24 de mai. de 2011

Ars Amatoria (A Arte de Amar)

Ars Amatoria (A Arte de Amar)
Ovídio (43 a.C -17)

20 de mai. de 2011

TESTE DOSHA: descubra o seu tipo ayurvédico | ESSE TAL DE SAGRADO FEMININO…

Eu sou Vata e você?

TESTE DOSHA: descubra o seu tipo ayurvédico | ESSE TAL DE SAGRADO FEMININO…

Vata significa a força que gera e possui as qualidades do “ar” (e do espaço). Vata não é “gás” mas a força que, quando em excesso, produz “gás”. Vata é o dosha formado pelos elementos ar e éter. Suas características são ser seco, leve e frio. As pessoas com predominância de Vata são geralmente magras, ativas e costumam ter a pele seca e eventualmente constipação intestinal.

29 de abr. de 2011

Escritores famosos e doença bipolar ( in Revista Mente e Cérebro, Março de 2008)



Bipolar mood, originally uploaded by BlueLù.
Doença mental e criatividade não são categorias mutuamente excludentes; ao contrário, frequentemente estão associadas. Afinal, criar significa escapar de padrões habituais, inovar, surpreender. Ora, essas características podem muito bem ser aplicadas à doença mental, a tal ponto que, para alguns artistas, são inseparáveis. O grande pintor norueguês Edvard Munch (autor do famoso O grito) era psicótico; admitia-o, mas temia que o tratamento pudesse reduzir ou suprimir seu potencial. A pergunta, pois, se impõe: existe um denominador comum entre criatividade e doença mental? A dúvida não é de hoje. Já havia sido formulada por Aristóteles, no famoso Problema XXX: “Por que razão todos os que foram homens de excepção no que concerne à filosofia, à poesia ou às artes são manifestamente melancólicos?”.Duas doenças têm sido associadas ao processo de criação artística: a esquizofrenia e a doença bipolar. No caso específico da literatura, contudo, a conexão parece se limitar aos bipolares. O processo de elaboração mental de esquizofrénicos, com frequência manifesto nas artes plásticas, como mostra a notável coleção de obras de pacientes reunida por Nise da Silveira, parece ser alheio ao da criação literária, já que implica uma dificuldade de interação com o mundo. Diferentemente do jornalismo, a essência da literatura não reside na comunicação, mas é preciso um mínimo de diálogo entre escritor e leitor. No caso do bipolar essa comunicação atende a uma necessidade. Como diz o psiquiatra inglês Anthony Storr em The dynamics of creation (A dinâmica da criação), os bipolares precisam de atenção e de aprovação, como os escritores.“Read me, do not let me die”(“Leia-me, não me deixe morrer”), implora a poeta americana Edna St.Vincent Milay (1892-1950). O reconhecimento de leitores, mesmo que poucos – Gustave Flaubert dizia que 100 leitores eram para ele mais que suficientes –, representa um reforço na auto-estima.
As fases da doença bipolar favoreceriam o processo de criação literária, uma vez que correspondem à alternância característica da actividade do escritor: um período de “recolhimento”, de elaboração de idéias, seguido de um período de produção (inspiração e transpiração). É claro que isso só funciona nos casos mais moderados, em que a mania não é acompanhada de manifestações agressivas, mas é, antes, aquilo que se conhece como hipomania, um estado no qual a pessoa se sente “energizada” e pode trabalhar com entusiasmo. Honoré de Balzac, para Storr, era um bipolar típico. Nas fases mais produtivas, o escritor jantava às 6 da tarde, dormia até a 1 da manhã, levantava, trabalhava durante toda a madrugada, parando para tomar café, descansar e receber visitas. Não é de admirar que tenha escrito a gigantesca obra que é a Comédia humana. Nos períodos depressivos, contudo, pensava em suicídio, fim de escritores como Virginia Woolf e Ernest Hemingway. A escritora inglesa teve uma vida atormentada por surtos depressivos que pareciam não afetar sua criatividade mas a levaram a entrar no rio Ouse com pedras nos bolsos de seu casacão para se afogar. Já Hemingway viveu numerosas aventuras pelo mundo, escreveu obras de enorme sucesso, mas tinha de lutar sempre contra a depressão, que também o levou à morte. E eles não foram os únicos. Entre os escritores diagnosticados – em geral depois de mortos – como bipolares estão Hans Christian Andersen, F. Scott Fitzgerald, Nicolai Gógol, Graham Greene, Henrik Ibsen, Joseph Conrad, Herman Melville, Mary Shelley e Robert L. Stevenson. A pergunta de Aristóteles não foi ainda plenamente respondida. Mas aceitar que doença mental e talento são compatíveis já é um grande progresso.



Addicted, originally uploaded by jmmooski.
A psiquiatra prescreveu 500 mg de epilenil e a recomendação da leitura do "Vermelho e Negro" do Stendhal. Pode? Pode sim. Tese de livre-docência sobre Virgínia Woolf. Se eu não for bipolar, só nos resta o TDAH, ou seja, voltamos ao diagnóstico inicial, e nesse caso, me recuso a tomar metilfenidato. A coach vai ter trabalho. Psicoterapia diária. Meu céu, nosso inferno.
--Será q estou adiante de um bipolar com gênio criativo. --a doutora sorriu como se estivesse admirando uma aliança de brilhante na vitrine da H. Stern.
--Sinceramente, espero que não.-- respondi. Sai do consultório incomodado.

