31 de out. de 2007

Quando o alter-ego fala


purgatory, originally uploaded by dEEsign photography.

Quem conhece o purgatório de Dante, sabe exatamente a dor que estou sentindo. A(dor)ei (de) senti-la em outros estados artificiais da natureza, confesso, embora gritasse o código combinado a cada bofetada desferida. Saudade do que poderia ter sido o Taj Mahal de ponta cabeça. O escrivão da Polícia Federal induzia-me o desejo. Seus olhos saltavam para fora, sequiosos da performance que não sei onde por Deus aprendi. É a prática. É a prática. Seu falo descomunal (Valei, Hilda Hislt!) ditava as regras e os pudores. Abre a boca. Engole. Cospe, não! Tá, engasgando, por quê? Engoliria até sua alma, querido, se essas suas algemas pudessem colorir de cinza-prateado a cabeceira desse quarto previssível de motel. (Ui, como ele está erótico hoje. Estou até com medo de pegar doença venérea. Mesmo tão protegido, mesmo tão ausente.) Borrachudos por todos lados, querendo se meter num negócio de adultos. Queremos seu sangue, diriam alguns. Estava sangrando meu lábio superior. O escrivão fez que não viu. Não era com ele. O calor das três da tarde derretia a esperança de continuarmos até o entardecer a lição de tiro. Tira!Tira!Tira! Relaxa, guri. Seja homem. E principalmente nos momentos de dor. Rebola que alivia. É halloween novamente. Escrevo-lhe um e-mail. Aproveito a deixa da ocasião. E se o escrivão responder? Se ele aceitar? Chegaria fantasiado com o uniforme de todos os dias. Eu, com meu kit puta: mini-saia, top e salto alto. Gloss nos lábios, rímel nos cílios. Se não fosse meu chaveirinho, diria que eu era uma mocinha pura provando ao namorado cafajeste o quando o amava. (Está ridículo, eu sei. Tenho espelho na porta do guarda-roupa. Apenas, cumpro ordens. E voz de comando). Doce de abóbora para sobremessa. As velas de citronela espalhadas pelos cantos da casa. As promessas, as juras, um banho frio. Deveria ter-lhe roubado a carteira e jogado no esgoto de onde ele nunca deveria ter saído, nem mesmo para se encontrar com um amigo que não fode o suficientemente para lhe convencer a procurá-lo com mais freqüência. Passado quase um ano e eu ainda querendo acordar de manhã ao seu lado. Meu único compromisso é com a literatura. Valeu como inspiração. Mudarei de endereço, de quadra, de apartamento para que ele não ouse me visitar as duas da manhã, fugindo do plantão, achando que direitos são adquiridos mesmo quando não se faz presente quando solicitado. Se não for do meu jeito, não é de jeito nenhum, disse-lhe o escrivão. Ok! respondi-lhe escondendo o olhar de choro. Foi melhor assim. Tem sido melhor assim.

Atualizado: Escrever, escrever, escrever. Revisar exaustivamente. Salvar como rascunho. Esquecê-lo. Revisar exaustivamente de novo, qdo por acaso lembrar-se-lhe (que estrutura é essa? Chamem o Bechara!) dele. Somente, então, publicar. Gostaria de seguir os meus particulares princípios, mas a avidez me atropela. Ando atordoado por esses dias. Pretensão com "c". Performance sem "n". E outros herrores apontados pela minha linda e adorável prima. Ela pode não ter gostado da explicação e do contra-argumento. Paciência. O bom vendedor que sou nunca me abandona. Você é bom de lábia, me disse ela. De lábia e de boca.

Respondendo perguntas


puzzling, this, originally uploaded by thespacesuitcatalyst.

