Nas noites de quinta-feira costumam cair estrelas. A brisa sufoca meus ânimos. O michê que me aborda não é o mesmo que sussura promessas de amor. O meu som é o DJ quem faz. Vamos subir o morro e esquecer de uma vez por todas as convenções. Ele não conhece Vítor Araujo. O músico vai escutá-lo e espero que se encante desde a primeira audição.
27 de jun. de 2008
Vitor Araújo - Paranoid Android (Radiohead)
Nas noites de quinta-feira costumam cair estrelas. A brisa sufoca meus ânimos. O michê que me aborda não é o mesmo que sussura promessas de amor. O meu som é o DJ quem faz. Vamos subir o morro e esquecer de uma vez por todas as convenções. Ele não conhece Vítor Araujo. O músico vai escutá-lo e espero que se encante desde a primeira audição.
20 de jun. de 2008
Olho de porco e a ausência de mim mesmo
18 de jun. de 2008
17 de jun. de 2008
Mais do que lindo, o amor é necessário. Amor, não. Afeto. Troca de carícias. Telefonemas antes de se deitar, antes mesmo de se levantar. Exclusividade. Relação fechada, sim senhor. Ele sentia inveja dos gays, pq entre nós aceita-se facilmente um relacionamento aberto. Eu sentia inveja dele, pois dificilmente eu poderia acariciar meu ex a qualquer hora do dia, onde quer que fosse. Me apresenta uma amiga tua lésbica. Meu sonho é transar com duas mulheres. Nunca mais repita isso. Chamei o garçon e pedi a saideira. Como se eu tivesse domínio sobre meus sentidos. Outra madrugada passada no estacionamento do supermercado que não fecha. As garrafas de long neck se avolumaram rente ao meio-fio. A lataria do carro estava gelada, mas servia de encosto. Confortável. A vida sexual de um macho hetero era narrada sem culpa, sem invenções. Traços de um compulsividade latente, mas achei por bem não interrompê-lo. Não naquele momento.
16 de jun. de 2008
BANDANAS
Depois de todas as opções, estamos livres. Fios castanhos, forravam o chão a procura de abrigo. Lamento terem sido poucos os avulsos. Amanhã chá, hoje café. E os tolos cumprimentam-nos com boa dia, boa tarde, boa sorte. O que ele fazia aqui ao nosso lado? Esquecia de si mesmo. Vamos às compras, antes que o shopping fecha. Temos jazidas de petróleo a explorar. A sessão de fotos se inicia daqui a alguns minutos. Estamos ansiosos. Expor a vulva e a glande em ângulos distintos, inexplorados. Pés, mãos, nuca e orelha. Expor a mente em travessas de prata-de-lei. Migalhas do mesmo pão divido repartidas entre os ausentes. Ontem foi difícil. Pressão atmosférica. Se não fosse a academia e seus seminários de geografia política, teríamos sucumbidos as escolhas nefastas. Nietzsche padecendo da demência, fruto de uma sífilis incurável. Sofremos de um mal distinto. Tal qual a sua maneira. Golpes no ar. Krav-magá desajeitado. Caminhamos em círculos sem se importar com a repetição da quadrilha. Hoje foi fácil. Amanhã ninguém sabe. Nem o escriba, tampouco os escritores de romances policiais. Deixo aqui um abraço ao amigo e um beijo a puta que nos pariu.