27 de abr. de 2011

Eu me sabotava, enquanto os outros observavam atônitos a tragicomédia anunciada. No meu monólogo sem falas e figurino, apenas a iluminação tinha importância. Meu lado sombrio da alma reluzia, ouro, prata, safira, brilhantes, as lágrimas eram sinceras e os aplausos, névoa entorpecente. Até que um dia, o dia amanheceu. E não havia nada ali, além do cheiro forte de urina dos cães de rua.

20 de abr. de 2011

Tenho que atualizar isso aqui, mas escrever está ficando difícil. As palavras tem fugido de mim. Na mente, nenhum pensamento. Vou parar de tomar essa droga. E voltar a beber.

4 de abr. de 2011

Banho de gato

O tempo me devora. O rascunho permanecerá. Cada erro, o editor se encarregou de corrigir, suprimir, revisar. A solidão desliza pela face. O coração agradece. Gabi pede um afago. Olho e ignoro. Seu pai está escrevendo. A tese da minha vida. Ao estudar a propaganda, na qual o apartamento cuja a janela de onde se pode contemplar a skyline de Nova Iorque, confrontou-se com os fatos. Como consegui fazer isso da minha vida? Até o ajudante do piscineiro tem mais dentes na boca do que minha pessoa. Paro e leio o que poderia ser um primeiro parágrafo. Respiro fundo e continuo. Acho que ao relê-lo daqui há alguns anos não conseguirei identificar o autor. Digito catando as letras pelo teclado com medo de errar na escolha precisa das palavras. A doença do perfeccionismo alimentado pela descrença em si próprio. Gabi se levanta, foi dormir no sofá da sala, suponho. Nem ela suporta esse cheiro de tristeza que exala forte quando tomo uma decisão cujo o cumprimento ou não dependerá de quanto durar o desconforto no peito. Algo por dentro de mim se aperta, se torce e retorce, como se ainda houvesse vida dentro de mim. Ao contrário do último araticum, queimado por fora, mas com seiva por dentro; a seca se instalou aqui dentro em algum lugar e queima silenciosamente sem fazer fumaça. Preciso continuar, mesmo com as gotas de suor a escorrer pelo rosto, caindo pelo teclado. Nem quando me masturbo transpiro tanto assim. A pretensiosa idéia de começar finalmente a transformar minha história de vida em literatura me assusta, mais do que me tira o sono. Na cama deitado, vou ficar pensando na estrutura do enredo. Como vou reorganizar temporalmente os fato na narrativa? A infância vai ser contada no início ou em forma de reminiscência? Preciso me apoderar das técnicas literárias dadas. Analisá-las com o mínino de inteligência que os candidados ao Nobel costuma apresentar. Já eu que nunca ganhei nada (Ele respiraria fundo ao conseguir se livrar do cacófato, Jacquie (leia-se: jaqui), ao inserir o pronome eu entre a locução adverbial de... justificativa?? perderia o ritmo da frase, a sequencia da idéia e o leitor hipotético que iria interromper a leitura sem saber que o protagonista da peça chorou ao visualizar mentamente toda frase. A lembraça do pai ainda o abala emocionalmente. As lágrimas o atrapalham a visão, mais do que a tempestade o atrapalhara a ouvir a festa rave na rua de cima de onde ainda deve morar e se perderia para sempre a continuação da frase responsável por toda essa digressão. Subterfúgios, máscaras que lhe a ajudavam a respirar quando receio ser pedante lhe imobilizava os dedos. Reler o parágrafo não me fizera bem. A solução do cacófato mudara o sentido da frase anterior a ele. Está ficando maçante! ... nem mesmo um abraço do meu pai, pelo menos me permito sonhar com o improvável, com fatos além de mim ou... Espera! Funcinou. Estou satisfeito. Vou dormir. Acho que daqui há alguns ao encontrar esse texto perdido entre os milhares de documentos salvos de tão mal arquivados, conseguirei me reconhecer nele. E vou me orgulhar mais do que do brilho das orações bem concatenadas. Posso ouvir a gargalhada por saber que o ridículo da vida não se limita ao Tempo, somente ao Espaço. Esse toshiba não está nos ajudando.

12 de mar. de 2011

Farelo de pães sobre a cama. O resumo de um dia antes do alvorecer. Dilacero com os dentes o cordão que nos unia. É carnaval. Não precisamos mais usar máscaras.

