22 de dez. de 2005

A ausência em todos nós


Para onde ir?, originally uploaded by bom_de_ver.

Uma imagem nunca será capaz de transmitir o alívio que ela estava sentindo. E podem chamar Milcho Manchevski.

Largou os cartões de natal em cima da mesa. Esqueceu o estabilizador ligado. Saiu descabelada pela casa, tropeçando nos brinquedos do caçula espalhados pela cozinha, com a gaiola do canário na mão. (Presente do homem lhe fazia gozar todos os dias por telefone.) Foi ao vizinho que lhe devia favores, pedir que cuidasse do seu filhinho, até seu retorno. "Eu sabia que aquele velho branco, gordo, peludo e barbudo algum dia me seria útil."

Ela estava em êxtase, sob efeito da espera dos últimos onze meses. (Ele soube induzi-la). Um comprimido, um gole d'água; mais um, outro gole; o último e pegou uma banana na fruteira. Comer uma fruta, lhe traria a certeza de que os comprimidos chegariam ao estômago. Foi ao banheiro da empregada e jogou suas cartelas de esperança no vaso. "Adeus, balinhas. Feliz Natal para vocês também. Deu descarga. "Nunca mais nos veremos." Olhou-se espelho, ajeitou a franja. "Já pensou em ser morena?" Passou pela cozinha, sem se comover com as louças ensaboadas, que ainda lhe aguardavam. Arrumou tudo de qualquer maneira e se despediu do escorredor de pratos, mandando beijo. Feliz Natal, meu amor! Para você também, phalaenopsis, Feliz Natal! (Regou a orquídea por desencargo de consciência). Boas Festas, Geladeira! Felicidades, Seu Fogão! Olhe lá hein, Dona Pia, não exagere na gordura; se despeça do tanque por mim. Foi fazer as malas.

No Rádio Táxi, demoravam a atender. "Alô? Bom dia! Por favor, eu gostaria de falar com o Ramirez." Olhou para o guarda-roupa. Franziu as sobrancelhas. Levaria apenas o chinelinho preto. (Outro presente do amante que ela só conhecia por fotos, voz e webcam). Pegou estojo de maquiagem (motivo de tantas brigas) e o colocou debaixo do travesseiro da cama da irmã. "Não vou mais precisar disso." Desistiu de levar mala. "Nem valise." O charme seria desembarcar sem nenhuma bagagem, além da edição de luxo, em original, D' El Ingenioso Hidalgo de Don Quijote de la Mancha. (Presente de quem? A não ser do homem que conhecia seus sonhos, seus segredos, suas pretensões.) "Ele me apoia." É por você que estou lutando contra esses moinhos-de-ventos. -- dizia a dedicatória escrita atrás da fotografia. Cheirou a contra-capa como se fosse o pescoço dele. Respirou fundo. Acreditava que não bastava ser bonita, gostosa, sedutora e elegante. Tinha que ser culta, mesmo que não fosse inteligente. Abraçou-se com o livro.

Banho tomado. Cabelos presos. Saiu apressada em direção ao local combinado com o amigo taxista. Se trancara a casa, não se lembraria. Pensava apenas em embarcar, na confirmação do check-in. Enquanto aguardava, em pé, em frente a agência bancária, tirou da bolsa o caderninho de capa de couro de búfalo e escreveu: "22 de dezembro de 2005." Lembrou-se imediatamente da avó; do velório, dos crisântemos brancos, da vontade de se jogar na poça de lama, da rama de philodendron, que quase foi esquecida. "Dona Virgínia, não se orgulharia de mim." Escreveu alguns versos com letra miúda, trêmula, ágil Fechou o caderno, sem ainda guardá-lo na bolsa. "Vou fazê-lo vir me buscar." Tarde demais. O táxi freara a poucos centímetros dela: "Oi, Gostosa!" Ela teve certeza que deveria abandonar aquela vida. Entrou no táxi, pediu que a levasse ao aeroporto. Contou-lhe a novidade.