Dentre todas, minha favorita. Dentre todos, meu favorito. Traço estratégias. 97 está sendo o ano dos convites (aceitei todos) e das propostas (analisei todas). Venha viver comigo em Toronto. Venha como turista, mesmo. Não tenha medo. Aqui faz muito frio, quando se está só numa banheira de hotel. O frio está para o Canadá, assim como o calor está para o Brasil. Meu ceticismo, nosso freio de mão moderno, me mostra outras possibilidades, DiCla. Seu convite chegou-me tarde, Lindusco, não posso mais. Resta-nos resolver o imbrólio que nos metemos. Enquanto isso, vou aceitando os presentes que me oferecem: os rubiks. Deles me canso fácil. Minha cabeça dói e só penso em você, leitora.

30 de out. de 2007

OFF TOPIC: Entrevista informal por telefone. O headhunter me explicara, jamais revele sua pretensão salarial, assim você perde seu poder de negociação. E assim foi até o final. Não disse à minha futura patroa quanto gostaria de receber pelo meu trabalho. Aceitei a proposta sem pestanejar. Enfim livre.
Antes ser rico desconhecido, a ser pobre famoso. Os papéis se inverteram e esse calor que me escorre pela nuca me convence embarcar no primeiro vôo para Jean-Lesage, conexão Congonhas. Vamos dar asas a essa fantasia. Chorar não vale. Lembra-se do acordo? Abro o caderninho de estimação, vulgo, DiCla (estamos no volume 7, hehehe) e escrevo: meu passaporte chegou. Alguém bate na porta, bate com força. Insiste. Machuca a mão. Quem era? Não sei. Nos sonhos dificilmente enxergo fisionomias. A camareira esquecera o cesto de roupas. O canto das cigarras. O poço seco. Saio de casa para nunca mais voltar. Não consigo me lembrar o que estava escrito no passaporte. Uma forte vontade de ir ao banheiro. O reconhecimento dos seus pares, o nicho restrito se aglomera em torno da tulipa de chopp. Não posso beber. Família, família. Família destroçada pela última gota. Eu bebo por você. Felação após o almoço por ter sido o anônimo mais simpatico dentro todos os outros... Off topic: Preciso telefonar. Acabo de ser indicado para assessorar uma empresária da capital. (Calma, diarista. Será apenas uma entrevista.) Aparo, ou não, o cabelo? Tiro, ou não, o brinco ? O meu sonho, o sonho acabou. E vocês, leitores, não imaginam o quanto estou (fiquei) feliz.

29 de out. de 2007

No Dia Nacional do Livro me deito com os meus, sem me esquecer dos seus. Os telefones não param de me interromper. Agora, é um fax. Agora, é o barulho da pancada de um acidente lá fora. A correria arde, leitores. Fico lhes devendo a história completa about Rilke. As cartas que depois ganhei de presente do cara enganado pela minha sem-vergonhice. Eu não o amava, mas nem por isso tinha o direito de acordá-lo daquela paixão incadescente. Os restaurantes absurdamente caros, a gasolina derramando. Deixei-me seduzir pelo demônio do dinheiro e dos cartões de créditos e dos traveler's check. Seus beijos, saborosos como mashamellows de morango serviam de senha. Entra no meu Orkut, apaga quem você quiser. Se acordasse de madrugada para ir ao banheiro, ele acordava junto. O que foi? Está passando bem? Se quisesse comer mandioca cozida com manteiga e acúçar, ele ia no quintal arrancá-las. Interrompia sua série, para me apoiar a coluna. A academia lotada. No banheiro, um frevo. Ele evitava. Ele levitava quando me via. Lindo demais. Prostituído demais. E Rilke abandonado em algum lugar casa. Eu não o amava, mas havia me decidido: "vou amar quem me ama." O puro desejo se dissolvia no calor da sauna a vapor. Sem eucalipto. Sem sais. Um tapetinho na porta do banheiro para dizer que ali rolava o vale-tudo.
Saiu cedo para treinar e não voltou até agora. Talvez, devesse terminar antes de fato começarmos.

27 de out. de 2007


Pitt bul..., originally uploaded by sayginou.