26 de fev. de 2011

As Flores da Páscoa: primeiras notas. Fundamentação teórica


Pureza, originally uploaded by tonialon.

mutável e o imutável
movimento e permanência
materialidade e a essência formam o todo que pode ser também o nada

principio da dualidade: pai e filho, yin e yan

Dualidade todo inseparável

Todo e Nada: Espírito Santo (Cristianismo), Prana (Hinduísmo), Qi (Taoísmo)



Pai Filho Espírito Santo
óvulo, Espermatozóide, ovo
Pólen óvulo fruto
(fixo) (em movimento) (em movimento/fixo)

O que é literatura? Para que e para quem escrever?

diante de um objeto: que? 
                                 por que?( razão, motivo, causa) 
                                como? 
                                para que? (finalidade) 
                                para quem? 

ao escrever, vou descobrindo

Filosofia e literatura: O risco do solilóquio

" 'o primeiro ensinamento filosófico é perguntar: O que é o útil? Para que e para quem é o útil?' "

Idéias filosóficas em forma literária

" 'Tudo é dor/ e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor'. É simplesmente outro jeito de falar das 'quatro nobres verdades' de Buda. Ele ensinava que a dor é parte da experiência humana, e que ocorre porque nos apegamos ao aspecto passageiro das coisas, e não à sua essência, que é eterna. Se nos apegamos a algum bem material, por exemplo, estamos automaticamente nos condenando à dor, porque não há nada material que não seja destruído pelo tempo. Então quando esse bem não existir mais, sentiremos dor." [grifo nosso]

25 de fev. de 2011

Ainda na sessão de anteontem, Oscar 2011

--  Qual o seu maior sonho?
--  Humm mmm...
--  Não tenha vergonha. Pode ser o mais absurdo de todos.
-- ... hummm... ganhar o Oscar de Melhor Roteiro Original. Não é pela fama e ou pela glória, nem pelo dinheiro. Seria como ascender ao Monte Olimpo. Estar novamente junto com aqueles que eu amo, admiro e me espelho, junto daqueles que se sacrificam pela arte, mesmo que para isso tenham que fazer concessões...
-- E o que você tem feito para realizar seu sonho?
--  Tenho lido e escrito diariamente, não o tanto que eu gostaria, mas o tanto que posso. Tenho estudado... observado atentamente tudo que acontece ao meu redor... Busco me informar como o sistema funciona e como eu posso e devo me inserir nele...
Toc-toc-toc. Alguém interrompera a sessão e  minha fala, para entregar a chave da secretaria à psicóloga. Agora estamos realmente a sós, pensei. E isso não faz a mínima diferença.

Na sessão de anteontem

"O indivíduo é formado por várias dimensões: profissional,  intelectual, corporal, social, ... Como você tem cuidado de cada uma delas?"
"Ele se enxerga através do olhar do outro."

24 de fev. de 2011

Coração restrito, mente fumegante

Estive tão perto dele, mas não tive coragem de lhe cumprimentar. Foi melhor assim, eu poderia nunca mais sair da sala de projeção, acreditando mais na ficção do que na realidade

glee- what if god was One of Us

19 de fev. de 2011



Diary 1881, originally uploaded by reform.

"O diário de uma das minhas avós", interrompeu Martyn, fazendo uma viravolta com os braços cheios de livros. "Que velha senha excêntrica" ela deve ter sido! Eu mesmo nunca consegui manter um diário. Embora tentasse várias vezes, nunca consegui escrevi em nenhum além de 10 de fevereiro. “Mas aqui, olhe só”, e ele se debruçou sobre mim, apontando com o dedo, "aqui estão janeiro, fevereiro, março -- e assim por diante --doze meses ao todo.”
"O senhor então já o leu?, perguntei, esperando, ou melhor, desejando que ele dissesse não.
"Oh, já li sim", disse ele sem refletir, como se isso não passasse de uma desimportante empreitada. " Levei algum tempo para me acostumar com a letra, e é esquisita a ortografia da nossa velha donzela. Mas há coisas bem singulares aí. Aprendi com ela, desse ou daquele modo, muitas coisas sobre a terra.” E ele bateu na papelada de leve, meditabundo.
"O senhor conhece também a história dela?", perguntei.
"Joan Martyn", começou ele, como uma voz de ator em cena, "nasceu em 1495." Era filha de Giles Martyn. A única filha. Ele porém teve três filhos; nós sempre temos filhos homens. Ela estava com 25 anos quando escreveu este diário. Viveu aqui a vida toda -- nunca se casou. Na verdade morreu aos 30. Acho que a senhora poderia ir ver o túmulo dela, lá onde está junto com os outros.


Woolf, Vírginia. Contos Completos. Trad. Leonardo Fróes. CosacNaify.1ª Ed

18 de fev. de 2011



Parque da Cidade, originally uploaded by fontesfilipe.
Tenho pavio curto. E eu sou uma mina terrestre. Pisou, explodiu. E meu perímetro de destruição é maior do que você possa imaginar. Refresco-me tomando um gole da coca light. O Bruto sorri e se recolhe num semblante cerrado. Ele pensa na fechada que levou no cruzamento, na perseguição, nas trocas de ofensas. Isso aqui não é selva, macaco! E quando dois machos descem do carro, decididos a se enfrentar, o firmamento se esconde atrás de um céu nublado, as luzes da cidade mostram-se insuficientes para iluminar os ânimos das idéias. Eles se encaram, levantam a guarda e se estudam, a não ser que um deles desça com arma em punho e faça mira. Atira se for homem. O barbeiro não sabia com quem ele estava lidando. Luciano, baixa essa arma e vamos embora! A diferença de vocês dois e uma criança é o tamanho do brinquedo. A gente aprende que nessas horas quem se recolher é considerado covarde. Ninguém se move. Até se ter a idéia de ligar para o 190 e fazer a denúncia. Estamos na altura da 409 sul, em frente a Igreja Santa Rita. De longe se sentia o cheiro da autoridade se aproximando. Sejamos inteligentes, ninguém aqui quer passar o noite detido. Desculpa ai, cara. Luciano entra no carro que a polícia está chegando. E se o doido viver atrás da gente? Se ele tiver anotado a placa? Vai para casa, vai na paz e você vai se desfazer dessa arma. Não me empurra. Entra no carro agora e me dá a chave. O inteligente saiu fritando pneus, demarcando seu território. E os amantes mudaram seus planos, se dirigiram a um bar, ao invés do motel, onde o silêncio da mudez fermentou a raiva, onde a reputação do macho alfa arfava pensamentos de injúria sobre aquele que lhe protegeu a vida. Os beijos trocados no estacionamento da piscina de ondas do parque da cidade serviram apenas para transmutar o ódio do coração para a pélvis. E assim a previsão das runas se confirmou: até a alvorada do novo dia, alguém ia sair machucado e água perdoaria toda mágoa.