Ofegava, se confundia, trocava data e lugares. Ele apenas balançava a cabeça: "Você, é doida, gata!" Mostrou-lhe as passagens para provar-lhe o que estava dizendo. Ele estacionou no acostamento. Pisca-alerta ligado. "Vai ter coragem de deixar a gente?" Ela prometera escrever todos os dias, sem censura ou vergonha. Enviaria-lhe fotografias nas quais ela estaria mergulhando num mar de recifes azuis. Ele pigarreou. "Se você nunca deixou-se fotografar, porque faria agora?" Ela estava quase arrependida de tê-lo chamado, quando ele contornou o balão do aeroporto. Ao estacionarem no desembarque, ele ainda lhe perguntou: "Vai mesmo?" Ela não lhe respondeu, preferiu beijar-lhe. Um longo, melado, profundo, beijo de língua, enquanto acariciava-lhe o zíper da calça de brin bege. "Quando você volta?" Ela já estava longe. "Antes do dia quinze", gritou, "Feliz Natal!" Por ela, poderia ser nunca mais. Rebolando mais do que de costume, encaminhou-se a balcão de atendimento. A moça pediu que se apressasse. Todos já haviam embarcado. Nem ouviu a atendente desejar-lhe boas festas.

21 de dez. de 2005

Os clientes se espremendo até serem atendidos e o conselheiro se recusando a falar português. Não foi difícil anotar seu pedido, sou até capaz de dizer de qual região da França ele seria. Difícil foi responder às várias perguntas em francês. Na próxima vez que eu encontrá-lo na sauna, vou chamar-lhe a atenção. Boas Festas!

20 de dez. de 2005

Serenidade, Distanciamento e Boas Festas!


Moth Orchid, originally uploaded by dallsoppuk.


Felizes sãos as lesminhas a comer os brotos das phalaenopsis. Marcinho, você viu o lesmicida? Não. Deve está debaixo do tanque. Elas não tem que se preocupar com compras, pisca-piscas, presentes, cartões de Natal, Ceia, convidados, recepção, contas a pagar, insolvência. Na noite do dia 24, após a Missa do Galo, na Santo Antônio, vou me misturar aos convivas, ao voltar para casa; provarei da salada de alface americana, broto de alfafa, capuchinha e tomate-cereja (tudo sem vinagre, sal ou azeite para não tirar da boca o gosto distante da hóstia consagrada); mortificar a carne, ouvindo histórias de excessos, olhares de intimidação. (A polícia sabe torturar mesmo quando em traje de gala.) Talvez seja uma noite agradável na qual se fará amor no quarto do filho do meio dos anfitriões.

Ele estava ansioso, compreensível. Eu continuava a sustentar a mentira. Mais da metade dos muitos presentes debaixo da árvore destinava-se a ele. Num ato de generosidade, abriu o guarda-roupa e me disse: Pode escolher o que você quiser, -- para alguns segundos depois, concluir: se você não for cuspir. Contive minha vontade de empurrá-lo contra o guarda-roupa, não por ele ser mais forte do que eu, mas por ter testemunhado o quanto ele poderia ser covarde.

Com o peito arfando, colei-me ao seu corpo (tentativa desesperada de mostrar-lhe que era amor), ignorando o receio de mais uma vez ser afastado. Nenhuma palavra, nenhum gesto. Apenas o fluxo da corrente sangüínea a denunciar seu desejo. Minha boca embebida do ar da sua respiração, aguardava seu consentimento. Minha imagem invertida na sua pupila, me dizia: não se atreva. Faça o que lhe pedi. Não inventa moda. Se ao menos ele desviasse o olhar, poderíamos voltar ao jogo, terminar a partida, destrancar a porta. Mas preferia fitar-me tal qual um cão de rua em posição de briga. Ele queria que eu avançasse, para ter o prazer de se afastar. Eu queria não ter acompanhado meu pai, na véspera de Natal. Situação semelhante em que me encontro agora. Talvez seja essa a causa da minha má vontade em relação a tudo e a todos. Não posso fazer disso um drama.

