16 de dez. de 2005

Tâmaras, damascos, nozes e avelã

Estava lendo a entrevista do astronauta Marcos Pontes (eu pularia a apresentação em flash), quanto meu eixo foi deslocado: "Nessa atividade, aprendemos a conviver com nós mesmos." Ele se referia a solidão que provavelmente sentiria na Estação Espacial Internacional. Creio que solidão seria uma dor crônica, para qual não haveria morfina suficiente no mundo para aliviar. A enxurrada arrancando o asfalto, arrastando pessoas, galhos, lixo e minha esperança de um Natal menos gigolô possível. Quem sabe Papai Noel resolve entregar, na noite do dia 24, meu presente atrasado de muitos natais. Podia ser aquele senhor que está lá fora fumando, segurando uma latinha de cerveja, cujo o charme estimula nossa libido nessa madrugada de 15° C. Atípica. Gordinho, alto. Cabelo curto, grisalho. De sobretudo preto. Meu muro de Berlin... melhor, minha muralha da China. Estamos a uns 20 metros de distância, separados por uma porta de vidro. Ele entrou na pajero. Foi se embora. De tanto olhá-lo, enquanto conversava com um jovem rapaz, provavelmente seu funcionário, passou a me encarar. Marrento. Desviei a mira lasciva e me concentrei nos índices pluviométricos de ontem à tarde, quando Dona Chuva resolveu inundar o hall de entrada da casa dos nossos excelentíssimos senhores senadores... Não vou passar a véspera da noite de Natal aguardando atendimento no Pronto-Socorro do HRAN. A dor é suportável. Consigo rir quando me perguntam o que é um pontinho preto pendurando numa árvore. Consigo falar, andar e comer; sozinho. Só não consigo perdoar. Que o telefone toque ad infinitum!
P.S.: Minhas queridas leitoras e meus estimados leitores, desculpem-me se tenho estado ausente. Não respondo mais e-mails, tampouco comentários. Conecto-me ao MSN somente para sanar dúvidas urgentes. Não navego em seus respectivos weblogs. Sei que não se justifica, pois quando a gente quer de coração, encontra-se tempo. Mas tenho me desdobrado em muitos (Ora! Todos estamos muito ocupados.) tal qual a Grace de Dogville. Lembram-se quando escrevi uma crônica sobre a comoção que este filme me causou? Pois é! Ontem, ao sair do consultório, com a boca inchada, agradecido ao Doutor Cirurgião, me lembrei da Grace. Dela correndo para lá e para cá, preocupada em agradar a todos, em ser eficiente, sem opções, a não ser servir. Grace sou eu. E só agora me dei conta disso.

8 comentários:

  1. Anônimo3:40 PM

    Creio que a pessoa mais importante e a quem você deve agradar é você mesmo. O resto é o resto. Ces´t la vie. Continuo adorando teus textos. Sempre ótimos. Ri com o pedaço referente à chuva, que molhou meus pés sardentos também. Beijos

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  2. Anônimo4:57 PM

    eu ia me desculpar pelo abuso de vir aqui e não comentar. mas não resisti. final de ano e estamos todos até por ali de coisas a fazer. mas sempre resta um tempo para olhar uma alma caridosa que nos seduz. bem, mas eu não posso mais, porque agora tenho dona. abraços e felicidades eternas.

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  3. Força, cara.
    A solidão é só um tempo - ás vezes necesssário para valorizarmos a companhia.
    Tou torcendo por vc.

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  4. pô veio isto mas parece o apanhador no campo de centeio, sem ofensas é que é uma historinha meio estranha , mas um tanto quanto engraçada! hehehe! a enatum é isso

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  6. Sardas,
    Rir é o mais gostoso. Os pés que o digam. Beijos!

    Gaudz,
    Só quem tem dona, merece ser feliz. Aproveita! Felicidade úmida, seca em lençõis brancos-nuvem. Abraços!

    Beto,
    Estava fazendo ficção com uma gota d'água. Não se preocupe. Às vezes exagero. hehehe. Obrigado pelo força, mesmo assim. Abraços!

    Conds,
    Prosa estranha, engraçada e lembra o JD Salinger? Assim me convenço a cursar a escola de roteirista da Rede ... Não! Grita meu estômago embrulhado.

    P.S. No momento que lhe respondia, vc removeu seu comentário. Foi isso? Coincidências me assustam. hehehe. Abraços!

    Naira,
    Isso me acontece sempre. Recuso a escrever no bloco de notas. Que a raiva já tenha passado. Obrigado pelo post perdido. Beijos!

    Cristiano,
    Pois é!

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  7. Não meu comentario continua aí!!!! pelo menos eu ainda o vejo, mas depois de não conseguir digitar letras de confirmação corretamente eu não duvido de mais nada!


    Abraços

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