17 de fev. de 2011



doves in flight, originally uploaded by Temari 09.
Ontem, eu alimentava os pombos.
Hoje, são eles que me alimentam.
Sua paz invade meu interior,
me serve de escudo.
Com suas penas, confecciono fantasias
que jamais usarei.
Dos empalhados, faço semi-jóias,
Dos correios, faço amizades.
Os das estátuas me inspiraram.
Os da rede elétrica me observam.
Na praça marquei um encontro,
onde os aves me faziam sala,
era uma festa em revoada.
Se eu chorava, era de alegria,
não de tristeza.
Se eu lhe esperava,
era porque os pombos se faziam de cupidos,
na esperança de testemunhar um amor,
que jamais deveria ter saído dos limites do virtual.
Agora eu sei o que acontece quando o pombos choram.
O tempo escurece e todos vão embora.

16 de fev. de 2011

Meus hábitos de leitura

SAU_9152
Gosto de ler trechos de livros em voz alta para outras pessoas.

Tenho preferência por romances. Mas leio também contos, crônicas, poesia, peças de teatro, ensaios, teoria literária e teses, nessa ordem de preferência.

Gosto de ler biografia dos autores, quando possível.

Gosto de ler o livro do começo ao fim, sem pular páginas, nem adiantar ou ler o final da história, mesmo que isso leve meses.

Gosto de ler os clássicos que ninguém conseguiu ler.

Gosto de alternar minhas leituras entre estrangeiros e nacionais, clássicos’ e contemporâneos, homens e mulheres, heteros e gays, consagrados e os desconhecidos.

Não leio qualquer tradução, tampouco qualquer edição.

Não leio orelha, nem a contracapa de livros.

Detesto orelhas e contracapas que trazem fotografias do escritor.

Gosto de ler jornais assim que me levanto, com suas as páginas organizadas, enquanto tomo meu desjejum, mas nem sempre isso está sendo possível;

Gosto de ser o primeiro a ler a Veja quando chega em casa, antes de todo mundo, mesmo que seja para passar raiva.

Gosto de folhear o jornal de domingo. Às vezes, leio-o todo.

Gosto de ler os sites de jornais online.

Gosto de ler blog de escritores amadores.

Gosto de escolher um escritor por vez para ler sua obra em ordem cronológica de edição.

Ignoro best-sellers  e mega-sellers

Não leio entrevistas de escritores consagrados pela crítica e/ou público.

Não leio resenhas.

Leio poesia me voz alta.

Não leio livros que estejam em lista dos mais vendidos.

Evito ler livros que tenham sido premiados recentemente. Vai para o final da fila.

Leio cadernos literários com muita desconfiança e senso crítico.

Não corro para ler um livro só porque ele foi adaptado para o cinema. Vai para o final da fila.

Não leio livros expostos na vitrine da livraria, aliás evito livrarias de shopping.

Não leio em cafés literários.

Leio peças de teatro em voz alta.

Gosto de ler livros que acabei de comprar.

Gosto de ler livros novos.

Leio livros antigos em problema nenhum.

Não leio livros de sebos.

Não risco, nem rabisco meus livros, tampouco uso marcadores de páginas.

Leio com lápis e papel nas mãos.

Leio quando estou entediado.

Não consigo ler sozinho em casa.

Gosto de ler em bibliotecas públicas.

Não consigo ler quando estou me sentindo só.

Ler para mim é um ritual. Luz, postura, apoio do livro, cadeira, mesa, lápis, papel A4 e uma garrafa grande
de água.

Gosto de reler um livro que me arrebatou quando estou aguardando no consultório médico, ou na fila do banco ou da rodoviária.

Gosto de ler na sala de embarque.

Gosto de ler enquanto me desloco, seja de navio, avião, trem, ônibus ou carro.

Não leio na cama.

Faço o possível para sempre ler confortavelmente sentado e com iluminação apropriada.

Leio e-books, mas prefiro ler no papel.

Leio brochuras contrariado.

Leio edições de luxo com imensa satisfação.

Todos meus livros possuem selo de ex-libris.

15 de fev. de 2011


Pati de llums, originally uploaded by jc espanol.

