27 de jun. de 2008

Vitor Araújo - Paranoid Android (Radiohead)


Nas noites de quinta-feira costumam cair estrelas. A brisa sufoca meus ânimos. O michê que me aborda não é o mesmo que sussura promessas de amor. O meu som é o DJ quem faz. Vamos subir o morro e esquecer de uma vez por todas as convenções. Ele não conhece Vítor Araujo. O músico vai escutá-lo e espero que se encante desde a primeira audição.

20 de jun. de 2008

Olho de porco e a ausência de mim mesmo

Nos caminhos de rato me perdi. Outra sessão de algema chinesa durante o desemborcar da madrugada. Foi bom para você? O pancadão esteve no ritmo certo. As lapadas sufocavam gemidos oriundos de um pensamento cartesiano. Sempre correto, sem risco. O único perigo seria se aparecessem formigas dispostas a tatear humanos. Minha pele aberta à labaredas. Escutasse o amigo. Achei que nunca mais fôssemos nos encontrar novamente. Jamais poderia ir para casa, me deitar no perfume do travesseiro, sem antes , sob o flash intermitente da lua, encontrar quem não se importaria em ser esparrar num estacionamento de shopping. Aqui está muito aberto. Há câmaras por todos os lados. Se aparecerem os seguranças, a gente sai calmamente. Não estamos fazendo nada que um casal de namorados não fariam. Aqui o anonimato nos proteje, lá nos isenta de culpa. Nunca te vi. Não sei quem você é. Os três rapazes se encaminham para a cerca. Mais de dois rapazes reunidos? Devem estar indo fumar maconha. Hi, hi, hi. A libido diminuída por causa do frio (?) Quinze graus celsius. Podia ter sido vinte e dois de cada lado (aroeira) e mesmo assim voltaria para casa cabisbaixo. Escrever sobre minhas safadezas não alívia. Nem tenho essa intenção. Quero apenas o registro: o perfume falhou em todas suas etapas. A brasa entre os dedos foi o diferencial.

18 de jun. de 2008

O jantar no Centro Cultural Banco do Brasil, para os íntimos, CCBB, foi de arder o céu da boca. Alho-poró, alecrim e pequi. O fútil sentou-se na nossa mesa. Perfumaria. Nossa! Como você está cheiroso. Está forte? De jeito nenhum. Está gostoso em você. O que você está usando. Eu ainda não tinha me preparado para responder a essa pergunta. Um perfume que encontrei no banheiro da minha prima, nem reparei no nome, será a resposta doravante. Não sei. É segredo. Risos. É perfume francês. Ele afirmou com convicção de colecionador. Tenho vários perfumes. Eu quero me acostumar com apenas um. Buscava construir sua identidade numa fragrância de lírio azul. Esse cheiro que se desprende com violência da minha pele adoçando meu suor é irrelevante, diante dos já transcorridos sete anos que não nos encontrávamos. A amizade e a consideração continuam a mesma. No mais, ele aprendeu a beber e a dividir a conta.

17 de jun. de 2008


namoro, originally uploaded by Ricardo Bousquet.

Mais do que lindo, o amor é necessário. Amor, não. Afeto. Troca de carícias. Telefonemas antes de se deitar, antes mesmo de se levantar. Exclusividade. Relação fechada, sim senhor. Ele sentia inveja dos gays, pq entre nós aceita-se facilmente um relacionamento aberto. Eu sentia inveja dele, pois dificilmente eu poderia acariciar meu ex a qualquer hora do dia, onde quer que fosse. Me apresenta uma amiga tua lésbica. Meu sonho é transar com duas mulheres. Nunca mais repita isso. Chamei o garçon e pedi a saideira. Como se eu tivesse domínio sobre meus sentidos. Outra madrugada passada no estacionamento do supermercado que não fecha. As garrafas de long neck se avolumaram rente ao meio-fio. A lataria do carro estava gelada, mas servia de encosto. Confortável. A vida sexual de um macho hetero era narrada sem culpa, sem invenções. Traços de um compulsividade latente, mas achei por bem não interrompê-lo. Não naquele momento.

16 de jun. de 2008

BANDANAS


A Moment., originally uploaded by Arace.

