31 de jul. de 2004

Algum ingrediente suspeito havia no molho bolognese. Deitado na cama, encolhido feito um feto, pedia a Santo Antônio de Pádua sua intercessão junto ao Nosso Senhor Jesus Cristo. Perdoa Senhor, a gula desse teu humilde servo, clamava-eu agoniado. Meu estômago expandido prestes a estourar, assustou-se ao sentir o rosto áspero do Fornazze a roçar minha bochecha. Deitou-se, encaixando-se entre as minhas pernas, se apossando de mim, como se eu de direito lhe pertencesse. O hálito de cerveja, a voz a lamentosa, o braço pesado, tudo isso foi me refirando o estômago. Mesmo assim segurei a vontade e respondi que também lhe amava.
William Somerset Maugham.“Confissões”, 1951, Editora Globo. Adoraria-eu, ao acordar de manhã, ter encontrado a arte literária do bem sucedido escritor franco-americano me esperando sobre nosso criado-mudo. Eu nem reclamaria, Naz, de você ter ido embora, sem me acordar para cumprirmos o nosso ritualzinho de despedida. Estaria feliz sozinho. Creio-eu.

30 de jul. de 2004

"Heidegger, para tanto, uniu o existencialismo de Kierkegaard e a fenomenologia do seu mestre Husserl, abolindo com os dualismos que caracterizavam a metafísica clássica (corpo/alma, interior/exterior, subjetividade/objetividade, ser/parecer), mantendo porém a irredutível separação do "eu" com o seu "próximo". Ao privilegiar no seu famoso livro Zein und Zeit (Ser e Tempo, 1927), o retorno da filosofia para o ser (ontologia), imaginou que ele doravante estaria aberto, livre, pronto para eleger o que desse e viesse. "Ser-no-mundo é morar no mundo", e não estar tenuamente ligado a ele. "Ser", para Heidegger, como observou Sartre, "é ser as próprias possibilidades: é fazer-se ser". O que importava era a autenticidade da decisão tomada. O seu limite era dado pelo tempo, pelo prazo de vida que cada um tinha, porque era a morte quem revelava a finitude do ser humano. Não havia mais céu para acolher a alma, nem o regaço de Deus para depositar-se as inquietações e as esperanças, o ser estava entregue a si mesmo, ao nada (niilismo). Uns aceitavam as coisas assim como são, sobrevivem apenas, "vivem" o seu cotidiano sem grandes inquietações, sem voltar-se sobre si mesmos. Outros, ao contrário, "existem", testam os limites da vida, lançam perguntas, indagam, enriquecem o ser, angustiam-se, querem fugir do tédio e da ansiosidade, sensibilizam-se." (grifo nosso)

In: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/heidegger3.htm#08
Presenciara uma discussão maçante sobre a gestão territorial do espaço amazônico. Definitivamente, não é desse pão que eu quero/vou viver. Não que tenha sido me dado o direito de escolha. Por isso mesmo, Dicla, eu não tenho escolha. Deplorável, passar quatro dias trancado num hotel embrenhado no meio da mata. Foi mais que suficiente para eu reconhecer que é somente o conceito de espaço que eu vou guardar dentro de mim. Será sobre a categoria espaço que irei contruir todo nosso castelo de limões vencidos (hiiiii, começou!). Por ora basta, Diário, preciso dizer ao meu povo que as flamboyant vermelhas, as bouganvilles rosa e os ipês brancos, da minha primavera, já desabrocharam. Precoce, não? Poisé, são meus repentes. Estou de volta ao meu ofício. Será que seus leitores ainda se lembram de mim?

23 de jul. de 2004

Dicla,
 
Desculpa, mas não tenho tempo para explicações agora. Estou indo a Belém (logo ali, só duas horas e pouco de vôo) e só volto quando a primavera cobrir de flores a Esplanada do Ministérios. Deseja-me boa sorte. Eu vou precisar.
Beijos nas leitores, abraços nos leitores,
Marcinho, O Geógrafo.
 
