11 de mai. de 2004

Dicla,
Olha só o que encontrei ao abrir minha correspondência: Crônicas e contos da Clarisse Lispector (além de entrevistas e depoimentos). Prosa intimista a me varrer o cortizona. Porque eu me afasto dela, quando minha medicação deixa de fazer efeito? Deito-me debruçado sobre a tese, procurando uma posição cômoda. Observo os botões do controle remoto a me levar para lugares que nunca poderei estar (depois do parecer de ontem, deixei de acreditar em milagres). Era Esparta, com seus soldados forjados (como se hipertrofia fosse sinômino de força). Queriam ser todos iguais, a semelhança refletida num espelho sem fundo. Que monótono deveria ser a ausência da diferência a gerar um conflito criativo. Oxalá, estava eu salvo esticado no sofá da sala de televisão, esperando a picanha assar, pois não havia condições psicológicas de pisar no mármore torto da escadaria assassina. Alguém vinha trazendo o pano para limpar o suco de graviola derramado no tapete que cobria boa parte da madeira corrida. Não, nesse aparelho o dez não funciona. Saíram resmungando. Continuei folheando a tese na esperança de descobrir qual questão iria cair na prova de hoje. Prosa intimista, escrevi na lacuna. Acerto ao errar.

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