26 de set. de 2005

Chuva pesada. Enfiar o dedo na goela, nada adiantaria. Desde ontem após o sessão interrompida porque o cinema desabou, perseguia o rapaz de paletó azul-marinho, gravata preta e cavanhaque conhecido de algum lugar. O rapaz não se esconderia tanto se não tivesse um passado em comum com a testemunha. Em algum local haviam se cruzado. Disseram boa noite um ao outro, e se afastaram sem se apertar as mãos. Não era possível (não havia necessidade) . O rapaz se despediu da testemunha com um simples aceno de cabeça, suficientemente significativo para estragar os planos do amante. E a testemunha foi taxada de paranóica quando disse já ter visto o rapaz em outro local.
-- Deve ter sido numa sauna.
-- Provavelmente.
-- Como?!

Os amantes olharam-se, amunciando uma discussão. Que de fato aconteceu, de madrugada, em casa, no lençol branco manchado de sêmen, sangue e resquícios de fezes.

-- Porra! Você tem que fazer uma higiene...
-- Por que você não parou quando eu pedi?
-- Rebolando feito uma puta, você queria que eu parasse?
-- Tanto queria, que o lençol está sujo. Vamos combinar o seguinte: quando eu ficar calado por mais de três segundos, você me solta.

Assim ficou combinado. Até que uma das partes resolveu pedir desculpas. E começaram tudo de novo, inclusive uma discussão tola por causa da interpretação do Ed Motta para Bye bye Brasil.
Graves e agudos foram ouvidos da portaria. Pensou-se em chamar a polícia, mas tal idéia foi rejeitada por causa do espírito coorporativista da classe.

24 de set. de 2005

Em carta a seus alunos, Marilena Chauí fala sobre onipotência da mídia


Canus familiaris, originally uploaded by asmundur.


Nem sei quantas vezes interrompi a leitura para tomar fôlego, rir, delirar de prazer, por causa do conteúdo dessa carta tão carinhosa de contundente. Que pena... ler os textos da Marilena Chauí, ou suas sugestões bibliográficas, não me faça ser seu aluno. Mas posso ser partidário. E serei, em breve. Ficcionista engajado. Você antevê a consequência disso, Marcinho? Vamos para o sacrifício, como se já não estivéssemos.

Sempre questionei os livros, o que dirá da midia, "empresas privadas e, portanto, pertencem ao espaço privado dos interesses de mercado". Não que eu seja contra propriedade privada, ao contrário. Apenas, reconheço a importância e o significado de se usar adjetivos (você, fala cheio de autoridade). Como escreveu um poeta: "A borboleta é apenas uma borboleta. A flor é apenas uma flor." E a midia, deste quando adquiri o vício de folhear vários jornais diariamente, abusa de adjetivos, o que dirá do coitado do futuro do pretérito. Não está muito difícil descobrir a quem a mídia serve (ao leitor é que não é.) Basta seguir a lógica das commodities, minha hipótese de trabalho.

CRISP - Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública

Brasil: as armas e as vítimas

Desarme.org: site com artigos sobre produção e circulação de armamento.

23 de set. de 2005

Desafios do Desenvolvimento

Hmmmm... Encontrei assunto para a hora do licor.

Fomos premiados


apricots, originally uploaded by Nayantara.

Venham todos comer damasco na sede da Polícia Federal em São Paulo. Às custas do Tesouro? Não. Cortesia dos carcereiros. Se não compraram, ao menos facilitaram a entrada. Imaginem, queridos leitores, uma fotografia do EX-candidato à presidência da República, Doutor Paulo Maluf, servindo champagne francesa aos agentes e demais autoridades. "É assim que se trata subalternos." Nada mais digno, afinal, a Polícia Federal tem trabalhado muito ("eu te liguei, amor, até ficar cansado de ouvir 'telefone desligado ou fora da área de serviço.' ") só não sabemos em prol de quem.

Minha fonte (não nos parece) se vangloriou no dia que prenderam sua excelência: "Me dê os parabéns. Em nome da coorporação, mereço." "Parabéns, respondi, por ter finalmente conseguido cumprir com sua obrigação. Agora sim, você faz jus ao salário que recebe. E o dinheiro, conseguiram repatriá-lo?" Ele desviou o olhar para ganhar tempo, formular uma resposta excepcional, acenou para o garçon: "Irmão..." Irmão? -- disse-lhe -- Ele se chama Amanai, Amanai San. Não estamos num pé-sujo.
-- Pois não, Doutor.
-- Irmão, traz outra cerveja, por favor. Você quer mais sashimi?
-- De atum, por gentileza.
-- E um de salmão.
-- Você precisa aprender tratar bem as pessoas.
-- E é você que vai me ensinar isso? -- Se você quiser, vou.


