8 de jan. de 2005

Affonso Romano Sant'Anna nos explica no seu "A sedução da palavra" (Letraviva, 2000) os rituais de iniciação enfrentado pelo iniciante escritor. Participar de grupos de amigos escritores, seria interessante. Lá fui eu, tímido, levando minha carta de apresentação, escondida dentro das calças, conhecer o pessoal . Não resisti, contudo, a tentação de publicar no ciberespaço (não custa nada, além da tendinite) a tal carta. Cumpra-se, assim, outro ritual: expor ao maior número possível de leitores o texto e solicitar que, se eu estiver sendo ridículo, me avisem. Eu também quero rir. Coaduno com a opinião do Rainer Maria Rilke, porém. Os críticos não tem nada a acrescentar à obra-de-arte, posto a impossibilidade de se comprender o Ser.
"Gaudz,
Cá estou, me unindo aos bons bombons. Li os contos, as crônicas, as mensagens. Senti vontade imensa de narrar o estupro por mim sofrido na semana passada. Desabafo entre amigos. Mas me lembrei que eu era macho. Aliás, era não! Ainda sou. Por enquanto, não sei até quando. E na condição de sexo sensível, protejo meus culhões na redoma de
vidro do meu padrinho. Melhor assim, sem acidentes. Gaudz, apague as frases anteriores. Definitivamente, não consigo dizer a verdade. Eu ia me apresentar ao grupo (Oi, Vizinhos!), ao proprietário (Blz, Paulo!)e acabei tecendo ficção. Problema sério conseguir completar a frase: eu sou...

Posso te/lhes adiantar, Gaudério San/caros calegas, que minha mente pervetida me assunta quando chego de madrugada em casa para preencher meu particular inquérito íntimo.(O DiCla, meu ciberdiário, anda muito criterioso, ultimamente.) Copos ensebados, sujos de melados, me acompanham. Eles desistem de preencher minha mente biologicamente atrofiada. Sou daquelas, opa! Tenho daquelas capazes de justificar, sorrindo, as fissuras anais em um recém-nascido. Mas o que me tensiona mesmo é homem de barba. E/ou mulher estriada. Homens sarados. E/ou mulheres obesas. Deformidades mentais me violentando a culpa. Siliconadas travestis empunhando navalhas. Adoro me travestir nas segundas-feiras à tarde. (Que Papai não venha a saber, o que ele já sabe, mas finge não saber. Finge, mal p'ra cacete!) Deliro quando me corto, acidentalmente, com navalha. Razão pela qual só saio com mulheres que saibam dar nó em gravatas. Quase enforcamento, só com homens (mesmo os que ninguém quer. Não me importo de ser comido no chão, mesmo).

E no mais, Daniel, estou triste com minha pressa de todos os dias. Triste por só agora te conhecido o ciberdiário do seu amigo Paulo. Dane, tu já se deste conta da quantidade de escritores atraídospor ti, ou melhor, pela tua sonoridade hipertextual? A qualidade circunscrita me pergunta: Onde estaremos daqui a vinte e cinco anos, Gaudério? Da água que escorre da serra gaúcha, eu bebo. Não tem me feito bem, meu amigo, Dane. Nem me feito mal.Tem apenas me motivado a seguir, agora não mais sozinho de tão isolado, lendo ( morto diante os mundanos) e escrevendo (vivo diante os escombros) porque só a nado vamos conseguir chegar ao outro lado do rio.

P.S.: A crônica do dia (07/01, o dia da volta do meu recesso) me pareceu um amontoado de frases desconexas.Ocupado estava, ávido por atualizar o DiCla, publiquei o rascunho mesmo. E olha só o que nos aconteceu. Obrigado! Meu destino é a catarse, um gozo jorrando sem ser tocado que os teóricos devem saber explicar.

P.S.S.: Alguém aceita de acelora?


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