13 de fev. de 2006


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No convite estava escrito: 20h. Cheguei às 17h para ajudar no que fosse preciso. Posto a mesa, fui ao supermercado comprar uns kalanchoes para enfeitar os banheiros. Branco, amarelo, laranja e vermelho. Acabei por comprar, também, duas echeveria laui para as mesas de centro e um pachypodium lamerei de um metro e meio de altura (eis auma das vantagens em se morar perto de um hipermercado). O canto da sala respirou aliviado. A anfitriã se atrapalhara com o assado. Na garrafa de Chandon restava uns quatro dedos, se muito. Você não vai beber nada. Esqueceu-se que não bebo. Sugeri ao garçon que utilizasse uma bandeja menor. Passa uma sensação de informalidade. Os convidados chegaram prontualmente, visto o fato de todos terem que se levantar cedo no outro dia. O rapaz que entrou por último, atrás da moça de vestido esvoaçante de flores azuis, chamou minha atenção Chamaria de qualquer um. Fotogênico, ombros largos, rosto quadrado, uma garrafa de vinho na mão, Luigi Bosca. Respire fundo, Marcinho. Não olhe mais na direção dele. Minha amiga me procurava com os olhos, movendo discretamente a cabeça. Chamou-me com um balançar de mão. Refugiei-me no banheiro. Quando abri a porta, fui surpreendido por ela segurando o rapaz pelo braço. Marcinho, esse é o Mucuri. Prazer. Estendi-lhe a mão. Sorri contrangido. Prazer é todo meu. Você, lavou essa mão? Cala boca, Bárbara. Ela não perdia a piada.

Ele tinha um dôssie sobre mim, conforme me confessou na varanda, antes de brindarmos aos noivos: o que estava lendo no momento, cineastas preferidos, a razão das minhas cólicas, meus planos para 2006. Vou degolar a Bárbara. E mudo de tão calado, sem conseguir organizar o raciocíno, fitava-lhe o cinza que lhe coloria os olhos, podia ver o vazio que se tornara minha mente. O garçon passou por nós e nos ofereceu da bandeja. Ele se esqueceu do forro. Antes que eu recusasse a gentileza, o Mucuri pegou uma taça e me entregou. Seria grosseria recusar? Provei do vinho antes de brindar a nossa saúde. Esse seria o primeiro vexame da noite. O segundo foi lhe dizer que gostaria de vê-lo novamente. Quer ir ao cinema, amanhã? Você gosta de acampar? -- me perguntou. Vamos para varanda. O som alto não nos permitia mais conversar. Se permiti que me abraçasse, foi descuido. Se perguntei o que seria aquele volume debaixo da jaqueta foi pura inocência alimentado por um hálito de gengibre. Eu me assustei com sua resposta, ele ficou constrangido. Não deveria andar armado. Concordo. Vim direto de uma missão para cá. Ah... Tá! Ele mentiu tão bem, que senti vontade de acreditar.

3 comentários:

  1. Anônimo9:42 AM

    muito bom o ritmo de montagem de sua escrita,
    abraço grande e retornarei.
    astier

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  2. Anônimo12:45 PM

    Antes de ler e comentar o texto, vim só deixar minha gargalhada sonora pelo que vc escreveu no Bb.. ahahahahahahah.
    Marcinho, meu querido, vc é uma figurinha premiada que eu preciso conhecer de perto.
    Beijo imeeenso! Tô saindo meio apressada, mas volto pra ler vc com a atenção que vc merece.
    Beijo, moço fofo! :)

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  3. Anônimo5:03 PM

    "Ele mentiu tão bem, que senti vontade de acreditar."

    Amei isso!!! Você não tem noção!


    bb,
    E será que ele se deixa conhecer?

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