31 de mai. de 2005
Quarto de despejo
30 de mai. de 2005
Parada do Orgulho Gay (São Paulo - SP)
Querido colega de peleja,
Fiz-me de desentendido quando me perguntaste se eu iria à Parada. Resolvi aceitar tua provocação. Não fui, mas acompanhei on line e pelos telejornais o carnaval político. Aquela história de que viajam em média seis vezes por ano, me pareceu turismo sexual. Puro preconceito. Eles estão a procura do final do arco-íris. Não se dão conta de que o ponte de ouro já se encontra aos pés deles. Sabendo beijar, nunca vai faltar.
(Gay Parade -- São Paulo/ BR)
Secretaria Especial de Direitos Humanos (Brasil sem Homofobia)
Stonewall
Stonewall Revisited
Armário X
"Posso não concordar com nenhuma das vossas palavras, mas defenderei até a morte o vosso direito de enunciá-las." Voltaire (Fraçois Marie Arouet), 1694-1778, filósofo francês
tulips
30 de maio. Seria dado, senão fosse esquecimento. Ela gostava de tulipas. O tempo favorece. Vou encomendar ao fornecedor pelo menos uma dúzia. (Eis uma das vantagens de se trabalhar numa floricultura, hehe.) Se ela atender ao telefone, descreverei o perfume da minha saudade. Caso contrário, volto, resignado, ao teclado.
28 de mai. de 2005
Astro Boy
A verdade é que não consigo ser mordaz o quanto meus inimigos são comigo. "O Márcio está ocupado escrevendo o livro dele". Aquela frase foi pior do que um pontapé, ou pior do que um martelo rodado. Espero estar sendo claro, leitora. Tenho me empenhado muito. E nem mesmo elogios podem recupar meu amor-próprio. Por isso, talvez, tenha concordado em ir para cama com um sujeito que eu nem sabia o nome. Se virilidade valesse de alguma coisa, nesse exato momento eu estaria cantando. Não estou. Não há ritmo que minha voz possa acompanhar. São emoções sobrepostas que eu fui protelando, protelando e agora estou com as calças sujas. A embaixatriz que acabei de atender aqui na loja foi tão carinhosa comigo. Me abraçou, me deu três beijinhos. Se tivesse continuado com a greve, teria sido privado dos elogios sinceros e gratuitos. Não adianta. Ninguém duvida que ela seja minha cliente, pois é por mim que ela sempre pergunta. Ninguém dúvida que tem me agradado vir ajudar na floricultura, mesmo estando proibido usar o computador para fins particulares. Poderia dormir no apartamento do Fornazze. Sua ausência, se resolveria com a webcam ligada no computador. (Assim tenho feito.) Um local reservado, um rosto bonito, uma bunda gostosa. Quantos homens eu poderia ter numa noite? O suficiente para não ficar nenhum minuto sequer sozinho pensando em merda. Quando o Naz queria me convencer a fazer algo que me causava repulsa, me chamava de meu botão de rosa salmão. Eu podia sentir o gosto da iguaria nos lábios dele. Íamos ao meu restaurante favorito e de lá saia disposto a correr atrás de giletes, de fosse preciso. A boate enfumaçada não me provocava náuseas. As putas me tocavam sem me causar asco. E quando chegávamos em casa, eu exigia uma taça de ouro fundido, ou, simplesmente, um copo de leite tirado na hora. Meu copo-de-leite jamais se negara a ornamentar minha flora intestinal. A toxidade que me expele pelos dedos se dispõem a cometer leviandades como se eu tivesse apurado senso de equilíbrio.
23 de mai. de 2005
20 de mai. de 2005
19 de mai. de 2005
Toco com os pés as frias águas do Danúbio. Budapest está aqui, ao alcance das minhas mãos, na minha estante. Com os lábios úmidos de desejo, procurei a boca do meu amor, mas não o beijei. Tentava decifrar a quentura da respiração, que já não era mais dele, senão nossa. Com dificuldade, me equilibrava rente ao corpo que eu não reconheceria sem ajuda do almíscar. Preciso ir embora. Preparar-me para o seminário. Vou esperar que o Naz durma. Ele precisa ruminar as promesas descabidas, feitas no interstício do Sol. Antes, entrego-lhe minha carne -- esfolada, ensangüentada, ávida por prazer leitoso para anestesiá-la. Gostaria muito de morrer nos braços dele, mas hoje nem se eu quisesse.
18 de mai. de 2005
17 de mai. de 2005
16 de mai. de 2005
--Você não quer ver o mar?
--Estou olhando para ele. Azul, salgado, agora mais calmo, enigmático.
Ele me respondeu, esquecendo o peso do corpo sobre o meu. Eu poderia ter gemido "ai", mas preferi agüentar o peso da dor que não me era estranho.