Onde está escrito que viver é fácil? Lembre das aulas de história antiga. Volte a estudar história contemporânea. O sofrimento permeia as civilizações. Nem mesmo os imperadores protegidos nos seus palácios adornados de ouro e jóias deixavam de sofrer, de fome ou de amor. É inevitável. O sentido da vida consiste em sobreviver às dificuldades, me desculpe Ricardo Reis, na pessoa de José Saramago, que me ensinou... Não! A frase saiu da boca do mensageiro do hotel: “quanto ruim, nunca pior”. Com sua permissão, meritíssimo, eu chego à conclusão que a situação pode sim piorar. Então, abandono esse ranço de pessimismo que me acompanha desde que tomei conhecimento da sua obra, para me voltar ao sol do otimismo, bem clichê: “dias melhores virão”. Não importa se eu não estarei aqui para presenciá-los. Uns semeiam, outros colhem. Quando se está morrendo, cabe a gente amparar os amigos, acalmar os parentes, sorri para os médicos, estender o braço à enfermeira para que ela aplique a injeção com a medicação. Pegar o livro da cabeceira e continuar a lê-lo. Se a morte é tabu (suspenso somente em condições extremas) tanto no meio hospitalar, quanto fora, não vamos convidá-la para jogar truco conosco. Bergman é maluco em nos mostrar que poderíamos desafiar a morte numa partida de xadrez. O sueco entende da vida e nos ensina, quando tiveres que enfrentá-la use suas armas, seu talento, seu dom. Deus na sua crueldade incomensurável, quando nossa futura mãe entra em trabalho de parto, toma de volta nossas asas, era apenas uma outorga, e nos joga no mundo. Se eu chorei não foi por causa da palmadinha, era choro de desespero em saber que não mais cantaria para o Senhor. Em contrapartida, Ele nos presenteia com uma habilidade. Este “vai ser gauche na vida”; aquele vai ser todo ruim. Caberá a mim e a ninguém mais descobri-la ou desenvolvê-la. Em momento nenhum, alguém diz que será fácil. Revelar ao mundo nossas aptidões confunde-se com o próprio viver e cultivá-las, apesar das rasteiras e voadoras, socos e pontapés, demonstra nossa capacidade de sobrevivência.

14 de fev. de 2011


IMG_0044, originally uploaded by b56n22.

Por que a gente bebe, mesmo sabendo que no outro dia acordaremos com a cabeça desparafusada, vomitando a alma? Já é Valentine’s Day. Por que a gente vai para cama com sujeitos que fustigam nossa carne a ponto dos Doutores Proctologistas notificarem as autoridades policiais? São Valentino passa a ser meu santo de devoção. Você vai passar por outro exame, corpo delito. Aguarda aí. O problema não era ficar nu perante o legista e o assistente; o problema era disfarçar a sensação de prazer ao fitar nos olhos castanhos amendoados do médico-chefe. Tenho medo de bisturi e agulha, mas não nas mãos do Doutor Altivez que acabara de entrar pela enfermaria perguntando pelo paciente. Ele não anda, ele marcha. Ele não pede, ele manda. Vai doer chefe. Nessas horas a gente perde a audição, como se os ouvidos estivessem sendo entupidos por potentes protetores auriculares; a vista se escurece lentamente, restando-nos pequenas luzes piscando. Você se entregaria ao sono, caso a voz, semelhante ao do Pai a nos dizer o quanto nos ama, não lhe chamasse repetidamente pelo nome. Nem comecei a sutura. Minha pele ouriçada, não por causa do ventilador ligado, mas por causa das ásperas mãos peludas afastando minhas nádegas. Se doer, você fala. Com certeza! Não vai doer mais do que as palavras do Catão. Eu sou homem. Eu gosto é de boceta. Sério, querido? Um fato não exclui o outro. Seus argumentos eram mais convincentes quando sentávamos lado a lado na aula de Topografia e Fotogrametria. Não tenta se justificar, ocultando o desejo que lhe estorva o sono. Brutus, o carioca previsível, havia me perguntado: você é capaz de ser fiel a um homem só? Sim. Com certeza. Quando a gente se completa... Desde que tome a primeira dose. Fala logo, porque se eu te pego com outro, eu te atropelo. Eu já tenho dois processos na justiça. Não quero mais fazer bobagem. Não quero perder essa oportunidade. O diabo mora na carência dos corações ausentes. Meu Valentine viajou e eu não sei como trabalhar a solidão. A literatura ajuda, ora confude. A gente acata a ordem de entrar no galpão destruído pelas chamas, para trabalhar nos rescaldos. Catão, do resíduo da nossa história sobraram apenas cinzas e hematomas. Estas, eu esconderei dos críticos. Aquelas, o vento se encarregará de dispersá-las, como se estivessem levando embora a lembrança do meu primeiro valentine.

