30 de nov. de 2004

Desde muitos posts venho fazendo a vontade do leitor. Escrevo o que ele quer ler. (O quê?) (Ãnh?!) Eu particularmente há muito tempo gostaria de me desfazer do sistema de comentários. (Porquê?) Por vários motivos que de tão perniciosos (de onde me saiu essa palavra?) não consigo elaborá-los como deveria. Pois bem, meu tesouro, vivo estou em função de você. Está aí o espaço para suas contribuições ao meu umbigismo patético e calhorda. Agora não sei como continuar a publicar (será que posso ser considerado um publishman?) os trechos da intimidade sob encomenda. Isso me cheira a Big Brother, e de big eu só queria o Brother. Interação fede a pétalas pobres e podres só os importados franceses, queijos. Perenes sobrevivam, o espaço para os comentários, tão caro ao que se tornou o mundo. Minha teogonia quereria uma folha-bits planando sobre a imensidão volátil do ciberespaço até se prender a um canto da teia virtual. Desiste! Eu sou virtual. Um vir-a-ser particularíssimo. Há autoridades que a detestam. Em compensação, o Exmo. Sr. Senador gosta das minhas bits, a Exma. Sra. Embaixadora me incentiva a continuar rasgando a folha e a princesa ao ler o que eu arranco de dentro de mim, com raiz e tudo -- cúrcuma -- chora, ri, se excita, xinga, se entristesse, não entende, me liga, me escreve um longa carta me explicando que eu não deveria ficar tanto tempo sem escrever, não a resposta a doce carta, mas uma crônica no sentido crônica da vida. Pessoal. Íntimo. Particular. DiCla, condição na qual meus amigos (leitores!) possam conferir se o arroz com ovo servido no almoço estava salgado ou não. (Qual a relevância do tema, Dr.?) Precisa atuaslizá-lo (o DiCla) todos os dias, como se o telejornal estive invadido o morro? Sim! "Se for uma necessidade intrínseca de ti mesmo." (Ela sempre me tuteia com maestria). Sim, Vossa Alteza. Siiiiiiiiiiiiiiiiiim. E mais tarde, (amanhã se eu tiver tempo) volto para revisar o texto que a pressa me permite. No meu mundo (mundinho froxo) existe uma compensação para o pormenor.

25 de nov. de 2004

Arthur Schopenhauer

Lágrimas iluminam meu olhar. Então, possível verdade esperando-me empoeirada na estante laminada. Estou enamorado. Elaborei mentalmente várias hipóteses, que daqui a pouco serão testadas. Lá vou eu, ensimesmado no meu passo longo, para que minha madastra não me alcance. Me desculpem, mas não tenho tempo para mais ninguém, este (meu tempo) jaz na relva seca do postinho. Recolham as mesas, as cadeiras, as garrafas de cerveja, as primeiras encontram-se escondidas dentro do porta-mala. Cleptomaníaco. (Tem certeza que você não bebe?) Chamem os bombeiros. Há uma alma esvaindo-se de corpo que até ontem à noite, eu chamava de "meu amor". Suas espáduas me seduziram, eu rebobinaria toda fita, só para sentir seus pensamentos esfolando minhas vísceras novamente. Ele parecia um fruto seco caído do Olimpo. (Não faz mal misturar cerveja com caipirinha?) Eu não sabia de nada. Nem beijar seus olhos azuis, eu conseguia. Nem a dor, sempre dilacerante, eu suportava. Minha carne chorava. (Nossa, imagine se meus parentes souberem que eu escrevi isso? Serei motivo de chacota até o carnaval, quando todos assumimos nossas máscaras) Meu tempo agora, corpo estendido no chão. Aquele lá sou eu, meu amante de nado borboleta, e uma menina prometi lhe dar. Adoção, querido, adoção. Meu tempo acabou. Eu o matei. Nunca pensei que uma taurus pesasse tanto na consciência de alguém. Ela parecia tão cromada. Acabei com o tempo que me sustentava ao fio estreito da rua. A leveza que sinto, chamo de felicidade. Estou livre, condenado a minha liberdade -- seja lá o que isso possa vir a significar.