Se eu quisesse despertar a fúria do Vesúvio, bastasse quando estivéssemos em público mostrasse intimidade com um desconhecido, mas não o lembrei disso. Preferi morder-lhe o calcanhar:
-- Espero que ex-governador não tenha privilégios na prisão.
-- E não terá, disse-me, interrompendo o gole. Você tem minha palavra. Somos uma instituição séria.

Como queria que o celular dele atendesse. Gozar da autoridade. Ou saber em que hotel ele se hospedou para enviar-lhe uma cesta recheada de damasco secos (hmmmm, chega deu vontade) com uma garrafa de Johnnie Walker Red Label 12 anos. Pena que ele não tenha paladar, nem senso de humor.

Na PF, damasco e champagne para Maluf por Soraya Aggege

22 de set. de 2005

À caminho de uma sauna qualquer


Rust, originally uploaded by Jаnnis.

Mustang Sally

written by Sir Mack Rice

Mustang Sally
Guess you better slow your Mustang down
Mustang
Sally , baby
I guess you better slow your Mustang down
You been a runnin'
all over town
I guess I'll better put your big feet on the ground, oh yes, I
will

All you wanna do is ride around, Sally (ride Sally ride)
All you
wanna do is ride around, Sally (ride Sally ride)
All you wanna do is ride
around, Sally (ride Sally ride)
All you wanna do is ride around, Sally (ride
Sally ride)

One of these early mornings
You gonna be wipin' your
weepin' eyes, yes you will
I bought you a Vintage Mustang
Of nineteen
sixty-five
Now you comin' right signifyin' woman, no
You don't wanna let
me ride

Mustang Sally, baby, yeah
I guess you better slow your Mustang
down, yes you will darling, I hope you will
Going around running' all over
town
I'm gonna put your big fat feet on the ground, oh yes Sally, well, look
at here

All you wanna do is ride around, Sally (ride Sally ride)
All
you wanna do is just ride around, Sally (ride Sally ride)
All you wanna do is
just ride around, Sally (ride Sally ride)
All you wanna do is ride around,
Sally (ride Sally ride)
One of these early mornings
You gonna put your bad
bad feet on the ground, oh yes I will, Sally

Sally (ride Sally
ride)
Sally (ride Sally ride)
(ride Sally ride)
(ride Sally
ride)
(ride Sally ride)
(ride Sally ride)

Estranho quando me deparo, em blogues desconhecidos, com letras de música publicadas. O que deseja dizer o blogueiro? Para o leitor que acompanha freqüentemente o blogue, ou conhece o canditado a cronista, seria fácil (!) responder tal pergunta. Mas para quem aparece vindo do Google resta, no meu caso, a indiferença ou a desconfiança de que a letra não esteja correta. Gostaria de vez em quando, ler ao menos uma justificativa, diferente do "porque eu gosto" subententido. Pode ter sido uma lembrança, que ressoa infinitivamente; pode ser vontade de ter para si aquele melodia, no caso ritmo. Mas não nos cabe agora levantar hipóteses, até porque não apresentamos justificativa. Poderia deixar para o leitor que acompanha o DiCla, responder-nos. E deixo. Ele que contextualize o espaço-tempo na seqüência de posts com o conversa no MSN que apenas os dois envolvidos tem acesso; seguida da conversa no telefone, que além do mim todo o nono andar ouviu. Que discussão sarcástica! (Como foi? Conte-nos!) Que telefonema desaforado! (Reproduza-o!)
Este post serve ao leitor chegado através do Google, com a intenção de apenas salientar-me minha ignorância, em público, em relação ao Blues. (Que me importa isso?) Não se pode conhecer tudo. Concordo. Mas não se pode ignorar que um longínquo amigo considerado seja aficionado por Buddy Guy, cuja canção (depois de escutá-lo na web) esteve incluída num musical de Allan Parker. Sei muito pouco sobre meus amigos virtuais e eles de mim (apesar de acompanhar seus blogues), talvez por isso sejamos amigos somente virtuais. Também aprecio Blues. A ponto de não ter ainda conseguido escrever sobre a ação do Katrina em Nova Orleans. Robert, você poderia ter sugirado outro tema.

21 de set. de 2005

Declaração de amor


Saudades., originally uploaded by Fabio Cherman.


Minha flor, minha flor, minha flor. Minha prímula, meu pelargônio, meu gladíolo, meu botão-de-ouro. Minha peônia. Minha cinerária, minha calêndula, minha boca-de-leão. Minha gérbera. Minha clívia. Meu cimbídio.Flor, flor, flor. Floramarílis. Floranêmona. Florazálea. Clematite minha. Catléia, delfínio, estrelítzia. Minha hortensegerânea. Ah, meu nenúfar. Rododendro e crisântemo e junquilho meus. Meu ciclâmen. Macieira-minha-do-japão. Calceolária minha. Daliabegônia minha. Forsitiaíris, tuliparrosa minhas. Violeta... Amor-mais-que-perfeito. Minha urze. Meu cravo-pessoal-de-defunto (foto). Minha corola sem cor e nome no chão de minha morte.

