30 de mar. de 2006
Os tambores de Josué
O Diabo das Pequenas Coisas: Luis Fernando Verissimo
24 de mar. de 2006
Beijo de jacaré, abraço de macaco
As pranchas que se afastam da praia são resquícios daquele dia ontem à tarde. Sol de açúcar se desmanchando de medo das Luas. Os Cara-de-pau. Os Cremes-de-leite. Água doce escorrendo do umbigo da menina que acabara de complentar 12 anos. Seria pedofilia ensinar-lhe shodô? Apologia, talvez. Não havia pêlos para se apoiar, caso caísse da goteira a nudez languida dos olhos azuis a secar aqüíferos jordanianos. (Chamem, os árabes, por favor!) E no reflexo do laguinho formado no seio da pedra, lágrimas adultas bebericavam. Os tiús agradeciam. Risadas disfarçavam o constrangimento solado, soldado. Quando o mar se recuperou da ressaca, o matacão lhe disse: poxa, você fica muito nervoso com a gente. Sou bruto, caralho. Gargalhadas de tão sinceras assustaram as gaivotas pousadas na linha do equador. Sem estrupação, gritou alguém. Os risos estereofônicos... (preferiria que fossem por streaming) ... ensurdecedores. Não se podia conversar ao celular. O mar sacudiu-se em ondas altas que fulaninhus de tal adoraria surfar e recolheu-se atrás da ilha (de edição?). O respeito adquirido por ter se tornado aquele que fala o precisa ser dito aguçou o apetite de todos. Afinal, deus não pode (não quer!) comprometer a política do tapete de petálas de rosas brancas. (Foram duas garrafas de cachaça mineira divididas por cinco, ao final de 37 minutos. Quem venceu a aposta? Eu, ora.) O mar de revolto, se fez triste e saiu para escutar o epicentro do maremoto que se anunciava t-i-m-i-d-a-m-e-n-t-e. Segura a pemba, doido! Era o dever-de-casa. E ele se comportou com um general de gabinete.
23 de mar. de 2006
Soldados serão julgados por fazer sexo em quartel
Vou pesquisar antes de escrever, minha experiência não vale. Eu sabia que era punível de expulsão, mas a possibilidade de trabalhar no hostil galpão, longe da tranqüilidade proporcionada pelo ar-condicionado, me convencia a simular o prazer. Quantas estrelas haviam no céu de brigadeiro, além da constelação de áries, ascendente em escorpião? Nunca me recusei. Aguardava pacientemente o final da ordem unida. Não que fosse feio, ao contrário, beleza não faltava aos olhos azuis que seduziam quem quer que se aproximasse. E eu sempre sério e emburrado. Você é sortudo, dizia uns. Será que mais alguém sabia? Os sorrisos, os tapinhas nas costas, a camaradagem; nada era gratuito. Meu silêncio assustado travestido de indiferença transpunha os domínios da comarca. Nunca me perguntei se do saco furado sairia vento, mas não via a hora de ir para casa.
22 de mar. de 2006
O auto-engano dos livros (matéria do Observatório da Imprensa)
21 de mar. de 2006
Revista Época Blog Brasil
20 de mar. de 2006
Várias peças e nenhuma
Madrugada de domingo, o lusco-fusco quebrava o encanto das castanholas. Amor? Jogo-o sozinho. Os vencedores perderam mais do que sentem. Perigos que nos fascinam quando os asfaltos recapeados nos chamam, plumas para pés quentes. Poderia ter ido parar no sexto anel do Inferno. Zombo da morte, como ela desdenha meus pêlos do braço, razão pela qual, horas antes, acompanhava a partida de sinuca, rinha de cão de rua. A bola branca encaçapava todas as outras na seqüência determinada pelo desenho da mangueira. No reflexo do copo, reconheci rostos familiares. Era tarde demais para pedir desculpas ou prometer retornar ligações, que nunca seriam atendidas. Concentrei-me na partida, o jogador queria mais do que olhares invejosos de todos do salão. Bastava a sua. De decubito ventral na cama de solteiro, rezava para que minhas vísceras deixassem de tremer. Havia sido apenas um descabida declaração do ébrio adestrado. Desencaxei as peças do meu quebra-cabeça para que fulaninhus de tal o montasse. Só não imaginei que peças perdidas seriam achadas. Antes eu tivesse ido para o beber com o capeta.