24 de nov. de 2004

Anteontem, acordei-me salgado. Ontem, durante a aula, senti-me doce. Hoje, ao banhar-me descobri-me azedo. Amanhã, caminharei ácido por folhas de papel sulfite. Porque não só de freadas atrasadas vivem o meu pescoço, coração. (Depois penso no que eu quis dizer. Agora tenho que sair para procurar emprego.)

22 de nov. de 2004

Não me importo que a mulher pise no meu pé, desde que possamos sair do terraço de mãos dadas.

20 de nov. de 2004

Fraudes
* * * * *

2 uísques
Amuiraquitã
Bob Bactéria
Sabedoria da Mentira
Senso Incomum
eraOdito
Jornal do Blogueiro
Caderno Branco
Just think about
* * * * *
AMAN
Kombato
* * * * *
Oral Ancient Greek
Latim Básico

Se fosse em outra época, teria que justificar minhas escolhas, os links, essa tarefa deixo para minha crítica literária (?). Pois é! Estamos brincando a valer e a menina de olhos azuis se dispondo a explicar nossos fluxos intermitentes. Ela se decidiu mesmo pelo curso de Letras (Habilitação Francês). Será que sua opção decorreu do meu duplo argumento? Só queria ouvir vossa sincera opinião, Alteza, antes de entregar minha crônica aos portugais. Até a minha correspondência, ela quer ter acesso. Calma! Deixa eu primeiro aprender a ter a quem escrever. Socialização em mesa de bar, no Barraco Chique, "às 14 quero te ver lá". Falando assim, o meio-irmão não se tornará meu cunhado. Quem sabe um livreiro, protegido por Apolo, mas não meu cunhado, como ele gostaria. Não me chamem para sair. Me deixem apodrecido mofar dentro do meu casulo. Metamorfoseando. Meta. Lingüística. Je t'ai adore beaucoup! (ainda sei escrever em francês??) Sim.

19 de nov. de 2004


O Astrólogo dissera: "(...) e ele chegará te atropelando." Eu até brinquei com o Mestre: "e nos braços dele morrerei, não sem antes pedir um beijo na boca." (quem manda ficar lendo Nelson Rodrigues? Depois fica aí com essas fantasias ridículas de comum). O Bruxo me repreendera com rispidez: "Mais cuidado com o que você fala. As palavras são mantras." Realmente, saudoso Joe, me dói ouvir o mecânico pronunciar "menas". Mas que saber, há uma porção de palavras nas quais tropeço: meteorologia, por exemplo. Tenho muito a aprender: não se apavorar quando estivermos a 120km/h. Será que eu poderia ser preso ao presenciar um pega? Vide o que fizeram com o Duda Mendonça. E ele, cavalheiro, me chamou para irmos embora, antes de sabermos como terminaria aquela história na qual moças e rapazes deliravam ante o êxtase de motores harmoniosos. E para ter certeza da gentileza camufladoa de real interesse, o mecânico me perguntara, quase me pedindo permissão: "Você curte Zé Ramalho?" Se eu não o apreciasse, me tornaria, a partir de então, fã crítico-analítico. "Anh-ham".



Posted by Hello

18 de nov. de 2004

O que não sou fisicamente, posso ser descrito. Desvalido de Poder, mesmo estando plantado na Alvorada, procuro Imaginação, abstrata, desconexa,dislexiana. Perco por ser um afungentador de significados. É que estou atrás de sentimentos e sentidos irrelevantes de tão adjetivos. Para mim, me basta uma Idéia-Estética. Não vejo veracidade nenhuma nos silogismos caucásicos-latinos-subsaarianos e das frases primarias que me algemam, sentirei saudade. Importante contar-lhes: sou neófito, efebo, filho de escultor (seus dedos pareciam cinzeis ao dobra as brancas pétalas de rosas ). Ao escrever, salto além da verossimilhança (único risco que me inflijo). Daqui uns minutos, por exemplo, serei uma mulher com a obrigação de dizer ao noivo: sim. Às vezes, quase sempre, a paranóia me repete, repetitivamente. Com sorte reencontro-me momentos de surtos psicóticos, com ajuda, única, de signos lingüísticos vernaculianos. Escrever tem sido meu coquetel, meu álcool, meu puro gim fumegante servido com cubos de agramaticalidade. Com isso aprendo a equilibrar as frases, pratos prestes a cair, do final do primeiro capítulo até o funeral da Dona Morte.