In: Andrade, Carlos Drummond. Poesia Errante. Record. 1988. 1ª Ed.

Lógico!


IMG_0042, originally uploaded by blurredvisionstudios.



Nos rebordos da chapada a guerrilha se esfumaça. Eis a ironia: ex-guerrilheiros foram finalmente alvejados, razão pela qual permitiram ascensão do grupo. Do mirante observo as emboscadas. Reprise do Fim-do-mundo. Plágio. Deputado canastrão.
Se fôsse nos EEUU, o político suicidaria com um tiro na têmpora, não por ter perdido os privilégios, mas por vergonha. Aqui em Bruzunganga, ele distribui autógrafo ao passear pelas ruas. Se o encontro na rua, escarro-lhe na cara. Não faça isso, Marcinho. O deputado gosta. Ele contratava go-go boys fluminenses para açoitá-lo enquanto não era convocado para apaziguar a gula dos correligionários. Há de se estudar lógica, sem esmorecer.

20 de set. de 2005


Takedown, originally uploaded by MacFlick.

Por alguns segundos, depois de meses de espera, pude vê-lo de longe. Aparentemente, ele está bem.

17 de set. de 2005

À cavalo


Mahood/McKenzie, originally uploaded by Ord.

Permita-me registrar dados biográficos, Dona Sintaxe.

Os leitores desse blog sabem que dificilmente comento com clareza acontecimentos que envolve meu ambiente de trabalho. Até porque não sei escrever como os cânomes exigem. Mas eu estou com fome. Então, escrevo para esquecer, não o estômago doendo, não a cabeça latejando, tampouco o socorro que se esquivou, mas para me esquecer do equívoco que cometi ao desistir do alojamento universitário, porque se eu tivesse aceito... Seria pior.

Essa sinusite que me faz achar que as pessoas fedem à galinheiro em dia de chuva, não é nada diante à frieza das paredes de cimento nu do duplex com vista para o lago (a universidade pública trata muito bem seus alunos). Minha sinusite adquirida (talvez pela quantidade de polens inalados) atrapalha apenas meu apetite. Não tenho hora para refeições. Como, quando meu olfato permite. Portanto, quando o almoço chegou, disse aos funcionários que fossem almoçar. Meu "patrão" sabendo que eles comem feito cachorros famigerados, mandou eu separar meu prato.

Obedeci, pois noutra ocasião os eles, avisados que eu ainda não havia almoçado, lamberam as panelas. Fiz meu prato (arroz, feijão, salada de tomate com cenoura e bife à cavalo), ou melhor, peguei a carne e coloquei na marmita do meu sobrinho (não sei por que mandam comida para criança se ela não almoça.). A marmita ficou em cima do microondas.

Voltei para o balcão, fui atender telefone, cliente, enviar uns faxs e disse para os funcionários irem finalmente almoçar (passava-se das 14 h). Acontece que me esqueci de avisá-los que não havia almoçado. Quatro horas mais tarde, quando meu apetite chegou, fui almoçar. "Onde guardaram a marmita? Comeram-na? Impossível. Havia comida para alimentar os animais do Zoo Hollembach por um mês."

Subi as escadas contando os degraus para não tropeçar em acusações sem provas e da porta da oficina, onde todos estavam preparando os arranjos de flores para o casamento de logo mais (ontem), perguntei para o engarregado pela copa, que se encontrava no fundo da oficina fuçando a unha com um canivete, se ele havia guardado meu prato. "Não! Não sei do seu prato, não!" Foi quando me lembrei do barulho vindo improvisada copa. "Não acredito que ele está lavando as louças." Meia-hora depois passa por mim com o saco de lixo. "Poxa! Hoje ele está disposto."

-- Danilo, você jogou fora a comida que estava em cima do microondas? -- perguntei-lhe.

-- Joguei.

Meu "patrão" permaneceu calado.

-- Inclusive a carne?

-- Foi.

-- Márcio, toma esse dinheiro e faz um lache. -- disse-me meu "patrão".

-- Obrigado! Perdi a vontade de comer. Até a minha dor-de-cabeça passou.

-- Eu ainda perguntei se todo mundo havia almoçado.

-- Guilherme, por favor, faz a entrega do Tribunal e passa no Habib's...

-- Compra quantas esfirras, chefe?

-- Pode trazer umas vinte... traz dois cocão.

-- Se é por minha causa, não precisa. -- gritei da minha mesa.

