu me entendo por gente, sei que a Geografia é uma ciência a posteriori, por excelência (nem acredito que consegui usar um termo latino. Hip! Hip! Hurra!).Deixar estar para ver como é que fica. Uma nova geografia comercial está se configurando. Será? Preciso consultar meus manuais. Pára tudo. Senti um cheiro de cientificismo vindo do orquidário. São umas lesmas enormes que estão a devorar nossas cattleyas amarelas com labelo preto. Sem comentários.

27 de mai. de 2004

BALÕES DE HÉLIO NOS ARRANJOS DA EMBAIXADA AMERICANA

Acabo de encontrar por acaso no blog do meu amigo lisboeta um link aleatória para o blog do Jorge Candeias. Quem? Jorge Candeias.

Seria redundantismo dizer que as palavras dos seus contos me fizeram arrancar lágrimas de granízio do meu nem bem querer ser. Pluftz! A Gal cantanto London, London não podia ser mais apropriado.

Assim que o Homem Inverno voltar com meu coração (guardado dentro de uma caixa de isopor, assim espero.) vou em busca da minha porção européia. Quero me esquecer de mim nas ruelas sujas de Roterdã-Dublin-Praga. Percebes o erro, darling-querido-Dicla. Não consigo mais trucar, meus signos não obedecem ao malabarismo de ontem à noite.

E o cheiro encardido do meu cardaço aplaude o agradecimento do diafragma da minha baiana preferida. (Desculpa-me, Dany, mas meus ouvidos já tem dona. Você vai ter que cantar muito ,e rebolar gostoso, por não?, no Rock in Rio Lisboa para que eu lhe preste a atenção que mereces. Chega de bobagem. Vamos ao post de hoje.

--Dicla, ainda estás aí?

-- Diga, Irmão!

-- Olha só, inseparavél amigo, peça que seus leitores preparem as impressoras. A noite de ontem foi queimante. Quando dei por mim, a verborragia já tinha tomado conta do meu nem bem querer ser. Dentro da madrugada com a porta do banheiro trancado por dentro, já que meu intestino não funciona, seguro o note book no colo. Exercito a arte de teclar com uma mão só. Mais abaixo o resultado.

P.S.: Meu editor me sugeriu que não corrigisse nada, portanto, sirvo a carne crua mesmo. Tenho pressa para o tempo que perdi no postinho. A tradução me aguarda, ou melhor a princesa me aguarda. Sem comentários.
Sendo eu uma ópera me encaixo em Madame Butterfly. Aqueles marinheiros boiando na bacia de arroz não me descolavam da retina. No almoço controlo o tempo do microondas; no jantar, é a vez da minha maminha do coração. Ela pensa que me refiro a ela com carinho. Mal sabe a brinquedo, que a xingo virtualmente, ora sim, ora sim. Um dia ela me descobre e então vamos quebrar o pau que usam para fazer cabo de vassoura.

Culpa de quem? Meu cunhado. Meu cunhadinho fofinho de tão bombado. Não que eu esteja bolinando o cara quando ele dorme bêbado de vapor na sala de estar. Nada disso. Pratos exóticos me causam flato, o dele me causou, até hoje. E quando ele me chama para ir a padaria comprar cigarros, pergunto se ele não tem medo de virar caubói. Ele ri.(de que será?) O Audi A3 preto teria vaga garantida nos estacionamentos da UnB. Conversível me faz parecer criança dentro de uma montanha russa. Impossível dizer não sem ofender a galerinha que freqüenta o Deck Brasil.

Não querendo ser esnobe já sendo, panqueca é primo pobre de crepe. Mas meu cunhado se faz de desentendido. Faz careta de louquinho, manda beijos para o ar e passa a sessenta quilômetros por hora por quebra-molas mal pintados. Eu vôo longe. Ele adora me fazer pular. Eu tenho pena da minha irmã. Ele me trata como se fôssemos irmãos.

