31 de jul. de 2004
30 de jul. de 2004
"Heidegger, para tanto, uniu o existencialismo de Kierkegaard e a fenomenologia do seu mestre Husserl, abolindo com os dualismos que caracterizavam a metafísica clássica (corpo/alma, interior/exterior, subjetividade/objetividade, ser/parecer), mantendo porém a irredutível separação do "eu" com o seu "próximo". Ao privilegiar no seu famoso livro Zein und Zeit (Ser e Tempo, 1927), o retorno da filosofia para o ser (ontologia), imaginou que ele doravante estaria aberto, livre, pronto para eleger o que desse e viesse. "Ser-no-mundo é morar no mundo", e não estar tenuamente ligado a ele. "Ser", para Heidegger, como observou Sartre, "é ser as próprias possibilidades: é fazer-se ser". O que importava era a autenticidade da decisão tomada. O seu limite era dado pelo tempo, pelo prazo de vida que cada um tinha, porque era a morte quem revelava a finitude do ser humano. Não havia mais céu para acolher a alma, nem o regaço de Deus para depositar-se as inquietações e as esperanças, o ser estava entregue a si mesmo, ao nada (niilismo). Uns aceitavam as coisas assim como são, sobrevivem apenas, "vivem" o seu cotidiano sem grandes inquietações, sem voltar-se sobre si mesmos. Outros, ao contrário, "existem", testam os limites da vida, lançam perguntas, indagam, enriquecem o ser, angustiam-se, querem fugir do tédio e da ansiosidade, sensibilizam-se." (grifo nosso)
In: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/heidegger3.htm#0823 de jul. de 2004
22 de jul. de 2004
Segundo Augusto de Campos, "um escritor atual que não tenha lido Joyce é mais ou menos como um físico que ignore Einstein ou um sociólogo que não tenha tomado conhecimento de Marx". Não me deixo levar por analogias, seja lá quem as profira, mas quando percebi, lá estava eu subindo a escura escada aspiral atrás do Buck Mulligan e na frente do Stephen Dedalus. Momentos antes, eu havia ficado impressionado com o Buck chamando a atenção do Stephen. Bem que a Mah podia me dar aquelas férias de dez dias que ela prometera. Assim, eu seria mais um que começaria a ler Ulisses (1922) e não terminaria e por se acaso terminasse, não o compreenderia. A Mah sabe que se ela se descuidar do Passo Preto do aqui, ele vai embora, colorindo o céu azul-anil-acinzentado da capital e não volta nunca mais. Estou tão cativo e nem sei se eu seria capaz de sobreviver no meu habitat original. O silêncio das tagarelas lavadeiras me torcendo, torcendo para mim, me assusta. Não preciso de nada disso, já que a Princesa Branca de Neve migrou dos contos infantis e veio retirar o livro para mim. Agora é comigo e a minha força de vontade que se contorce quando vislumbra a possiblidade se perfumar um cobertor ensolarado. (Amanhã, volto para revisar-te, texto horroroso.)
Novembro de dois mil e três, a turba e eu escalando o pico da madrugada. Que bandeira! Nenhum mastro para hastear o meu amor pintado pelo nascer do Sol. (Buscávamos um afago do Rei.) A estrela a queimar minhas esperanças e eu a inventar mentiras. Era para ser um teste. Acabou sendo mais do que um Hello. Fácil de postar, intuitivo (mas apanhei pra caceta.). Posso voltar, satisfeito, a estudar o "Ulisses" que um leitor (?) do Dicla me definiu como sendo uma "chatice encalacrada". Pode até ser, mas isso, eu terei que desembaraçar por mim mesmo. Sou aquele gatinho, lá fora, a brincar com linhas de lã pêssego. Ossos do ofício -- nobre leitor, amada leitora , né, Dicla? ;-) -- que eu quero moer para adubar meu orquidário que hoje é virtual, mas amanhã, tendo tempo, será real. Nesse meio tempo, pedi, desculpas a Mah. Ela pensa que eu sou seu gerente-secretário-telefonista. Tenhamos paciência, pois nos sobra entusiasmo.