14 de jun. de 2008
No bloco de anotações a privacidade que lhe restava, que lhe cabia. Um adorno. Ela perdera o livro dentro do ônibus, sem se importar se haveria de devolvê-lo na biblioteca. Saramago que me perdoe, mas passarei longe da fila que se forma para assistir a adaptação. Suas imagens serão apenas as minhas. E nos bastam. Sonha com ele, nos explicando uma lição. O professor de biologia grita. Voltaria à sala, na aula de matemática. Preciso anotar esse verso. Deixa para lá. Encaixo cá. No laboratório de informática, marca os horários com os clientes. Três visitas a quinhentos reais. Estou ficando preguiçosa. O que eu gosto mesmo é de dar minha contribuição a segurança pública. Carteirada ou o famoso 0800. Uma janelinha do messenger se abre. Escorpião a espreita. Ele não me chama. Ele não me ama. Dever ter encontrado outra, adepta do deep throat. Largar o vício e me entregar a profissão. É o que dá dinheiro. É o que paga o aluguel e a prestação da lava-roupa. Exibir-se diante da webcam parecia uma prática segura, se o cliente não houvesse se recusado a se proteger. Os gays é que entendem de sexo. Bareback sem restrições. Talvez eu esteja sendo pesado. O livro! Onde eu o deixei?compra outro e esquece. O espelho acena do retrovisor. Esse rímel barato me borra as pretensões.
13 de jun. de 2008
Em homenagem a Don DeLillo: notas de cabeça
A melhor momento do dia. O intervalo entre acordar e se levantar. O rastro de bergamota do tapete da cama até o tapete do banheiro. Tecidos conversam. "Ela vai confundir tudo, mas tá valendo." Palavras magoam. Teve mais essa: "Ninguém está querendo ver a tua cara." Lembrei-me doutra: "Você é triste, solitária e nunca vai encontrar alguém para te amar." A imagem do lago veio à tona. O mergulho, a corda, o canivete ausente, o assoalho lodoso. O óbito e o funeral. Seria uma solução. Vamos nos organizar para ver como é que fica. Até que ela se deu conta. É exatamente isso. Estamos sendo induzidas ao erro. Pegou sua gata de pelúcia, borrifou do perfume quente, beijou-a e se despediu. Vamos trabalhar. O salto marcava o piso de madeira ao ritmo decidido. Vamos trabalhar, porque preciso ter história para contar. Mais do que isso, precisamos de estilo, amorzinho. Podia lhe faltar tudo. Beleza, reputação, caráter, perspicácia, mas estilo ela tinha. Ou se esforçava para ter. Com os lapsos, cansaço e vícios moldava o que viria a ser a new sensation da Feira de Frankfurt. Não haveria fotógrafo capaz de captar sua simpatia, porque não tinha. Ela seguia a passos trocados, apressada de tão atrassada, forjando uma história que jamais escreveria, porque quando se colocasse sentada à frente do desktop não se lembraria mais.
11 de jun. de 2008
Cristalizar o amor que sinto por você. Oh, deus porque me escravizar nas suas orgias. O som no último volume. Quando nunca encontro sempre sêmen espalhado na cabeceira da cama. Eu ouvido, você palatável. Muita fumaça. Incenso. Me esconde a pele. São só dois olhos de gatos fantasiados de travessuras. Arma o concreto e créu. Sinto-me sexualmente atraído pelo auditor fiscal. O careca. Seu olhar. Castanho. De baixo para cima. Lábios enegrecidos pelo vício da ansiedade. As orelhas. De repolho. Sinto-me compelido a elogiá-lo o nó da gravata casado perfeitamente com o colarinho. Branco. Braguilha frouxa. Careca tesudo. Nas penugens que lhe restam, me perco. Labirintos sem saída. Te idolatro besuntado de chocolate. Trufas. O musgo e o fungo. Vamos para o motel? Cabeça raspada. Sim, sim. Sim! O caminho de anteontem era o mesmo de hoje. Feliz dia dos namorados para quem acabou de me ligar no celular. Se não atendi é porque foi apenas um susto.