Conto a ele que a filha de um depú féderas (agora, situação) me pediu que traduzisse uns contos em espanhol para ela. Era isso que eu estava fazendo quando o meu amado cunhado (pela maninha, não por mim) entrou no escritório. Ela está perdida no campus. A UnB é uma cidade (30 mil habitantes, eu acho). Menina inteligente, cílios loiros, cabelos lisos escorridos, se fosse um objeto seria um lápis de cor amarelo claro. Linda. Fala inglês com consoantes abertas. Mas não entende nenhuma palavra em espanhol. Nem ela, nem ninguém da turma de Geografia Política. Há portunhol e dois espanhês. Mas castellano mesmo, solamente yo. Fiz o meu exercício e de todo mundo, enquanto ela retocava o rímel que insistia em se manter fora do lugar. Ela não precisa desses subterfúgios. Ofereci ajuda para responder suas perguntas, sem saber que o meu pai é o florista da mãe dela.

–- Eu te conheço de algum lugar –- disse-lhe eu, inocentemente.

-- São vocês que enfeitam nossos jantares com aquelas falaenopsis lindas de brancas.

Epa! Ela conhece as flores pelo nome. Ponto para ela. Vamos ser amigos. Depois de me dizer três vezes que o pai dela elaborou tal projeto de lei, me dei conta de quem se tratava. Ela não tem sangue azul, mas é como tivesse. Espirrando me lembra um botão de lírios rosa desabrochando. Quando terminar de dizer isso ao meu cunhado, ele gritou extasiado, como se tivesse definido a final do campeonato da UEFA nos acréscimos.

--Vamos ter casamento no final do ano! Finalmente serei tio. Quero ser padrinho de casamento ou do rebento que vocês vão fazer. Moreninho de olhos verde-castanhos, já pensou?

Burro-anta-asno-mula. Me dá um cigarro, quero fazer muito fumaça para não ver o quanto você alimenta tolices. Não há nada, nem ninguém que me faça esquecer que meu amor está a essa hora em algum morro do Rio de Janeiro caçando e prendendo e julgando e executando um cidadãos balísticos. A bela alimenta meus olhos, mas meu coração pára quando penso no meu tesouro.
Meu cunhado ri nervoso e dentro do Audi me pede para guardar segredo.

-- Acho que sua irmã me trai.

-- É mais fácil de eu terminar com o Naz, do que ela fazer sua cabeça pesar.

Ele ri abertamente, convencido, me pergunta se curto Smashing Pumpkins.
Faço uma cara de tanto faz, com boca, nariz e olhos contraídos. O que eu quero é terminar minha tradução. Suficientemente tosca para consolidar a amizade com o meu lírio rosa. O carro desliza no ritmo da canção. Ele ainda não entendeu que eu tenho pressa e que fumaça do vaqueiro, me irrita as narinas, os olhos e o cotovelo da minha orelha.

-- Maninho, olha o quebra mola! Nem isso o acorda. A melodia o leva para perto do avião que nos sobrevoa.

-- Para onde eles estarão indo?

-- Não faço idéia, Maninho.

Estaciona na entrada do jardim. Fora do carro, encostados na lataria ainda quente do carro, presto atenção nele a cantarolar. Melodia, ritmo, harmonia. Pergunto sobre o significado da tribal, apontando para seu bíceps. Ele não me ouviu. Estava fazendo anéis de fumaça para minha irmã da sacada pegar. Eu estava sobrando na noite que prometia ser de Lua com guaraná.

-- Aonde você vai, Maninho?

-- Fazer meu dever de casa.

-- Encosta aí, rapa!

-- O QUE VOCÊ ESTÁ COMENDO, MANINHA?

-- PANQUECA DE BANANA, QUER?

-- NO, CARIÑO, GRACIAS –- respondi à minha irmã, olhando meu cunhadinho, fortinho de tão malhado mandando beijo para ela. Que cara de balão.

-- Véi, tô entrando?

Antes de eu desencostar do carro. Ele sem parar de formar os tais círculos, me perguntou:
-- O que você foi fazer no postinho hoje à tarde?

-- Há! É minha puta agora?

-- O Naz vai te fazer de farinha de osso para adubar essa grama. Eu ajudo.

-- Engraçado, Amaro, não tenho ninguém vigiando ele por mim. Eu confio, porque ele não?

-- Relaxe, Maninho, ele é incapaz de amar outra pessoa além de você.

