31 de jan. de 2006

No banco detrás


...and again, originally uploaded by mhatilda.

Não faça isso. Vá lá. Diga-lhes o quanto você os ama. Permita que a maria-fumaça serpenteie os labirintos do seu coração. Prefiro manter-me à parte. Eu poderia ser preso por desacato. Nunca mais jamais. Observo de longe quem entra, quem sai; os falsos, os sinceros. De manhã traço trilhas alternativas; à tarde provo dos picolés de chocolate ao leite ( às vezes de coco ao leite, também ); à noite, acaricio meu sexo, perdido em imagens de calças pretas, desbotadas. Rostos anônimos, caveirados. Sua despedida entrou ragando dessa vez. Não me encare desse jeito, querido. Bastou seu olhar de ódio para eu me arrepender da promessa. Ele é imaturo, devasso, mentiroso, hipócrita. como ele podia estar com medo da penunbra, se o que ele gostava mesmo era acalmar presídios? Medo tive eu do seu olhar de raiva. Precisava ir embora sem ao menos deixar um bilhete? Com o dinheiro da pernoite comprei um bracelete de presente para filha de uma amiga. Bem-vindo à maioridade, Natália. Juro que, se eu não estivesse me comprometido até o gargalo, convidaria ela para jantar. Olhares de soslaio me convertem.

30 de jan. de 2006

[ filmes gls ou quase ]

Para me lembrar o quanto era divertido ser cinéfilo ( ao seu lado).
Há um novo psicotrópico circulando pelas estradas desertas do Lago Sul. Espero que tenha facilitado. Anfiteatro da Conha acústica, 4h32 da madrugada, às margens do Lago Paranoá. A dormência acompanhada de surtos alucinatórios, para depois desaguar na euforia dos campeões, a impedia de distingüir os graves. Alguém a puxou pelo braço, antes que se reiniciasse a sessão de cachorrinhos pelados choramingando afeto. Ritual de passagem menos ritual de acasalamento. O sentido que nos escapava. Os gritos interropiam minhas anotações. Desconfiava da tecnologia que sempre o servia. As folhas soltam navegavam nas águas oculares. Consagraram o Príncipe ao brindar com espumante. Os cacos de vidros das taças ainda estão lá. Beijos na boca, que guardava diversos sabores, retificavam o ingresso. Agora, chega Cínthia. Vamos embora. Amanhã, vocês vão treinar? Cínico. Certamente, vossa alteza. Quando pensávamos que estávamos livres, o Marcelo estacionou seu astra hatch vinho ao lado da gente. Entra no carro, entra no carro. O Gustavo que me perdoe. Eu havia alcançado o limite da minha elasticidade. Marcelo desceu do carro e nos cercou. Se me dessem pedinho, transpunha aquele muro. Não era o caso. Vamos conversar. O clareamento dental o deixara mais lindo do que já era. Sensível. Não imagina que havia o que melhorar naquele rosto que nos fascinava. Beijou a mão da Cínthia, piscou para mim. Foi cumprimentar os rapazes, enquanto esperávamos encostado no carro. Qual a desculpa que vamos dar para ele? Nenhuma. Vamos ver o que ele vai nos propôr; como você sabe, não será nada demais. Você vai sozinha. Estou cansado. De jeito nenhum. Sem você, não tem graça.

28 de jan. de 2006

Meu Amor vive de brisa


Vista de Resende, originally uploaded by marciamaia.