Depois de todas as opções, estamos livres. Fios castanhos, forravam o chão a procura de abrigo. Lamento terem sido poucos os avulsos. Amanhã chá, hoje café. E os tolos cumprimentam-nos com boa dia, boa tarde, boa sorte. O que ele fazia aqui ao nosso lado? Esquecia de si mesmo. Vamos às compras, antes que o shopping fecha. Temos jazidas de petróleo a explorar. A sessão de fotos se inicia daqui a alguns minutos. Estamos ansiosos. Expor a vulva e a glande em ângulos distintos, inexplorados. Pés, mãos, nuca e orelha. Expor a mente em travessas de prata-de-lei. Migalhas do mesmo pão divido repartidas entre os ausentes. Ontem foi difícil. Pressão atmosférica. Se não fosse a academia e seus seminários de geografia política, teríamos sucumbidos as escolhas nefastas. Nietzsche padecendo da demência, fruto de uma sífilis incurável. Sofremos de um mal distinto. Tal qual a sua maneira. Golpes no ar. Krav-magá desajeitado. Caminhamos em círculos sem se importar com a repetição da quadrilha. Hoje foi fácil. Amanhã ninguém sabe. Nem o escriba, tampouco os escritores de romances policiais. Deixo aqui um abraço ao amigo e um beijo a puta que nos pariu.

14 de jun. de 2008


prostituta, originally uploaded by P e.

No bloco de anotações a privacidade que lhe restava, que lhe cabia. Um adorno. Ela perdera o livro dentro do ônibus, sem se importar se haveria de devolvê-lo na biblioteca. Saramago que me perdoe, mas passarei longe da fila que se forma para assistir a adaptação. Suas imagens serão apenas as minhas. E nos bastam. Sonha com ele, nos explicando uma lição. O professor de biologia grita. Voltaria à sala, na aula de matemática. Preciso anotar esse verso. Deixa para lá. Encaixo cá. No laboratório de informática, marca os horários com os clientes. Três visitas a quinhentos reais. Estou ficando preguiçosa. O que eu gosto mesmo é de dar minha contribuição a segurança pública. Carteirada ou o famoso 0800. Uma janelinha do messenger se abre. Escorpião a espreita. Ele não me chama. Ele não me ama. Dever ter encontrado outra, adepta do deep throat. Largar o vício e me entregar a profissão. É o que dá dinheiro. É o que paga o aluguel e a prestação da lava-roupa. Exibir-se diante da webcam parecia uma prática segura, se o cliente não houvesse se recusado a se proteger. Os gays é que entendem de sexo. Bareback sem restrições. Talvez eu esteja sendo pesado. O livro! Onde eu o deixei?compra outro e esquece. O espelho acena do retrovisor. Esse rímel barato me borra as pretensões.

13 de jun. de 2008

Em homenagem a Don DeLillo: notas de cabeça

A melhor momento do dia. O intervalo entre acordar e se levantar. O rastro de bergamota do tapete da cama até o tapete do banheiro. Tecidos conversam. "Ela vai confundir tudo, mas tá valendo." Palavras magoam. Teve mais essa: "Ninguém está querendo ver a tua cara." Lembrei-me doutra: "Você é triste, solitária e nunca vai encontrar alguém para te amar." A imagem do lago veio à tona. O mergulho, a corda, o canivete ausente, o assoalho lodoso. O óbito e o funeral. Seria uma solução. Vamos nos organizar para ver como é que fica. Até que ela se deu conta. É exatamente isso. Estamos sendo induzidas ao erro. Pegou sua gata de pelúcia, borrifou do perfume quente, beijou-a e se despediu. Vamos trabalhar. O salto marcava o piso de madeira ao ritmo decidido. Vamos trabalhar, porque preciso ter história para contar. Mais do que isso, precisamos de estilo, amorzinho. Podia lhe faltar tudo. Beleza, reputação, caráter, perspicácia, mas estilo ela tinha. Ou se esforçava para ter. Com os lapsos, cansaço e vícios moldava o que viria a ser a new sensation da Feira de Frankfurt. Não haveria fotógrafo capaz de captar sua simpatia, porque não tinha. Ela seguia a passos trocados, apressada de tão atrassada, forjando uma história que jamais escreveria, porque quando se colocasse sentada à frente do desktop não se lembraria mais.