Emocionado, Ronaldo confirma adeus ao futebol aos 34 anos

Esse tal de Ronaldinho, O Fenômeno, como ator, é um excelente jogador. Tive a impressão durante toda sua  entrevista na qual anunciou sua aposentadoria prematura que ele esforçara para chorar. (Depois de assistir Jerry Maguire, A Grande Virada,1996, todas as lágrimas passaram a ser de crocodilo. Choro só aquele contido, chorando por dentro tal qual ao da  nossa presidenta). Fiquei com vergonha por ele. Já vai tarde, Fofucho. Vê se trata da sua doença, crônica, por sinal. Acho que a vida da gente vale mais do que qualquer contrato milionário. Desde a final de 1998, na França, na qual  tal Fenômeno e Cia PERDERAM a Copa do Mundo que não suporto esse cidadão. Os jornalistas na época escreveram que ele teve uma convulsão e mesmo assim teve que entrar em campo, talvez obrigado pela deusa Nike, não a da Samotrácia (GRE), mas a de Oregon (EUA), na pessoa do Sr. Zé Galo. É isso que acontece, quando nossa motivação se baseia na fama, na glória, no sucesso. Hollywood é o sucesso. Para quem não se lembra da propaganda procure no YouTube. É linda, emocionante, assim como é emocionante rever Ronaldinho, O Fenômeno, driblando os zagueiros e chutando cruzado. Mas a gente não vive só de emoção, de espetáculo. A realidade é muito mais interessante. E sabê-la interpretá-la é mais que um dom, é uma arte, a arte do senso crítico que muitos tuiteiros preferem ignorar.

12 de fev. de 2011

um pequeno sol de bolso

"Muitos escritores afinam o ouvido para a prosa começando o dia com uma leitura estimulante, um pouco de prosa perfeita."


Me alegra ler, mais que me inspira, escritores iniciantes blogando sem nenhum ranço daquele pedantismo cheirando à Lord Cuenca ou Lady Averbuck. Pela manhã, preciso ler os jornais de ponta a ponta, para só depois submergir na produção de algum mestre. Virgínia Voolf tem me ensinado boas maneiras, mas sou indisciplinado e continuo a correr atrás pipas, na esperança de pegar alguma delas.

11 de fev. de 2011

Midan al-Tahrir, daqui a algumas horas seremos apenas nós.



Praça de Tahrir Cairo, originally uploaded by brunosaraiva84.
Hoje estou disperso, desconcentrado, inquieto. A todo momento confiro na tela do celular o andamento da História. Você está no mundo da Lua, dizem uns; presta atenção no trânsito, dizem outros. Minha alma não está aqui, meu coração bate longe. Se me perguntam onde eu gostaria de estar, responderia imediatamente: em Tahrir, respirando o ar que move o povo contra arbitrariedade dos homens. Nesse capítulo da História contemporânea sou apenas espectador privilegiado. Vou tirar o resto de dia de folga. É sexta-feira mesmo. Vou chamar uns amigos e estacionar nossos carros na porta da embaixada do Egito. Um buzinaço poderá ser ouvido de longe, caso a justiça seja feita.

Adolescente iraniano conduzido à morte


GAY IRANIAN TEEN LED TO DEATH, originally uploaded by anemi.

Por enquanto, não consigo pensar em nada. Preciso antes absorver o impacto da fotografia.

10 de fev. de 2011

Palavras | Virginia Woolf

A solidão infiltra-se pelas paredes do meu quarto qualificando minhas esperanças menores. A chuva traz a noite, onde o sol insiste em brilhar ofuscando a lua, minha companheira de cantata. Estou sozinho no meu quarto, em casa, sozinho na cidade que não dorme e os carros não descansam. Os amigos de infância-de rua-de escola-de faculdade-das noitadas sorriem num álbum de reminiscências. Do abajur emana a luz nostálgica das meninas que se vendem por uma latinha de skol. A calçada ferve. A efervescência marítima me lembra que sobra espaço entre minha cama e o porto onde estivadores descarregam o navio que acabou de atracar. Ligo a webcam, desbloqueio alguns convivas. Pergunto quem está disposto a acompanhar uma secular performance bizarra entre o cóccix com uma transversal tatuagem e o suado negro bíceps ornamentado por uma rama de arame farpado. Sou o diretor da minha própria inexistência na qual os atores amadores não se importam em sorrir para câmera. Assim, me livro da dita cuja e chego à conclusão que estar só, não é tão ruim assim. Sou livre para fazer o que eu bem entender, trazer para o meu apartamento quem eu bem quiser. Posso deixar a imaginação fluir enquanto pondero se compensa correr todo o risco de se expor ao perigo. Era isso que eu tinha a dizer após mergulhar nos seus contos Mrs. V. Woolf. Sua fala desdobra-se  dentro de mim incomensuravelmente.  E salvá-la como rascunho seria um erro, senão fosse a única opção. Quem para ninguém escreve, acaba falando consigo próprio numa linguagem que só Dos Anjos decifra. Desiste de me seguir, eu não presto, eu não presto, eu não presto.

Coaching Literário: Os dez mandamentos de Horacio Quiroga

Sonhei repetidas noites com Tchekhov me ensinando a escrever, lendo em voz alta meus textos, desqualificando  passagens em que eu acreditava piamente que deixaria os críticos desnorteados e conduziria os leitores a uma catarse, até que conheci James Joyce, os modernos e desemborquei na contemporaneidade dos dias e dos fatos e dos fenômenos que não se explicam, apenas se vive, se chora, se alegra ou se entristesse. Queria voltar à São Petesburgo, aos vilageros do interior da Rússia; mas estou perdido nas ruelas da Chaparral, atravessando    os becos da W3 Sul. Estou sentado nos bancos das praças nas entrequadras da asa sul procurando alguém que seja cúmplice no meu desejo de eternidade forjada.