P.S.: Não façam essa cara, há uma porção de posts para comentar.

22 de jul. de 2004


      Segundo Augusto de Campos, "um escritor atual que não tenha lido Joyce é mais ou menos como um físico que ignore Einstein ou um sociólogo que não tenha tomado conhecimento de Marx". Não me deixo levar por analogias, seja lá quem as profira, mas quando percebi, lá estava eu subindo a escura escada aspiral atrás do Buck Mulligan e na frente do Stephen Dedalus.  Momentos antes, eu havia ficado impressionado com o Buck chamando a atenção do Stephen.  Bem que a Mah podia me dar aquelas férias de dez dias que ela prometera. Assim, eu seria mais um que começaria a ler Ulisses (1922) e não terminaria e por se acaso terminasse, não o compreenderia.  A Mah sabe que se ela  se descuidar do Passo Preto do aqui, ele vai embora,  colorindo o céu azul-anil-acinzentado da capital e não volta nunca mais. Estou tão cativo e nem sei se eu seria capaz de sobreviver no meu habitat original. O silêncio das tagarelas lavadeiras me torcendo, torcendo para mim, me assusta. Não preciso de nada disso, já que a Princesa Branca de Neve migrou dos contos infantis e veio retirar o livro para mim. Agora é comigo e a minha força de vontade que se contorce quando vislumbra a possiblidade se perfumar um cobertor ensolarado.  (Amanhã, volto para revisar-te, texto horroroso.)Posted by Hello



           Novembro de dois mil e três, a turba e eu escalando o pico da madrugada. Que bandeira! Nenhum mastro para hastear o meu amor pintado pelo nascer do Sol. (Buscávamos um afago do Rei.) A estrela a queimar minhas esperanças e eu a inventar mentiras. Era para ser um teste. Acabou sendo mais do que um Hello. Fácil de postar, intuitivo (mas apanhei pra caceta.). Posso voltar, satisfeito, a estudar o "Ulisses" que um leitor (?) do Dicla me definiu como sendo uma "chatice encalacrada". Pode até ser, mas isso, eu terei que desembaraçar por mim mesmo. Sou aquele gatinho, lá fora, a brincar com linhas de lã pêssego. Ossos do ofício -- nobre leitor, amada leitora , né, Dicla? ;-) --  que eu quero moer para adubar meu orquidário que hoje é virtual, mas amanhã, tendo tempo, será real. Nesse meio tempo, pedi, desculpas a Mah. Ela pensa que eu sou seu gerente-secretário-telefonista. Tenhamos paciência, pois nos sobra entusiasmo.Posted by Hello

21 de jul. de 2004

      Encostas vermelhas a me olhar por cima. Elas comentam todos os movimento sincronizados dos passos do André. São não-pessoas. Tal qual um gato a servir malabarismos numa mesa entupida de restos de corpos quebrados mais virados que sujos. É o peso das palavras sobre meus ouvidos. Quanto custa algumas horas de privacidade? Os banheiros de shopping fedem de tão sujos. Meu nariz merece adores mais aprumados. Como as pedras lambem meus movimentos nervosos. São dedos atravessando o virtual. Calma, leitor! Estou a procura da frase perfeita para especificar o fato. Mas, o André precisa vestir sua roupa e volta para frente de batalha.  Nous sommes la creme de la creme (?). Pronto, achei a batida perfeita. O que meus olhos vêem, coração nenhum pode violentar.
 
     Então vamos começar assim:
     
         O casal de namorados caminhando de mãos dadas. Afrodite e Ares a passear pelas calçadas rachadas da capital. Sem se importar com a minha presença -- eu ia em direção contrária -- o amante, bruscamente, a segura pelos cabelos castanhos claros. O cavalheiro a dominar sua égua. Suas mãos nodosas pareciam uma colher a conter o mel que insiste em derramar, em escorrer, em nos sujar o uniforme azulzinho.  Eu me assustei ao presenciar o que para meus olhos seria violência. A moça de olhos azuis, riu, soltou um gritinho que eu jurava ser um miado de um siamês e procurou a boca do amado. Porque o Samurai vem fumar aqui perto de mim? Não estou interessado no movimento das estradas. Em casa eu termino. Deixa-me dar atenção a quem precisa de um ouvido amigo para suportar a pressão do carregamento de munição. À noite, silenciosamente ensimesmado penso num final inesperado para o casal de amantes.

