31 de out. de 2006

Onde perdi a minha paz

O vento bate e não sai nada. Era só barulho. Grãos de almíscar impregnavam a camisa de seda branca do meu pijama, suores amanhecidos conjugados. Tínhamos uma história com data de validade vencida e acenei com tchau o que não podia ser mais eu. Boa semana, disse-lhe. E não mais nos falamos, desde então. Trim. Trim. Trim-trim. Trim-trim. O número no visor do celular denunciava a vontade inconcebível Dos Anjos. Se ele for bom mesmo, que rastreie meus andares na penumbra dos bosques (contra-informação pernóstica). O vento era ele assoprando meu ombro arranhado. Deixa pra lá.

28 de out. de 2006

Testamento de Heilingenstadt

"Esses incidentes levaram-me quase ao desespero e pouco faltou para que, por minhas próprias mãos, eu pusesse fim à minha existência. Só a arte me amparou! Pareceu-me impossível deixar o mundo antes de haver produzido tudo o que eu sentia me haver sido confiado, e assim prolonguei esta vida infeliz. Paciência é só o que aspiro até que as parcas inclementes cortem o fio de minha triste vida. Melhorarei, talvez, e talvez não! Mas terei coragem. Na minha idade, já obrigado a filosofar, não é fácil, e mais penoso ainda se torna para o artista. Meu Deus, sobre mim deita o Teu olhar! Ó homens! Se vos cair isto um dia debaixo dos olhos, vereis que me julgaste mal! O infeliz consola-se quando encontra uma desgraça igual à sua. Tudo fiz para merecer um lugar entre os artistas e entre os homens de bem." Ludwig van Beethoven (grifo nosso)

18 de out. de 2006

Sinais de que o entusiasmo voltou a freqüentar essa casa. Só escrevo quando estou muito feliz. Compatilho euforia. (Pq eu sei que você gosta de mim.) Só escrevo quando estou muito triste. Poupo meus amigos de desabafos tolos. E se ontem eu fui dormir ao soar de vinte e duas badaladas e se domingo estive entregue a facadas foi porque, meu intercessor junto ao Nosso Senhor Jesus Cristo, eu era fuligem. Meu papel é carbono. E não tenho nenhuma novidade a não ser que estou sofrendo e amando o RICD.
Preciso responder à Brighton. Socorro. Preciso avisar o embaixador que eu já sei o que gostaria de receber de presente de Natal; a luz parisiense contida num minúsculo mini-papiro (Cyperus papyrus). Preciso enviar uma porção de e-mails similares ao praça caveirado na esperança que ele me espere. Deitado, decúbito dorsal. Era só a glande a se sujar no meu esfíncter. Que não se dilatava. Drogas. Drogas, não! Medicamento. O que é preciso realmente: memorizar os verbos. Assim evito acidentes aéreos na rota de colisão de um pleito que me leva ao outro lado do pacífico atrás de argumentos irrefutáveis para defender o sr. presidente. E daí?Penso nisso depois, plantaram médicos no nosso jardim. Colheita ingrata.

17 de out. de 2006

Quando sentir finalmente por minha falta, estarei debaixo da cama lendo livros proibidos que me possibilitem refazer o caminho de volta. Desculpe-me leitores a fraqueza das metáforas encontradas na poeira dos polens. Asfixia hiperbólica me evapora em tardes ímpares, por isso, aquilo. Ele só me machucava, com a minha permissão. Bastava encostar o cotovelo, levantava-se de cima de mim. Bufando. Com raiva. Encarando nuvens disformes. (Eram cavalinhos.) Tinha vontade de se jogar da varanda? Nunca saberemos. Não deu tempo. Sentou-se ao lado esquerdo da cama. Silêncio. Esperava pela mão escabrosa descer minhas vértebras como se fossem escadas. Meu corpo de bruços queria apenas descansar. Olhos fechados. “Tentava me lembrar do sonho de hoje de manhã”. Os tempos não se conjugavam mais. Azar de quem queria estar ao lado do mestre-de-armas. O peso do corpo que agora me era alheio pressionou minhas costelinhas antes mordiscadas. (Se aquilo se chamara carinho, sobreviveria eu anos trancado no porão do maníaco que mora ao lado dos meus pensamentos.) Tirou o fone do gancho. Desemaranhou o fio do aparelho como se estivesse se preparando para mais uma vez extrair a verdade de um seqüestrador da filha do superintendente.
— Eu gostaria de fazer um pedido.
— ...
— Quero uma pizza portuguesa e outra aos quatro queijos.
— Pede um suco de cupuaçu para mim.
— Vocês servem suco?
— ...
— Traga cerveja, por favor. A do frigobar acabou.
— Pede um refri.
— Pode ser. E uma coca light.
A intimidade com que ele falara sabe-lá-Deus-com-quem me tirou o apetite.
— Posso?
— Fica à vontade.
O último pedaço de pizza a passear por uma boca que eu não mais reconhecia. Largou o garfo e a faca sobre o prato com uma insolência intencionalmente irritante. Levantou-se da cama, indo na direção do cabide de madeira desbotado. Uma mão de verniz lhe faria bem. Vasculhou os bolsos da calça à procura do maço de cigarros. Os bolsos do paletó. Observá-lo movimentando-se, lembrava-me os rinocerontes do zoológico brigando por uma poça d’água.
— Tive uma idéia. Joga-me esse cinto.
— Por favor.
— Por favor, você poderia me jogar o cinto.
— Posso não.
E refugiou-se na varanda. Encostado no parapeito da sacada. Contemplava a linha de estrelas que delimitavam o horizonte, como se nada tivesse acontecido, ignorando-me, como eu vinha lhe ignorando há semanas. Eu tinha motivo. Ele apenas se vingava.

13 de out. de 2006

Ele estava sentindo-se feliz por ter aberto sua primeira conta corrente na farmácia da esquina.
O imbecil achava que ele mesmo não seria alvo de investigações. O poder tende a corromper. Os fracos que o digam.

7 de out. de 2006

Mais avacalhado do que já está, não fica.
Acabo de fazer um tour pelo versão beta do Blogger. E daí? Vamos jogar amarelinha, enquanto nuvens sérias não nos ameaçam.

6 de out. de 2006

Jeri beach


Jeri beach, originally uploaded by Niki Needham.

A brisa que desarrumou as folhas soltas do caderno foi embora sem se despedir da gente.

5 de out. de 2006

César Vallejo

"AMOR PROHIBIDO

Subes centelleante de labios y de ojeras!
Por tus venas subo, como un can herido
que busca el refugio de blandas aceras.
Amor, en el mundo tú eres un pecado!
Mi beso en la punta chispeante del cuerno
del diablo; mi beso que es credo sagrado!
Espíritu en el horópter que pasa
!uro en su blasfemia!
el corazón que engendra al cerebro!
que pasa hacia el tuyo, por mi barro triste.
!Platónico estambre
que existe en el cáliz donde tu alma existe!
?Algún penitente silencio siniestro?
?Tú acaso lo escuchas? Inocente flor!
... Y saber que donde no hay un Padrenuestro,
el Amor es un Cristo pecador!"

3 de out. de 2006

























"Janta comigo? O convite deveria partir dele." Posted by Picasa

2 de out. de 2006

ACM, a derrota

Que seja o começo do fim.