Atualizado (18:40): Enquanto me dirigia à biblioteca, agora à tarde, estalou-me uma idéia: onde eu tenho buscado segurança e refúgio? Ora, na Literatura consagrada. Portanto, guri, não fuja de teste.

Oficina Poética no Portal Literal ou O Dom de Fluir

Todos os dias, acessava o Portal Literal, para ver se já havia começado a oficina desse ano. Que surpresa! Poesia. Sinto medo e vergonha -- como estou cansado de repetir aqui para o DiCla e vocês, meus estimados leitores, enjoados de saberem. Será que um leitor de Homero, Dante e Lorca não conseguiria, sem naufragar, escrever um versinhos atrevidos ? (Ler não significa estudar.) Talvez me falte mesmo uma musa, uma forte razão que me faça saltar do trambolim sem ter recebido treinamento . Se eu cair sem jeito, já era. Coragem! Faz de conta, pirlimpimpim, que eu sou (de novo?) o soldado Rostov a combater os franceses (no nosso caso, as palavras) sob o olhar auspicioso do Imperador Alexandre I. Ainda não sei como termina aquela história, mas a nossa pretendo que tenha um final coerente. Mãos à obra.

19 de dez. de 2005

---------- Forwarded message ----------
From: Márcio
Date: 19/12/2005 13:17
Subject: Nothing compares to you. Lembra-se? (versão revista)
To: Beatriz Vilazanti

Sugar,
Oi! Sou eu. Escrever-lhe, hoje, tornou-se minha prioridade. Custei a tomar coragem. Os meses nos atropelam e depois ficamos com vergonha dos amigos por se manter tanto tempo afastado daqueles cujas lembranças sempre nos alegra.

Dias desses... minto, em julho, estava lendo "Cem Anos de Solidão" quando me lembrei de você me falando do trecho das formigas carregando um Buendía. Caramba! Onde elas estão? Lia, lia, lia e nada das tais formigas aparecerem. Será que era um detalhe irrevelevante?

Vi borboletas, bananeiras, toceiras de begônias, participei de expedições, de guerras, chorei, ri, praguejei, a ponto de me esquecer delas, jamais de você. Preciso escrever para Vila, preciso escrever para Vila. Para contar-lhe que me mudara para Macondo (como se me fosse possível).

Surpreendentemente, elas surgiram, minúsculas, avermelhadas, uma porção delas, saindo por várias frestas, subindo por todos os cantos, frustando os amantes, carregando o nenen. Demorei acreditar. O Gabo construíra um castelo de cartas (como baralho me fascina) e puxara aquela que servira de alicerce para as outras.

Desmoronei junto. E nada me aliviava do choque de realidade que a ficção me causara.
Refeito, voltei ao cotidiano. Peitar a Dona Relidade, pode ser divertido, descobri. Mas sem ficção estava desconfortável. Busquei, então, acalento com quem poderia me ajudar: primeiro Dostoievski, depois Clarice, em seguida, Lobo Antunes, Joyce, Oscar Wilde, Homero, Fernando Pessoa, Dante Aliglieri, Samuel Rawet, (quem mais me serviu de escora este ano?) Tolstói, Sófocles, Lorca, alguns teóricos enfadonhos e outros romancistas desgastados pela publicidade que dispensam citação.