16 de nov. de 2004

De:"U." (...)@(...).gov.br
Data:Sun, 14 Nov 2004 19:44:20 -0200
Para:marcio.silva@(...)org.br
Assunto: Re: Re: Corpo desaparecido...

Estou baixando o messenger, aguarde...


Data: Sun, 14 Nov 2004 19:23:45 -0300 (ART)
De: "marcio.silva@(...)org.br
Assunto: Re:(...)
Para:
"U." <(...)@(...).gov.br>

Chuchuzão,

Pardon, mon cher. Tenho estudado muito. É a faculdade, a correria no min. e a loja. Ufa! Quero férias. (ao seu lado se possível) Mas em momento nenhum deixo de pensar em você e na sua proposta, minha carta na manga. Bem que vc poderia ter o MSN do Hotmail, nesse exato momento estou on line. Se puderes, me adicione: [(...)@hotmail.com.br]. Você não sai da minha cabeça, até pelo excelente trabalha que vocês (PF) estão realizando. Parabéns! Você merece que eu (...) ( vc deve se lembrar que sou perito nisso, né?) e (...), ou melhor, (...). (...). E mesmo se não fosse. Eu faria de novo, de graça. Essa sua simpatia me domina. ainda bem que eu tenho juízo. (hehehe)

Beijos,

Chuchuzinho.

De: "U." <(...)@(...)gov.br>
Data: Sun, 14 Nov 2004 19:13:59 -0200
Para:
marcio.silva@(...)org.br
Assunto: Corpo desaparecido...

Oi, Chuchuzinho,
Você nunca mais me escreveu, desapareceu... Espero que esteja amando, assim eu ficaria feliz por você... Mas é importante que também esteja sendo amado, se não eu arranco as bolas dele, certo??? Afinal para ter uma pessoa como você tem que saber ama-lo muito bem. Mande notícias. Quanto a eu, estive muito atarefado nos últimos três meses, operações e mais operações, nunca trabalhei tanto. Acho que deveria ter sido médico para fazer tantas operações...
Beijos...
Chuchuzão

13 de nov. de 2004

Ainda não entendi como será a saida daqui de casa. Chamo por Sameul: Samueeeeeel... A leitora me ligara para me alertar o erro: você escreveu Clarice com dois erres. Há! há! há! Risos de deboche como se finalmente houvesse me superado. Priminha, um dia serás muito mais do que eu. Afinal não segurei na tua mão para menos do que isso. Imagino-te: uma linda professora universitária de literatura comparada fazendo seus alunos implorarem por mais um verso, já que aquele emprego no Supremo estava muito ruim. Só para te matar de inveja: bem que eu podia me inscrever no mestrado de literatura da UnB. Escolho esta, por estar ao alcance da minha janela. Seríamos colegas. Abandono de vez essa geografia amazônica e não me irrito mais por ter planos de manejos recusados. Acho uma palhaçada desperdiçar dinheiro público contratando consultores a peso de ouro, para depois dizer que tudo se trata de decisão política. Hmmm...sinto a catinga do maldito populismo. Espero estar enganado. Anjo Samuel terminaste a seleção dos post preferidos? A oração do perdão não conhecerá sem sua presença.

12 de nov. de 2004

Perscrutar. Era essa a palavra que tanto procurara. Por acaso encontrada nas crônicas da Clarice Lispector.

11 de nov. de 2004

Seria o último se ele não fosse implicante pirracento, adolescente temporão mimado e manhoso. Sim, ele era um personagem de si mesmo construído na verticalidade da sobrevivência. Ele se enfadou a si e não tinha mais a mínina idéia do que fazer com a personagem, matá-la? Solução desprovida de originalidade, como se suprimisse três quartos da vontade de sentir. Resignado continuava remando até alcançar a margem esquerda do lago. Convites da Brisa Atrevida floreciam (lembranças): alguns, declinados pelo Sol Escandaloso; outros, aceitos pelo Céu Despido; o Lago Homicida esnobava sorrisos diante da perna arranhada do rapaz (nosso herói). Ele aceitou trazer-se de volta, desde que pudesse organizar-se dentro de um esprimido, porém aconchegante, flat de onde poderia todos os dias observar o presidente fazendo sua caminhada matutina. Sentia-se mais prostituído que antes, melhor do que dormir numa parada de ônibus correndo o risco da morte.