O mesmo amor cego, jamais consegue ser surdo
Ela tem aparecido em todas as mídias, mas nunca quis conhecê-la. Seu visual não me dizia nada. E drogado por drogado, me basta aquele que vem buscar quando o expediente termina. A repetição, a superexposição, venceu minha indiferença e agora resta-me aqui tentando resgatar a noite de ontem, a madrugada de hoje, o nascer do sol às 5h15. Sempre achei o palio um carro muito apertado para se fazer sexo dentro. Há compensações. A lataria é uma das mais confortáveis. Vamos para um motel? Vamos ficar aqui mesmo. Concordei resignado. E minha submissão foi recompensada quando ele ligou o MP3 do carro. Abriu o porta-luvas. Tirou um maço de cigarros. Qual marca? Não importa. A temperatura caíra a níveis constrangedores. Eu tremia, mas agora era de prazer, em apenas contemplar a imagem de homem que eu havia encontrado por acaso na rua. Pensei que não conseguiria arrastá-lo daquele boteco très chic, o nome do boteco. Irônicos, os donos. Ele e eu. Enquanto fumava, me perguntou: E aí você tem namorado? Não. Não tenho. Tenho um amante. O arquear das suas sobrancelhas, me levou a justificar-me. A gente se vê todos os dias. Quando te encontrei, você estava sozinho. Sim. Havia acabado de descer do carro dele. Entrei no bar para comprar uma coca-cola. Ele não terminava de fumar. Aquele inquérito se prolongaria até o último momento de prazer dele. A distância que nos afastava era a mesma que nos aproximava. Essa é a tal da Amy? E ele pronunciou o sobrenome dela com uma pronúncia perfeita. Por segundos, fui levado a Brighton a trazido de volta. Sente o cheiro do mar nos meus dedos. Aproximei-me do seu corpo perfumado, este era cítrico, respirei dentro da sua camisa azul, reflexo da lua, convergência da noite, a procura do suporte para minhas pernas. O abraço. E a melodia movimentando seu corpo e por inércia o meu. O dia amanheceu com os outros carros passando por onde estávamos. O estacionamento do pithon não era mais discreto. Conheço uma padaria na seis que serve um delicioso café-da-manhã. Eu aceitei e agora estou aqui postando, na tentativa atordoada de me lembrar de tudo. Qual seu telefone? E o seu amante. Não quero atrapalhar relacionamento nenhum.
10 de jun. de 2008
Borrada se apresenta minha essência. A lente escraviza minha alma. Tal qual, caju com rapadura. Que os fúteis ardem em qualquer um dos círculos do inferno de Dante. Eles e suas visões restritas do mundo. Gostos mesquinhos. Paladares dictomizadores. Abomino quem só ouve um estilo de música. Cago em cima de quem só come sushi. Literalmente. Literalmente. Depois berram em alto-falantes: viva a pluralidade. Viva o multiculturalismo. Viva a porra que sai pelo nariz quando deveria escorrer goela abaixo. Longe de mim a homofobia. Até defendo que ela deveria ser criminalizada. É que me irrito com quem só sabe conversar sobre carros, esportes e homens ou com quem só sabe conservar sobre museus, galerias ou sobre os desfiles da Fashion Rio. Quem vem? Quem não pode estar presente. Por quê? Talvez eu esteja sendo moralista. A pilha de livros derruba a impressora. Perco os sentidos. Gotas são comprimidos debaixo da cama. E a saudade vai dentro do pacote entregue ao carteiro. São fotos, cartas, chips, o patuá, o crucifixo benzido. A Roma de todos nós. Me desfaço de tudo. O limoeiro floresce, a vida se reinicia. Boa sorte. Adeus. E se ele aparecer na minha porta chorando. Convido-lhe para entrar. Ofereço um capuccino brasileiro. E entrego o calção de banho, esquecido no varal. Branco. Gastei quase uma caixa de anil. Para quê? Por quem? Namorados se desentendem na porta da igreja de Santo Antônio. Os amantes se mutilam no estúdio de tatuagem. Quanta diferença. Daqueles se cospe. Destes se engole.