Lavar as mãos na pia batismal. Afronta. Grandes flocos de neve soterravam o plano estrategicamente elaborado por apressadas mentes vis. Fondue a dois, mas poderia ter sido a três, a quatro, no máximo cinco, pois aviãozinhos terroristas desembarcam no Sudoeste quando as estripulias fogem ao controle pré-estabelecido por mim. Quem manda aqui sou eu, dizia-lhes com doçura, na tentativa dissimulada de não expor nossa vida ao risco. Do que mais sinto falta? Privacidade. Poder esquecer um pedaço de papel dormitanto sobre a escrivaninha sem que ninguém lesse o impropério. Meus arquivos do MSN já não podem ser mais salvos. Copiou, colou e imprimiu. Para quê? Por quê? (Junto ou separado? Nunca me lembro.) Há lições que jamais vou aprender. Levanta-se, pega a gramática, guardada na prateleira mais alta da estante. Interromper equivaleria ao crime de sangrar o mangalarga. Staff. O da patinha rajada é o que tem o veneno. Pardon , mademoiselle. Eu (me) aproveito tudo (de todos). Se assumiu um compromisso tem que ser responsável. Descer com o cão antes que ele me rasgue o sofá. Fica para mais tarde ou para amanhã-nunca-mais a tentativa de explorar o inconsciente doentio dos Prados.

26 de out. de 2007

Ainda não é isso. Desisto, por enquanto. Vou almoçar, me aborreci.

mail, originally uploaded by Márcio Hachmann.

Não consigo, buaaaaaaaaaaaaaaaaaaaá, "colar" o ícone na cara do meu diário. Viu? Quem mandou não aproveitar aquela oportunidade de fazer o curso de webdesigner. Agora poderíamos ser bonitos e charmosos. Sedutores. Contento-me com o mínimo que me oferecem.
E-Mail Icon Generator com a ajuda do meu amigo Neto Cury. Tks, amigão.
Um oferecia sexo, jamais companhia. O outro, companheiro para todos os momentos, mas nem se cogitava sexo. Me afastei do dois e agora guio-me cego numa das avenidas mais movimentadas da capital.

25 de out. de 2007

Tenho por hábito escrever posts e não concluí-los. Me canso do texto. Começo a refletir demais. Não sei o que fazer de e com eles. A palavras se embralharam (elas ainda escapam de mim, tucunarés) nos pensamentos que por si só já me são confusos. Erros se acumulam, não os enxergo mais. Então, salvo-os, os posts, como rascunhos (bem diferente de se colocar um texto para decantar -- por anos, pequena, às vezes, por anos) e dificilmente os resgato de lá. Almas alocadas, de acordo com temática, em cada um dos círculos concêntricos (terraços?) do inferno proposto por Dante. A citação que segue abaixo, por exemplo, ilustra o fato. Citação originalmente copiado daqui em 15/02/06. Dica do meu amigo Beto Lins.

O processo é trabalhoso, mas simples: cumprir as tarefas tradicionais do estudo acadêmico, dominar o trivium , aprender a escrever lendo e imitando os clássicos de três idiomas pelo menos, estudar muito Aristóteles, muito Platão, muito Tomás de Aquino, muito Leibniz, Schelling e Husserl, absorver o quanto possível o legado da universidade alemã e austríaca da primeira metade do século XX, conhecer muito bem a história comparada de duas ou três civilizações, absorver os clássicos da teologia e da mística de pelo menos três religiões, e então, só então, ler Marx, Nietzsche, Foucault. Se depois desse regime você ainda se impressionar com esses três, é porque é burro mesmo e eu nada posso fazer por você.


O Senhor Olavo de Carvalho oferece uma bibliografia básica para seus alunos que clamam por um orientação. Ganha-se tempo, mas ainda assim, ainda assim, prefiro descobrir tudo por mim mesmo. Se não sou capaz de selecionar uma bibliografia, de que serei capaz, então? De seguir a manada. Pegue sua mochila e vamos embora, diria o diário, se não estivesse de ball gag desde cedo. Você, fala demais, mulher. Ele puto resmungava.