6 de nov. de 2004

QUEM DEIXOU O PORTÃO ABERTO?
O Mal venceu! Essa rodada de cerveja é por minha conta. Vamos comemorar o meu bota fora. Cansei-me. Há meses meu peito dói comprimido. Odeio meus pais, sempre os detestei, não há nenhuma novidade nisso. Relendo o que acabo de escrever percebo as frases soltas. Não tenho condições psicológicas para corrigí-las; ou descarrego a Taurus na cabeça daquele infeliz ou me jogo na repressa do Descoberto. Fico com a segunda opção. Não quero mais causar constrangimento a ninguém. Antes que algum incauto pense que isso é uma carta suicida. Lembro-lhe: Quem vai se matar não avisa, just do it. Admito, simbolicamente, que daqui há algumas horas, estarei tomando cicuta, mas antes...
Se me perguntarem a razão -- sempre aparece um corajoso para incomodar um rotweiller enquanto este rói uma tíbia fresca -- responderei: é marketing, meu amor, apenas marketing. Isso se eu tiver de bom humor, caso contrário, emputecido direi: "PORRA, CARALHO! Vá cuidar da tua vida!" Ainda não sei qual desculpa darei para os telefonemas que não atenderei, para os e-mails que não responderei, as cartas que rasgarei, para os comentários... relaxa, estes serão em off (onde guardei meu passaporte?).
De pronto, não responderei a ninguém. Meu profile no orkut, talvez o apague, talvez o abandone. Não! Absolutamente, não! Reprovo fazer com os outros o que fizeram comigo (ui, coitadinho!). O MSN vou arrancar da máquina. Se quisserem que o instalem...(Maria, das drogas que me você oferecera, aquela me estimulara sem igual. Obrigado por me ajudar a atravessar madrugadas esfumaçantes. Nosso sexo virtual foi tão gostoso quanto ao vivo. Pena que a WebCam não tenha funcionado conforme esperávamos.
Tuga, meu brother, nosso projeto segue adiante, conte comigo sempre. Sou agora um afluente do Rio Tejo. E aos meus amigos virtuais, obrigado pela parceria, pelos comentários elogiosos, pelas dicas, sugestões e ajudas com as mudanças no template. Desculpem-me pela fúria, pela erupção. Natureza humana. Larvas a nos assuntar, cinzas a sujar o céu delator. Óbvio, não? O óbvio também deve ser escrito, ao menos essa lição em aprendi. E aprendi mais... (tudo menos chorar nessa hora) EU ODEIO MEUS PAIS. Quereria que a morte fosse um test drive, não o alívio. Com que cara eu vou olhar segunda-feira para o pessoal da faculdade. Não estou fazendo literatura, este foi meu último post. Só não pensei que doesse tanto. Eu não deveria ter conversado com meus pais sobre minha orientação sexual.
P.S.: Estava tão atordoado que me esqueci: Meu querido diário, tu foste o companheiro que jamais imaginei amar; muito obrigado não é suficiente. Teríamos que inventar uma expressão mais significativa, na falta de uma melhor, vai ela mesma: muito obrigado.
Minha vontade era de mostrar dedo à motorista do Mercerdes Classic Branco. Melhor não. Nunca se sabe quando estamos diante de uma autoridade do estado, vai que é um juíza. Preso por desacato. Mas o nº da placa eu guardei de memória. A vaca de escovinha ridícula poderá em breve ter surpresas (hehehe), assim quem sabe ela não aprende a parar na faixa de pedestre sem ficar reclamando dentro do carro.