20 de jul. de 2004

De que adiantou eu ir dormir depois das duas, se o jpg não quer abrir. Nada que o Maninho não resolva.

19 de jul. de 2004

      Hipnotizado pela voz arranhada de um rapaz que a princípio não reconheci. (De onde eu conheço esse cara?)  Suas pernas cruzadas me convidavam a escutá-lo de mais perto. E se eu fosse devorado? Tarde demais. Já me encontrava prestes chocar-me contra um matacão de calcário. Agira correto em voltar para casa mais cedo. E depois dizem que a programação televisiva não presta. Há de saber separar o jóio do trigo. Do trigo, faço massa para pizza. Do jóio, jogo no forno. E na T.V. Chris Cornell sentado num banco, de pernas cruzadas, cantando para um babaca que está com o olhar mais congelado do que as cervejas que acabaram  de emporcalhar todo o frezzer.  Não sou mais eu que estou dentro de mim.    
      Já se passavam das quinze horas, ele havia combinado consigo mesmo que só se levantaria  quando o chamassem para o café-da-manhã. Um cheiro de picanha assada entrando pela janela, fez com que nosso herói se levantasse. Havia o preterido, mais uma vez. Acordar no chuveiro para massagear a carne dolorida.  Os olhos escondidos atrás de pálpebras inchadas. Resolvera  não descer. Voltou ao quarto, pegou um livro qualquer  na estante, e voltou para as cobertas. Tendo o cuidado de deixar a porta do quarto aberta. Não faria diferença para a batucada que invadia sua calma. Retrado do Artista Quando Jovem, fora sua escolha. Ele queria descobrir em que praia selvagem Stephaforos havia encontrado o coração.

17 de jul. de 2004

         No momento  em que este post está sendo elaborado, a capivara aqui  está tendo uma aula sobre Feed (eu já havia lido sobre isso no blog do Neto). Agora o Dicla está no Bloglines. Cury, Brasília em peso te agradece. Para adicionar o Dicla, nobre leitor, amada leitora, clique . Desculpem o post chulé, mas é o que o gim me permite escrever.




Dicla,
     Quantas vezes havias me explicado que em hipótese nenhuma, deveria, eu, conversar com os teus leitores. "Diário é para posteridade" que me observa ávida por um naco de carne. Que carne? Diários íntimos são obras póstumas para que os bisnetos dos nossos filhos saibam o quanto o ser humano pode ser idiota. Sou idiota sim, muito mais que imbecil. E hoje vão ser só dez chicotadas, para eu aprender que nunca mais, nunca mais mesmo, mesmo de verdade, verdade bem absoluta (não me importa qual), que jamais devo permitir que as pessoas saibam o que eu penso.
     Há de ser dissimulado, mais um pouco de cinismo (A Paty adora.). Misturar mais vaselina na veia. De agora em diante, diário, vou agradar as pessoas que se aproximam de mim, concordância perfeita. Discordar jamais. Opinião minha, só se for a mesma dos adictos que rondam nosso orquidário a procura de cogumelos. Estou vomitando nos pés desses fascistas que desejam me devorar. Comerão só a sobra da carcaça, se é que vão. Sou uma ostra, F. , iguaria fina que seu paladar não está preparado para degustar. Se tivesse, um e-mail chegaria a minha caixa-postal com um longo pedido de desculpas.
     Não tolero pressão, não aceito chantagem. Essa aliança que trago no dedo, caro, esse nome gravado dentro dela, não foi de graça. Foram anos e anos e anos que eu pressionei o polícia para que ele fizesse exatamente o que eu queria. Conta conjunta, não me significava nada, se eu não fosse apresentado aos parentes dele. "Esse é meu namorado, vô." Foi essa frase que me levou a um orgasmo, como se eu nunca houvera sentido um antes. Para agora um filho-da-puta desestruturar meu discurso?
    Ora, ora! Não sei o que é sofrimento. Nem foram seis meses numa U.T.I. neonatal. Nem fui desenganado pelos Dr. Especialistas. Nem foram as damas da Corte fazendo novena para que o moleque aqui sobrevivesse. Nunca fui amado, F. Olha o homicida sociopata que me tornei. Olha as ossadas que eu guardo dentro do açucareiro. Sofre demais pela fato de você me ignorar. Estou a me mortificar pelo seu desprezo tão esperado. Dicla, divertido, não? Como sou capaz de limpar o fel que escorre da boca dele, sem tocar-lhe.
     Meu caro amigo Diário, sei muito bem como lidar com rejeição. Aliás, sou medalista olímpico nessa modalidade. Essas peçonhentas pessoas carentes que me procuram como se eu fosse uma privada de banheiro de supermercado (obrigada a aceitar de quase tudo) não fazem idéia que eu só cruzo (não faço amor, eu cruzo) com quem eu tenho intimidade, afinidade, cumplicidade. Não é porque eu fui achado no lixo que eu me deito com qualquer um. Não é porque eu estava e estou gritando que significa que preciso do seu socorro. Foda-se visitante. Seu I.P. foi banido. E espero que você, pessoinha vulgar, nunca mais, passe diante meu portão. Eu sou de paz, mas se me provocar é double click. Você está avisado.
                                                               
