7 de jul. de 2004

Dicla,
Ainda queres ser meu "querido diário"? Ora, blog, deixemos de afetação! Tu não tens ninguém, além de mim. (Eu tenho leitores!) "Se ajeite comigo e dê graças a Deus". Não foi assim que cantou o poeta? Faço dele a minha voz. Ouça-me, venho-lhe trazer notícias orkutianas. Parece que, finalmente, encontrei, uma comunidade que funciona sem se basear na estética vigente. Havia, eu, te prometido, Dicla, mais de uma vez, que nas tuas páginas cansadas, só escreveria nossas histórias, nossas vivências, nem que para isso fosse necessário disfarçá-las na truncagem dos dementes. Me perdoe, tesouro. Estou a te trair mais uma vez. É mais que apropriado publicar este texto que surgiu-me motivado por uma pergunta no Fórum, do qual partipei; dado o fato de sempre me perguntares porque escrevo. Tomá-lo! Mastigá-lo se ainda te sobram os molares:

Porque eu escrevo.

Escrevo porque não tenho o que comer. Me alimento de luz. Luz do monitor.

Escrevo porque meu amor teve que ir proteger as fronteiras comum a todos nós.

Escrevo porque assim protelo minhas obrigações.

Escrevo porque assim não cheiro dedos em riste me provando o quanto sou mitómano. (covarde!)

Escrevo porque assim me apresento ao mundo.

Escrevo porque virou moda. Lembras-te do papai me apresentando aos amigos dele? "-Meu filho é escritor."

Escrevo porque assim meus pais pensam que estou fazendo algo de frutífero.

Escrevo porque assim meus pais acham que algum editor vá querer publicar as obras póstumas de um analfabeto. (Analfabeto, mas não imbecil! Que fique bem claro.) e eles terão, pois, sua tão sonhada aposentadoria.

Escrevo porque eu não sei fazer nada além do que atirar palavras, aleatoriamente, no papel.

Escrevo porque minha vizinha me incentiva.

Escrevo porque minha irmã caçula chora ao ler algo que tinha vontade de dizer, mas que não tem a devida coragem. (Minha força provém dos olhos verdes dela.)

Escrevo porque um colega te pegou para ler (sem minha permissão, óbvio!) folha por folha e me mandou estudar Sintaxe. (Mandei-lhe que fosse estudar Sociolingüística.)

Escrevo porque as palavras fazem meu sêmen jorrar viceralmente. Minha palavra preferida é Marte. E a(s) do Diclessianos, quais seriam? (Como se fizesse diferença.)

Escrevo porque assim estou fazendo uma terapia ocupacional gratuita. (Ineficaz!)

Escrevo porque ninguém (a não ser o dono) chega perto de um rotweiller quando ele está comendo.

Escrevo porque só assim é que se aprende a desferir uma esquerda bem encaixada.

Escrevo porque leio até que as idéias me saem pelo ladrão (o que não demora muito).

Escrevo porque acredito que as premissas são falsas e precisam ser pelo menos discutidas ― num lugar seguro, longe da Polícia do Exército.

Escrevo porque tenho tempo.

Escrevo porque preciso de dinheiro.

Escrevo porque não tenho mais tempo.

Escrevo porque não tenho um submetralhadora 9mm.

Escrevo porque tenho "liberdade" diante uma multidão cibernética que não exerga o homem perdido que me tornei. Eles me ignoram. Eu não os ignora. Até porque quem sabe, não consiga eu extrair uma personagem daquele meio sovina.

Escrevo porque sou vários fragmentos de n personagens Eu vejo vozes, sinto rostos. (Não fujam com medo de mim, leitores. Eu não faço mal nenhum, a não ser escrever o que vocês não gostam de ler.

Escrevo porque enfrentar tabus, tornou-se prioridade para mim.

Escrevo porque não aceito esteriótipos.

Escrevo porque escalizar me anima.
Escrevo porque rascunhos me fascinam. (Rascunho, não! Croqui.)

Escrevo porque não sei quando se usa porque, por que, porquê e por quê.

Escrevo porque sou um pretensioso (Ai! Que signo horrível. Só funciona sonoramente.) Presunçoso desmistificador da organização socio-espacial de uma capital que se diz modernista, mas na verdade é Barroca. (Não tenho argumentos para sustentar essa afirmação. Mas sei quem os tem!)

Finalmente, escrevo porque sei que alguém vai (re)ler, nem que seja eu mesmo.

P.S.: Não há porquê, talvez por isso a lombra.

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