3 de nov. de 2004

Sinto-me extremamente culpado. Prosas curtas não mais me proporcionam o prazer de outrora. "Postar" transformara-se na obrigação. "Blogar", na ditadura. Gostaria de me sentar diante do teclado para tecer um romance de um mil quinhentas e cinqüenta e sete páginas. Não sei quantos de vocês, leitores, já passaram por isso ou ainda irão passar; é como se meu Co-Orientador, me dissesse, novamente: chega de trabalho de gabinete, Márcio (em outras palavras, coleta de dados/leitura), comece o esboço da dissertação. E dissertação é sempre melhor que monografia. Se nesta, eu fazia um apanhado dos quatro anos da graduação; naquela eu exercitava o Método, ao menos essa foi a idéia que o X. me passou. Idéia que pode ser contestada (que seja!).
E antes que eu comece a discorrer sobre o outro assunto, comunico-lhes, queridas leitoras, amados leitores e DiCla fofinho do coração (ainda vou acabar levando uma balaço na testa por causa dessas efeminadas demonstrações de carinho) que a partir de hoje atualizarei, não mais diariamente, esse nosso pessoal diário íntimo. Com sol, ou com chuva; com velório, ou batizado, aos sábados estarei aqui, publicando uma prosa. NÃO! Esqueçam tudo! Desconsideram meu desatino. Blogar, minha segunda pele, tornou-me minha epiderme. Não tenho outro motivo para me levantar da cama de manhã se não for para escrever no meu íntimo diário pessoal. Eu preciso gritar no meio da multidão: IVETE! IVETE! Encher de calabresa o pão de forma que jaz sobre o tampo de mármore rosado da mesa de pé quebrado.
A CL dissera: pura repetição ou obsessão. Como se tais comportamentos não fizessem parte do seu temperamento. E o Albalat chamara-nos a atenção no sonho da madrugada passada. A Profª. M.ª Teresa Cristina também estava lá. Ele, aberto em cima da escrivaninha do escritório; ela, me ouvindo atentamente explicações sobre mimados posts datados. Após minha explanação, ela abriu a bolsa e me deu uma nota de mil dólares enrolada num cheque de duzentos reais. "Cuidado com o cheque. Não o desconta na boca do caixa." Eu já pensando no Finnegans Wake e ela me vem com essa preocupação em não deixar lastro. Dinheiro sujo lavando minha alma, saciando meu desejo oculto. Eu sei, professora! Estou acostumado a emitir notas frias.
Na livraria, na ponta dos pés, tentava pegar a tradução do prof. Schüler, localizada na prateleira que tocava o céu estreito. Cricri, impiedosa doutora em Crítica, me mostrava um revista que eu não reconhecia. "Foi você que escreveu esse texto, Márcio? "Drão, o amor da gente é como um grão"...
Acordei ao som da melodia; as crianças correndo em volta do divã. A sala infestada de gente ruidosa. Saudade. Ciúme. Parentes de cabelões lisos beijando minha bochecha barbuda. "--Calma, aí, gente, calma! Deixa-me ir ao banheiro, pelo menos (enxaguar a boca)." Gritaria geral, sufocando meus berros nervosos. Vamos, todos no banheiro, então! A dona da infeliz idéia, minha prima, muitas vezes me cobrara um post em sua homenagem. (Só escrevo porque seus esmeraldos olhos fechados me seduzem.)
E agora não me sinto mais culpado, a prosa parece um salsichão de couve, que poderia muito bem ser usado para bater NA CARA da Tatá. Isso mesmo! Interromper meu sono vespertino na terça-feira disfarçada de domingo para me dizer: sonhei com você. Foi crueldade premeditada. Minha vontade naquela hora, Tatá, era de estrangular teu pescocinho desnudo. Diga lá, meu amor, que sonho foi esse (eu puto espumando):"--Sonhei que você havia ido para S. Petersburgo aprender russo." Eu abri o maior sorrisão. Quem não abriria? "--Oh, meu Deus! Você sentiu medinho, sentiu? Se eu fosse para longe, muito longe para além de lá, todos os dias você receberia, uma e-carta minha. Longa, carinhosa, repleta de pormenores, embriagada de saudade .
Quem sabe até lhe daria o endereço do meu brogui (ela desconhece tua existência, DiCla) para você me deixar um comentário. Não! Melhor não. Talvez você não saiba distinguir a ficção da realidade. Se você passar na FAC, te prometo de presente o original do romance de mil quinhentas e cinqüenta e sete páginas. Pronto, de promessa, te fiz dívida. Um livrinho vai ter que sair, nem que eu peça ajuda aos ghost-writers do Congresso Nacional. O compromisso agora é com a nanoaudiência.

