14 de jan. de 2009


Ave Orkut! Acabo de reencontrar uma amiga de colégio. Mais uma invenção do nosso ficcionista, amigos imaginários, melhor que ficar cantando no chuveiro, todas às vezes que acorda molhado de suor e mijo. Ela mora e trabalha em Londres. Me dá notícias suas, Marcinho. Poderia sugerir que acompanhasse meu blogue, no meu diário não cabe a minha agência de notícias. Pessoal de tão íntima. Nada impede que caiba. Minha intimidade exposta no ciberespaço a troco de nada. Sou mais conhecido do que nota de um real. Por onde passo, arrumo iminizades. Inveja.

Vamos ser produtivos. Sente, seus dedos deslizam pelo teclado. Hesita: lap ou desktop. Certeza: Marca Dell. De novo. Estava ficando maçante esse merchandising de fruta. Nada de mais para hoje.

Ontem, encontrei a Arabiane on line no gmail. A cadela me bloqueou. Filha-da-puta. Procuradora de merda. Em Porto Alegre só há lésbicas estrábicas. Ao me ver, ela se decepcionaria comigo, assim como se decepcionou (suposição) o enfermeiro barbudo? Ninguém saberá responder. Só Deus, que não atende a porra do celular.

God, que mundo pequeno. A capital é um ovo. Ovo de codorna. E dois milhões de habitantes ndiferentes. Não se pode falar mal de ninguém, sem que em meia hora a outra pessoa já esteja sabendo.

"Me lembro de ...." não o deixei completar a frase. Pronto-socorro, 24 de novembro, passavam das 22 h. Acompanhantes se preparando para dormir. Eu, euzinho, sentado numa cadeira, dura, iria passar a noite sentadinho numa cadeirinha, tomando litros e mais litros de soro. Exagerado como sempre. 14 gotas por segundo. Hidratação. Estava morrendo. Deixe de melodrama, já sabemos que alguém nesse estado está por abotoar o paletó. Compraste. Comprei. Pagaste. Paguei. Não há necessidade de repetição. A enfermeira pediu meu braço. Estendi-o, taticamente. Retira meu sangue, baby. Retira todo ele. É sujo. Batia no meu braço à procura de uma veia onde iria inserir a sonda por onde correria o soro da vida.

Ao amarrar o garrote, porém, pedi a audição, sensação de ouvido entupido; queria falar, mas não conseguia mover os lábios; logo em seguida, fui perdendo a visão, lentamente, escurecendo. Eu de olhos bem abertos, enxergando apenas a escuridão. Seria como um fechar de pálpebras. Meditação. Sono. Vou colocar minha cabeça entre as pernas, assim tudo volta ao normal. Tu estavas desmaiando, caralho, com três enfermeiros ao teu lado! Eu nem peguei a veia dele, disse a enfermeira ao enfermeiro de braços tatooados, que hoje por acaso sabemos seu nome, sobrenome, onde mora e nº do celular, mas isso não vem ao caso. Sem nomes. Sempre. Se ele é um treinador, com certeza ele não me escalou para jogar no seu time. Pudera. Eu, cara de sonho. Ele, um homem com cheiro de macho.

Quero morrer, mãezinha, com a mão daquele David me erguendo pelo omoplata. Olha na ficha o nome dele. Márcio, Márcio, Márcio. E assim os sentidos foram voltando e a visão de Deus diante de mim. Zeus me crucifica aqui mesmo, que morrerei feliz contemplando a imagem desse anjo tatooado de tão barbado, piercing no supercílio. Enfermeiros podem andar assim? Ele podia. Era o próprio Deus sorrindo a noite toda pra mim. Passaria todos os vinte e dois de internação sentadinho naquela cadeira de acento duro contemplando aquele sorriso. Jesus, não me deixe morrer. Quero viver para contemplar esse doce sorriso. A noite passou rápida e o tatuado nunca mais.

Subi para enfermaria. Quarto particular. Meu estado exigia cuidados especialíssimos e ali no pronto-socorro poderia adquirir um infecção por nada. Calor infernal. Nem pude agradecer ao cara de barba pela noite agradável que ele havia me proporcionado. Idiota! Se satisfazia com tão pouco. Homens e mulheres muito mais lindos e charmosos; gostosos e inteligentes passaram por ti, sem que ele jamais se esquecesse daquele... não era o sorriso, sua besta, era o gesto. Tudo bem? Polegar erguido para cima. Ele estava sempre de máscara, como poderias tê-lo visto sorrindo. Num descuido, num ajeitar a máscara, ele sorriu. Não sei se foi para mim, mas ele sorriu. Bastava.

Ontem ao vê-lo, ao nos reencontrarmos, havia tanta gente próxima que nem pudemos conversar à vontade, como conversamos por telefone. Como assim, como assim? Por coincidência, ele estava fazendo um compra por telefone na loja onde trabalho. Eu atendi a ligação. Eta mundo pequeno. Confinados num ovo de codorna vamos tocando nosso gado, oito quilos mais gordo, diga-se de passagem, em menos de um mês. O frio que faz aqui, me aquece o coração. Os pelos que roçam meu pescoço não são necessariamente de gato.

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