11 de jun. de 2008


Pombinha solitária, originally uploaded by Hel*len.

Cristalizar o amor que sinto por você. Oh, deus porque me escravizar nas suas orgias. O som no último volume. Quando nunca encontro sempre sêmen espalhado na cabeceira da cama. Eu ouvido, você palatável. Muita fumaça. Incenso. Me esconde a pele. São só dois olhos de gatos fantasiados de travessuras. Arma o concreto e créu. Sinto-me sexualmente atraído pelo auditor fiscal. O careca. Seu olhar. Castanho. De baixo para cima. Lábios enegrecidos pelo vício da ansiedade. As orelhas. De repolho. Sinto-me compelido a elogiá-lo o nó da gravata casado perfeitamente com o colarinho. Branco. Braguilha frouxa. Careca tesudo. Nas penugens que lhe restam, me perco. Labirintos sem saída. Te idolatro besuntado de chocolate. Trufas. O musgo e o fungo. Vamos para o motel? Cabeça raspada. Sim, sim. Sim! O caminho de anteontem era o mesmo de hoje. Feliz dia dos namorados para quem acabou de me ligar no celular. Se não atendi é porque foi apenas um susto.

O mesmo amor cego, jamais consegue ser surdo

Ela tem aparecido em todas as mídias, mas nunca quis conhecê-la. Seu visual não me dizia nada. E drogado por drogado, me basta aquele que vem buscar quando o expediente termina. A repetição, a superexposição, venceu minha indiferença e agora resta-me aqui tentando resgatar a noite de ontem, a madrugada de hoje, o nascer do sol às 5h15. Sempre achei o palio um carro muito apertado para se fazer sexo dentro. Há compensações. A lataria é uma das mais confortáveis. Vamos para um motel? Vamos ficar aqui mesmo. Concordei resignado. E minha submissão foi recompensada quando ele ligou o MP3 do carro. Abriu o porta-luvas. Tirou um maço de cigarros. Qual marca? Não importa. A temperatura caíra a níveis constrangedores. Eu tremia, mas agora era de prazer, em apenas contemplar a imagem de homem que eu havia encontrado por acaso na rua. Pensei que não conseguiria arrastá-lo daquele boteco très chic, o nome do boteco. Irônicos, os donos. Ele e eu. Enquanto fumava, me perguntou: E aí você tem namorado? Não. Não tenho. Tenho um amante. O arquear das suas sobrancelhas, me levou a justificar-me. A gente se vê todos os dias. Quando te encontrei, você estava sozinho. Sim. Havia acabado de descer do carro dele. Entrei no bar para comprar uma coca-cola. Ele não terminava de fumar. Aquele inquérito se prolongaria até o último momento de prazer dele. A distância que nos afastava era a mesma que nos aproximava. Essa é a tal da Amy? E ele pronunciou o sobrenome dela com uma pronúncia perfeita. Por segundos, fui levado a Brighton a trazido de volta. Sente o cheiro do mar nos meus dedos. Aproximei-me do seu corpo perfumado, este era cítrico, respirei dentro da sua camisa azul, reflexo da lua, convergência da noite, a procura do suporte para minhas pernas. O abraço. E a melodia movimentando seu corpo e por inércia o meu. O dia amanheceu com os outros carros passando por onde estávamos. O estacionamento do pithon não era mais discreto. Conheço uma padaria na seis que serve um delicioso café-da-manhã. Eu aceitei e agora estou aqui postando, na tentativa atordoada de me lembrar de tudo. Qual seu telefone? E o seu amante. Não quero atrapalhar relacionamento nenhum.