Flagrei o Minotauro vasculhando as gavetas da escrivaninha. Cínthia, vamos estudar mandarim. É a única solução que antevejo, salvo as paredes de correntes penduradas. E ainda me perguntam, se as marcas são de chicote. Chicotinho queimado, tesouro. Vuuuuuuu... Te mostrei a tatuagem? Na pélvis estava escrito: Bruno Fornazze. Nem quando os pêlos crescerem, será coberto o vislumbre do inferno. Eita, grutinha, quente da porra. Você não ia fazer no cofrinho? O Naz preferiu na frente. Melhor do que piercing. Ela aceitou contrariada. Ele se apropriara do corpo da Cinthia, mas a alma era de Deus; enquanto estiver eu por perto, alimentado sua mente com palavras. Ah! Marcinho você é tão inteligente. Já lhe disse, se eu fosse inteligente estaria em Salamanca, observando os patinhos correrem atrás da mamãe deles? Como é mesmo aquela palavra? Ensimesmado. O telefone interrompera nosso chá. Atendi. Sete palavrões para me convencer da estima que sentia por mim. Eu te amo, declarou-me o sumo pontífice. Papá. Papa. Papão. Atendia como eu bem lhe chamasse. Naz, ela está no banho. Ele pediu-nos que estivessemos no restaurante às nove horas . Passeio completo. Chegamos 10 minutos atrasados. O maitre nos recebeu sorrindo. Encontraram um fuzil que só ele sabia desmontar, levantou-se e saiu. Deixou a garrafa pela metade. Eram sempre as mesmas histórias. Se o celular tocasse, podia ser no meio da trepada, ele vestia a calça, arrancava as meias pretas de dentro do sapato, calçavá-los e saia abotoando a camisa azul. Sempre a mesma. Amante de rituais. Começa de baixo para cima para não se peder. Do dedão-do-pé à orelha. Do calcanhar à nuca. Nossos pés, segurados com as mãos, como se fosse possível fundi-los. Eu relutava. A Cinthia se submetia. De cabeça para baixo havia poucas rotas de fuga. E cade a sua? Você vai pagar?... Fala lá com o Montalvão. ...pelo centímetro quadrado da minha pele. Bota preço. Não estou à venda. Como não queria ser estripado, antes de ser arremeçado contra o espelho, disse-lhe que para ele seria de graça. Além de irritar, o que você quer? -- me perguntou, acariciando-me o pescoço. Devagar, murmurei. Dentro da Cínthia havia um néctar diferente. Cheirava à brócolis. Na posição que me encontrava, me convenci que ele tinha razão em controlar nosso quotidiano, mesmo que para isso espionasse nossa privacidade e pusesse estranhos para nos seguir, nos observar. Sim. Eu tenho um diário, no qual você é o antagonista da minha história. Sinta-se privilegiado. Só me lembro de quem amo, no momento em que estou escrevendo. Seu hálito me refresca. Já tomou cialis? Disseram que só de soprar a brisa... Quando estou saltando a 9.000 pés de altura (acreditava em tudo que ele dizia; a Cinthia, não.), penso na gente, no que iremos inventar na próxima vez que nos encontrarmos; ouço, mentalmente, seus gritos, os gemidos da Cínthia. Só há uma sensação melhor do que saltar de pau duro. Ele me beijou. Afastei-lo ao me levantar. Que aconteceu? Nada, Cínthia. Só não estou com paciência para ficar dando atenção a gente bêbada. Não sei como você agüenta o hálito dele. Perfume dos trópicos, me dissera uma vez. Aquilo foi no início.

27 de jan. de 2006

Episódios amalgamados

Ligaram para você do Ministério da Cultura. Fudeu! Péi! Pow! Ela varria como se a vassoura tivesse culpa. Senta ao de lado sem cruzar as pernas, à procura do ângulo perfeito. Respirou fundo, naquela multidão não era ela mesma. Menininha escolhia a caixa de charuto para o namorado. Ele vale. Ela valia. Vou levar essa moço. Qual meu desconto, se eu pagar à vista? Presente. Ela recusou. Não se pode presentear com um presente que acabara de ganhar. O vendedor insistiu. Vou levar outra, então. Ele umedeceu os lábios que a lembrava a piaçava escondida atrás da porta da área de serviço. Vamos aproveitar para malhar o quadril, esfregar na cara dele toda sua vergonha e se despedir sem deixar o número do telefone. Da próxima vez, trago o Dagorbeto, só para mostrá-lo, para provar, que agora sou uma mocinha crente nas instituições falidas. Olha, amor, foi aqui que comprei teu presente. Senhor Douglas de educação espanhola se engasgou no ritmo do passo doble, nas cordas da castanholas. Amanhã, ele estará repoussando sobre a terra quente do descampado, o sangue talhado, os dedos furados. Conversaram como se fossem amigos de infância, separados à força pela enxurrada. Dagoberto mudou. Ela foi torturada, antes de morta. Assuntos profissionais que se recusara a compartilhar comigo. Pediu licença aos rapazes. Foi ao banheiro tirar um cílio que a incomodava.