14 de mai. de 2005
Ainda tenho quinze minutos antes de fazer o check-in. Preciso me gabar. Preciso contar-lhe, DiCla, que estou indo para o Rio passar o final de semana. Se eu disser que se trata de ficção, não estarei parecendo exibicionista, mesmo sendo, certo? É ficção, querido. Minha vida não passa de uma mentira que só eu acredito. Tu sabes disso. Nem mesmo se apareço com olho roxo no trabalho. Era um roxinho imperceptível, inversamente proporcional a força do soco. (Meu desdém absorvera todo o impacto.) É tudo falso. Sou um falsário, impostor. Eu não amo aquele homem que foi à floricultura, se é que eu posso chamar aquele quiosque de floricultura, comprar um ramalhete de rosas chá. Onde já se viu chegar na casa dos outros sem flores? Ainda mais na casa da mãe. Ainda mais quando se faz um ano que não a vê. Ainda mais quando se comemora 80 anos de vida. Não entendo e não concordo (já discutimos muitas vez por isso), como pode o Naz deixar a mãe dele a cargo de acompanhantes (que nem mesmo são enfermeiras) e empregadas. Ainda estou muito magoado com o que ele me disse sobre minha relação com meu pai. Eu poderia ter-lhe dito que o papai não me carregou nove meses, nem ao menos sabia da gravidez da mamãe e que nunca me pegara no colo, o que dirá carregar. (Meu irmão sempre me reclamara que era obrigado a me carregar.) Mas, eu aprendera que com bêbado não se discute e não poderia se apronfundar os argumentos que começavam a ser substituídos por xingamentos implícitos. Acabamos de nos reencontrar e eu já vou impondo minhas opiniões, fazendo as mesmas cobranças, exigindo ética (A sua, né, Márcio?) Ele parece disposto, eu não. Foi só sexo, o suficiente para me deixar com prisão de ventre. Eu tenho alguém que me quer, contornando a plataforma continental a serviço. Enquanto estou livre, ouço meus bolachões na companhia de um estranho. Minha resposta continua sendo não, Naz. Só não sei como dize-lho, DiCla. Sabe sim! Você é quer não dizer. Ainda acredita que conseguirá convencê-lo a levá-lo à Bienal do Livro. Que bom que voltaste para corrigir a ortografia.
13 de mai. de 2005
-- Diga, professor! Aconteceu alguma coisa com o Guilherme?
-- Nada grave. Ele machucou-se nas escadas da sala de projeção.
-- É preciso que alguém vá aí buscá-lo?
-- Não. Pode ser no horário de sempre.
-- Acontece que hoje, eu vou me atrassar.
-- Sem problema, ele fica no parquinho brincando...
-- É que hoje aqui, está movimentado, senão eu iria aí agora. De qualquer forma, obrigado por ter ligado.
E quando nos encontramos à noite no nosso bar preferido, eu já havia me decidido que não faríamos sexo, por mais que eu quisesse. Ele se sentiria muito envaidecido ao saber que eu o procurara, enquanto havia outras opções. Na verdade não há. Igual a ele, não. E ele pressentindo minha resistência, usou do charme para convencer, usaria da força se fosse preciso. A saudade o consumia, como me confessou horas mais tarde. Eu tentava não observá-lo, quando ele completava meu copo, o cuidado para não fazer espuma, o resto no copo dele, o levantar da garrafa para chamar o garçon, o inclinar do corpo ao guardar a garrafa ao pé da mesa. Eu parei de contar na quinta. Cogitei em irmos embora, e ele me disse depende.
12 de mai. de 2005
Não sei, se ela pensou antes falar. Se pensou, foi muito rápido. Tampouco sei dizer se alguma lágrima borrou seus lindos olhos pintados, porque não olhei para ela. Olhava para o pato grande, fascinado de tão encantado. Eu o imitava na expressão séria dele, no porte altivo. E me dou conta que nunca poderia dizer: minha vida daria um romance. No máximo, um conto. Um conto de réis pelo Patinho Feio. É verdade! E nem experimentem, meus queridos, me convencer que um dia serei aquele cisne (não vai dar tempo) que se banha indiferente no espelho d'água do Congresso Nacional. Aquele criança lá poderia ter sido eu. Mas minha avó materna me prendia em casa com uma história de uma tal de Dona Raposa. Putz! A raposa sempre se estrepava no final. Contudo, jurei diante o maciço de espadas Ogum: Vou ser a primeira raposa a se dar bem na vida -- ruiva, peluda, de orelhas bem pontudas de tão espertas, faro melhor que Cocker Spaniel. Vou me repousar na glória. Uh! Estamos no aguardo, nós e uma lista de livros que levarias para São Luís do Maranhão se tu não fosses tão vadio. Não sejamos hipócritas! Chegando lá, eu não leria porra nenhuma e me tornaria um reggueiro safado, daqueles que aliciam menores gostosinhas ou menores gostosinhos, tanto faz. E minha vida seria tão emocionante de devassa, que aspirantes a Caco Barcellos se engalfinhariam para ouvir (e gravar) minhas presepadas. Na idílica ilha, eu seria a metempsicose de Odisseu; um Leopold Bloom virado o santo (AXÉ!), de monótono ela, minha vida, não teria nada. A raposa, antes ganso, tornaria-se homem. Viva a metempsicose! Viva! Homem feito, preso ao corpo de rapaz garboso, tal qual Dorian Gray, desta vez abençoado.