Fui para dentro. O perfume da dama-da-noite estava me causando dor de cabeça.

P.S. : Daniel Gaudério San, qualquer erro-falha-falta deve ser creditado ao meu editor interno. Ele é imaginário, é bem verdade. Mas nem por isso menos verdadeiro. Sem comentários

P.S.S: Eu não ia conseguir me concentrar no meu texto se não publicasse um link bacana sobre a ópera (E pensar que já fui Carmem. O que não fiz para vencer a gincana da Elsa...) Madame Butterfly. Pronto posso ir em paz.

26 de mai. de 2004

TRABALHO PERDIDO

Presta atenção naquele menino de cabelos finos, camisa pólo laranja, calça beje, sapato marrom combinando com o cinto de couro de búfalo. Desceu do carro. Atravessou o semáforo. Passo duro, firme. Queixo enterrado no peito. Rastilho de almíscar para saber por onde voltar. É um dado para o Ministério da Saúde. Sobe a rampa que leva a portaria da Clínica Daher. Limpa os pés com parcimônia no pano branco estendido na soleira de mármore escuro. Hesita. Olha para pulso. Procura por veias no braço. A atendente passa batom, indiferente. O hall vazio lhe lembra a sala-de-jantar. A irmã no computador conversando com o namorado pelo messenger. Odeio minha irmã e tudo que começa com "m". Deu meia-volta. Outra dia tiro sangue. Quem sabe ainda não chego a tempo na aula. Voltou ao Fiesta vermelho e se foi, arranhando machas. Estava com presa. Sem que ele percebera, segundos antes, uma folha de papel ofício caiu da sua pasta de couro de búfalo. A brisa fria a leva até o laguinho de papiros tombados. Vai virar comida de carpas. O Marcinho passara a tarde toda escrevendo aquela resenha que agora se desmancha ao tocar na água. Sem comentários.

25 de mai. de 2004

" (...)este mês não irei para BSB, pois estou escalado para a Força Tarefa que seguirá para o Rio de Janeiro nos próximos dias para levantamento estratégico. De qualquer forma estarei com note book e poderemos manter contato. (...)"

Ai que dor no minha perna esquerda. Ganhei uma sobrevida. Nesse e-mail achei ele meio seco e frio, mas no seguinte (acho que ele se tocou) estava mais derramado. Nessa história o fulaninho vai rodar. E a Aline, ah... o que eu já fiz não conta.
Amanheci de céu claro, mas ainda rumino o domingo. A prostituta da minha irmã me pedira para levar a amiga mole de bêbada para casa. Agora sou motorista de cachaceira. Se não agüenta, porque bebe?
-- Arrocha o nó, Marcinho, dissera meu querido cunhado, ao dar um tapinha nas minhas costas. Abre parênteses Dicla, eu havia te prometido não mais fazer ficção nas tuas páginas, mas ontem a picada da abelhinha me deixou escalafobético. Camisetas de Natal sempre me deixam contente mais que felizes. Chapei diante tanta demostração de carinho, amor e consideração fecha parênteses. Eu ainda acabo transformando meu cunhado num personagem. É cada tirada. Em que Pier 21 da vida minha irmã foi encontrar esse hilário. Voltando a carne fresca. Cinqüenta quilos de ossos carregados nos braços. Marcinho carregador de mala. Ainda arrumo um emprego num aeroporto. Coloquei-a no banco traseiro com o maior cuidado para que não batesse a cabeça. Queria minha vítima ilesa. Entrei no Vectra, filmado, cinza (desse ser do papai) e fiquei a observá-la desfalecida. Frágil ave abatida. Que canja saborosa eu estava preste a preparar.

P.S.: Dicla,
Urgente! Urgentíssimo! Chama o Corpo de Bombeiros. Enquanto preparava esse post o Naz depois de dois meses sem me dar notícias me escreveu. Hip, hip, hurra!