O cérebro vinha nos enganando nessas últimas madrugadas. Tive que virar o colchão para conseguir voltar a dormir... A condição de anósmico pode não ser tão ruim quanto eu temia.

24 de out. de 2007

Sujos de chocolate

O colorido da cidade, a ansiedade a me desestabilizar. Podem vir centanas de milhares de flores, simulando uma chuva de pétalas que nem mesmo assim, que nem mesmo assim, volto atrás. Passado, meu bem. Fazemos parte da história particular de cada um. Quer me rever? Visite o museu da tua memória. Fraca. Pois deixou de ser social. Compartilhar-se foi bom? Razoável, para lhe ser sincero. Digo isso para que tu possas aprimorar suas técnicas e táticas de guerrilha. Tu tens certeza que estiveste onde dizes que estiveste? Para mim tu eres todo, repito, um fraco, essa tua armadura, ossos, músculos, nervos e tendões com o tempo murchará. Levará tempo reconheço, mas seremos implacáveis.

E os banhos de óleo que lhe preparávamos com tanta devoção. Quantas mãos serão preciso para saciar seu desejo a se pôr só depois de levantar o sol. Os recheios dos sushis. Os salmões depurados. Cortar os punhos, da camisa de seda, quando surge um evento imprevisto. Eu me odeio por ter me dedicado tanto. Pela insanidade desatada. O florescimento sempre serviu de pretexto. Quero te polinizar no conforto do tapete do meu quarto. Foi a cantada mais bêbada, escutada. O lóbulo da orelha. A jóia a encontrar refúgio numa boca melodiosa. O atrito das jóias acordaria nossos pais, se já não estivem mortos. Pode ser um psicopata. Boate cheia. Amigos diziam. Todos me invejavam. Alguns nos invejaram.

São flamboyants! Admiro-me um aluno de geografia desconhecer as espécies da sua própria cidade. Como se ele tivesse uma outra lição a me ensinar.... Estou sentido um ressentimento, acaba de me falar meu primo que está aqui do meu lado acompanhando o desenrolar desse post. Sua função auto-proclamada: corrigir -me a ortografia, a semântica, a sintaxe. Aqui estou no limiar, explico-lhe Normas rígidas nos servem mais. Desse momumento, quero só o alicerce. A vida aqui dentro flui. Observe com que facilidade coloco pés atrás da nuca. Não entendi? Fle-xi-bi-li-da-de. Ostra vienense, para os que fazem do quatro um oito. Ele ri. Eu quero esquecer. Pena que ele não acredita no power bloggers e nas mudanças que estão por vir. Sai os altos flamboyants. (Ah! Era como se eu estivesse tocando nos dedos de Deus.) Entram as delicadas tulipas. (Nos seus canteiros vamos experimentar o verdadeiro orgasmo. Oh! Toronto. Sonho contigo todas as noites.) Isso não é normal, nem verossimil, diarista... Ainda não terminou, primo? Isso não tem fim. Vou dar um chutão no estabilizador. A ansiedade.


, originally uploaded by Márcio Hachmann.

Pelas mentiras que nos contam desde criança. Pelos direitos de todas as minorias.

Para quem consegue ler Flaubert no original, surrupiado daqui.