-- Você não pode ficar sem comer. -- argumentou meu "patrão."

Levantei-me da minha cadeira calmamente e me dirigi ao motorista.

-- Pode deixar que eu faço a entrega e compro o lanche de vocês, Guilherme. --disse-lhe com a mão estendida pedindo a chave do furgão.

-- Você não pode sair, não, Márcio. -- lembrou-me meu "patrão."

-- Eu não vou ter recolher os arranjos na Igreja?

-- Vai.

-- Então, preciso sair para fazer um telefonema.

Ninguém disse nada. Pois ouviram, quando a Emanuelle, pessoalmente, veio me entregar o convite do seu baile de formatura. "Você vai dançar a segunda valsa comigo." Prometi que iria. Peguei a chave, o dinheiro e fui responder uns e-mails.

-- Vai logo, Márcio. Está quase na hora do meninos irem embora.

-- Estou indo.

O motorista passou pela minha mesa e me fitou com um olhar de desespero. Pude imaginar o que ele pensou: "Porra, o veado vai pirraçar. Não acredito que vou perder esse lanche." Conclui o orçamento para o TST e o arquivei nos "rascunhos". Meia-hora depois, estava de volta. Comprei uma esfirra para cada e dos refrigerantes PET mais baratos.

-- Vem comer, Márcio.-- Já lanchei, obrigado. (Não sabe contar?)

Ao chegar em casa, passando pela cozinha, escutei:

-- O Márcio está sem almoço.

-- Eu lanchei.

-- Mas não almoçou.

-- Sabe porque, tia? Seu funcionário jogou a comida fora...

-- O quê?

-- ... com os bifes à cavalo dentro.

-- Vocês estão brincando.

-- Fartura né? Os pais dele devem amarrar cachorro com lingüiça.

-- Não, Márcio. Ele deve ter comido. Você precisa ver o jeito que eles comem.

-- Se ele comeu menos mau -- retruquei . Jogar fora é que não pode.

-- Você vai falar com ele, viu? Eu já queria tê-lo mandado embora, mas vocês o defendem.


Pedi a bênção, desejei boa noite. A decisão não cabia a mim. Subi as escadas tropeçando em dúvidas e medos: "...e se ele quiser nos fazer algum mal... quiser se vingar de mim... será que vou ter que voltar a sair sempre acompanhado? Com os amigos do Bruno! Por fim, acabei dormindo, a ponto de não ouvi ninguém vomitando sangue (?) às três da madrugada. Não sabe beber...

Hoje cedo, lá na loja, ninguém me cumprimentou e na hora do almoço...

-- Márcio, você come minha comida, tá? Mas guarda a marmita na geladeira, senão jogam fora de novo.

-- Jogam, não! O Danilo joga!

-- Eu jogo mesmo. -- respondeu se dirigindo a copa.

Ele perdeu a oportunidade de se desculpar. Paciência, possivelmente, não aliviaria minha fome.


UP DATE: Em decorrância dos fatos, recebi quinze dias de descanso. "Ah! Eu tenho direito à férias?" Minha mochila está pronta. Chapada dos Guimarães será o meu destino daqui três horas. E meus leitores, meu diário... ? Tenho que deixar algo substancioso para eles. Vou descongelar o contra-filé.

16 de set. de 2005

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Chorar é para os amadores, que não agüentam correr nos campos de soja sem espirrar. Agradeço à Força Interior por ter me ensinado a clarear os hematomas. Logo mais à noite, vou atender teu telefonema. Uma noite de sexo com o professor de natação vai me fazer bem. Pena ele ser tão enrolado. Não fique com raiva de mim. Não vamos beijar na boca. Dele quero só o descartável.
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Meu blog mais se parece um álbum de fotos. Consistência lingüística, desapareceu. Tenho pressa. Sou um menino ansioso que pega carona de madrugada em Mercedes ávidas por carícias de língua. Se nos protegermos farei muito mais do você pode imaginar -- disse-lhe. Ele gostou, pois me convidou para dar uma volta pelas estradas que circunscrevem a capital. Desconfio que ele quisesse comprar maconha. Sabia onde poderíamos encontrar, mas o Kant poderia interpretar aquele reencontro como uma prova de amor. E amor era o que eu menos desejava. O embaixador e eu entramos num acordo, já que ele era casado e eu comprometido com um (hoje afirmo com certeza de costelas amassadas) possessivo-narcótico-robusto que me policiava com digitais câmaras com infra-vermelhos, webcams e o caralho-de-asa, mas isso é outra história. O que nos interessa foi o acordo: contar quantas Oncidium Sarry Baby havia em cada haste. "Cem e quarenta e sete." Cento e cinqüenta e um, retruquei. Ele perdeu. Ligou para recepção pedindo a conta; enquanto fiquei jogando, do alto da janela da suíte, cinzas de Havana no lago.
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Não. Falta-me coragem suficiente para dizer tudo que eu gostaria.