Para reduzir gastos, Senado corta horas extras de diretores e suspende concurso

Estou imensamente feliz com essa atitude dos nossos congressistas. Os donos de cursinhos preparatórios de Brasília devem estar sacando a pistola do coldre para se suicidarem. Desde o ano passado, nas classes de preparatório para o Senado já não se achava mais vagas. Os concurseiros, então chega a ser hilário se não fosse trágico, a se perfilarem nas entradas do shopping popular Pátio Brasil, a querer saltar o muro de vidro daquele panóptico centro de consumo. Muita gente emputecida de tão embucetada abarrotam os tópicos do Twitter e do falido Orkut lamentando-se da sorte. Eu, por minha vez, me agarro ao uns dos Regimentos Internos mais complexos que eu já tive acesso. Lacan é extremante claro comparado aos que está escrito no supracitado. Hegel me faz cócegas nas orelhas. Voltaire é um alívio. James Joyce, brinquedinho de criança. Após ler aqueles artigos, Heidderger é sobremesa. A pressão retirada do meus ombros. Eu tenho que passar... Eu tenho que passar... Eu tenho que passar... Eu não tenho absolutamente nada. Eu simplesmente QUERO! E tenho tempo de sobra para me preparar.
Por fim cheguei ao apartamento onde ela morava e constatei que a placa na entrada, quando a olhei, indicava ambiguamente            -- igual ao resto de nós  -- que ela tanto estava lá quanto fora. À sua porta, bem no último andar do prédio alto, toquei a campanhia e bati, esperei e sondei; ninguém atendia; eu já começava a me perguntar se as sombras morrem, e como poderiam ser enterradas, quando veio uma criada gentil abrir a porta. Mary V. tinha estado doente por dois meses; morrera ontem de manhã, na mesma hora em que eu gritava seu nome. Nunca mais, assim, hei de encontrar sua sombra. 
Woolf, Vírginia. Contos Completos. Trad. Leonardo Fróes. CosacNaify.1ª Ed.

9 de fev. de 2011

Aproveito-me enquanto o dragão dependente de soldo dorme sua sesta para contemplar o pôr-do-sol que ilumina o aparador  perdido na sala do deserto escritório vazio. Da janela, vejo uma baía que não é a da Guanabara. Desenho uma flecha no bafo de vodca deixado no vidro. Retornemos às atividades. Novos pesos nos aguardam. No supino vou me matar. Exercício diário de uma mente amanteigada que ouve sermão do pai. "Masturbar-se pode. Desde que seja de forma eficiente.Tem umas playboys antigas guardadas (escondidas, pai) no forro." Interessante que o nu feminino esclarece todas as nossas dúvidas. Realmente somos diferentes. Mas surgem novas indagações: "o que há de baixo de tanto pêlo?" São todas muito parecidas, afinal. "Paiê, porque a Janaína não tem pêlo? "Menos, moleque" O pai perfeito,(na medida que o álcool permitia, analisado à luz refletida no retrovisor da psicoterapia comportamental-cognitiva)  forte e resistente, lindo e fotogênico, bem-sucedido e mal-pago, naquilo que havia se proposto a fazer: sumir com corpos de estranhos. Mas pai sempre deixa a água entrar em ebulição e a criança ia dormir sem saber como se escrevia jiló. (Treino ortografia sempre que a cabeça dói, mas não me adianta.)  Abro o dicionário na esperança de que algo tenha mudado. Não muda.  Se não são os pais, sempre há um amigo que insistirá em levá-lo  para experimentar uma situação extrema. "Como você vai  escrever sobre as mulheres, se nunca teve uma em suas mãos?" Um argumento assim  me desarmava, mas os deuses nunca me desamparavam: "Da mesma forma  que falo de cocaína, sem nunca ter cheirado." "Obrigado, pela parte que me cabe." "Não, há porque, irmão."   Sempre há esse amigo, um ou dois anos mais velho, a desrespeitar suas convicções e lhe propor: "Desgruda desse computador, sai dessa internet, larga esse livro. Vamos encher a cara. Dá uma volta no final da asa norte. Quem sabe a gente não dá sorte e encontra umas putas limpas de tão interessantes." Encaro demoradamente  o cidadão. Ele não pode estar falando sério. "Não foi você que disse que lhe recomendaram novas experiências? Você não vai deixar de ser gay, por rachar uma vagabunda."  Na realidade, era apenas uma galhofa, uma tentativa de me atingir no nervo.  Entre um chope e outro, entre uma dose de tequila e outra, lembrávamos o quanto meu pai havia sido liberal; o quanto seu pai havia sido conservador e nos monstros que nos havíamos tornado. Nós mesmos éramos responsáveis pelos nossos comportamentos, chegamos a essa conclusão e rimos bastante quando o garçom se confundiu  nas contas.