26 de jan. de 2006

O gosto que me arde na boca

Só podem estar de férias. Oh! Meu Amor, estive tão ocupado. Nunca mais ele atualizou o weblog. Isso também me incomoda. Escrever à noite me entorpece, mais do que me incomoda. Até parece que estou de volta à universidade, dormindo durante a viagem, passando da parada de ônibus, sendo acordado. Por quem? Poderia ter sido com aqueles cafés-da-manhã, servidos na cama, acordado com beijos. Meu hálito azedo. É desse azedo que gosto, minha vinagreira decantada, ele me respondia. Meu Amor, não ousa pronunciar meu nome. Entendo-lo. Eu faria pior. Ama-lo-ia e o descarta-lo-ia na manhã seguinte. Sem trocar números de telefones. Sem promessas. Sem esperanças. Aos poucos, vamos revelando os segredos sussurrados durante o jantar no apartamento do senador; ou ainda; aos poucos, vou lhes mostrando os detalhes da decoração da mansão do Almirante. Não sei se interessa. Me permita ser vulgar, leitora, essa frase me ressoa doloridamente: "Eu te amo, vagabunda. Você é só minha, puta. Te quero demais." Por que ele inverte o gênero? Até quando suportarei prededores de roupa presos a bainha da minha camiseta? Tenho péssimas lembranças: "Pensei que você havia desertado?" O corpo arqueado mal conseguia se equilibrar na lustrosa muleta de titânio. As rosas olhavam para o chão por vergonha de serem mais bonitas do que eu, a sobra do bagaço da laranja da terra. A fervura da calda do doce me trazia mãos a me acariciar a cintura. Sai para lá. Me solta. Não tinha mais esperanças de algum dia compartilhar das nuvens, cujas curvas ontem à noite me ensinaram a soltar pipas. Foi bom? Desconfio de quem me permite repuxar suas estrelas. Razoável.

11 de jan. de 2006

GLAUCO DAMMAS

Estava respirando o ar que vinha das salinas, quando encontrou uma cereja inteirinha no fundo da taça de sorvete. Ofereceu ao Guilherme, como se fosse a aceitação do convite feito na noite passada.

10 de jan. de 2006

Teoria do Caos: bibliografia introdutória

"Caos, Uma Introdução". Nelson Fiedler Ferrara e Carmen P. Cintra do Prado.
"A essência dos Caos". Edward N. Lorenz.
No Buraco do Tatu, quebrou a suspensão do carro. Sorte dela estar passando uma viatura do BPTran.

9 de jan. de 2006

Cinthia ou Cínthia. Com ou sem "h"? Se errasse, teria que começar tudo de novo. Desistiu de escrever o cartão. Vou entregar pessoalmente.

7 de jan. de 2006

É pau, é pedra...

ironia

Membro da Minustah confirma suicídio de general

Foi uma boa desculpa, para desmanchar o mal entendido. Mas ela não queria papo com o comandante.

Ilse Losa (1913-2006)

Se algum dia foi patinho feio, precisou esquecer. Os convidados haviam chegado.

SESC-2006. Nós encontraremos lá.

Pretensiosa. Atrevida. Irresponsável. A menina-mulher entrara no bar para mais um dia de trabalho, pensando nas entrelinhas da fala do namorado. (Eles ficarão noivo em Agosto) Por que você escreve? Perguntara-lhe. Não é "por que", amor. É para quem. Escrevo para ti. Mesmo que não consiga alcançar a clareza que nos cega quando vamos comungar.

6 de jan. de 2006

Ná Ozzetti - site oficial

Na melodia de curvas frouxas, antepasto para o pecado servido de molhinho.

