17 de set. de 2005

À cavalo


Mahood/McKenzie, originally uploaded by Ord.

Permita-me registrar dados biográficos, Dona Sintaxe.

Os leitores desse blog sabem que dificilmente comento com clareza acontecimentos que envolve meu ambiente de trabalho. Até porque não sei escrever como os cânomes exigem. Mas eu estou com fome. Então, escrevo para esquecer, não o estômago doendo, não a cabeça latejando, tampouco o socorro que se esquivou, mas para me esquecer do equívoco que cometi ao desistir do alojamento universitário, porque se eu tivesse aceito... Seria pior.

Essa sinusite que me faz achar que as pessoas fedem à galinheiro em dia de chuva, não é nada diante à frieza das paredes de cimento nu do duplex com vista para o lago (a universidade pública trata muito bem seus alunos). Minha sinusite adquirida (talvez pela quantidade de polens inalados) atrapalha apenas meu apetite. Não tenho hora para refeições. Como, quando meu olfato permite. Portanto, quando o almoço chegou, disse aos funcionários que fossem almoçar. Meu "patrão" sabendo que eles comem feito cachorros famigerados, mandou eu separar meu prato.

Obedeci, pois noutra ocasião os eles, avisados que eu ainda não havia almoçado, lamberam as panelas. Fiz meu prato (arroz, feijão, salada de tomate com cenoura e bife à cavalo), ou melhor, peguei a carne e coloquei na marmita do meu sobrinho (não sei por que mandam comida para criança se ela não almoça.). A marmita ficou em cima do microondas.

Voltei para o balcão, fui atender telefone, cliente, enviar uns faxs e disse para os funcionários irem finalmente almoçar (passava-se das 14 h). Acontece que me esqueci de avisá-los que não havia almoçado. Quatro horas mais tarde, quando meu apetite chegou, fui almoçar. "Onde guardaram a marmita? Comeram-na? Impossível. Havia comida para alimentar os animais do Zoo Hollembach por um mês."

Subi as escadas contando os degraus para não tropeçar em acusações sem provas e da porta da oficina, onde todos estavam preparando os arranjos de flores para o casamento de logo mais (ontem), perguntei para o engarregado pela copa, que se encontrava no fundo da oficina fuçando a unha com um canivete, se ele havia guardado meu prato. "Não! Não sei do seu prato, não!" Foi quando me lembrei do barulho vindo improvisada copa. "Não acredito que ele está lavando as louças." Meia-hora depois passa por mim com o saco de lixo. "Poxa! Hoje ele está disposto."

-- Danilo, você jogou fora a comida que estava em cima do microondas? -- perguntei-lhe.

-- Joguei.

Meu "patrão" permaneceu calado.

-- Inclusive a carne?

-- Foi.

-- Márcio, toma esse dinheiro e faz um lache. -- disse-me meu "patrão".

-- Obrigado! Perdi a vontade de comer. Até a minha dor-de-cabeça passou.

-- Eu ainda perguntei se todo mundo havia almoçado.

-- Guilherme, por favor, faz a entrega do Tribunal e passa no Habib's...

-- Compra quantas esfirras, chefe?

-- Pode trazer umas vinte... traz dois cocão.

-- Se é por minha causa, não precisa. -- gritei da minha mesa.

-- Você não pode ficar sem comer. -- argumentou meu "patrão."

Levantei-me da minha cadeira calmamente e me dirigi ao motorista.

-- Pode deixar que eu faço a entrega e compro o lanche de vocês, Guilherme. --disse-lhe com a mão estendida pedindo a chave do furgão.

-- Você não pode sair, não, Márcio. -- lembrou-me meu "patrão."

-- Eu não vou ter recolher os arranjos na Igreja?

-- Vai.

-- Então, preciso sair para fazer um telefonema.

Ninguém disse nada. Pois ouviram, quando a Emanuelle, pessoalmente, veio me entregar o convite do seu baile de formatura. "Você vai dançar a segunda valsa comigo." Prometi que iria. Peguei a chave, o dinheiro e fui responder uns e-mails.

-- Vai logo, Márcio. Está quase na hora do meninos irem embora.

-- Estou indo.

O motorista passou pela minha mesa e me fitou com um olhar de desespero. Pude imaginar o que ele pensou: "Porra, o veado vai pirraçar. Não acredito que vou perder esse lanche." Conclui o orçamento para o TST e o arquivei nos "rascunhos". Meia-hora depois, estava de volta. Comprei uma esfirra para cada e dos refrigerantes PET mais baratos.

-- Vem comer, Márcio.-- Já lanchei, obrigado. (Não sabe contar?)

Ao chegar em casa, passando pela cozinha, escutei:

-- O Márcio está sem almoço.

-- Eu lanchei.

-- Mas não almoçou.

-- Sabe porque, tia? Seu funcionário jogou a comida fora...

-- O quê?

-- ... com os bifes à cavalo dentro.

-- Vocês estão brincando.

-- Fartura né? Os pais dele devem amarrar cachorro com lingüiça.

-- Não, Márcio. Ele deve ter comido. Você precisa ver o jeito que eles comem.

-- Se ele comeu menos mau -- retruquei . Jogar fora é que não pode.

-- Você vai falar com ele, viu? Eu já queria tê-lo mandado embora, mas vocês o defendem.


Pedi a bênção, desejei boa noite. A decisão não cabia a mim. Subi as escadas tropeçando em dúvidas e medos: "...e se ele quiser nos fazer algum mal... quiser se vingar de mim... será que vou ter que voltar a sair sempre acompanhado? Com os amigos do Bruno! Por fim, acabei dormindo, a ponto de não ouvi ninguém vomitando sangue (?) às três da madrugada. Não sabe beber...

Hoje cedo, lá na loja, ninguém me cumprimentou e na hora do almoço...

-- Márcio, você come minha comida, tá? Mas guarda a marmita na geladeira, senão jogam fora de novo.

-- Jogam, não! O Danilo joga!

-- Eu jogo mesmo. -- respondeu se dirigindo a copa.

Ele perdeu a oportunidade de se desculpar. Paciência, possivelmente, não aliviaria minha fome.


UP DATE: Em decorrância dos fatos, recebi quinze dias de descanso. "Ah! Eu tenho direito à férias?" Minha mochila está pronta. Chapada dos Guimarães será o meu destino daqui três horas. E meus leitores, meu diário... ? Tenho que deixar algo substancioso para eles. Vou descongelar o contra-filé.

5 comentários:

  1. Anônimo3:07 PM

    Boas férias então.

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  2. Anônimo1:10 PM

    JUNTA-SE AOS BONS.

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  3. Anônimo1:44 PM

    Curti as mudanças. Incluindo a quinzena na Chapada! Enjoy! (obrigado por linkar meu circo na tua lista) Um beijo.

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  4. Anônimo3:01 PM

    eu sou a favor das brigas e das murradas. pena que nunca incorra nesses artifícios. bom descanso.

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  5. Chapada é um paraíso à parte. Vc vai saciar a fome dos olhos...

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