10 de jun. de 2008

Borrada se apresenta minha essência. A lente escraviza minha alma. Tal qual, caju com rapadura. Que os fúteis ardem em qualquer um dos círculos do inferno de Dante. Eles e suas visões restritas do mundo. Gostos mesquinhos. Paladares dictomizadores. Abomino quem só ouve um estilo de música. Cago em cima de quem só come sushi. Literalmente. Literalmente. Depois berram em alto-falantes: viva a pluralidade. Viva o multiculturalismo. Viva a porra que sai pelo nariz quando deveria escorrer goela abaixo. Longe de mim a homofobia. Até defendo que ela deveria ser criminalizada. É que me irrito com quem só sabe conversar sobre carros, esportes e homens ou com quem só sabe conservar sobre museus, galerias ou sobre os desfiles da Fashion Rio. Quem vem? Quem não pode estar presente. Por quê? Talvez eu esteja sendo moralista. A pilha de livros derruba a impressora. Perco os sentidos. Gotas são comprimidos debaixo da cama. E a saudade vai dentro do pacote entregue ao carteiro. São fotos, cartas, chips, o patuá, o crucifixo benzido. A Roma de todos nós. Me desfaço de tudo. O limoeiro floresce, a vida se reinicia. Boa sorte. Adeus. E se ele aparecer na minha porta chorando. Convido-lhe para entrar. Ofereço um capuccino brasileiro. E entrego o calção de banho, esquecido no varal. Branco. Gastei quase uma caixa de anil. Para quê? Por quem? Namorados se desentendem na porta da igreja de Santo Antônio. Os amantes se mutilam no estúdio de tatuagem. Quanta diferença. Daqueles se cospe. Destes se engole.

9 de jun. de 2008

momento poético ou a catástrofe atrás do biombo

Detesto ser chamado de irmão. Me lembra a seita. Segredos, vigia. Homens em campana. Homens na escuta. Eles sabem das horas telefonadas. Grampeadas. Transcritas. Oi amigão! Me abraça. Sustente o peso das minhas lágrimas nos seus braços... fortes. Sim. Seria quase um clichê se não fossem hipertrofiados. Carne dura. Me lembra mármore. Bonito de se vê. Me lembra David. E ai, irmãozinho, beleza? Me trate como mulher. Apaixonada pelo primeiro amor. Me trate como fêmea. Cadela no cio. Égua afogueada. A partir de agora, só me chame pelo feminino do meu oposto. Ele se assustou. Da garrafa de vinho sorvir um longo gole tripo. Seco. Tinto. Do que você está falando? Explico-lhe com calma. Não dá para continuar sendo seu amigo. Estou suando de desejo. Tremia de frio, como se fosse de medo. O clima dessa cidade é maluco. Veste meu casaco. Almiscarado. Ele olha para a boca-de-lobo. Pára. Sorri. Gargalhadas. Sem motivo. Me olha. Me encarra. Se você tivesse onde, te faria um filho aqui agora. No meio do passeio. Longe desse poste de luz que nos ilumina.

Da semana que se passou por entre meus dedos restou a promessa de um telefonema. Relacionar-se amorosamente mostra-se complicado. Amor entre iguais, complexo. Junta-se a isso o fato dele ser casado... O que mais a foto me inspira a escrever? A história vem e este jovem escriba se auto-censura. Corro para o editor do word e me permito digressões. Tenho vergonha dos detalhes de mim mesmo.

3 de jun. de 2008


Field Gun 06, originally uploaded by Colonel Killgore.

O erotismo enviesado de naturalidade e despojamento. Estou me tornando gay e papai não se dá conta. Meus parentes não se dão conta. Precisamos conversar. Até porque, logo logo o filho do vizinho estará de volta do intercâmbio em Iowa. O doutor supracitado a me vasculhar os desvãos. Saudade que webcam nenhuma, por mais high tec que se fosse conseguiu amenizar. Se não fosse o SKYPE, o que teria sido do seu doutoramento? Cartas de amor. Provas de uma paixão que o doutor engenheiro esconde de si próprio. Os esparadrapos protegendo as juntas. O pêlo loiro a proteger a pele. Tudo igual e tão diferente. Semelhanças. Disparidades. A mesma pele rosada a me lembrar os porcos. E os porcos? Faço torresmo para servir de entrada para feijoada. Somente sábado. Desembarque previsto às 11h07. Mas podia ser amanhã. As cartas não me servem de mais nada.

2 de jun. de 2008

Tentando escapar


Trying to Escape, originally uploaded by CrotchSplay.

