14 de fev. de 2011


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Por que a gente bebe, mesmo sabendo que no outro dia acordaremos com a cabeça desparafusada, vomitando a alma? Já é Valentine’s Day. Por que a gente vai para cama com sujeitos que fustigam nossa carne a ponto dos Doutores Proctologistas notificarem as autoridades policiais? São Valentino passa a ser meu santo de devoção. Você vai passar por outro exame, corpo delito. Aguarda aí. O problema não era ficar nu perante o legista e o assistente; o problema era disfarçar a sensação de prazer ao fitar nos olhos castanhos amendoados do médico-chefe. Tenho medo de bisturi e agulha, mas não nas mãos do Doutor Altivez que acabara de entrar pela enfermaria perguntando pelo paciente. Ele não anda, ele marcha. Ele não pede, ele manda. Vai doer chefe. Nessas horas a gente perde a audição, como se os ouvidos estivessem sendo entupidos por potentes protetores auriculares; a vista se escurece lentamente, restando-nos pequenas luzes piscando. Você se entregaria ao sono, caso a voz, semelhante ao do Pai a nos dizer o quanto nos ama, não lhe chamasse repetidamente pelo nome. Nem comecei a sutura. Minha pele ouriçada, não por causa do ventilador ligado, mas por causa das ásperas mãos peludas afastando minhas nádegas. Se doer, você fala. Com certeza! Não vai doer mais do que as palavras do Catão. Eu sou homem. Eu gosto é de boceta. Sério, querido? Um fato não exclui o outro. Seus argumentos eram mais convincentes quando sentávamos lado a lado na aula de Topografia e Fotogrametria. Não tenta se justificar, ocultando o desejo que lhe estorva o sono. Brutus, o carioca previsível, havia me perguntado: você é capaz de ser fiel a um homem só? Sim. Com certeza. Quando a gente se completa... Desde que tome a primeira dose. Fala logo, porque se eu te pego com outro, eu te atropelo. Eu já tenho dois processos na justiça. Não quero mais fazer bobagem. Não quero perder essa oportunidade. O diabo mora na carência dos corações ausentes. Meu Valentine viajou e eu não sei como trabalhar a solidão. A literatura ajuda, ora confude. A gente acata a ordem de entrar no galpão destruído pelas chamas, para trabalhar nos rescaldos. Catão, do resíduo da nossa história sobraram apenas cinzas e hematomas. Estas, eu esconderei dos críticos. Aquelas, o vento se encarregará de dispersá-las, como se estivessem levando embora a lembrança do meu primeiro valentine.

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