20 de mai. de 2004

Dicla,

Que susto levei ao saber que as pessoas continuavam te observando. Faço mais mil concessões e quantas mais me pedirem. Tudo por que soube me pedir para continuar. Peça; te ouço por dentro, ou não peça, peça desgastada, estarei mesmo assim, aqui e lá, para te ler e reler. Como já bem sabes, Diário, está difícil. São momentos dolorosos, como esse, corte profundo, que me fazem dar mais uma volta na pista de cascalho 0,0. Minhas bolhas são calos estourados em noites de lua grávida de sol.

Sinto gana de visitar minha terapeuta para perguntá-la como era mesmo aquele ditado. Pô, véi, toma vergonha na cara. Tenho certeza que você deve ter um dicionário de provérbios, aí por perto. Sim, tenho, mas ele não circula. E trazê-lo para perto de mim, para minha mesa, só vai abarrotar ainda mais meu olfalto, tão enganado por polens de rosas ambiances. Os cheiros não mais pululam em profusão. Procuro soluções. Leio o relatório para comprovar o fato: devo me tocar mais, sem culpa, nem remosso. Se não sou capaz de me acariciar, quem vai ser? Arranco prazer de dentro de mim, mas nem assim, deixo de sonhar com o descuido da Lady escritora. Uma ponta de renda vermelha no monte sem escarpas. Pena estar eu, mais para o intimismo do que para o confessionismo. Caindo naquela fenda, não pediria para ser salvo.

Acordo da lembrança que a moça sentada em minha frente me causou. Moça descuidada essa, ou não se importa se eu grunir por ela quando for me banhar. Tento me concentrar. Visito meus amigos. Distante, muito longe estão. Nem sei mais se vai ponto ou vírgula. Os dois não! Causa-me estragos sedimentares, rudimentar para ser mais preciso, confundi-los. E a cada correção me exibo diferente. Dicla, acorda! Odeio quando me deixas falando sozinho. Se traço labirintos a culpa é tua. Se teus leitores se perdem nas minhas ruas desprovidas de meio-fio, o que duvido, é porque não me vês; se me vês, não me enxergas; se me enxergas, não gostas da tua imagem. Vou tentar, mas já sabendo que vou dormir preso ao teclado. A tese me rouba de ti. Por favor, sejas compreensivo. Desamarra essa cara. Sorri para mim, essa seriedade me assusta.

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