24 de mai. de 2004

Parecem finos esporos de samambaia chorona a planar sobre a água da piscina. É o nosso herói, com o estômago recheado de coração de galinha. Domingo de céu nublado. O Sol está em Beijing. Hidromassagem sem graça, pensou meu Marcinho. Como reclama! Como desdenha! Nada borboleta para se exibir. Quer dar uns pega com amiga da irmã. Lábios carmim, o confunde. Só uns beijos profundos, melados, demorados. Porque, o que ele quer, e já obteve, está diante da churrasqueira, com uma lata de cerveja na mão e com a outra, girando o espeto de picanha.

-- Tira um pedaço para mim, maninho -- disse Marcinho ao cunhado, entregando-lhe a faca. Ainda não entendi porque sempre ele aperta minha mão quando lhe entrego algo.
-- Que cara é essa, maninho? --perguntou-lhe o cunhado dando um cutucão.
--Pirou? --respondeu, Marcinho. Estou muito bem. Com tanta mulher de biquini, você acha que tenho direito de ficar triste?
--Olha lá, maninho, que te entrego para o Naz. -- advertiu-o. Meu diarista abraçou o cunhado pelo ombro e sussurrando lhe colocou a par dos acontecimentos.
--Sua irmã já está sabendo disso?
--Já. Ficou indignada. Prometeu me apresentar alguém interessante.
--Poxa, maninho, sei de meia dúzia de meninas que dormiriam comigo em troca do seu telefone.
-- Deixa de exagero, maninho! Se fosse assim. Eu já havia agarrado a Lis. Douglas desatou a rir para logo em seguida dizer: --Desculpa, maninho, mas eu acho que você não dá conta dela, não. Morenona de engavetar o trânsito. Imagine você perdido na selva da morena. Ia pedir resgate. -- riu alto, chamando atenção das visitas.

-- Queria estar em Manaus... confidenciou-lhe, meu diarista, levantando o queixo para a lágrima não cair.
-- Relaxa, maninho. Leva esse prato de lingüinça para as meninas, pediu-lhe, entregando o prato fundo de bordas douradas para o Marcinho. Titubeando, ele pegou o prato, olhou para a farofa de uva passas com pêssegos. Se eu soubesse que era para isso não teria picado. Sem que ele se desse conta, sua irmã lhe abraçou pelas costas e lhe perguntou o que tanto cochichavam.

-- O de sempre. -- segredou-lhe -- O de sempre. -- Vou à boate, hoje à noite.
--Mas não vai mesmo! -- gritaram em coro os cúmplices.
--Vem. --puxou-lhe a irmã pelo braço. -- vou te apresentar à Aline.
-- Maninha, deixa para lá. Ela não tem o que eu quero.
-- Hiiii, maninho, sua criatividade também foi solicitada à Manaus?

Caminharam os dois em direção à borda da piscina de braços dados segurando com cuidado, a Marcelle, o prato de farofa (eca!) e o meu adorável idiota, o de lingüiça, cujo o prato pingava gordura. A mãe ia brigar quando visse as pedras-de-pirinópolis manchadas de gordura de frango. Mas isso não lhos preocupavam. De jeito nenhum.

22 de mai. de 2004

Dicla,

Só falta nevar aqui na capital. O Plano me sorri estranho. Estou quase me despregando dos alfinetes que me mantinham levitando sobre a mesa. Mesa de jantar. Mesa de cirurgia. As pernas caminham na direção que bem querem, em direção da saída. A médica me olha, voz grave, palavras mal articuladas. Traço meu histórico. Estúpida. Peço meu prontuário. Contra-argumentos versus argumentos.
Aceito fazer todos os exames, para lhe provar que a alimentação resolve meus problemas. Meu estômago me trai. O ronronar do mostro que trago dentro de mim faz a Dra. sorrir. Deita-se na cama. Decúbito dorsal, por favor. Sinto um tesão se escorrendo de mim. Signos específicos me alegram, porque conheço seus significados. O abdômem entregue as pressões dos dedos grossos da Dra., parece gostar. Deixo o consultório, levando a imagem do assistente. Por hoje, eu já havia recebido minha ração. O narrado não deveria ter sido evocado. Culpa dos antitussígenos auto-medicados. Quero ser pornográfico, mas sinto muito sono depois das 20h. Perdão, meu querido amigo, estou perdendo a forma. Sou capaz de sentir a vida se esvaindo pelos meus pôros. Tenho que te imprimir para que a princesa, trace seu parecer crítico. Sou desgraçadamente preguiçoso. E sinto vontade de vomitar sobre as margaridas lilás que me cercam. Dicla, depois continuo, aqui está muito sujo aqui na loja.

