18 de mar. de 2005

Quem é Hécuba? Lembrei-me dela quando o Dezesseis seixos brancos esmurrava minhas costelas assadinhas de leitoa raquítica. Aquele menino encolhido, lá no canto da parede, sou eu. Estava rindo, absudarmente alto, quase implorando: chega de hematomas. "Porque você não reage?" Repugnava-me ser surrado, entretanto, aquela era a única maneira dos dezesseis seixos brancos me acariaciar. Tão em público, nem eu, gostaria dos beijos. Passados exatos sete segundos, ele me pedira que o fotografasse em verdadeiro ato de selvageria. "Vou quebrar o nariz daquele moleque"-- disse-me. "Credo! -- retruquei -- Que Vale-Tudo é esse?" Ele riu folgadamente, como se eu não soubesse de nada. Que desinformado! -- supunha ele, em relação à tudo que viríamos a compartilhar. "Vamos fazer o seguinte, disse-lhe, pega o lápis verde e vamos desenhar um arco-íris tricolor."

Não sei aonde vamos chegar, nem se disciplina terei quando a Lua banhar-se na poça de sangue do meu desejo contido, recolhido e guardado. Poderíamos muito bem, o Dicla e eu, passear no submarino azul da Vice-Presidência da República. Desta vez, eu me esforçaria de verdade para plantar bananeira e não gritaria, como nas últimas vezes. Quem nos lê, imagina um culto à estética da barbárie. Que nada! Violência é o agente almoçar um sanduíche de ricota, após desarmar um aterfato explosivo. O coitado devorava o pão como se fosse a mim mesmo. Foi os cincos reais mais bem gastos nos últimos dias. Quatro e quinze da tarde, e o açoite de aço fazendo sua primeira refeição do dia. Todos os dias, a mesma cantilena, ele dá sinais que sente necessidade das minhas mãos massageando seus omoplatas. (Neeeeem!) Entreguei-lhe o envelope (um sonetinho apaixonado) e peguei meu presente, embrulhado num papel vinho metálico. "Estou bem melhor, já consigo me sentar sem fazer caretas". respondi-lhe, quando perguntado, se havia demorado para estancar a hemorragia. O que ele me rebateu, não merece registro, tampouco comentários. Nada diferente do que um maníaco sexual diria a uma vítima afônica. Dezesseis seixos brancos gesticulava impaciente me esperando além da annona crassiflora. É muita dor que carrega essa alma. Despedi-me fechando os olhos demoradamente. E ao passar pela guarita, fiz questão de perguntar ao segurança terceirizado, porque ele não havia ido ao churrasco.

--Foi aniversário de um ano do meu moleque.
--Oh! Isto é muito bom! Afinal, alguém tem que criar juízo, não? Qual o nome dele?
--Heitor.

Foi difícil disfaçar. Fiquei visivelmente emocionado.

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