                                                            A. Dantas
 
                                                                    Brasília, 17/07/04   
 
P.S. : E para não pensaram que eu sou a personificação do mal, plantarei uma muda desse cymbidium na sua lápide. Se roubarem, paciência. É mais o menos o que você tem feito a vida toda.
 
 
 
 

16 de jul. de 2004

Para se tornar um Hacker, convém ler  o Marketing Hacker. Aprender-se-á  muito mais do que isso.

Mudaram o editor o Blogger! Uma bobagem, mas estou para lá de feliz.

15 de jul. de 2004

 
     Feliz. Mesmo tendo o Mau Humor refutado nosso Bom dia. Barreiras ofuscavam a necessária cebola megulhada no azeite. Almoço de pazes. A idéia voltou. Uma mancha de mofo no canto da parede. Na rede uma pernilonga a ser devorada, imagino. Ferros empoeirandos se despedindo da gente. O ar me mostrando o quanto vendemos baratos os hibiscos secos esfarelados e a certeza de voltar para casa, depois de uma noite bem programada. Falta quatro dias para eu conhecer Dom Quixote de La Mancha. Será que a maldição preencherá minhas saboneteiras borradas? O medor de ser me arrasta para o lado de Aquiles. Aceito ser Heitor, resignado. Versos no qual beberei.... Mas, eu li. É pior dizer que leu. Irão esperar que a curva da hipotenusa cruze com o labelo purpurato da lingua que se disfarça de catleya. O humor do diarista cata/busca/explora significados primários, paliativos. Olhar de descuido sobre a pateleira que se passa.