O Manancial da Noite

Pena a letra ser tão pequena.
Estava correndo pelo eixão a procura da marca de sangue. A velha bruxa tristeza me toma pelas mãos e me traz de volta à realidade. Márcio, já são 6h30. Levantei-me grogue, com o corpo dolorido como se tivesse levado uma surra de cipó. Sinais vermelhos não significam nada.

15 de set. de 2005

Diálogo vazado do MSN ou escuta telefônica não autorizada

Assim que chequei em casa:

-- Porque você não apaga os spams?
-- Pelo mesmo motivo de você dirigir, ouvindo música. Gosto da falsa sensação de companhia.
-- Você vai começar? Problema seu ter preferido ficar em Brasília. Era medo do Roberto Jefferson não ser punido? De que adiantou? 156 deputados votaram a favor dele.
-- Sem contar os votos brancos, nulos e as abstenções.
-- Pois é! E eu aqui assinando 151. Isso é tortura sabia?
-- Se você está dizendo, deve ser mesmo.
-- Sabe no que estou pegando?
-- No mouse?
-- Nas suas passagens.
-- Não as trocou ainda?
-- Tenho esperança. Você não vai agüentar essa secura.
-- Bobagem! Estou me preparando para conhecer as pirâmides do Egito.
-- Mudou de idéia? Não iámos viajar pelo sertão.
-- O único sertão que me importa é aquele que não pode ser mapeado.
-- Você sabe que sobre esse assunto não posso falar.
-- Sim. Até prefiro. Vai ser melhor descobrir sozinho, com a falsa sensação de companhia.
-- Chegou gente aqui. Só um minuto.
-- Tenho que ir. Beijos. Até amanhã.

Blog do Moreno

Comenta-se sobre a terceira geração de blogueiros (jornalistas e intelectuais que se renderam à ferramenta). Só não entendo qual a vantagem em dar uma notícia esperada antes dos outros. Imaginam-nos como se fôssemos um pai ansioso esperando a notícia do nascimento do primeiro filho. Ele não quer saber se nasceu; quer estar ao lado, nem que seja de fora. Traga-nos um fato que altere o eixo de rotação das nossas vidas. A notícia da morte de um arrimo de família, por exemplo. Ele era isso. A partir de agora, são minhas memórias. Nossas. Não tenho direito de chorar, lamentar-me, reclamar, ou cobrar de Deus (se é que Ele realmente morreu). Fui feliz, mas do que mereci. Só não sei como vamos falar com a D. Concetta. Ninguém sabe.

Cheira a amônia


Kitty Karate, originally uploaded by DantesFedora.

Estava arrependido do produto da caça. Despelado urso leitoso as duas horas da manhã. "E essa solidão dos olhinhos, menino?" Nossa. Como ele pode perceber? Meus olhos castanhos já não conseguem sustentar mais a máscara que me impus. Precisava me sair bem, já que dali a pouco iria me envenenar em outra praça. "Nascemos e morremos só. -- repliquei -- Há de se saber trabalhar a solidão." O Trufa se admirou com o fato de eu ser existencialista.

Nunca os li. Sou analfabeto em alemão e meu francês só me permite ler gibi. "Você deve estar enganado." Talvez deva ter escutado alguém reproduzindo as idéias. Se me alimento da minha dor, autofagia, é porque aprendi de ouvido. E nada pior do que aprender a tocar violão de ouvido. Nada pior do que se servir da carne fria, numa madrugada fria, num banco de couro frio. Será que ainda quero conhecer neve? Com o Seu Jorge tocando vai ser difícil continuar. Mas preciso de algo que me levante. Nem visitar meus Favoritos, consigo. Assim não há porque prosseguir.

O celular toca. É o Urso. Será que ele se apaixonou? Trigéssima-primeira ligação. Vinte e cinco mensagens que não tenho coragem de ler. Ele que vá procurar outro submisso. Meu rosto ainda arde das bofetadas perfumadas e meu proctologista me ameaçara transferir meu caso para outro colega, caso eu viesse a tentar uma dilatação (fist fucking). Não pretendo Dr. Pode ficar tranqüilo. Nunca me passou pela cabeça. Dizer que "adoraria", foi apenas uma estratégia de sedução. Ineficiente diante do Trufa. Arrependimento de não tê-lo beijado até o amanhacer.

14 de set. de 2005

Ingenuidade


El poder de la cerveza Originally uploaded by Joserri.

Mindurim mijando no poste. Era no meu sapato. Eu, submisso, aceitei beijá-lo, porque sabia que ele não se lembraria do fato no outro dia. Não quero nada com ele, além de sexo casual. Se tivermos outra oportunidade, vamos beber com moderação. Eu gostaria de dizer isso ao Fulaninho: "Ele beija bem melhor que você." Não convém provocá-lo.

