20 de mai. de 2005

Posted by Hello
Estou em dúvida. Sempre acreditei que o Príncipe viria a galope. Sofri muito por ter deixado este post, incompleto, com duas frases apenas. Queria gritar dentro do travesseiro toda a raiva controlada com polpa de maracujá. Ele não terá vícios. Estará sempre ao seu lado quando você precisar de amparo, me dissera as estrelas.
Esses maracujás vão acabar te dando uma gastrite, disse-me ele, pegando a caixa-de-fósforo por cima de mim. Tenho você para cuidar de mim! Ouvi a porta da cozinha se fechando. Joguei a casca na lixeira, com vontade de jogar minha esperança junto. Serenidade, meu coração disparado pedia. Vou-me embora estudar para prova de segunda-feira, ou preparo um sanduíche para ele? A resposta abrira a porta, já trazendo a mala. Mala que se tornava pequena diante minha ignorância sem destino. A mancha preta de tinta de caneta que não conseguimos remover, carregada como troféu. Meu Deus! Como ainda me lembro daquele dia. Resquícios de uma discussão tola, xingamentos óbvios, agressões desnecessárias.
Ele se aproximou de mim, me puxando pela mão. Eu ainda estava emburrado, não por estar ficando, mas por não termos passado nenhuma noite sozinhos juntos . Me preocupei com o hóspede quando na verdade este queria deitar-se conosco. Como eu ia saber, se ninguém me dissera nada? E todas as insinuações, eu deveria desconversar. Era um trato muito antigo que ainda valia. Minha obrigação era nada além de que servir vinho tinto em copos de requeijão. Até parecia que havíamos voltado, que éramos novamente aquele casal que irritava os padrões heterodoxos.
Não podia, com as armas que eu dispunha naquele momento, relutar com a força de trinta e seis cavalos. Estava abraçado por uma cerca de ficus que me espetava o rosto. Meu coração dependurado no pescoço dele, enquanto o outro agonizava esquecido na pia do banheiro. Abotoei o colarinho, ajustei o nó da gravata. Minha mão direita segurando o nó, a esquerda a vermelha seda indiana. Meu sorriro de quem finalmente aplicara o almejado ippon. Solta!, ele me disse. Me solta!, respondi-lhe. E o que nossos olhos disseram, desejo algum traduz. Ele estava partindo. Voltaria quando possível. Telefonaria todos os dias. E ficaria irritado quando eu alegasse que não estava em condições de conversar com ninguém.
O olhar descuidado para o relógio denunciava que poderíamos tentar concluir o que o ácido sangue prateado não permitira. Com esforço, tentei liberar minhas mãos. Contudo, só me restava a opção de esfregar meu sexo no dele. A estratégia resumia-se a não beijar-lhe mais a boca e sim mordiscar o lóbulo da orelha. Pude ouvir minhas costelas estralando. Ai, porra! Eu preciso da minha orelha. Eu era meu próprio esfíncter nas mãos dele. Relaxei os músculos. Silenciei a respiração. Fiquei mudo, aguardando as instruções. Sim, Sr. Doutor.
A sirene da rádio-patrulha, lá embaixo, na rua, o desconcentrara. Poxa! Não acredito que já estão me chamando. Era mesma piadinha de sempre. Ele me soltou, foi até a janela e quando voltou, me pus de joelhos ao pé dele. Minha boca, por cima do tecido mole da calça, procurando a barra de ferro, frio, cruel, desumanho. Tentei abrir a braguilha. Levanta, amor! Estou atrasado. Fica para uma outra hora. Ele me ergueu, me beijou a boca e me entregou a chave do apartamento. Queria perdir-lhe um favor. Estava pronto para dizer-lhe "não posso." Você, poderia vir cuidar das floreiras para mim. Você pode dormir aqui, se quiser. Usar a internet... Eu volto logo. Vivo ou morto?
E nos espaços vãos da ausência não só de mobília, eu poderia me esconder. Sombras me acompanhariam em noites sem luar. E nem mesmo a sessão suicida de felação na dark room conseguiu evitar que eu chorasse, à noite, de saudade. O telefone tocou, não atendi. Prefiro que ele pense que eu fui embora. Na realidade, tenho estudado muito para tentar compreender a dimensão da minha idiotice.

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