1 de nov. de 2004

Estou de volta ao lugar de onde não pude sair. Tragam-me logo o horário de verão. Nem são seis horas direito, olha só o solaço, lá fora. Foram as palavras dele; as minhas: mudo. Quando me ponho diante do improvável, me emudeço. Elogios me castram. Mas enquanto não me sento meus detendos glúteos na cadeira de amendoim ou enquanto não me dedico a desmontar o romancista irlandês, xingamentos sacanas me assustam. Onde se encontra o punhal carnudo espumando mordacidade com o qual eu feria o coração da Maria Luísa? (Dessa vez, Luísa com "esse", pois não quero mais problemas.)
O primo me perguntando quem é o DiCla, quem é o DiCla, esbouçando um sorriso cínico de quem já resolvera três ou quatro abortos bem pagos (médico-legista comungando sua própria ética). Ouço-me Dionísio dizer que estou/estive/sempre estarei impossibilitado de escrever para mim mesmo. De mim para eu mesmo, falando sobre mim mesmo. Não pode, Marcinho. Não posso, DiCla. Sempre aparece a terceira pessoa de ninguém, de alguém, de aquele lá acolá. Ele me diz [o primo] que minha prosa soa filosófica. Eu lhe respondo: "--você não sabe o que é Filosofia." Peço-lhe dois segundos, olho para esquerda, oops!, direita.
O agente da ABIN (hoje tão em moda) dissera, segurando-me pelo pescoço: "PORRA! Fala direito: gloggle, gloggle..." Coitado do Sr. Investigador (bem que ele podia entrar para família), ele não sabe que para cada vírgula, cada erro, cada palavra queimada, eu tenho uma justificativa pronta (desculpas, mera desculpas): "--Nunca nenhum amigo meu reclamou dessa minha dislexia." --respondi-lhe, sem encará-lo. Ele puxou o revólver, eu lhe mostrei dedo. Ele saiu com raiva. Eu? Todo meu desejo suprimido. Se ele estudasse, realmente, Psicologia da Aprendizagem, ao invés de manipular fotos, contestaria com veemência a abobagem que eu havia lhe dito. Ainda sim, eu teria uma resposta. Pronta. Feita. Engatilhada. Esta é minha arte de viver.
E um churras sob a pia fechará nosso feriado mucho. Aliás essa é minha nova paixão: "churras". Palavravinha deliciosa que não me atrevo a empregar. Signo saboroso encontrado, por acaso, entre os louquinhos do iogurt Orkut Yakult. Ela chega a ser mais linda do que "la compu", computador para los porteños. E mesmo sem poder sair de frente do computador, de trás do balcão da loja, de dentro do meu quarto(?) dou um jeito de sentir prazer imediato: clímax substituidor de medicação importada.
Os laboratórios estadunidenses desaprovam. A Dr. Durex me responde diante da minha alegria antecipada: "--eu vou ter que tomar remédio, Dra? Não! Você não precisará tomar remédio (por enquanto)."
Ela foge do meu olhar, com medo das minhas perguntas. Queria ver meu prontuário; fazer algumas anotações; perguntar por pelo Dr. Psiquiatra alemão: "--Outro no seu lugar sairia dando tiro por aí." Ele queria reconstruir minha auto-estima, abalada pela jubilamento iminente. Agora ficou bem mais fácil concluir a graduação. Que o diga o agente da ABIN, volta e meia, me solicita uma resenha, sobre temas que me reviram as tripas secas de cristais. O que não faço por R$1,00 e uns murrinhos na altura dos rins de troco. Assim, me obrigo a escrever aristotelicamente, assim contemplo belos olhos azuis me mandando calar a boca. Vou trocá-lo pelo holandês, quem sabe não consigo aprender a pronúncia de "pretty". Só volto semana que vem e dessa vez não me alimentarei de scrapsbooks. Estou cansado de pequenos orgasmos. Quero-los múltiplos, prolongados, esfoliantes, mil páginas rascunhadas. Não serei capaz de consumá-los, percepção irrelevante. Diagnósticos também se equivocam.