15 de jun. de 2004

Três casacos de lã não conseguem me aquecer. Na realidade, o que está me trincando é a ausência de um mísero telefonena; um mísero telefonema dizendo: "-Oi, amor! Chateado comigo?" Claro que estou, mas ao ouvir as cordas baixo vibrarem, esqueço tudinho. E volto a ser aquele menino feliz que trocava os "b" por "v" sem nem se dar conta que viria se se tornar um pedante de calcanhares virados. Percebo um sujeito mal posicionado me fotografando enquanto revolvo o gramado.

Desconfio que seja alguém do Fornazze, para descobrir que não se tratava nada disso. Era apenas um alemão a fotografar o cotidiano de um anônimo. Daqui a pouco estarei no Teatro Nacional, ou melhor, minha imagem será exposta juntamente com mais centemas de imagens forradas de banalidades. Espero que meu coração deformado não espante os visitantes.

A Maria Beatriz não entende, quando explico que a distância mantem os corações deformados de tão esquecidos. Ela ri e chora e ri mais ainda. Não consegue controlar as gargalhadas que mais parecem uma convulsão. E me pergunta a quantas anda os contatos com as editoras. (Se eu soubesse que o bolo de chocolate teria esse gosto, não teria aceitado o convite.) Expliquei-lhe (como se ela não soubesse) como elas se comportavam, pepepê, pepepê, papapá.

Minha amiga, refeita em seriedade, me sugeriu uma editora caseira, que eu bancasse uma pequena tiragem e distribuísse aos amigos mais próximos. Eu não estava ali para trocar amenidades. De pequenos, me bastam os meus pés. Nunca me preocupei em publicar, até porque estou muito satisfeito com o vir-a-ser do ciberespaço. Continuo depois, está muito frio aqui e o café já está sendo servido.

P.S.: Tenho vontade de cortar metade do que escrevi, mas esse texto não mais me pertence. Nunca me pertenceu.

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