9 de jun. de 2008
momento poético ou a catástrofe atrás do biombo
Detesto ser chamado de irmão. Me lembra a seita. Segredos, vigia. Homens em campana. Homens na escuta. Eles sabem das horas telefonadas. Grampeadas. Transcritas. Oi amigão! Me abraça. Sustente o peso das minhas lágrimas nos seus braços... fortes. Sim. Seria quase um clichê se não fossem hipertrofiados. Carne dura. Me lembra mármore. Bonito de se vê. Me lembra David. E ai, irmãozinho, beleza? Me trate como mulher. Apaixonada pelo primeiro amor. Me trate como fêmea. Cadela no cio. Égua afogueada. A partir de agora, só me chame pelo feminino do meu oposto. Ele se assustou. Da garrafa de vinho sorvir um longo gole tripo. Seco. Tinto. Do que você está falando? Explico-lhe com calma. Não dá para continuar sendo seu amigo. Estou suando de desejo. Tremia de frio, como se fosse de medo. O clima dessa cidade é maluco. Veste meu casaco. Almiscarado. Ele olha para a boca-de-lobo. Pára. Sorri. Gargalhadas. Sem motivo. Me olha. Me encarra. Se você tivesse onde, te faria um filho aqui agora. No meio do passeio. Longe desse poste de luz que nos ilumina.
Da semana que se passou por entre meus dedos restou a promessa de um telefonema. Relacionar-se amorosamente mostra-se complicado. Amor entre iguais, complexo. Junta-se a isso o fato dele ser casado... O que mais a foto me inspira a escrever? A história vem e este jovem escriba se auto-censura. Corro para o editor do word e me permito digressões. Tenho vergonha dos detalhes de mim mesmo.
3 de jun. de 2008
O erotismo enviesado de naturalidade e despojamento. Estou me tornando gay e papai não se dá conta. Meus parentes não se dão conta. Precisamos conversar. Até porque, logo logo o filho do vizinho estará de volta do intercâmbio em Iowa. O doutor supracitado a me vasculhar os desvãos. Saudade que webcam nenhuma, por mais high tec que se fosse conseguiu amenizar. Se não fosse o SKYPE, o que teria sido do seu doutoramento? Cartas de amor. Provas de uma paixão que o doutor engenheiro esconde de si próprio. Os esparadrapos protegendo as juntas. O pêlo loiro a proteger a pele. Tudo igual e tão diferente. Semelhanças. Disparidades. A mesma pele rosada a me lembrar os porcos. E os porcos? Faço torresmo para servir de entrada para feijoada. Somente sábado. Desembarque previsto às 11h07. Mas podia ser amanhã. As cartas não me servem de mais nada.
2 de jun. de 2008
Tentando escapar
29 de maio. quinta-feira. 22h37. Dois rapazes debaixo da árvore se beijando. Um, soluçava sem parar. Outro, beijava-lhe o pesçoco. Aquele, dizia constrangido: "Só tomei duas cervejas e me deu... ic... ic... Os beijos rasos, quase sem abrir a boca, senhas que o esfrega não passaria daquilo, apenas um contato onde corpos nus não se encaixariam. Vamos para um lugar mais reservado? Sem resposta. A mão que acariciava a nuca, era a mesma que empurraria para baixo a cabeça em direção ao desejado desconhecido. Ali se começou o jogo. Esse aqui é melhorado. E eu não sou desses que ele está pensando. Cheirava-lhe a intimidade como se estivesse cheirando-lhe o pescoço. Mordia-lhe levemente a pele, o perigo no risco lhes embriagava. O jogo prossegue. Usava-se de estranhas estratégias. A língua, uma aliada. Não faria o que ele queria. Abraços e beijos são insuficientes quando se quer mostrar ao outro sua inocência. Antes tivéssemos ido procurar por soldados no setor militar urbano, diário. (Você é sozinho, né? Perguntara-nos o tenente, lembra? Lembro-me e não consigo esquecer.) Lá, por qualquer latinha de cerveja, os rapazes da ronda teriam me cegado, primeira na frente (Não baba!), depois por atrás (Você está limpo?), depois simultaneamente. Dois, três, dez, quinze. O arrependimento. Droga! O que eu estou fazendo aqui. Ele está pagando quanto? Cinqüenta. Eu pedindo forças a Deus para que agüentasse por mais alguns minutos que somariam horas do nascer do sol. O silêncio, o respeito, a rapidez, o nunca chegar ao fim. Você também vai? O soldado riu. Na próxima. Quer que te leve para casa? Adoraria. Muita gentileza tua. O chucro a me conduzir de volta para casa. Vamos subir?