23 de out. de 2007

Ode ao blogue extinto

Há quanto tempo não navegava indiscriminadamente pela Blogosfera. (Escrevia em pé, se recusando a se sentar no assento morno deixado pelo desafeto. A pérola da ostra, riscada em cinco lugares. Ele bufava. Raiva a lhe roer as víceras.) Nessas últimas viagens, tenho descoberto escritores que não deixam nada a desejar. Gente estudiosa. Tubarões num mar sem recifes. Só sangue B, como se diria no jargão dos caveirados, tão na moda objeitos de fetiche. Nessas horas penso em Manuel Bandeira e em seu primeiro livro de poesias publicado. Penso em Fernando Pessoa e no seu "Mensagem". Penso em Clarice (ah! Clarice me perdôe.) e na sua carta ao um outro Fernando, este o Sabino, pedindo-lhe uma colocação. A vida se renova e tudo floresce. As anêmonas. Quem vai vencer a barreira da editoração? Quem a superou, venceu a distribuição? Às vezes me pego a falar bobagens, como se soubesse de que parte do universo chegam as últimas fotos do Hubble. A parabólica que fui, o telescópio que serei. Sorrio para cada raio a rasgar o céu nublado. É a natureza a me fotografar durante meu hobby: fracassar diante anônimos transeuntes. A sintaxe dos profetas. Os lamentos de um carola. Sinto puta-inveja da clareza e objetividade (e correção!) com as quais esses blogueiros-poetas-escritores narram e descrevem e dissertam suas idéias. Seus personagens risíveis, suas dicotomias implacáveis. Talvez falte-me orientação. Onde guardei a bússula? Me aponte o norte magnético, quero fazer dele, geográfico. Um GPS esquecido no porta-luvas do carro de um paquera inominável. Em banheiras de motel, pés-de-pato importados. Ele era um escritor a procura de uma fonte de renda. Agora que a encontrou (em detrimento da sua suposta literatura, mas uma não exclue a outra, mais que a complementa), num desses palácios luxuosos da capital, compra flores e não manda mais entregar. Ele tem medo. Ele tem medo de mim. Ele tem medo do que vou fazer com aquelas fotos (apaguei-as). Ele tem medo do que vou fazer com aquelas suas despendiosas cartas de amor (joguei-as no vaso sanitário, conforme o costume) escritas em memória de uma relação que nunca existiu de fato. De mão dadas, amor. Só o stabilishment para ele agora importa. Dormiu abraçado com uma tal senhora Glória e se deslumbrou. Sinto pena. E é de mim mesmo, por não ter tido a coragem de fazer i-gual-zi-nho.

Em homenagem a Orhan Pamuk

Lá fora chove, aqui dentro... neve se acumulando sobre o recamier, sobre o aparador da sala de jantar, sob meus pés. Se faz frio? Com o frio a gente se acostuma. Não me acostumo com o desejo implorado de não se querer ser mais do que já não se pode por absoluta falta de espaço. Solidão é um passageiro que pedia carona na altura da 108 sul (para quem não conhece a capital, é a rua da Igrejinha) e agora, bem instalado, a qualquer momento vai descer. E vai levar e vai trazer. Talvez esquecer. O livro (o romance) serviu como quebra-gelo (só agora percebo a ironia me presenteada pela Vida). Falamos sobre a diversidade dos modos e costumes. Uma amiga minha, fulana de tal, foi mais bem acolhida em Istambul do que em Paris... Sobre os fonemas, as diferenças socio-lingüísticas, sobre o injusto sistema de crédito da universidade. Ensinei-lhe alguns macetes. Dei-lhe algumas dicas. Não pega disciplina com professor fulano de tal. Carnificina geral. Trocamos telefones, e-mails. Confidências. Paixões. E aprendi (descobri) que oil wrestling(com licença o leitor-tradutor e a leitora-tradutora se eu errar na tradução, fica assim mesmo. Depois vocês me corrigem), luta-romana, seria principal esporte nacional da Turquia. E Solidão, ex-vencedor na modalidade. E depois diz que não tem nada a nos ensinar.

Chuá, chuá, chuá,
Chuaaaaaaaaaaaaaaaaá, chuá.

Chuá, chuá, chuá,
Chuaaaaaaaaaaaaaaaaá, chuá.


Chuá, chuá, chuá,
Chuaaaaaaaaaaaaaaaaá, chuá.