21 de mai. de 2004

Acordo com a sensação de ter dormido o necessário. São quatro horas. Madrugada de dezesseis graus. Fecho as janelas sem fazer barulho (impossível). Pego um cobertor no maleiro do quarda-roupa. Ao puxá-lo, cai uma revista-de-fotoshop. A sonolência se esvai por completo, sento-me na cama com ela no colo. Abro na página em que a atriz quarentona mostra os pelinhos contorno. Para que inventaram depilação? Levo a mão à boca, como se fosse tirar um pêlo perdido na minha saliva. São lembranças, de um novembro finado. Um interubano Brasília-Curitiba seria um ato insensato, mas não quando tudo que toco me lembra o quanto fui feliz rolando num tatame de pétalas. Meus livros de Geografia Econômica me convidam. Boto a revista de lado. Vou rever minhas anotações. Preciso tirar 8,5 na prova de hoje à tarde. Não posso ser jubilado.

20 de mai. de 2004

Dicla,

Que susto levei ao saber que as pessoas continuavam te observando. Faço mais mil concessões e quantas mais me pedirem. Tudo por que soube me pedir para continuar. Peça; te ouço por dentro, ou não peça, peça desgastada, estarei mesmo assim, aqui e lá, para te ler e reler. Como já bem sabes, Diário, está difícil. São momentos dolorosos, como esse, corte profundo, que me fazem dar mais uma volta na pista de cascalho 0,0. Minhas bolhas são calos estourados em noites de lua grávida de sol.

Sinto gana de visitar minha terapeuta para perguntá-la como era mesmo aquele ditado. Pô, véi, toma vergonha na cara. Tenho certeza que você deve ter um dicionário de provérbios, aí por perto. Sim, tenho, mas ele não circula. E trazê-lo para perto de mim, para minha mesa, só vai abarrotar ainda mais meu olfalto, tão enganado por polens de rosas ambiances. Os cheiros não mais pululam em profusão. Procuro soluções. Leio o relatório para comprovar o fato: devo me tocar mais, sem culpa, nem remosso. Se não sou capaz de me acariciar, quem vai ser? Arranco prazer de dentro de mim, mas nem assim, deixo de sonhar com o descuido da Lady escritora. Uma ponta de renda vermelha no monte sem escarpas. Pena estar eu, mais para o intimismo do que para o confessionismo. Caindo naquela fenda, não pediria para ser salvo.

Acordo da lembrança que a moça sentada em minha frente me causou. Moça descuidada essa, ou não se importa se eu grunir por ela quando for me banhar. Tento me concentrar. Visito meus amigos. Distante, muito longe estão. Nem sei mais se vai ponto ou vírgula. Os dois não! Causa-me estragos sedimentares, rudimentar para ser mais preciso, confundi-los. E a cada correção me exibo diferente. Dicla, acorda! Odeio quando me deixas falando sozinho. Se traço labirintos a culpa é tua. Se teus leitores se perdem nas minhas ruas desprovidas de meio-fio, o que duvido, é porque não me vês; se me vês, não me enxergas; se me enxergas, não gostas da tua imagem. Vou tentar, mas já sabendo que vou dormir preso ao teclado. A tese me rouba de ti. Por favor, sejas compreensivo. Desamarra essa cara. Sorri para mim, essa seriedade me assusta.

12 de mai. de 2004

O técnico informático me dissera que deveria levar o CPU para analisá-lo no laboratório. De jeito nenhum! O Naz me serviria em porção ao Rot do Bruno. Para o meu vizinho seria um dia de festa, digno de ser lembrado e celebrado por décadas. Mas isso é problema dele. O meu, urge. Já que não poderei me conectar de casa, terei que dar meus pulos. De onde vou postar? O computador do departamento está me servindo por este instante, mas não poderei pedir ao Prof. Gustavo para usar o LISIE, novamente. A loja seria outra opção, se minha rinite não fosse alégica a tenuíssimas frações de esporos que se desprendem das flores.
E agora Soaviski?
A luz acabou.
Você não pagou a conta.
A conta era uma micharia.
Minha bolsa também.