12 de jul. de 2004

     Suas palavras ainda ressoam dentro das minhas entranhas. Ela achava, para minha surpresa, que tudo que eu vinha fazendo estava correto. O Cinho deveria ser poeta. Não queria que as pessoas tivessem uma idéia distorcida de mim. Deveria eu pular do jardim suspenso, direto na poça que a lágrima havia formado? Era mais que normal que me dedicasse a enfiar a sonda na transversal do onírico ser que se avoluma diante do meu ouvido. 
     Aproveitando-me da deixa, resolvera eu espalhar pela mesa de jantar, aquela mesma que outrora eu fui jantado, trechos amassados de experimentações afins. Tudo muito claro, ofuscamente claro. Aniversários, jantares, reuniões, toda a felicidade que nos permite nossa corte sem rei. Meus diários sendo arranhando por dedos que me poluem a visão. Nunca pensei que a convivência de três dias tornar-la-ia minha leitora, minha irmã a me defender diante os boiadeiros de estrumes.
      Na cama, minha irmã, realidade, se preparava para ser minha mulher. Minha noiva e eu a esperar que a porta se fechasse. Noite de núpcias em lençóis de arara. Epa! Não seria incesto sentir as ondulações internas da poeira que se acumula sobre o aparelho de fax? Seria, mas... O Doutor com a glock apontada na minha direção... As duas sobreviventes já estavam a salvo... Sair dali vivo ou não, dependeria apenas da boa vontade de um homem que havia matado outros homens como se fossem baratas. E pensar que havíamos sido caso um do outro.
     Sem encará-lo, caminhei sobre seu couro cabeludo, tão liso de careca, raspado com gilete. Será que ele voltou a usar espuma mentolada? Ameaças eram apresentadas por telas monitoras remotamente. Eu me submetia aos caprichos dele. Finalmente o Doutor me encontrara. Viver era matéria obrigatória, maçante, que eu não havia cursado. Uma droga que deveria ser ingerida com leite desnatado. Ligado na tomada (possível solução), eu dentro da banheira amassando tomates que serviriam para compor o molho que em instantes seria derramado sofre a fogão de madrepérolas. Molhos são minha especialidade. Tomilho eu sirvo verde.
     Diante da indefinição do homem de fechados olhos castanhos, me vi livre para abraçar umas das moças que sobrevivera. Essa tulipa era para você, Cicinho. Não gosto de tons pastéis. Sai respirando da carnificina para desposar uma mulher que se enjoava ao pensar no arco-íris que nos orientaria até o final da estrada de queijo que começaríamos a digerir. Voltaria mais tarde para passar a escritura do sítio. Vendê-lo era uma questão de inteligência.
     Meu intuito, na verdade, ao retornar à lápide dos meus antepassados, era explicar ao Doutor que não gostaria mais de encontrá-lo em bares onde copos sujos servem para encobrir suas mentiras sórdidas. Pediria com carinho, nem que para isso fosse preciso deita-me sobre seu, sempre dormente, braço esquerdo, para que não mandasse mais seus ratos cinzas tocarem meu sino às três horas da manhã. O que faria a partir de agora, não era mais da sua conta. Falta-me essa coragem. Me apaixonei por todas as estampas que ele poderia vir a ser. Só envenenando esse filho-da-puta para conseguir eu dormir, sugestão a refletir.

9 de jul. de 2004

Manguetronic
Site sobre música contemporânea pernanbucana.
Jornal de Poesia
Centro Avançado em Técnicas de Imobilização (CATI). Assisti a vídeos que deixariam os aliados da Al Qaeda felizes. Eu vi poesia. Escritor não deve ter escrúpulos, não esse escrúpulos que você está imaginando. Desde muito pequeno aprendi que a arte é amoral.
"(...) te amo como as begônias tarântulas amam seus congêneres, como as serpentes se amam enroscadas lentas, algumas muito verdes outras escuras, a cruz na testa lerdas prenhes, dessa agudez que me rodeia, te amo ainda que isso te fulmine ou que um soco na minha cara me faça menos osso e mais verdade..."
H.H

So it´s the storm that I´ve been needing! Fotolog de um leitor que se apaixonou pelo meu profile. Ele se encantou com a esquemática personalidade que elaborei. (Coitado! Outra vítima.) Até que presto para alguma coisa. O Pah não tinha razão.

8 de jul. de 2004

Macha soldado, 
Cabeça de papel, 
Se não machar direito, 
Vai preso no quartel.


O quarto pegou fogo,
A vizinha deu sinal,
Acode, acode, acode,
O agente federal.

(O asco me escorre pelo ouvido quando presencio as histórias do Fornazze. Tenho vontade de dar um tiro de escopeta no peito dele. Preciso estudar mais sobre Direitos Humanos. Da próxima vez que ele me mandar chamar os Direitos Humanos, vou lhe responder, que para ele chamo a Corregedoria. Eu seria o principal depoente.)