4 de fev. de 2011

Confesso que a voz do carioca brincando no meu ouvido me desestabilizou as emoções, mais que a sincronia dos passos. Pisei no pé dele duas vezes. "Time after time" não significa nada para mim, e jamais significará. Canções de amor servem apenas a relacionamentos ridículos. Ali, havia dois homens medindo forças. A força da palavra na forma de persuasão contra a força física de uma prensa hidráulica. "Like scrap metal", sussurrei-lhe mastigando fonema por fonema. "Não entendi." Nem entenderia. Madonna sentiu-se como uma virgem, eu me sentia como uma sucata prensada. Ele, Wall-E; eu, seu dado da sorte. A pegada era forte, chave-inglesa avantajada a me pressionar as costelas, mas eu não sou homem de pedir arrego. "Não aguenta bebe o leitinho do meu pau.", repetiria ele a exaustão, durante todo o tempo em que fomos sinceros um com o outro. O algoz e sua vítima haviam finalmente se encontrado depois de tantos desencontros. Tudo seria consensual. Do brilho da lua escorria fel, doravante o alimento da relação daquele casal, seja onde ela fosse desaguar. Estávamos no lugar errado, a hora avançada. As travestis limpando o nariz com as costas das mãos não acompanhavam o raciocínio dos nossos passos dobles. Os outros homens aproximavam-se e afastavam-se tentando captar algo. Aquele casal não pode ir embora junto de mãos dadas. Em boate gay ninguém se dá bem. Aqui é só pegação. Gozar e sair fora. Dark Room pesteado, fede à enxofre com mistura de bvlgary, armani, hugo boss, carolina herrera, calvin klein, saint laurent, issey miyake, esqueci alguém? Não! A conhecimento da fauna do parque da cidade não vai além disso.  Poderíamos continuar dançando madrugada adentro indiferente da música, ou na ausência dela. Mas ele preferiu me levar para varanda. Acendeu um cigarro. Calton, o clássico. Falta grave. Estava excitado, intumescido. E eu iria tripudiar em cima do seu discurso de periferia: " Nós é do morro, vocês é burguesia. Tudo playboy. A gente junto não vai dar certo." Poderia ter-lhe apresentado um seminário sobre cultura hip-hop, mas preferi perguntar-lhe quais eram seus cantores prediletos, (para não ser acusado depois de arrogante e pedante, como aconteceu durante nossas brigas fratricidas.) "Mano Brown, MVBill, Akon, 50¢, Tupac,..." Chega Mr. Previsível. " Como se chama aquele cara que compôs o rap da ponte? "Ãh?!" "Eu já atravessei a ponte do paraguai/ Um filme inspirou a ponte do rio que cai/ É sucesso em campinas e na voz dos racionais/ Mas a ponte da capital é demais.  Gog! "A participação do Lenine ficou show." Ele prestava atenção apenas  na fumaça espiralada que subia aos céus. Meu silêncio não foi quebrado. Assustei-me quando ele me acusou de repentinamente ter ficado mudo. "Tá pensando em outro macho?" Gaguejei, tropecei nas palavras. "Deixa eu te ajudar, eu sei o que você quer dizer. Morder na nuca, vale? Tudo vale... Vale tudo. "Suas pernas estão tremendo. É frio? Quer voltar pra dentro?" "Filho-da-puta!" "Não xinga minha mãe, não, maluco. Eu te atropelo. Eu sou bicho homem. Eu tenho sangue no olho." Meu sorriso demonstrava que o álcool diluíra todo o medo que eu costumava sentir de supostos michês homofóbicos prestes a aplicar um boa-noite-cinderela. "Na real, seus pais estão viajando?" Não conseguia respondê-lo, seus beijos me sugavam o pensamento. "Vamos?" Segurou-me pela mão me arrastando em direção a porta de serviço da boate. "Você trabalha aqui?" "O dono me deve favores." Ainda tinha tempo de me arrepender, de retroagir, dizer não, vamos nos encontrar outro dia. Um Fiat punto azul metálico enterrado com rodas de liga leve esperava seu proprietário no ponto cego das câmeras de segurança. "Vou chamar um táxi. Você espera comigo ele chegar." A proposta de me levar em casa foi recusada, afinal tratava-se de um cara que acabara de conhecer horas antes, se é que se pode chamar isso de conhecer. A gente mal se conhecia e se expunha a riscos desnecessários. "Porque não posso te levar em casa?" Como explicar àlguém que não se confia o suficientemente nela para revelar seu endereço. "Me liga. Vamos nos ver amanhã de dia." (de preferência num lugar bem movimentado). "Então, vamos para minha casa. Eu quero fazer amor com você." "Eu não faço amor, faço sexo. Amor se vive, sexo se pratica." E pela enésima vez ele me chamou de putão. Encostou meu rosto contra a parede e tentou desabotoar minha calça com a mão direita, enquanto com o esquerda imobilizava meus dois braços. "Véi, me solta." "Você não disse que gostava? Eu sou brutão-bicho-homem-tenho-sangue-no-olho-não-guenta-bebe-leite." Não era hora, nem lugar, tampouco a pessoa ideal. E convencê-lo a me deixar chamar o taxi, seria que a prova da cura do meu vício. A carne é fraca, mas o espírito é forte. Na manhã seguinte, o celular tocou antes das 8h. Brutus, ao telefone. "Oi, meu bem!" "Já está me chamando de meu bem. Desse jeito eu vou me apaixonar." "Diga!" "Me encontra na porta no zoológico, às 9h, eu chego em seguida." Eu havia acabado de ser acordado e concordei. Esquecera-me de um compromisso anteriormente agendado.

8 de jan. de 2011

Houve um tempo que as primeiras horas da manhã eram saborosas. Hoje tudo que escrevo salvo como rascunho. Talvez mais tarde.