Querido Dicla, como estás?
Acabo de descobrir que tenho um problema grave. Decorrente da cerimônia de ontem. Os eventos improvisados de tão apinhados aguçaram minha auto-percepção. Chuva de papel prateados levou os recém-celebridades a acreditar que seria a derradeira chamada (espero que este clichê, te ajude, a entender o que estou lhe dizendo. Mas claro do que isso, não posso ser. Tu te lembras, não, da nossa estratégia? Rebuscar e embralhar e confundir o máximo possível, de forma que se algum indesejado nos descobrir. Poderei dar a desculpa que estou fazendo exercícios literários, nos quais a retórica se aloca do cotovelo ao nariz da minha orelha. Basta de digressão, vamos aos fatos)
Aquilo lá foi o excesso do Americel Hall. Acústica de Forró. Protagonistas estereotipados. Havia, eu, sido convidado para figurar uma produção caseira. Aplaudir efusivamente era minha função. Cumpri-la conforme a contrato. Sou profissional, em relação a ser dissimulado. No resto sou um puto amador. Nem cobro a massagem dos clientes que me apetecem. Concentrei-me no discurso do Senador, aquele que violou o painel do Senado, te lembras? Eu não me esqueci, nem posso, nem quero. Era um trem de clichês furando meu ouvido. Senador, se fosse para furar minha orelha, o senhor não deixaria, né?
Na hora da saída, para enfrentar a multidão engaiolada (só para usar o adjetivo da moda), me protegi atrás da camisetinha da Pesinho. Alinhei minha coluna e segui uma trinha que me livrasse de ser transformado em extrato de tomate.
No mesa da ceia, não consegui disfarçar meu cansaço, (era a segunda noite que iria dormir depois das 2h da manhã). O táxi me levaria para casa, se não fosse a carona de um estranho.
Desculpe-me o leitor que possa vir a ler isto. Se aquela era minha paga, vou querer sempre ser figurante. Quando não tem gata, caço com mesmo cão. Sem nenhum sentimento de culpa. Qual é o meu problema? A Ficção me proporciona mais prazer do que a Realidade.
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