13 de set. de 2005

Sob a mesa


YammmYeee Originally uploaded by ~*FuLL MoOn*~.

Do teu almoço só quero a sobremesa.

Exclusividade


DSCF0008 Originally uploaded by Hound_Cat.

Acabo de me lembrar que meu Coração havia me pedido exclusividade.

Nos campos


Tulpenfeld Originally uploaded by Gakas.
Uma Mercedes passou por nós, sem pedir licença. Eu pediria, se tivesse juízo.

Tulpen, tulips, tulipas


tulpen Originally uploaded by roxydynamite.

Uma bomba de pétalas de tulipas preste a estourar debaixo da minha cadeira. Polens impregnarão as paredes revestidas de cicatrizes feitas à ferro frio. Pensei em fugir. Talvez me consultar com Doutora Médica. Talvez cumprir o acordo com a Doutora Psicóloga. Consultórios têm sido excelentes esconderijos. Entretanto, resolvi permanecer. Quero testemunhar o atentado, mesmo que eu seja o principal suspeito. Só assim junto provas da inoperância alheia. Tem neguinho que está com o cu na seringa. Não tem coragem de me encarar. Aguardemos.

12 de set. de 2005

Na grande sala dos fundos onde os vaqueiros articulavam boa noite suficientemente escura, dormi durante toda a escuta (essa, autorizada pela Atabaque). Corri. Não a tempo. Desencontrei-me dos selos preto-em-brancos. (Havia vários deles escondidos no pano-de-prato.) Por acaso pude acompanhar a partida contra a morte, noutra esquina. Colei suando a essa oportunidade de marrecos e consegui sublimar o vício. Quando me vi novamente diante do Sonífero (Obrigado, Msc. Adriana. Hoje, "elas" estão presas aos intestinos. Frias, frias.) fui contaminado por aquela reação nuclear. Nossa cota de plutônio, explosão de pipas no horizonte da Rosas-dos-Ventos. Um aparte, enquanto estou sendo lembrado pela canção do Apadrinhado (Qual?): Respeito muito as idéias e opiniões do Excelência THC, mas prefiro continuar comendo mandacaru. Até porque não há provas (Ainda). Voltemos ao pseudo-debate. Aquilo lá era uma paródia. Corpos desuntados de gordura humana. E antes de assistir ao espetáculo, passamos por Roma. Fomos cumprimentar Lady Windermere. Reconheci o vati quando seus amigos entraram na sala. Senti muito orgulho de mim mesmo.

9 de set. de 2005

Desertor


3 Poderes, originally uploaded by Leonardo Matoso.

É, Marcinho. Você se fudeu. Preso no berçário sem poder sair. Eu lhe disse, eu lhe disse. Não aceite nenhum favor. Agora você está amarado sem ao menos poder movimentar as mãos, de olhos vendados para notas frias, amordaçado murmurando palavrões. Não seja melodramático, Marcinho. Você gosta de comer esfirra na café-da-manhã. Você gosta da gorjeta que o grego lhe dá. O estrangeiro gostoso, caraca e peludo que nos atende com o cacete (oops!) para fora. Depois dizem que ele é maníaco. Quem está doente sou eu. Cem passos adiante fantasiado de coelhinho. Onde está sua bengala, Dr. Leão? (Vamos tomar uma cerveja, qualquer dia. Para o Senhor, abro uma exceção.) "Ainda vou descobrir o que você tanto faz nesse computador." -- me dissera o desafeto. Falar sobre tua vida é que não é. Há personagens mais interessantes para se conhecer. Seus toques escorre feito mijo roxo, não me serve, eu poderia responder... Eu precisava sair. Ir à biblioteca da universidade renovar uns livros. Mas não posso. Você pode fazer isso pela internet. Podia. Você pode renová-los pelo telefone. De novo? Pouco adiantou teu esforço, Márcio. Vá no horário de almoço. Não tenho horário de almoço. Vá à noite. Não tenho hora para ir embora. Ainda tive coragem de mentir para o embaixador: "Mas, você recebe um salário, não?" Vou embora para Foz de Iguaçu. Lá tenho alguém que me ama se escondendo atrás de relatórios, processos e afins. Minha fotografia escondida no fundo falso da agenda em branco. Será que o Bruno tem se masturbado olhando para ela. Eu poderia enviar-lhe umas fotos minhas. Nu dorsal, frontal, de quatro fazendo um oito. Ele ia chorar as setes quedas do rio, na minha foz onde ele não mais deságua. Acho que ele foi para lá. Preciso conferir essa informação. Será que ele me aceita? Será que ele me perdoa pelos consecutivos nãos. Vou deixar o apartamento com alguma imobiliaria. Não foi esse o combinado? "Como você quiser." A quanto meses estou remoendo essa história? Acaba logo com isso. Ninguém mais agüenta. Faça suas malas e vamos embora. É facil. Simples. Na cidade onde as estrelas caem em forma d'água. E submeter-me ao temperamento desequilibrado do Bruno? Sei não. Naquela tarde, lá na chácara do pai do Gustavo, para que ele ficou atirando para cima? Logo o Bruno que sabe o quanto custa uma munição. Estava se exibindo para quem? Ele estava com raiva. Aos poucos vou me lembrando porque preferi morrer no berçário a acompanhá-lo com honras militares. "Programa de proteção à vítima" Há, há, há! Até onde vai sua imaginação? Até Oort. Quando estou com preguiça. Vamos voltar ao Regimento Interno da Câmara. Eu não disse ao promotor que trabalhar no preparo de mudas de Araucaria angustifolia me faria bem. Lá estou eu novamente me recusando a usar as luvas. Não é isso. Eu as esqueci no lavabo.