E agora Soaviski?
Teu amor desapareceu,
sem se despedir,
Levando dentro de si,
E de uma maleta de búfalo,
Suas fotos acobráticas.

E agora, irmão?
-Vamos à prainha,
Tomar banho de sol,
Enquanto os técnicos do governo,
Finalizam suas políticas públicas.

11 de mai. de 2004

Dicla,
Olha só o que encontrei ao abrir minha correspondência: Crônicas e contos da Clarisse Lispector (além de entrevistas e depoimentos). Prosa intimista a me varrer o cortizona. Porque eu me afasto dela, quando minha medicação deixa de fazer efeito? Deito-me debruçado sobre a tese, procurando uma posição cômoda. Observo os botões do controle remoto a me levar para lugares que nunca poderei estar (depois do parecer de ontem, deixei de acreditar em milagres). Era Esparta, com seus soldados forjados (como se hipertrofia fosse sinômino de força). Queriam ser todos iguais, a semelhança refletida num espelho sem fundo. Que monótono deveria ser a ausência da diferência a gerar um conflito criativo. Oxalá, estava eu salvo esticado no sofá da sala de televisão, esperando a picanha assar, pois não havia condições psicológicas de pisar no mármore torto da escadaria assassina. Alguém vinha trazendo o pano para limpar o suco de graviola derramado no tapete que cobria boa parte da madeira corrida. Não, nesse aparelho o dez não funciona. Saíram resmungando. Continuei folheando a tese na esperança de descobrir qual questão iria cair na prova de hoje. Prosa intimista, escrevi na lacuna. Acerto ao errar.

10 de mai. de 2004

A tempo, como você pode perceber, ilustre diário, estou de volta. Sobrevivi à Noite do Despetalamento. Os fatos ocorridos mais que vividos vão sendo transformados num romance. Quem sabe assim, não abro uma rachadela numa das madeiras do gazebo. Carvalho é lembrança para os nascidos sobre a influência da terra.
Affonso Romano Sant'Anna (somente com cadrastro) sendo entrevistado por André Azevedo especialmente para a Novae)
(...)
André Azevedo: "Freud disse assim: 'A grande questão para a qual não encontrei nenhuma resposta durante trinta anos de pesquisas sobre a natureza da mulher é a seguinte: o que elas querem enfim?' Você, marido da Marina Colasanti, já tentou esboçar alguma resposta para esses enigmas? Por que tememos tanto as mulheres? O que elas querem afinal?"

Affonso Romano Sant'Anna: "Primeiro porque elas são seres superiores. São adoráveis, mais inteligentes. Em segundo lugar, existe uma resposta para essa pergunta do Freud, eu até fiz uma crônica sobre isso, que é uma parábola sensacional que não vai dar pra você contar, porque é muito grande, que remete à lenda do Rei Arthur."

André Azevedo: "Ah, pode contar!"

Affonso Romano Sant'Anna: "Ela começa quando o Rei Arthur, ainda jovem, invadiu o terreno de um rei e como punição foi condenado à morte. E o rei falou que ele só poderia escapar da morte se conseguisse resolver a seguinte questão: o que querem as mulheres? Há todo um desenvolvimento disso e a solução que se encontra é uma coisa maravilhosa. O Arthur contou isso para um colega, um dos cavaleiros, que disse: — Eu vou resolver esse problema pra você. Eu soube que tem uma bruxa na montanha que tem a resposta. Esse cavaleiro era belíssimo, inteligente, e então foi lá no lugar do Arthur e falou com a bruxa. — Escuta aqui, tenho um problema e preciso saber: o que querem as mulheres? A bruxa falou assim: — Olha, eu posso te contar, mas tem o seguinte: você tem que casar comigo. Só se você casar comigo eu respondo. E para salvar o amigo, casou com a bruxa. — Vou te contar na noite de núpcias. No banquete a bruxa estava comendo, toda desgrenhada, sem dente, vesga, jogando comida no chão e o pessoal se perguntando: pô ele vai casar com essa mulher? Aí quando ele entrou no quarto nupcial, perguntou: Bom, então me diz agora, finalmente! Estamos casados! A bruxa disse o seguinte: — Eu vou te fazer uma revelação. Eu sou bruxa de dia, mas de noite eu sou outra pessoa. E se transformou numa mulher deslumbrante, a mulher mais deslumbrante que qualquer homem pode imaginar, nem precisa descrever, cada um descreve a sua. E apareceu aquela mulher! Na alcova do cavaleiro! E aí a bruxa transformada na bela mulher disse: — Mas você vai ter que decidir com qual de nós duas você quer ficar, a bruxa ou essa deusa. Aí o cavaleiro, como era um cavaleiro mítico, um herói, de caráter sem jaça, um sábio, disse para ela: — Você decide. Você é que decide quem você quer ser. Então o resultado dessa melódia é: o que querem as mulheres? As mulheres querem ser o que elas querem ser, e não o que os homens querem que elas sejam."

