3 de jun. de 2012

Na missão dos arrebenta


Sonhos fragmentados com o  delegado Fornazze me pressionando. Recusava-me  a lhe entregar  o serviço.  


Levantei-me e fui caminhar, antes de ir para o treino.  Um banho de esperança, afim de me livrar do sa do suor l que me ardia a pele. Voltei com essa história.

"Deixa passar o carnaval. Um telefonema de Ponta Porã me acordará de madrugada. As mesmas perguntas. Sou  induzido ao erro de acreditar na capacidade de perdoar do tempo.  Convencido, me dirijo à Base Aérea de Brasília e embarco a caminho de  Assunção.  


O mormaço em guarani me ofusca as idéias. Uniformes camuflados vicejam nódoas, iguaizinhas aos de outrora que eram pretos. Ironia. Eles saem do mesmo guarda-roupa. Foram confeccionados na mesma alfaiataria. 


A arquitetura dos barracos de alvenaria mudou, menos a estrada de terra que leva meu coração até o cativeiro. Estou a três horas de resolver meu destino.


Dessa vez, sonhos-de-valsa comprados na loja de conveniências do posto de gasolina, naquele mesmo posto de gasolina, onde o  encontro casual se esbarrou numa cabine de um banheiro, derreterão esquecidos no porta-luva da S10 prata.


Ao chegar em casa, encontrarei Fornazze preparando um carneiro à moda dos carcereiros. Seus colegas me cumprimentarão e se despedirão de nós, alegando irem atender uma ocorrência. 


Fornazze  me  ajudará com as malas até o quarto; me  convencerá a tomarmos banho juntos; contará que acabou de aumentar sua coleção de armas com  mais um  Glock  que tomou de um traficante,  "depois eu te mostro"; começará a narrar suas histórias inverossímeis que me irrita tanto quanto irritaria um promotor da vara de Direitos Humanos. Reclamará da minha barba.  Pedirá que eu corte as unhas. Nesse momento, interrompo-lhe.


Agradeço sua hospitalidade,  sua confiança em compartilhar seu diário-de-bordo, seu empenho em recomeçar,  mas  sugiro, delicadamente, que  atraque sua lancha em outro píer, que procure outro porto seguro para seu  porta-avião, que deixe de fazer mira numa moeda no ar.


Ao sair do banho, escorrego na louça da banheira. Caio nos seus braços e fica difícil manter um argumento convincente. 


O passado prevalece sobre confissões anônimas.

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