18 de mar. de 2006
17 de mar. de 2006
Blogging | Outreach and outrage | Economist.com
Brazil | A nation of non-readers | Economist.com
15 de mar. de 2006
Geraldo Alckimin versus 'Carismático da Silva'
14 de mar. de 2006
Vinícius em Cy
11 de mar. de 2006
A ossada de US$ 150 mil
"A camisa parecia pesada até que Ennis viu que havia uma outra por dentro. As mangas estavam cuidadosamente colocadas por dentro das mangas da camisa de Jack. Era uma camisa perdida sua, ele pensou, há muito tempo atrás em alguma lavanderia. Sua camisa suja, o bolso rasgado, com botões faltando, roubada por Jack e escondida aqui dentro da camisa dele. As duas camisas eram um par como duas peles, uma dentro da outra, uma coisa só. Ennis apertou o rosto contra o tecido e respirou vagarosamente pela boca e pelo nariz, esperando que houvesse um resto de fumaça, de sálvia da montanha e do doce e salgado mau cheiro de Jack mas não havia nada, só a memória, o poder imaginário de Brockeback Mountain de que nada tinha restado a não ser o que estava nas suas mãos."
Annie Proulx (Trad: Adalgisa Campos da Silva,2006)
Ministério Público pede quebra de sigilo de usuários do Orkut
10 de mar. de 2006
9 de mar. de 2006
Blair garante a Lula investigação no caso Jean Charles de Menezes
Quando a discriminação vira notícia
7 de mar. de 2006
Presidente Lula em Londres
6 de mar. de 2006
Bolo de vento aos perdedores
Ao pôr os pés no chão: "até estancar o sangue." Enquanto estava arrumando a cama, reelaborei a frase: "deixa o sangue estancar, resmunguei." Seria uma frase interessante para inciar o post de hoje (20/02). Passaria a impressão de que havíamos ido além do simples desentendimento dos casais complicados. Não me entrego facilmente a quem se oferece sem pudor. Isolou-se debaixo das almofadas, até o dedo voltar a estralar. "Olha, o morto." -- disse a mal-amada. Oi, Helena! -- respondi, sem que elas esperassem, à amiga, que também deve ser uma mal-amada, porque mal casada, sei que é. Batom vermelho num aniversário de criança é sinal que está a procura de homem. Casal se esfregando ao dançar. Péssimo gosto. Todos aplaudiam. Exbicionismo tem hora e lugar. Você não vai ser servir? Não, obrigado. Quando estou contrariado nem apetite sinto, quanto mais vontade de fazer o social. Necessidade de voltar para debaixo da cama onde escondo aquela saudade moída. Estou apaixonado e todos desconfiam. Os telefonemas, os e-mails imprimidos, as idas ao orelhão, as fotografias digitais reveladas em papel couchê. (Para que ele guarde no fundo falso da gaveta da estante, o que se banalizou.) Passo uma mensagem pelo celular. Encontro marcado. É improvável que algum dia venha beijar-lhe a boca durante a cerimônia de formatura. Seria expulso imediatamente da coorporação e minha amiga me pergunta: Você tem fetiche? Muitos de nós temos. A sensação de segurança, de proteção. Disse-lhe que qualquer lugar seria muito perigoso ao lado dele. A hemorragia nasal nos atrapalhou qualquer intenção. E era o domingo de sol forte que eu havia pedido a Deus.
4 de mar. de 2006
A vasculhar históricos (II)
-- Marcito, são bonitas as alstroemérias?
-- Bonitas? Elas são lindas. Pena as pétalas serem tão frágeis. Elas são apropriadas para compor buquês compactos, daqueles usados quando vamos recepcionar alguém no aeroporto. As de cores quentes resistem por mais tempo.
-- hmmm...
-- Por quê?
-- Estou pensando.
-- Na roda?
-- Não. Apenas pensando.
A vasculhar históricos (I)
-- E aí, grande Marcinho, fmz?
-- Tranqüilo, Tobalo, e contigo?
-- Então, está é sua cara...rs.
(Ele se referia a minha fotografia no visor do MSN.)
-- Estou morrendo de vergonha de ti.