O rascunho que não fui capaz de escrever, ontem à noite, por causa de uma preguiça ensurdecedora

Nunca mais feijão, nunca mais tomate, nunca vôo de avião. Seria um versinho safado de tão ritmado (com direito a metaplasmo) se ela não tivesse sido acordada de madrugada com suas emaranhadas víseras rosadas marcando a cadência da argüição: Gostaríamos de saber, a princípio, o que a senhorita entende por Belo? Acho que ele está sob condicional, não? Ô! Toc, toc, toc, toc, Bummmmmm! Ai, Barriga! Assim você me machuca. O trocadilho é inevitável, perdão. Dr. Gastro, meu intestino conversa comigo em horas inapropriadas. Os flatos e as eructações continuam te incomodando? Só os flatos Dr. Gato. Só os flatos Doutor. Vamos fazer mais um exame? Deixa-me perguntar antes à D. Conta-Corrente. Amor, o Dr. Gastro disse... Pode ir, mas não me peça para ser seu acompanhante. Na dureza de uma cadeira de couro, num hospital escurecido pela espera, compusemos redondilhas de amor a um canalha mal-agradecido. Será que ainda vai demorar? Não se refiria ao atendimento, conheçia bem o esquema. Falava da epifania; não a do Senhor, mas aquela discutida pelos críticos literários. No livro que trouxera dentro da mochila, a colega de classe havia grifado com caneta vermelha o suposto momento de revelação. Su, como está isso no original? -- disse apontando no texto, o trecho em que em se lembrou do romance da Clarisse Lispector que não havia terminado de ler. Cíntia, não se preocupa com isso agora. Seu momento de êxtase atropelado pela amiga viajada pelos cinco continentes. Ela achava que nunca mais encontraria outro. Antes que a enfermeira lhe chamasse, deparou-se com a beleza da verdade, toda ela dialética, assim quis interpretar. Colocou o marcador de livro na página errada e puxou conversa com o senhor que acabara de se sentar ao seu lado. A concretude daquela companhia lhe intensificou a revelação. Era para isso que os intestinos lhe chamara às 3h da madrugada. Ela não se costumara com o jeito irônico que a vida lhe tratava.
Ouvindo Lenine cantando "Ninguém faz idéia."
(Os astrofíscos devem fazer idéia de quem vem lá.)

5 de jan. de 2006

Laurence Sterne (1713 - 1768)

Não tem.
Não tem.
Não tem.
Não tem?!
Tem. Oba!
Pena que estejam de recesso branco.

Fundação Biblioteca Nacional

Nos direitos autorais das nuvens de fumaça que me circunscrevem, extraio mexilhões. Censure as garças, enquanto o sol não se espreguiça.

4 de jan. de 2006

Abacaxi corta o apetite


104N, originally uploaded by menta90.

Márcio, vai almoçar! Agora, não. Estou escrevendo. E foi assim o dia todo. Vá almoçar. Estou sem fome. E o almoço? Depois. Mousse de maracujá? Deixe-a aí. Tem anis. Ahn-hã. Como se escreve hecatombe? Hmmm... o significado da palavra vai distorcer a idéia do texto. Mordera o nó do dedo da mão esquerda. Vasculhava a memória a procura de outro substantivo. Perfume achocolatado. Veio imediatamente a imagem da fumaça lhe penetrando a pele. As cinzas brancas calmamente depositadas no cinzeiro. O olhar desaprovando a partida compulsória. Telefona, assim que chegar? Lógico! E o beijo? Adeus. Escrever não mais afugenta o arrependimento da saudade que me estrala no peito. Se o Bruno soubesse que não mais será servido almoço aqui na loja, faria galhofa do meu apetite. Estou mandando a barca te buscar, 11h30, pode ser? Seria sua fala. Não te falei que você estaria melhor ao meu lado? Fantasiar a existência de um amante lhe ajudava a superar a humilhação. O Marcinho não almoçou hoje. Pode parar! Você fala que não é para se preocupar com ele. Não te entendo! A vida me empurra para prostituição dissimulada. Ninguém mais me agüenta ouvir lamentar a sorte. A aliança, trouxe guardada no bolso da paletó.

Ouvindo Edu Lobo cantar "Berimbau":

Capoeira me mandou dizer que já chegou
Chegou para lutar
Berimbau me confirmou vai ter briga de amor
Tristeza, camará

3 de jan. de 2006


, originally uploaded by Junior Diggs.

Escondi meu sorriso numa dissimulada escovação de dentes.