21 de jul. de 2004
20 de jul. de 2004
19 de jul. de 2004
17 de jul. de 2004
15 de jul. de 2004
Feliz. Mesmo tendo o Mau Humor refutado nosso Bom dia. Barreiras ofuscavam a necessária cebola megulhada no azeite. Almoço de pazes. A idéia voltou. Uma mancha de mofo no canto da parede. Na rede uma pernilonga a ser devorada, imagino. Ferros empoeirandos se despedindo da gente. O ar me mostrando o quanto vendemos baratos os hibiscos secos esfarelados e a certeza de voltar para casa, depois de uma noite bem programada. Falta quatro dias para eu conhecer Dom Quixote de La Mancha. Será que a maldição preencherá minhas saboneteiras borradas? O medor de ser me arrasta para o lado de Aquiles. Aceito ser Heitor, resignado. Versos no qual beberei.... Mas, eu li. É pior dizer que leu. Irão esperar que a curva da hipotenusa cruze com o labelo purpurato da lingua que se disfarça de catleya. O humor do diarista cata/busca/explora significados primários, paliativos. Olhar de descuido sobre a pateleira que se passa.
12 de jul. de 2004
Aproveitando-me da deixa, resolvera eu espalhar pela mesa de jantar, aquela mesma que outrora eu fui jantado, trechos amassados de experimentações afins. Tudo muito claro, ofuscamente claro. Aniversários, jantares, reuniões, toda a felicidade que nos permite nossa corte sem rei. Meus diários sendo arranhando por dedos que me poluem a visão. Nunca pensei que a convivência de três dias tornar-la-ia minha leitora, minha irmã a me defender diante os boiadeiros de estrumes.
Na cama, minha irmã, realidade, se preparava para ser minha mulher. Minha noiva e eu a esperar que a porta se fechasse. Noite de núpcias em lençóis de arara. Epa! Não seria incesto sentir as ondulações internas da poeira que se acumula sobre o aparelho de fax? Seria, mas... O Doutor com a glock apontada na minha direção... As duas sobreviventes já estavam a salvo... Sair dali vivo ou não, dependeria apenas da boa vontade de um homem que havia matado outros homens como se fossem baratas. E pensar que havíamos sido caso um do outro.
Sem encará-lo, caminhei sobre seu couro cabeludo, tão liso de careca, raspado com gilete. Será que ele voltou a usar espuma mentolada? Ameaças eram apresentadas por telas monitoras remotamente. Eu me submetia aos caprichos dele. Finalmente o Doutor me encontrara. Viver era matéria obrigatória, maçante, que eu não havia cursado. Uma droga que deveria ser ingerida com leite desnatado. Ligado na tomada (possível solução), eu dentro da banheira amassando tomates que serviriam para compor o molho que em instantes seria derramado sofre a fogão de madrepérolas. Molhos são minha especialidade. Tomilho eu sirvo verde.
Diante da indefinição do homem de fechados olhos castanhos, me vi livre para abraçar umas das moças que sobrevivera. Essa tulipa era para você, Cicinho. Não gosto de tons pastéis. Sai respirando da carnificina para desposar uma mulher que se enjoava ao pensar no arco-íris que nos orientaria até o final da estrada de queijo que começaríamos a digerir. Voltaria mais tarde para passar a escritura do sítio. Vendê-lo era uma questão de inteligência.
Meu intuito, na verdade, ao retornar à lápide dos meus antepassados, era explicar ao Doutor que não gostaria mais de encontrá-lo em bares onde copos sujos servem para encobrir suas mentiras sórdidas. Pediria com carinho, nem que para isso fosse preciso deita-me sobre seu, sempre dormente, braço esquerdo, para que não mandasse mais seus ratos cinzas tocarem meu sino às três horas da manhã. O que faria a partir de agora, não era mais da sua conta. Falta-me essa coragem. Me apaixonei por todas as estampas que ele poderia vir a ser. Só envenenando esse filho-da-puta para conseguir eu dormir, sugestão a refletir.