7 de jul. de 2004

Dicla,
Ainda queres ser meu "querido diário"? Ora, blog, deixemos de afetação! Tu não tens ninguém, além de mim. (Eu tenho leitores!) "Se ajeite comigo e dê graças a Deus". Não foi assim que cantou o poeta? Faço dele a minha voz. Ouça-me, venho-lhe trazer notícias orkutianas. Parece que, finalmente, encontrei, uma comunidade que funciona sem se basear na estética vigente. Havia, eu, te prometido, Dicla, mais de uma vez, que nas tuas páginas cansadas, só escreveria nossas histórias, nossas vivências, nem que para isso fosse necessário disfarçá-las na truncagem dos dementes. Me perdoe, tesouro. Estou a te trair mais uma vez. É mais que apropriado publicar este texto que surgiu-me motivado por uma pergunta no Fórum, do qual partipei; dado o fato de sempre me perguntares porque escrevo. Tomá-lo! Mastigá-lo se ainda te sobram os molares:

Porque eu escrevo.

Escrevo porque não tenho o que comer. Me alimento de luz. Luz do monitor.

Escrevo porque meu amor teve que ir proteger as fronteiras comum a todos nós.

Escrevo porque assim protelo minhas obrigações.

Escrevo porque assim não cheiro dedos em riste me provando o quanto sou mitómano. (covarde!)

Escrevo porque assim me apresento ao mundo.

Escrevo porque virou moda. Lembras-te do papai me apresentando aos amigos dele? "-Meu filho é escritor."

Escrevo porque assim meus pais pensam que estou fazendo algo de frutífero.

Escrevo porque assim meus pais acham que algum editor vá querer publicar as obras póstumas de um analfabeto. (Analfabeto, mas não imbecil! Que fique bem claro.) e eles terão, pois, sua tão sonhada aposentadoria.

Escrevo porque eu não sei fazer nada além do que atirar palavras, aleatoriamente, no papel.

Escrevo porque minha vizinha me incentiva.

Escrevo porque minha irmã caçula chora ao ler algo que tinha vontade de dizer, mas que não tem a devida coragem. (Minha força provém dos olhos verdes dela.)

Escrevo porque um colega te pegou para ler (sem minha permissão, óbvio!) folha por folha e me mandou estudar Sintaxe. (Mandei-lhe que fosse estudar Sociolingüística.)

Escrevo porque as palavras fazem meu sêmen jorrar viceralmente. Minha palavra preferida é Marte. E a(s) do Diclessianos, quais seriam? (Como se fizesse diferença.)

Escrevo porque assim estou fazendo uma terapia ocupacional gratuita. (Ineficaz!)

Escrevo porque ninguém (a não ser o dono) chega perto de um rotweiller quando ele está comendo.

Escrevo porque só assim é que se aprende a desferir uma esquerda bem encaixada.

Escrevo porque leio até que as idéias me saem pelo ladrão (o que não demora muito).

Escrevo porque acredito que as premissas são falsas e precisam ser pelo menos discutidas ― num lugar seguro, longe da Polícia do Exército.

Escrevo porque tenho tempo.

Escrevo porque preciso de dinheiro.

Escrevo porque não tenho mais tempo.

Escrevo porque não tenho um submetralhadora 9mm.

Escrevo porque tenho "liberdade" diante uma multidão cibernética que não exerga o homem perdido que me tornei. Eles me ignoram. Eu não os ignora. Até porque quem sabe, não consiga eu extrair uma personagem daquele meio sovina.

Escrevo porque sou vários fragmentos de n personagens Eu vejo vozes, sinto rostos. (Não fujam com medo de mim, leitores. Eu não faço mal nenhum, a não ser escrever o que vocês não gostam de ler.

Escrevo porque enfrentar tabus, tornou-se prioridade para mim.

Escrevo porque não aceito esteriótipos.

Escrevo porque escalizar me anima.
Escrevo porque rascunhos me fascinam. (Rascunho, não! Croqui.)

Escrevo porque não sei quando se usa porque, por que, porquê e por quê.