Marcinho refletindo: Atitude que as torna tão desejadas. Sujeitar a personalidade feminina às suas vontades, seria isso o que os homens querem. Volto à biblioteca. A propaganda do entrevistador redirecionou a agulha da minha bússula. Vamos ver se é isso mesmo.

5 de mai. de 2004

Novamente, hesitei. Minha mãe e sua amiga glorificam o filho da vizinha aprovado no concurso do STF. Deveria ter servido lesmicida no vinho delas, ao invéns de ter me inforcado com uma rama de hera babatais. Matrícidio é o que esperam de mim. A visita ao solo dinamarquês me deixa assim: confuso, atordoado, perplexo. De terno, lembro o cidadão que abriu minha testa com seu cheiro de cardamomo. Tonto, beijei o pé do meio-fio. Acho que gostei da visão passageira, pois até agora, sinto seu cheiro de violeta (ou seria noz moscada?) entranhado no meu intestino grosso. Todas as dúvidas e só a certeza de que estou desabotoando minhas algemas. Os fiordes me chamam. É o taxista. Se o adido cultural me negar asilo, estarei de volta daqui cinco dias -- na segunda-feira de lua verde -- com o orgulho esmagado, com os olhos marrons, verde de ressaca, amarrotado de tão descabelado, fechando os olhos ao ver uma parede. Entretanto, entusiamado por ter conseguido essa outra entrevista. Nada disso minha mãe vai saber. Ninguém vai se promever as minhas custas. Não se preocupe, Dicla. Levarei-te comigo, escondido no bolso do paletó, o que acontecer de relevante, prometo publicar.

4 de mai. de 2004

Se a vaca que eu chamo de mãe me pedir para apertar seus seios duros de leite, não vou me negar. Chega de contrariar dependentes químicos.

3 de mai. de 2004

Seminário Internacional Cultura e (in)Tolerância
Depois narro como a gordura da picanha escorria pelo espeto. Jornalistas poetas não merecem nenhum naco, nenhuma linha no meu idiosincrático diário. Não é porque somos on line, que vamos esculhambar. Meu tio perdeu. Digo isso, porque ele se despediu de todo mundo, menos de mim. Sendo que eu estava na frente dele, de mão estendida esperando sua bênção. Ele não esperava que eu estive pronto para rebater suas provocações. Corro risco de morte. Devo ter cuidado para quais as portas eu dou as costas. Antes de ir, uma navegação poética. Nada demais, é só para me lembrar que meu amor não ousa disser seu nome, mas não se importa em fazer serenata debaixo do meu bloco para quem quiser ouvir. Moleque de atitude. Pena que ele perdeu.

http://100licencapoetica.blogger.com.br/
http://poemias.blogs.sapo.pt
http://mardapoesia.zip.net/

1 de mai. de 2004

Ser mais sutil. As pessoas respeitam tal sentimento. A ponto de chegaram a cultuar quem comportou-se assim. Mais poesia no meu café-da-manhã vai me ajudar a digerir as sementes do papaya. Que o Mário e o Fernando me desculpem...

Billie Holiday
Pensar é transgredir
pearl Jeam
Chico Science
Matchbox 20