Nem tanto, pois a compulsão o levaria a comprar, comprar, comprar, pelo simples prazer de se exibir. Muitas pulseiras, colares, brincos, anéis, ferraris, mullheres, ácido lisérgico misturado com anfetamina e amigos. Jamais compraria um livro sequer. Estes, me seriam presenteados (Sonha, Marcinho! Sonha!). Assim como, o ex-remeiro da corte me presenteara com a primeira edição, no vernáculo, do clássico do Marcel Proust: "Em Busca do Tempo Perdido", juntamente com uma munição de 22. Claro que não aceitei. A munição! Primeiro, o que iria fazer com aquilo? Souvenir?! Sou aficionado por armas, mas não a esse ponto. Segundo, a munição poderia vir a lhe fazer falta, tanto quanto a mim, ele. O Fornazze fizera questão de carregar os livros até o portão de casa. E enquanto eu procurava a chave, ele me empurrou com os livros contra a grade. "Ô! Não é porque são quatro horas da manhã que a gente ficar se pegando assim, não!" Achei a chave, destranquei o portão e mostrei o dedo em resposta ao beijo que ele me pedia. Aquele sorriso bêbado-safado. Nunca mais o vi. E nem Fernando Pessoa com o seu Cancioneiro, nem Jonathan Culler com sua Teoria Literária me acalmam os intestinos carentes por comida. É por comida que me mantenho preso a esse inferno desabrochado que me atormenta o ossos. Os corredores do labirinto se estreitam a ponto de eu ter que cuspir uma sintaxe antitussígena.
Se não me expus suficientemente claro, peço-lhes desculpas, Petruschka, Neto e Rui. (Sim! Esse depoimento é para vocês que sempre me ajudaram quando o DiCla agonizava entre inoperência e descontentamento.) Coloco-me a disposição dos excelentíssimos e para quem mais possa se interessar para uma mesa redonda no Messenger. A cerveja é por conta do Gaudério San (É o preço que se paga por acorrentar um amigo). Ademais, o transtorno parece estar desanuviando meus pensamentos, já posso ver o Vênus no Céu, mesmo com a pupila dilatada. (Nossa! Super-Man! ) Contudo, há um enxame sobrevoando minha curiosidade em saber como a Dayse, a Sylvia e Edson Marques responderiam as seguintes perguntas:
2ª) Já, alguma vez, ficastes apanhadinha por um personagem de ficção?
4ª) Que livros estás a ler?
5ª) Que cinco livros levarias para uma ilha deserta?
6ª) A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e por quê?
P.S.: Amandinha, me concede uma entrevista? Gostaria de te acorrentar pessoalmente.
11 de mai. de 2005
10 de mai. de 2005
Filho-da-puta! Onde você esteve ontem à noite? O imbecil aqui simplesmente te escondeu, num lugar que-eu-não-sabia-onde. Imagine se o presidente Vargas perdesse um dos seus cardernos, seria outra Revolução. Sim! Inclusive ditadores escrevem diários pessoais e íntimos com uma disciplina de deixar orgulhoso os papais generais. Eu não sabia onde havia deixado meu diário. Vamos fazer uma revolução! Primeiro, na minha escrivaninha. Tragam álcool, detergente e flanelas brancas, preferencialmente, pois não quero ser mais confundido com os menores que trabalham nos semáforos. Depois, nas minhas caixas-arquivos, chega de guardar recortes de jornal de 1993. Madonna pernanece ícone, mas agora a temos na ponta dos dedos. Não adianta! Nada me faz esquecer. E se a cimbydium emborcada o achou e o guardou para ela? Não que lá tivesse registrado algo de relevante para mim ou para alguém. Acontece que por causa do meu descuido, perdi. E eu não gosto, não sei, não quero perder, mais do que eu já perdi. Perdi minha vida que insiste em fingir ter saído de casa. Vida, atende o telefone! (O caderno podia estar por lá) Porque me ignorar, se era você que me carregava para o córrego? -- deixei gravado na secretária eletrônica. Graças a Companhia de luz, posso escrever, por que se não, aí sim, eu estaria fodido. Mas não é a mesma sensação. Preciso sentir o grafite quebrando gelo da folha de papel. É no deserto frio onde me encontro.
9 de mai. de 2005
8 de mai. de 2005
As pensões alimentícias lhe levavam todo salário. Acho é bom! Quem manda meter sem camisinha em tudo é boceta cheirosa que lhe aparece pela frente. "Linda, linda, linda." Toda vez que ele pragueja a lubridiada que lhe deu um menino, eu comento: "Linda, linda, linda." Nem sempre ele está com bom humor. "-- Não machuca sua mão me bater assim?" "-- Machuca, mas depois tenho você para me fazer os curativos." Esse é o amor que ele pode me oferecer e sem opção, aceito resignado. Reconheço. É só por sexo. Merda! Como ele me fode bem.