-- Sou eu mesmo. Flagrado ao acordar, rs
-- Ainda não lhe enviei os e-mails.
-- É até que você é um cara simpático...rs
-- Gentileza tua.
-- E os projetos? Conversou com o pessoal da COGER?
-- De perto até que engano. De terno então, nem se diga. Fui recebido como chefe-de-estado.
-- E eu sou feio de qualquer jeito..rs.
-- Que nada. Muitas vezes temos um certo charme que desconhecemos.
-- É, a mulherada sempre me diz isso...rs.
-- (...)
Há uma música do povo
3 de mar. de 2006
A vinte reais o vaso
A voz da Elis vindo de algum lugar da web. "Me deixas louca." Na lavanderia, meia hora atrás, fraquejei ao preencher o comprovante do cartão de débito. Esse não precisa assinar, senhor. Basta a senha -- me dissera a mocinha de piercing no supercílio. Porque ao conferir a data, a tempestade se fez dentre de mim. Está chovendo forte, não? Diz isso, senhorita, porque não olhou aqui dentro de mim. Peguei os ternos. Agradeci o gentil atendimento e resolvi enfrentar as linhas transversais que nos bloqueava a olhar. Paisagem dos sonhos, se plantasse milho. Gotas. Granizos. Enxurrada, lama. Queria entrar em casa antes que o Fornazze chegasse e descobrisse que eu havia lhe mentido. Sim. Ele chegou há dez dia e eu continuo me encontrando com o formando da turma do Oitavo. Você buscou meus ternos? Busquei, sim. Algo mais? Zombo da morte, que a raiva esconde.
Depois do almoço, vamos levar crisântemos brancos perfumados à lápide daquela senhora com quem sonho quando me deito cedo. Enquanto a lasanha termina de assar, ele tomará seu banho, sentará à mesa, vestindo apenas cueca. Branca, boxer. Vai me pedir que lhe sirva vinho. Tinto. Miolo. Ele me observará soprando o alpiste do Miro. Tecerá ditos monocórdicos sobre o buquê do vinho, sobre as uvas, sobre meus pés. Me pedirá um favor, e eu concentrado nas marcas que o cutelo faz na tábua-de-carne, me recusarei. O tomilho picado exala pela cozinha a senha. Me abraça pela cintura. Me convence a desligar o fogo do feijão com um beijo na nuca. E me explica minusiosamente os planos para essa tarde. Preciso ir ao cemitério antes, querido. Mesmo que seja só.
2 de mar. de 2006
Que sejam belos, mesmo forjados
Acabo de ver num grande portal da web fotografias do carnaval de Salvador. Foliões se beijando. Nenhuma ponta inveja, tampouco de excitação. Deve ser muito gostoso: axé, suor, saliva. E é mesmo. Contudo, falta um ingrediente aos modelos de abadá, aos fotojornalistas, que torne as fotos relevantes. Espontaneidade, a foto, tal qual beijo; melhor roubado. Não há porque forçar, quando ambos querem. (Ele queria no seu íntimo) Há de se entregar à gostosa surpresa do inevitável, principalmente quando não podemos nomear os desejos escamoteados para debaixo da mesa centro da sala-de-estar.
Nos han dado la tierra
Manipulação, Contramanipulação e persuasão no discurso Presidencial: mecanismos circunstanciais ou sempre atuais?
Alguns minutos depois, na outra mesa.
-- Você não vai mais me ajudar?
-- Estou aqui, qualquer dúvida me pergunte.
E nem o telefonema esperado ele quis atender.
Rainha fará pedido de desculpas velado por Jean Charles
Grã-Bretanha: Inglaterra, Escócia e País de Gales
Reino Unido: Grã-Bretanha + Irlanda do Norte, alguns territórios e várias possessões, entre elas, Falklands, vulgarmente conhecida como Ilhas Malvinas.
-- E a Commonwealth (Comunidade Britânica), primo?
Essa guria andou estudando. Ela quer me pegar.
-- Não sou enciclopédia. Nem tenho pretensão. Busque no Google.
-- Mas, Marcinho...
-- Posso te orientar na escolha dos links.