Me passa a toalha.
Venha trabalhar no MEU Jornal. Obrigado, mas eu prefiro não. Resposta rápida, para movimentos singulares. Pensa com calma, não precisa dar a resposta agora. Poderia ter me justificado, mas... posso precisar dele um dia, novamente. Quando se perde dinheiro, acha-se patrão. Ele olhava para a frase que havia acabado de escrever e tinha a mais absoluta certeza de que havia escrito um aforismo. Seu primeiro aforismo consciente não-encomendado (Hum sei não. Vai com calma!), saído assim do nada, no susto do espirro convertido em tosse seca. Desci do carro com a sensação movediça que toma conta dos deuses quando se arma uma cilada para o incaulto humano bobo-tolo-otário. Foi apenas sexo? Foi. Sexo descartável? Foi. Não mais anônimo. E assim ele quebrava a verossimilhança do post. Já lhe disse: sem pastar, não se produz leite. Ele riu, queria me confessar mais algumas estripulhias vespe-noturno, mas coloquei-o para fora ao lembrar-lhe: seu ovo mole está frio. Diários por mais íntimos e reveladores que sejam também se cansam, principalmente tratando-se de Ninguém.

22 de out. de 2007


Caterpillar, originally uploaded by markopoulos.

Aquela lagartitinha que o eu-passarinho acabou de saborear como se fosse a sobremesa, bem que poderia me representar na exposição de motivos do próximo dia nove. (Gente do céu, e da terra principalmente, não faço idéia onde vou chegar com esse post. A cada releitura insiro uma frase, indiferente se arrebentar a bexiga. (Sentia prazer em colocar nossas vidas em risco.) Meu-eu ficcionista resumer-se-ia (desculpem-me os blogueiros que escrevem em estilo jornalístico, a mesóclice baixou como se eu fosse... perai, escriba, há toda uma preparação para ser receber um orixá, um pouco mais de respeito à crença dos teus antepassados, por favor, disse -lhe o diário intimo, num roupante atrevido adjetivado de matizes lilases.) a uma larva frágil e delicada, camuflando-se em seus medos e ressentimentos, no aguardo de cumprir-se promesa? O Sol é para todos, pena que os dias sejam nublados e a peçonha suficiente para derrubar um cavalo.

21 de out. de 2007

Não posso ter preconceitos, nem contra a moça que se veste como homem para seduzir os colegas de classe. Estratégia arriscada, porém acertada.

20 de out. de 2007

Das apostas erradas feitas no bar da esquina


Monaco, originally uploaded by Conwan.

"O governo de Mônaco vai acabar extraditando o Salvatore Cacciola." Um inocente comentário ( eu não tinha mais assunto) acabou originando a aposta. "Dificilmente. Há outros interesses envolvidos. ", retrucou meu amigo. Conseguia novamente incendiar a roda de chopp. Nossas vozes ressoavam por todo bar, abafando as outras conversas. "Aposto na competência dos nossos sub-procuradores.", disse-lhes. No tom mais sarcástico que eu poderia dizê-lo. E sorvi da tulipa o resto que eu já não mais queria. "Obrigado pela parte que me toca. ", disse ele, "De quanto vai ser a aposta?, perguntou-me, surpreendendo-me com um tom ríspito e arrogante. Fingi que não era comigo. Meu olhar perdia-se no horizonte na esperança de encontrar o ponto de apoio. " Foi apenas uma forma de se expressar.", disse-lhe, titubeando. Ele sem hesitar, tirou a carteira do bolso do paletó e de lá de dentro sacou uma nota de cinqüenta reais que foi cuidadosamente presa debaixo da minha tulipa vazia.
"Quer saber mais do que eu." resmungou como se fosse possível falar entre os dentes. Isso não vai dar em nada. "Jamais, mon cher. Je n'écrit pas en français." E sob olhares ávidos, uma outra nota de cinqüenta fez par a primeira. "Para não fazer desfeita. ", disse-lhe, fitando-lhe nos olhos. Gritaria geral. Fla-Flu improvissado numa calçada de ardósias vitrificadas. Dois galos de briga a se encararem minutos antes de se enfrentarem numa rinha. Ou seriam dois pitbulls? Sua boca espumava e não era espuma do chopp. Eu apenas observava-o sem entender o que eu havia dito de errado. Para onde teria ido o debate com seus elaborados argumentos irrefutáveis. "Confio no empenho do nosso ministro," disse-lhe, sem me importar com a provocação. "Agora, repatriarem todo o dinheiro extraviado seria esperar demais", completei, antes de me levantar sem pedir licença para ir ao banheiro. Quando voltei o bolão estava fechado. Cinco com um. E passei a ser conhecido como namoradinho ingênuo do Gustavo, para os íntimos: Eugênio.

