28 de jun. de 2012

Velório às cegas

A mula trazia um machado no coração e um escapulário no bolso da fina camisa azul desbotada cuja a falta dos quatro primeiros botões era notada. Ele sentou-se à mesa  mais próxima da porta e pediu um pingado. 


Cíntia chamou a garçonete Soraia  para atendê-lo.  "Oh, Jesus! Só o Senhor na causa."-- resmungou, a gerente, ao observar o entusiasmo da funcionária. "Então, é causa ganha." --, retrucou a yonseique rebolava na cadência do pêndulo do relógio de parede. 


Um risco dourado de luz, um fiasco de sol, num dia nublado, tremeluzia, demarcando o território de Mulato. O curió cantava,  prevendo a discussão entre os amantes. 


Horas depois, o perito C. Carvalho, se encarregaria de contar aos colegas: "Perdemos dois informantes, num só dia." "Veja por outro lado. -- contra-argumentou, o delegado Fornazze que vinha fazendo uso do seu direito de permanecer calado diante da tropa.  O  diabo está recebendo mais dois virtuosos na sua blues band." 


Todos riram. Inclusive, eu, imaginado atento quem seria aqueles "mais dois". Permaneci de cabeça baixa, fingindo rascunhar uma anotação. Não iria constrangê-lo diante seus subalternos com uma pergunta idiota de tão ridícula.  


Naquele mesmo dia, à noite, na intimidade de um banho com improvisos, haveria de saber que o Naz ao manobrar a caminhonete dentro da garagem,  com aquela delicadeza de orgulhar búfalos e rinocerontes, esmagou acidentalmente  a gaiola  com o nosso casal de hamsters, dormindo dentro. 


Tratava-os como fossem meus filhos. A fantasia que a Justiça nos nega. E filhos não se compra numa loja especializada no dia seguinte. 


Não aqueles que haviam nascidos cegos. 

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