Escrevo porque sou um pretensioso (Ai! Que signo horrível. Só funciona sonoramente.) Presunçoso desmistificador da organização socio-espacial de uma capital que se diz modernista, mas na verdade é Barroca. (Não tenho argumentos para sustentar essa afirmação. Mas sei quem os tem!)

Finalmente, escrevo porque sei que alguém vai (re)ler, nem que seja eu mesmo.

P.S.: Não há porquê, talvez por isso a lombra.

6 de jul. de 2004

(putaria.) Literatura seminal

Essências da Seiva de Ana Carolina Lopes. Orkutiana a publicar sua própria antologia poética.
Acordei com o barulho do coldre sendo colocado dentro do criado-mudo. Permaneci quieto. Para, em seguida, ouvir bem próximo do meu ouvido, o sussurro aveludado que me atormenta o calcanhar.
-Amor?!
-Estou dormindo.
-Vira para o meu lado. Hem, Amor!
Não respondi, apenas me deitei de bruço e encolhi minha perna esquerda. Seqüência de beijos a percorrer minha espinha como se estivesse procurando o lugar certo da cusparada necessária.
-Ai!
-Desculpa, amor.
Sua mão cheirava a pólvora, sua língua tinha gosto de sangue. Permiti que descarregasse sua culpa dentro de mim.
-O que aconteceu?
-Operação de rotina, 'more. Vira para mim.
Continuei na mesmíssima posição.
-Vamos ao cinema hoje?
-Vou ter um extra, 'more. Amanhã, eu te levo. Vira, vai.
Levantei-o com o meu dorso, sem descolar minha pele do suor dele. Girei meu corpo feito uma bailarina e pousei de costas como ele me queria.
-O que foi isso?
Levantei-me, acendi a luz, sem acreditar no que via.
-Apaga a luz! Vem cá. É só um curativo.
Um curativo que obstruia o brilho castanho-acinzentado dos seus olhos. Não sinto mais o mesmo entusiasmo de antes. Quero fugir pela fresta da janela da qual um raio de luz multicolorido fingi furar a balaclava do Fornazze.

* * * * *

Dicla, querido diário,
Desculpa-me a indiscrição, mas essa personagem estava me sufocando. Espero que agora eu possa viver um momento de calma.

5 de jul. de 2004

Calma, André, nada se perdeu.
Cheiro as Contradições, apalpo os Paradoxos.
Amado, Querida,

Eis meu diário:

Museu Imagens do Inconsciente. Vale conhecer um pouco mais sobre o tema. Pesquisar sobre asap. Vai de encontro com a frase do Antônio Lobo Antunes. Porque me declaro um meia-avançado(?), atento aos meandros da fala (quanto mais particular melhor). Eu jogo aberto, deixando vazios que devem ser preenchidos pela zaga. Não me importo em perder O Jogo. Não sou nada; ainda bem, assim, não sou ingênuo, nem oportunista. Lembro mais uma tábula rasa experimentando as LERs e as DORTs que deformam minha geração. Quero para mim as obras póstumas (me fascinam). Lanço-me sobre o apelo popular, sob a pressão das algemas que me fecham a visão do falo que se levanta antes mim.

2 de jul. de 2004

Primeiro, me cobri em Porto, despois na Lisboa. Me apaixonei por ambas. Agora estou a navegar em direção à costa africana, sem me esquecer que sempre posso me banhar às margens do Mississipi. Luanda é meu porto. Um porto seco? Ainda não sei, estou a descobrir com o auxílio desse Sr. aqui. Minhas raízes mais crioulas do que afro-americanas.

1 de jul. de 2004

Estava eu a navegar em mares conhecidos quando ancoro minha nau num porto onde vicejam gardênias, azáleas, rosas, tulipas e girassóis e dálias e hortências perfumadas. Estou por lá, a beber do néctar da sociobiodiversidade de idéias. É o meu Eu-platônico sobrepujando meu Eu-aristotélico com ajuda do poeta que traz à tona meus recalques despistados.