29 de maio. quinta-feira. 22h37. Dois rapazes debaixo da árvore se beijando. Um, soluçava sem parar. Outro, beijava-lhe o pesçoco. Aquele, dizia constrangido: "Só tomei duas cervejas e me deu... ic... ic... Os beijos rasos, quase sem abrir a boca, senhas que o esfrega não passaria daquilo, apenas um contato onde corpos nus não se encaixariam. Vamos para um lugar mais reservado? Sem resposta. A mão que acariciava a nuca, era a mesma que empurraria para baixo a cabeça em direção ao desejado desconhecido. Ali se começou o jogo. Esse aqui é melhorado. E eu não sou desses que ele está pensando. Cheirava-lhe a intimidade como se estivesse cheirando-lhe o pescoço. Mordia-lhe levemente a pele, o perigo no risco lhes embriagava. O jogo prossegue. Usava-se de estranhas estratégias. A língua, uma aliada. Não faria o que ele queria. Abraços e beijos são insuficientes quando se quer mostrar ao outro sua inocência. Antes tivéssemos ido procurar por soldados no setor militar urbano, diário. (Você é sozinho, né? Perguntara-nos o tenente, lembra? Lembro-me e não consigo esquecer.) Lá, por qualquer latinha de cerveja, os rapazes da ronda teriam me cegado, primeira na frente (Não baba!), depois por atrás (Você está limpo?), depois simultaneamente. Dois, três, dez, quinze. O arrependimento. Droga! O que eu estou fazendo aqui. Ele está pagando quanto? Cinqüenta. Eu pedindo forças a Deus para que agüentasse por mais alguns minutos que somariam horas do nascer do sol. O silêncio, o respeito, a rapidez, o nunca chegar ao fim. Você também vai? O soldado riu. Na próxima. Quer que te leve para casa? Adoraria. Muita gentileza tua. O chucro a me conduzir de volta para casa. Vamos subir?

30 de mai. de 2008

DEFINIÇÕES

DIÁRIO: anotações avulsas do cotidiano de um indivíduo. Vale tudo. Adoro acompanhar os torneios de vale-tudo. A virilidade escorrendo pelo tatame. Me transformo num animal tal qual. Ninguém me reconhece. Fragmentos. Historicismo. Tudo que aflorar a mente, tudo que lhe inquieta. Diários pessoais. Diários íntimos. Íntimos e pessoais. Diários. Diárias. Diaristas. (Eu a comi. Todos a comiam. Creio em Deus-Pai! Os homens do prédio a faziam de pia de banheiro. Quem nunca, agoniado, se aliviou na pia de um banheiro?) Pergunta retóricas, respostas mal sãs. Rascunho, rascunho, rascunho. Lembrei-me de Drummond agora: "flor, flor, flor". Percebe, querido diário, por não consigo manter-te. A porra da imaginação nos invade sem autorização judicial. Mas eu preciso de ti. E sem eu, você não é você mesmo. Ah! Pro inferno a norma culta. Aqui prevalece o erro de ter caminhado ontem à noite por caminhos de ratos atrás de quê? Atrás de quê? De sexo. Para nós, homosexuais masculinos, é muito mais fácil descarregar os ovos. Nem precisamos das prostitutas. Há os caminhos de ratos e desde que se use camisinha, tudo bem? Acho que estou finalmente conseguindo escrever-te, diário, nesse momento, íntimo. Ele só quer ser o intelectual, acredita que vai me (nos) conduzir a algum diferente deste, onde atualmente me encontro. Percebes que vida de diário não é, nem tem sido fácil através do séculos? Erros que nenhum revisor, por mais esforçado que seja, conseguirá corrigir. Os ques, os nãos. Os mas. A pobreza vocabular. Somos coaclas. Ele escreve mal para cacete. Não digam o contrário. Ele acredita. Falta-lhe discernimento e tempo. Ele me contamina, afinal sou o esgotamento sanitário da sua psiquê. E que não nos percarmos em psicologismos. Ele deu descarga. Abriu a porta. Sinta o cheiro. Mal-educado. Não te ensinaram que não se caga fora de casa. Deve estar doente. Deve ser doente. Não sabemos. Vamos descobrindo à medida que ele resolve/consegue nos dizer algo de... significativo? Não importa. São páginas e mais páginas. Ecos. A moda agora é o tal do work progress, exarcebar a individualidade. Expor a intimidade a troca de centavos. Não julgo. Julgar é uma prerrogativa divina. E os piolhos, eles só os enxerga depois de meses. Chega de se lamentar. De autopiedade. Eu te amo. Eu te amo muito. Muito mesmo. Mais do que a mim. Se te queimei às margem do canal pluvial, foi por medo. (eita, porra! deixa eu te salvar, antes que eu perca tudo. Está dando bug no blogger. Os colegas estão prestem a chegar. Postar do trabalho está longe do ideal. Mas fazer o que, diários, não temos opção. Ele não vê que sua única opção sou eu. Espelho a refletir sua imagem distorcida. A poeira lhe faz espirrar violentamente. Só por que se trata da quadra residencial dos generais do EB, corta-se a grama todo dia. Ele pensei. Na condição de diário, não vejo, não sinto, não tenho acesso ao escritor. Somente ao escrever-apagar. Isso sim. Creia em mim. Posso lhe revelar fatos interessantes, pictorescos, fantasiosos, arrangar-lhe o topo da cabeça, como ocorria com a inglesinha gostosa. Estralos generosos. Ou não? Pode ser um tédio escorrendo pelas mãos (onde ele... ops! onde eu li. Esquece. Estou a confundir o escritor, alter-ego do escritor, com o voz do diário, errando na digitação, me equivocando nas escolhas das palavras. (Puta-que-pariu! Páre de se justificar. Esse sentimento mesquinho afugenta o leitor, afasta-me da glória (gostosonas, dinheiros e drogas, não necessariamente nessa ordem [clichê]. Tem até mescalina. O pó é o mais puro que chega ao Brasil.) A voz do narrador, a voz do diário, eu-que-vos-escrevo, não consigo mais distinguir ninguém. Márcio, respira fundo. REspiro fundo. A qualquer momento chega alguém e isso me estimula a continuar. Amo perigo. O risco. Brinco com a morte de casinha.