9 de jul. de 2004
H.H
So it´s the storm that I´ve been needing! Fotolog de um leitor que se apaixonou pelo meu profile. Ele se encantou com a esquemática personalidade que elaborei. (Coitado! Outra vítima.) Até que presto para alguma coisa. O Pah não tinha razão.
8 de jul. de 2004
Cabeça de papel,
Se não machar direito,
Vai preso no quartel.
O quarto pegou fogo,
A vizinha deu sinal,
Acode, acode, acode,
O agente federal.
(O asco me escorre pelo ouvido quando presencio as histórias do Fornazze. Tenho vontade de dar um tiro de escopeta no peito dele. Preciso estudar mais sobre Direitos Humanos. Da próxima vez que ele me mandar chamar os Direitos Humanos, vou lhe responder, que para ele chamo a Corregedoria. Eu seria o principal depoente.)
7 de jul. de 2004
Ainda queres ser meu "querido diário"? Ora, blog, deixemos de afetação! Tu não tens ninguém, além de mim. (Eu tenho leitores!) "Se ajeite comigo e dê graças a Deus". Não foi assim que cantou o poeta? Faço dele a minha voz. Ouça-me, venho-lhe trazer notícias orkutianas. Parece que, finalmente, encontrei, uma comunidade que funciona sem se basear na estética vigente. Havia, eu, te prometido, Dicla, mais de uma vez, que nas tuas páginas cansadas, só escreveria nossas histórias, nossas vivências, nem que para isso fosse necessário disfarçá-las na truncagem dos dementes. Me perdoe, tesouro. Estou a te trair mais uma vez. É mais que apropriado publicar este texto que surgiu-me motivado por uma pergunta no Fórum, do qual partipei; dado o fato de sempre me perguntares porque escrevo. Tomá-lo! Mastigá-lo se ainda te sobram os molares:
Porque eu escrevo.
Escrevo porque não tenho o que comer. Me alimento de luz. Luz do monitor.
Escrevo porque meu amor teve que ir proteger as fronteiras comum a todos nós.
Escrevo porque assim protelo minhas obrigações.
Escrevo porque assim não cheiro dedos em riste me provando o quanto sou mitómano. (covarde!)
Escrevo porque assim me apresento ao mundo.
Escrevo porque virou moda. Lembras-te do papai me apresentando aos amigos dele? "-Meu filho é escritor."
Escrevo porque assim meus pais pensam que estou fazendo algo de frutífero.
Escrevo porque assim meus pais acham que algum editor vá querer publicar as obras póstumas de um analfabeto. (Analfabeto, mas não imbecil! Que fique bem claro.) e eles terão, pois, sua tão sonhada aposentadoria.
Escrevo porque eu não sei fazer nada além do que atirar palavras, aleatoriamente, no papel.
Escrevo porque minha vizinha me incentiva.
Escrevo porque minha irmã caçula chora ao ler algo que tinha vontade de dizer, mas que não tem a devida coragem. (Minha força provém dos olhos verdes dela.)
Escrevo porque um colega te pegou para ler (sem minha permissão, óbvio!) folha por folha e me mandou estudar Sintaxe. (Mandei-lhe que fosse estudar Sociolingüística.)
Escrevo porque as palavras fazem meu sêmen jorrar viceralmente. Minha palavra preferida é Marte. E a(s) do Diclessianos, quais seriam? (Como se fizesse diferença.)
Escrevo porque assim estou fazendo uma terapia ocupacional gratuita. (Ineficaz!)
Escrevo porque ninguém (a não ser o dono) chega perto de um rotweiller quando ele está comendo.
Escrevo porque só assim é que se aprende a desferir uma esquerda bem encaixada.
Escrevo porque leio até que as idéias me saem pelo ladrão (o que não demora muito).