Aula de sobrevivência em alto-mar


, originally uploaded by *Claudia Schulz*.

Chorar de barriga cheia, como se sabe é muito feio. Nunca ninguém me disse que escrever seria fácil, prazeroso ou me proveria. Quando você começou, tínhamos um objetivo, aprender. Nunca se esqueça da metáfora, escrever é como praticar natação. O problema é que nunca sabemos onde vai ser a aula, na semi-olímpica (onde dá pezinho), na olímpica (onde se dá cãibra), ou no tanque de saltos (onde olhares agonizantes se cruzaram e risadas são prelúdio de um beijo.)

EU NÃO CONSIGO ESCREVER! E não adianta mudar o gênero literário.

18 de out. de 2007

"Não te atrevas a escrever um livro antes de ler mil."
Ditado chinês, copiado daqui.

17 de out. de 2007


My Anna Karenina, originally uploaded by karinga.

Interrompeu a leitura. Com a mão no bolsilho do casaco procurava pelo lápis. Olhou em volta de si. No criado-mudo. Na escrivaninha. No aparador. Fechou o livro e o deixou em cima da poltrona onde se encontrava sentado. Precisa copiar aquela frase: "Não há de ser nada... Tudo vai dar certo." Seu otimismo resistia até 38 graus de febre. Passados calafrios, refletia sobre as escolhas erradas tomadas durante o curto periodo em que o rei se ausentou de casa.

8 de out. de 2007

A primeira frase nunca pode ser pessoal. Preciso das noites sem risoto para desmistificar o sentido do número dez. Desista leitor, estou apenas juntanto aleatoriamente peças de um quebra-cabeça que teima em ser incompleto. Há riscos, eu sei, mesmo assim a lataria nos protege. Nada de dor, nem prazer. Estamos, estou, no limiar. Sorumbático. E não consigo me livrar da primeira pessoa. Talvez um novena. Quinhentos Pai-Nosso. La Cité de Quebec. Os versos em inglês. Atwood a me corrigir o nó da gravata. Observo o candelabro do hall, o teatro de mil vozes, e concluo: o cinema é ente em coma. Do teatro faço minha cama. E não há porque se lamentar. A apólice de seguro bilionária não permitirá a nenhum dos órfão chorar. Meu humor oscila de meio-dia às quatro da tarde. A novidade, um acidente na ponte. Conheço aquela placa. A foto do motorista me excita. O órfão me puxa pela camisa. Daqui a um mês, daqui a um mês, me respondem. Olhar de fúria. Insatisfação. Mando por descarga abaixo todo o meu medo. Agradeceria à força cósmica que rege essa galáxia pelo montinho de massa compacta constituida à forceps dentro do recanto de Atibaia. Não posso, preciso estabelecer contatos por telefone com os torturados exibicionistas. Não é o caso. Dispenso. Grosso! Acabara de perder uma oportunidade. Desligo o telefone. E desisto de nossas tentativas. A noite foi feita para se brincar, não o dia. Volte ao roseiral e termine a colheita de outubro, me aconselha meu diário íntimo que até então acompanhava toda cena como se não fosse conosco.