29 de mai. de 2008

Acordo e durmo pensando no expressivo romancista que me tornarei. E quanto mais reflito, mais me aproximo de conclusões heterodoxas. Quero distância da mercantilização. Não quero viver da arte e sim viver para arte. Por outro lado, num outro buraco, entro no sistema financeiro, no cassino transnacional, aconselhando solitários, marcando encontros dilatosos. Preciso contar-lhe que a dor a atravessar o peito nos lembra a solidão, mas resume-se apenas num estar de coisas e momentos agudos. É porque você nunca foi vítima, disse-me o agente da segurança pública. Como? O que você sabe da minha vida? Nada.

10 de abr. de 2008

Comprar ou não comprar? Vou pulando de compulsão em compulsão a procura de algo que acalme meu espírito. O sexo era bom, mas estava me destruindo. O shopping findo o expediente é legal, mas a matilha me vigia. Os cãos ladram mais alto do que se troveja no céu liso da capital. E o meu passaporte onde haveria a foto raspado. Vamos desocupar aquele guarda-roupa e trancar o quarto. Quem sabe assim poderei elocubrar em paz.

9 de abr. de 2008

Bom dia a todos! Estou de volta. Cansei de dedicar o miléssimo do meu tempo a seleções oficiais. Desisto de me transformar num acomodado servidor público. Drummond que me desculpe, essa vida de gabinete não quero para mim. Não sei de onde tirarei coragem para pedir benção a Guimarães Rosa. Trai meus estudos de línguas. Meu grego e meu latim. Trai todos e a mim mesmo. E se passo fome (e ninguém tem nada a ver com isso, viu Dona Roberta) é porque não sinto mais vontade de comer... Enquanto escrevo-lhes esse texto, no qual celebro minha volta, estou escutando através da Rádio UOL, o álbum do Lenine "In Cité". Entre todas, minha preferida é a música: "Ninguém faz idéia". Inclusive num janeiro qualquer de um ano gordo qualquer, havia eu feito referencia e refletido sobre essa afirmação, mas cadê?, não a encontro. Revisar meu diário-blog-Dicla urge. Voltar a escrever sofregadamente urge. Se há um sentido na vida, somente na expressão eu o encontro. À noite a gente se fala, turma. Avisá-los que a porta está aberta novamente. As janelas vêem o sol. A chuva entra. Molha meus rascunhos imprimidos às pressas. Borrados têm mais valor do que antes. Atiro-os a lixeira, na esperança que se reproduzam. Não valiam mesmo à pena.