Escrevo porque acredito que as premissas são falsas e precisam ser pelo menos discutidas ― num lugar seguro, longe da Polícia do Exército.
Escrevo porque tenho tempo.
Escrevo porque preciso de dinheiro.
Escrevo porque não tenho mais tempo.
Escrevo porque não tenho um submetralhadora 9mm.
Escrevo porque tenho "liberdade" diante uma multidão cibernética que não exerga o homem perdido que me tornei. Eles me ignoram. Eu não os ignora. Até porque quem sabe, não consiga eu extrair uma personagem daquele meio sovina.
Escrevo porque sou vários fragmentos de n personagens Eu vejo vozes, sinto rostos. (Não fujam com medo de mim, leitores. Eu não faço mal nenhum, a não ser escrever o que vocês não gostam de ler.
Escrevo porque enfrentar tabus, tornou-se prioridade para mim.
Escrevo porque não aceito esteriótipos.
Escrevo porque escalizar me anima.
Escrevo porque rascunhos me fascinam. (Rascunho, não! Croqui.)
Escrevo porque não sei quando se usa porque, por que, porquê e por quê.
Escrevo porque sou um pretensioso (Ai! Que signo horrível. Só funciona sonoramente.) Presunçoso desmistificador da organização socio-espacial de uma capital que se diz modernista, mas na verdade é Barroca. (Não tenho argumentos para sustentar essa afirmação. Mas sei quem os tem!)
Finalmente, escrevo porque sei que alguém vai (re)ler, nem que seja eu mesmo.
P.S.: Não há porquê, talvez por isso a lombra.
6 de jul. de 2004
Essências da Seiva de Ana Carolina Lopes. Orkutiana a publicar sua própria antologia poética.
-Amor?!
-Estou dormindo.
-Vira para o meu lado. Hem, Amor!
Não respondi, apenas me deitei de bruço e encolhi minha perna esquerda. Seqüência de beijos a percorrer minha espinha como se estivesse procurando o lugar certo da cusparada necessária.
-Ai!
-Desculpa, amor.
Sua mão cheirava a pólvora, sua língua tinha gosto de sangue. Permiti que descarregasse sua culpa dentro de mim.
-O que aconteceu?
-Operação de rotina, 'more. Vira para mim.
Continuei na mesmíssima posição.
-Vamos ao cinema hoje?
-Vou ter um extra, 'more. Amanhã, eu te levo. Vira, vai.
Levantei-o com o meu dorso, sem descolar minha pele do suor dele. Girei meu corpo feito uma bailarina e pousei de costas como ele me queria.
-O que foi isso?
Levantei-me, acendi a luz, sem acreditar no que via.
-Apaga a luz! Vem cá. É só um curativo.
Um curativo que obstruia o brilho castanho-acinzentado dos seus olhos. Não sinto mais o mesmo entusiasmo de antes. Quero fugir pela fresta da janela da qual um raio de luz multicolorido fingi furar a balaclava do Fornazze.
* * * * *
Dicla, querido diário,
Desculpa-me a indiscrição, mas essa personagem estava me sufocando. Espero que agora eu possa viver um momento de calma.
5 de jul. de 2004
Eis meu diário:
Museu Imagens do Inconsciente. Vale conhecer um pouco mais sobre o tema. Pesquisar sobre asap. Vai de encontro com a frase do Antônio Lobo Antunes. Porque me declaro um meia-avançado(?), atento aos meandros da fala (quanto mais particular melhor). Eu jogo aberto, deixando vazios que devem ser preenchidos pela zaga. Não me importo em perder O Jogo. Não sou nada; ainda bem, assim, não sou ingênuo, nem oportunista. Lembro mais uma tábula rasa experimentando as LERs e as DORTs que deformam minha geração. Quero para mim as obras póstumas (me fascinam). Lanço-me sobre o apelo popular, sob a pressão das algemas que me fecham a visão do falo que se levanta antes mim.