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Assunto: Gripe,_febre_e_os_cambáu!
Data: Fri, 12 Mar 2004 19:38:52 -0300
Febre, vírus, nariz entupido!
Pra que porra você quer lencinho perfumado??????????
hahahahaha
Abraços e vê se sara!
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O e-mail do Neto me reporta ao fato que desde o dia sete de março estou convalecendo da gripe do Waldomiro. O Zé já está firmão, despachando no Planalto, e eu aqui só, cof, cof, cof. O bom de se estar gripado tem sido o estrago que a Dona Tosse tem causado à minha garganta. Em tudo há um lado positivo e sem querer ser a Poliana, já sendo, estou entusiasmado com os meus graves. Ninguém me reconhece. Rapaz! Você está com voz de gente. Ou: Bom dia! Eu poderia de falar com o Márcio? Sou eu, Renan. Não está me reconhecendo? Caraca, véi! Que voz é essa? Resolveu virar homem?
Feliz com a evolução da minha personalidade --de meninino de fralda a jovem maduro, sai para testar a potência dos meus graves. São as chuvas de março, quando os trovões ecoam dentro mim. Precisava saber se o humor do Fornazze já havia se estabilizado. Adianto o final desse capítulo, ele continua o mesmo grosso, estúpido e bronco. Fumar deitado na cama é uma falta de educação que estou aprendendo a tolerar. Não interessa se a cama, a colcha, as cortinas, o carpete e o Márcio, são dele. Mandei-o que fosse fumar na varanda. Por acaso, teria sido à-toa os dois finais de semana carregando saco de terra na costas para plantar as pacovás. Ele me quer nervoso. Ele se delicia ao ver que não tenho medo da sua autoridade. A jardineira foi transformada em cinzeiro. É adubo, Pincel. Não sabia que você tinha virado minhoca. Opa! Somos nós, quer agora?
Deixei-o sem resposta. A ausência de rugas na testa e o seu olhar fixo na candidata de sorriso branco me mostravam que ele estava zuando comigo. Então decidi jogar (de acordo com minhas regras). Assim que entrou os comerciais, após comentar algumas propagandas, me despedi dele com um tapinha nas costas. Só isso? Volta, aqui, rapaz! Espera terminar o programa. Ainda está chovendo forte. Diga que vai me deixar em casa, ou chama um táxi. Eu tinha uma resposta na agulha. Porque, você, não dorme aqui? Nessa cama não cabe nós dois. Você sabe que não posso. Não pode o quê, rapaz! Deixa de frescura! Seja homem! Diga para sua tia que você vai dormir na casa de um amigo. Pelo que me consta, você já atingiu a maioridade jurídica há muito tempo. Tchau, Naz, almoçaremos juntos amanhã? Escolhe, ligo para sua casa dizendo que você foi detido, ou você liga para lhes dar uma desculpa qualquer?
Seus olhos imóveis conseguiram me intimidar. O trovão que soava lá fora, era um pio perto do trovão que me deixara mudo. A voz que antes me intusiamara, não fazia frente ao homem que me barrava a passagem. Eu preciso ir embora, Naz. Meu material está em casa. E a gente não pode pegá-los, antes de eu lhe deixar na UnB? Eu olhava para chuva lá fora; para as cortinas balançando; para o carpete amarelado queimado de cigarro; mas não lhe olhava nos olhos. Lá dentro havia um rottweiller, em posição de ataque, pronto para defender seu território. Tentei desviar-lhe a atenção, concentrando-me na moça que acabara de ganhar um carro zero. A prioridade dele era outra. Peguei o telefone, liguei para casa, avisei a quem atendeu que passaria a noite na sala de reserva da biblioteca reescrevendo um capítulo da minha monografia que eu deveria entregar hoje. Nem um sorriso, o vencedor soltou. Já havíamos estragado à noite.
A chuva parou, mas não havia estrelas no céu. Deita no canto. Deitei-me e me virei para parede. A luz se apagou. Ainda lhe pedi que deixasse a porta da varanda entreaberta. Quando senti sua mão procurando minha cintura, virei para ele e desejei-lhe que sonhasse com os anjos. Não me lembro com que sonhei, só sei dizer que acordei sem despertador, bem disposto, descansado e sem dor-de-cabeça. Dos pãos dormidos, ele fez torrada. E a flor que enfeitava a bandeja ainda estava molhada de chuva. Você tossiu a noite toda. Agora ele sabia porque eu não queria ter dormido com lá.
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