8 de set. de 2005

Silver Fizz ao amanhacer

"O Coelhinho estava fazendo suas necessidades matinais e, quando olha para o lado, vê Seu Urso fazendo o mesmo.
Seu Urso se vira para ele e diz:
- Ei, Coelhinho, você não se incomoda de ficar com seus pêlos sujos de cocô?
O coelhinho respondeu:
- Não, isso é normal.
Então, o Seu Urso pegou o coelhinho e limpou o rabo com ele.
MORAL DA HISTÓRIA: "Cuidado com as respostas precipitadas. Pense bem antes de responder."
No outro dia, o Dr. Leão, ao passar pelo Seu Urso diz:
- E aí, Seu Urso. Com toda essa pinta de bravo, fortão, bombado; te vi dando o rabo pro coelhinho ontem.
MORAL DAS HISTÓRIAS: "Você pode até sacanear alguém. Mas lembre-se que sempre existe alguém mais filho-da-puta que você."


Bugs on the Dog Blanket, originally uploaded by salmonberry.

7 de set. de 2005

Céu de nuvens pesadas. (Não vai chover.) Gramas secas. Havia umidade suficiente para os espectadores. O que por si só já seria a novidade. Os cavalos disciplinados, as éguas olhavam para frente. Minha credencial enfeitava meu bolsilho, as autoridades enfeitavam meus olhos. Alegres. Quinta-feira, vou ter uma entrevista. Vou sobreviver. "Na quadra 12 do Setor Sul vende-se skunk." Informação irrelevante para o agente da Polícia Civil. O rapaz de boné amarelo, de camiseta cinza, cabeça raspada. Másculo. Branco cor de bronze batido. Seus olhos verdes assustam. Dois homicídios antes de completar dezoito anos. Preciso estudar Criminalística para entender o que o agente está dizendo. "Você também esteve pegando um sol, não?" Ele nem levantou a cabeça. Fez que ia me entregar um papel, hesitou. Fitou-me os olhos.
-- Você nunca mais me ligou. Está namorando?
-- Não. Quer dizer. Estou vindo de um fim de relacionamento. E estou bem. Se estou aqui enfretando essa multidão de conhecidos, é porque eu estou bem.

Olhei para o céu, não para ver a esquadrilha da fumaça, mas para segurar as lágrimas. Quando parei de olhar os aviões, os olhos do agente ainda estavam lá me aguardando. Felipe era seu nome. Cabeça raspada, másculo, olhos verdes. Tal qual o narcotraficante. Completamente diferentes. "E você está namorando?" Não devia ter feito essa pergunta, agora o Felipe vai pensar que estou interessado nele. (Porque não?) (E está mesmo). "Sou casado com minha profissão. Esqueceu-se?" (Tão novo e já comprometido.) "Mas isso não significa que eu não tenha meus rolos por aí." Reclamei do clima seco. Despedimo-nos com um aperto de mão (longo, apertado). Desejei-lhe bom trabalho. Antes de eu me afastar para nunca mais vê-lo, (as coincidências...) ao menos não pretendia, ele me perguntou onde havia errado. E antes que um dragão da independência me pisoteasse, me puxou para junto de si.

-- Sempre o herói antento a salvar e proteger os inocentes.
-- Quem precisa ser salvo sou eu... Vamos sair, qualquer dia, tomar alguma coisa, ir ao cinema.
-- Dezessete de março, o que me diz?
-- Amanhã à noite.
-- Sábado à tarde. Você deixa a arma, a funcional, o relógio e o celular em casa.
-- A carteira também?
-- Se você não se importar de dar entrada no hospital como indigente, tudo bem.

