24 de jun. de 2005

Provas de amor chegam embrulhadas


Cantavam o refrão com entusiasmo, ".. São João, São João, acende a fogueira do meu coração..." Arma branca nas minhas mãos, o copo de quentão me acompanhava. Calma, rapaz, no caminho de casa tropeçarás no príncipe, não o machuque com o seu mau humor. Cansaço, paixão. Minhas semanas têm sido de quinze dias. E o retorno para casa nem sempre tranqüilo. Os bares lotados, boêmios de gravata, a conta pendurada na generosidade de um amigo à espreita. Não há nem mais onde me esconder. A generosidade me arrastarra ao forró particular dos meus sonhos.
Vamos dançar, vamos! Preciso arrumar uma namorada, Raquel. Namorada, Marcinho? Como assim?! Fitei nos olhos da minha confidente, tempo suficiente para que ela conseguisse traduzir meus pensamentos. É o Bruno, não é? Se tivessem uma baixa seria simples. Enviar-lhe a coroa de tulipas pérola. Com avenca suiça! Com muita avenca suíça. Ela balançou a cabeça, como se dissesse: Infelizmente, concordo contigo. Sabe, paixão, por isso que eu gosto de acreditar que existe inferno. E ele vai ter que prestar contas de muitas almas que ele mandou para lá. No inferno os papéis serão invertidos: o polícia toma o lugar do bandido... E o bandido de Capeta, completou ela. Descontraídamente rimos, como fazíamos quando eu engasgava na água. Nem percebemos quando o Alfredo chegou com os copos de... Quentão! Você quer me embebedar? É São João. Toma! Que companheiro é você.
Amor, lá no serviço, você não conhece ninguém... Raquel! Esqueceu-se de quem me apresentou o Bruno? O que tem o Fornazze? Não me liga, não responde meus e-mails, vem a Brasília e não me procura...Vocês não foram ao cinema anteontem? Como você sabe?! Vocês não foram ao cinema anteontem? Co-mo vo-cê sa-be? Ele chegou lá em casa reclamando que você preferiu assistir a um filme de intelectual a ir para o motel. Não foi bem assim, Raquel e ademais ninguém mandou ele hospedar aquele José Maria lá em casa. O cara é parceiro, Marcinho. Alguém quer canjica?
Vou saltar de bungee jump. Não vai mesmo, ficou maluco? Ah, eu queria tanto saltar... Até você, Raquel? Peguei-a pela a mão e disse-lhe vamos, imediamente, o Alfredo a segurou pelo braço. Não vai, não! Me solta, Alfredo! Você está me machucando. O olhar sério da Raquel foi suficiente para que ele a soltasse. Para quem você está ligando? Para o seu marido! Ele adora me ouvir gritando. Alfredo, pára com isso! Vão acabar chamando a segurança. Ele tirou a carteira do bolso. E todo mundo no clube passou a prestar na gente. Para onde eu olhava, as pessoas desviavam o rosto, como se fingissem que não estavam olhando. A Raquel se divertia. Eu estava decidido a gastar os últimos cinqüenta reais. Peraí, Doutor, ele quer falar contigo. Peguei o celular e o desliguei.
Saímos em direção do aparelho, a Raquel e eu mão dados e o Alfredo gritando atrás da gente. Quem vai primeiro, Marcinho? Ladys, first. Há-há-há! Dispenso seu cavalheirismo cretino. Então, vou primeiro. Ia. Fui segurado pelo braço e arrastado até o carro, com a Raquel gritando larga ele, larga ele, atrás da gente. Você quer ficar viúva, Raquel? A expressão do Alfredo era de desespero. Então a graça acabou. O que o Bruno lhe disse? O que sempre ele diz: eu amo demais esse moleque. Abri meu melhor sorriso para Raquel e pedi que o Alfredo fosse, então, buscar mais quentão para gente. Vê se desta vez trás o meu sem açúcar. Ainda provoquei a Raquel, quando o Alfredo se afastou, chamando-a para irmos, finalmente, saltar de bungee jump. Mas ela, me perguntou se aquele tempo todo eu não estivera rezando ao Santo errado. Quem sabe?

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