1 de nov. de 2004

Estou de volta ao lugar de onde não pude sair. Tragam-me logo o horário de verão. Nem são seis horas direito, olha só o solaço, lá fora. Foram as palavras dele; as minhas: mudo. Quando me ponho diante do improvável, me emudeço. Elogios me castram. Mas enquanto não me sento meus detendos glúteos na cadeira de amendoim ou enquanto não me dedico a desmontar o romancista irlandês, xingamentos sacanas me assustam. Onde se encontra o punhal carnudo espumando mordacidade com o qual eu feria o coração da Maria Luísa? (Dessa vez, Luísa com "esse", pois não quero mais problemas.)
O primo me perguntando quem é o DiCla, quem é o DiCla, esbouçando um sorriso cínico de quem já resolvera três ou quatro abortos bem pagos (médico-legista comungando sua própria ética). Ouço-me Dionísio dizer que estou/estive/sempre estarei impossibilitado de escrever para mim mesmo. De mim para eu mesmo, falando sobre mim mesmo. Não pode, Marcinho. Não posso, DiCla. Sempre aparece a terceira pessoa de ninguém, de alguém, de aquele lá acolá. Ele me diz [o primo] que minha prosa soa filosófica. Eu lhe respondo: "--você não sabe o que é Filosofia." Peço-lhe dois segundos, olho para esquerda, oops!, direita.
O agente da ABIN (hoje tão em moda) dissera, segurando-me pelo pescoço: "PORRA! Fala direito: gloggle, gloggle..." Coitado do Sr. Investigador (bem que ele podia entrar para família), ele não sabe que para cada vírgula, cada erro, cada palavra queimada, eu tenho uma justificativa pronta (desculpas, mera desculpas): "--Nunca nenhum amigo meu reclamou dessa minha dislexia." --respondi-lhe, sem encará-lo. Ele puxou o revólver, eu lhe mostrei dedo. Ele saiu com raiva. Eu? Todo meu desejo suprimido. Se ele estudasse, realmente, Psicologia da Aprendizagem, ao invés de manipular fotos, contestaria com veemência a abobagem que eu havia lhe dito. Ainda sim, eu teria uma resposta. Pronta. Feita. Engatilhada. Esta é minha arte de viver.
E um churras sob a pia fechará nosso feriado mucho. Aliás essa é minha nova paixão: "churras". Palavravinha deliciosa que não me atrevo a empregar. Signo saboroso encontrado, por acaso, entre os louquinhos do iogurt Orkut Yakult. Ela chega a ser mais linda do que "la compu", computador para los porteños. E mesmo sem poder sair de frente do computador, de trás do balcão da loja, de dentro do meu quarto(?) dou um jeito de sentir prazer imediato: clímax substituidor de medicação importada.
Os laboratórios estadunidenses desaprovam. A Dr. Durex me responde diante da minha alegria antecipada: "--eu vou ter que tomar remédio, Dra? Não! Você não precisará tomar remédio (por enquanto)."
Ela foge do meu olhar, com medo das minhas perguntas. Queria ver meu prontuário; fazer algumas anotações; perguntar por pelo Dr. Psiquiatra alemão: "--Outro no seu lugar sairia dando tiro por aí." Ele queria reconstruir minha auto-estima, abalada pela jubilamento iminente. Agora ficou bem mais fácil concluir a graduação. Que o diga o agente da ABIN, volta e meia, me solicita uma resenha, sobre temas que me reviram as tripas secas de cristais. O que não faço por R$1,00 e uns murrinhos na altura dos rins de troco. Assim, me obrigo a escrever aristotelicamente, assim contemplo belos olhos azuis me mandando calar a boca. Vou trocá-lo pelo holandês, quem sabe não consigo aprender a pronúncia de "pretty". Só volto semana que vem e dessa vez não me alimentarei de scrapsbooks. Estou cansado de pequenos orgasmos. Quero-los múltiplos, prolongados, esfoliantes, mil páginas rascunhadas. Não serei capaz de consumá-los, percepção irrelevante. Diagnósticos também se equivocam.

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