1 de mar. de 2006
Fênix em vigília
Do seu carnaval, só quero as cinzas. As vinte horas de sono ininterrupto. As dores a procurar asilo nas costas do escapulário. Nas nádegas desfraldadas. Um aconchego, para o rapaz que se aproximou sem se anunciar. Você se entrega facilmente aos gigantes. Pés de barro. Sujos. Fomos assentar um mármore na casa do Coronel. Relaxar o esfíncter e soltar a respiração. Seria uma fórmula, se não tivesse sido uma graça alcançada. Chora, sangra, espuma. Como é difícil te amar, Márcio. Amar? Me empresta o notebook que eu te mostro a face escura do sentimento enterrado, ontem à noite, atrás do canteiro de tomates. Vamos ao cinema amanhã? Depois da missa, respondi.
Poderia ter compartilhado com ele a crônica das notas fiscais rasuradas. Foram seis. Oito. Mas preferi poupá-lo de um cotidiano bobo, tolo, besta que vinha me sujeitando a troco de quê? Correntes de ouro em suspensão. Sonhos transcritos às 3h e meia da manhã. Estou com dor de cabeça. Fui almoçar às cinco horas da tarde. E mesmo ocupado me passou várias mensagens por celular, a tarde toda. Provavelmente, tédio e a forma encontrada para aliviá-lo, seria imaginar que alguém o aguardava. Alguém que mal conseguia segurar a caneta esferográfica de tão calejadas estavam as pontas dos dedos. Você recebeu minha mensagem? Tanto que estou aqui, respondi-lhe; desta vez fitando-lhe os olhos. Mantive-me preso ao olhar que me transmitia insatisfação. Que não se repita. Quando for se atrasar, me avisa.
Por causa de cinco minutos trovoadas ecoavam dentro do teatro, não mais lá fora. Baixei a cabeça à procura de desculpas convincentes, mas tudo que eu lhe oferecia de volta era o olhar marejado, denunciado por uma voz sufocada. Um choro que há muitos dias fugia de mim. Privacidade, por dois minutos. Tive um expediente atribulado; comecei a esbouçar uma explicação. A maioria das pessoas que está aqui também teve. Basta observar. Só me interessa observar você, falei. Preciso tomar uma cerveja. Mais? Guardei para mim a palavra que poderia desencadear ofensas mal direcionadas. Você realmente quer assistir a peça? Não; me respondeu, balaçando a cabeça. Então vamos para um lugar mais calmo. Era como se eu falasse sozinho. Acompanhei-o até o bar sem distinguir rostos supostamente conhecidos. Ele pediu a cerveja ao garçon, enquanto tirava a carteira do bolso. Procurava, entre notas de cem e cinqüenta, dinheiro trocado. Não encontrou. Buscou nos bolsos. Foi jogando sobre o balcão tudo que ali se encontrava: maço de cigarros, isqueiro, centavos de moeda americana, as chaves de casa, a do carro. Do outro bolso tirou um pen drive, o celular que quase foi ao chão. Curiosos assistiam a ridícula cena, imobilizados de... medo? Com certeza, assustados. A glock e a funcional juntaram-se aos outros objetos como se fosse a cereja do bolo. Entreguei meu cartão ao garçon, atônito, e pedi que passasse no débito, rezando para que a venda fosse processada antes que o fulaninho terminasse de socar seus pertences nos bolsos. Ufa! Obrigado, Senhor. Vamos? Ele realmente detestava esperar.
Dentro do carro, perguntei: O que aconteceu? Não gosto de ser usado. Por certo você deve ter se deleitado me fazendo esperar diante seus amigos. O quê?! Que amigos? De quais premissas você partiu para chegar a essa FALSA conclusão. A 120 km/h preferia que ele se concentrasse no trânsito, no semáforo, nos quebra-molas ao invés de vilipendiar meus colegas. Magoado, fiquei calado e não pedi que me levasse em casa. Deixei a cargo de sua consciência. No retorno do balão do aeroporto clareou-se suas intenções. As minhas, desde de manhã. Ao entrarmos no apartamento, fui direto para o quarto. A roupa cuidosamente sob o recamier, dobrei. O lençol cheirando à estoraque arranhava minha pele do dorso das minhas costas. A sensação de fervura no peito cedeu ao sono. Fui acordando com o peso de um corpo bêbado me puxando pelos quadris. Fingi que estava dormindo. De mim ele não ouviu nenhum murmúrio.