Ele riu, como eu nunca havia visto antes. Risos descontrolados. Chamava a atenção dos transeuntes. Não sei se ria de prepotência, por achar que nada, nem ninguém poderia lhe atingir; ou se ria de felicidade, por eu ter aceito o convite.

-- Posso lhe buscar meio-dia?
-- Você ainda se lembra onde eu moro?!

Ele se lembrava de muito mais, e eu esse tempo todo tentando esquecer.

6 de set. de 2005

A parte que me cabe

O melhor das despedidas são as sobremessas.

5 de set. de 2005

Vou mergulhar na piscina de baratas novamente. Asco, se elas não proclamassem a Paz. A bandeja contava os passos. Desfalque de quinze sacas de cimentos. A Branca me fazia cobranças, confissões. Seu pai me quer. "Eu o aceitaria como genro, aquele lá não!" Ainda bem que o Fornazze estava longe o suficiente. Nossos lábios protegidos. Eu estava cochichando? Pelos corredores toda conversa ocorre ao pé do ouvido. Quanto mais político, quanto mais importante, mais inaudível. "Ela estava me convencendo a trabalhar na campanha. Deixei claro que não iria." Imprensado no muro chapiscado, com um braço pressionando meu pescoço, sustentei minha verdade. "Não gosto de ver você conversando com ela." Mas ele adorava me ver fodendo aquela bunda morena, ou me ver sendo fodido pela prótese calejada, ou ainda foder alternadamente nós dois, na fantasia dele, nós duas. O hálito da cerveja me incomodava mais do que o semi-estrangulamento. Dizer-lhe que estava me machucando, que estava doendo, só iria excitá-lo ainda mais. Dizer-lhe que estavam todos olhando, só serveria para ele me lembrar que todos ali lhe devem favores. "Vamos dar uma volta de moto, amor. Fazer uma trilha. Assim não haverá testemunhas, será mais fácil se desfazer do meu corpo." "Não, não. Eu gosto muito de você." Há quanto tempo não ouvia ele me dizer que me amava. Haveria desistido ou se conformado? "Gosta?! Não me ama mais?" Ele olhou para os lados, para se certificar que ninguém nos observava. As pessoas estavam mais preocupadas com a picanha assando. E sussurou. Só tive forças para corresponder ao beijo. Era um churrasco de despedida. Todos ficaram felizes.

2 de set. de 2005

A gosto Deus. Setembro do Diabo. O sangue me escorre espontaneamente pelo nariz, enquanto tento me livrar de lágrimas pneumáticas. Maçãs-do-amor empaladas me desejando boa sorte. "A gata não agüentou nem dez minutos sexo de anal." E porque ele achava que eu teria que agüentar? Um ciclone se forma longe daqui, o pior acontecerá no mar que trago dentro de mim. Ele terminará por ser assoreado. Da brisa não quero nem beijos, quanto mais lembranças. Quer ir embora, vá! Já fiz as malas. Quer me deixar na secura do plananto, deixa. Vou me proteger numa depressão. Deve ter sido bom para alguém, mas chego a conclusão que minhas tardes de caules retorcidos serão dissecadas folha por folha debaixo do nosso abacateiro. Ninguém podia nos ver da janela. Já estive na sala do reitor, acredite em mim. Não me importo em perder, desde que não seja quem se preocupava com o meu sono. Por algum momento acreditei que chegaríamos ao outro lado da margem, mesmo sem os remos. Operações, operações, operações. "Se alguém perguntar, fui seu instrutor de tiro." Um conhecimento que seria útil agora, respondi-lhe. Ele riu. Aquela risada de deboche que me irrita mais do que ser acordado de madrugada, num domingo, para explorar frias cavernas úmidas de tão escuras com especialistas (imagine se não fossem) que sentem prazer em expor os outros ao perigo. "Eu estava te segurando, amor." Segurando-me com flores, chocolates e presentes. Nada alivia agora ausência. Ao contrário, só agrava. A voz do Barry White a resgatar o cheiro da erva-cideira sendo fervida. Não consigo sentir o som vibrando sob meu rosto. O bolero do Ibrahim Ferrer a lembrar das pisadelas. Dentre tantas opções e ele escolheu logo as que mais me apertam. Não vou passar seis meses lendo a Divina Comédia. Aliás, vou vendê-lo ao sebo (alguém fará melhor proveito) e com o dinheiro pagar um michê para me chicotear as costas. Eu fui um burro-idiota-imbecil. Os ipês amarelos-roxos-brancos-rosa a colorir o céu azul-empoeirado da cidade não compensam os planos doravante esquecidos. Desfeitos. A cidade se reduz a cinza, assim como serei daqui a uns segundos. "Culpa do seu presidente." Se alguém teve culpa, foi eu. Em acreditar que seria capaz. Posted by Picasa