Nem sei como consegui, entre faxes, e-mails, telefones e clientes, (Sim. Continuo aqui na loja.) acompanhar histórias tão distintas. Às vezes, me sentia tal qual uma abelha perdida no Jardim do Éden, noutras, um solista desafinando no ensaio aberto do coro sinfônico, ou ainda, um submarino emergindo no espaço marítimo de outras nações sem permissão. Entretanto, percebi que tal busca me ajudava a ser persuasivo com clientes, quaisquer que fossem. Corre até o boato que me tornei empresário do ramo de flores. Mentira. Nego e renego peremptoriamente. (Nós, brasilienses, principalmente os candangos, adoramos promover intrigas.)Posso ter fechado vultosos contratos. Recebido muitas cantatas. Recusado presentes e favores. Nem assim. Flores são negócios da família, nunca foi o meu. Você bem sabe.

É óbvio que o hábito de fazer a loja de sala de leitura tem me gerado conflitos, causado aborrecimentos. Contudo, minha vontade tem prevalecido, visto ver sincera. Não se preocupe. Estou bem. Comércio pode ser um bom lugar para colecionar tipos: ora bizarros, alguns hilários, outros taciturnos, ou ainda, dissimulados (meus preferidos).

É para um tipo assim, que prepararei o arranjo que estou lhe enviando. Gostaria que fosse como antes, flores para alegrar ainda mais sua noite de natal. Paciência. Vou imaginar que seja, escrevendo um conto inspirado na sua emoção ao receber flores de um amigo que há muito tempo não recebia notícias. Conseguir, não sei se vou. Caso consiga, receberá em breve, carta minha.

Está escutando ? ... Jingles all the way... Preciso ir. Não posso mais.

Beijos de boas festas!

Marcinho


P.S.: Enquanto lhe escrevia este, enviei-lhe, acidentalmente, uma cópia incompleta, sem revisão, em parágrafo único. Desconsidere, por favor. Isso que nos acontece quando teimamos em escrever no local de trabalho. Beijos!

16 de dez. de 2005

Tâmaras, damascos, nozes e avelã

Estava lendo a entrevista do astronauta Marcos Pontes (eu pularia a apresentação em flash), quanto meu eixo foi deslocado: "Nessa atividade, aprendemos a conviver com nós mesmos." Ele se referia a solidão que provavelmente sentiria na Estação Espacial Internacional. Creio que solidão seria uma dor crônica, para qual não haveria morfina suficiente no mundo para aliviar. A enxurrada arrancando o asfalto, arrastando pessoas, galhos, lixo e minha esperança de um Natal menos gigolô possível. Quem sabe Papai Noel resolve entregar, na noite do dia 24, meu presente atrasado de muitos natais. Podia ser aquele senhor que está lá fora fumando, segurando uma latinha de cerveja, cujo o charme estimula nossa libido nessa madrugada de 15° C. Atípica. Gordinho, alto. Cabelo curto, grisalho. De sobretudo preto. Meu muro de Berlin... melhor, minha muralha da China. Estamos a uns 20 metros de distância, separados por uma porta de vidro. Ele entrou na pajero. Foi se embora. De tanto olhá-lo, enquanto conversava com um jovem rapaz, provavelmente seu funcionário, passou a me encarar. Marrento. Desviei a mira lasciva e me concentrei nos índices pluviométricos de ontem à tarde, quando Dona Chuva resolveu inundar o hall de entrada da casa dos nossos excelentíssimos senhores senadores... Não vou passar a véspera da noite de Natal aguardando atendimento no Pronto-Socorro do HRAN. A dor é suportável. Consigo rir quando me perguntam o que é um pontinho preto pendurando numa árvore. Consigo falar, andar e comer; sozinho. Só não consigo perdoar. Que o telefone toque ad infinitum!
P.S.: Minhas queridas leitoras e meus estimados leitores, desculpem-me se tenho estado ausente. Não respondo mais e-mails, tampouco comentários. Conecto-me ao MSN somente para sanar dúvidas urgentes. Não navego em seus respectivos weblogs. Sei que não se justifica, pois quando a gente quer de coração, encontra-se tempo. Mas tenho me desdobrado em muitos (Ora! Todos estamos muito ocupados.) tal qual a Grace de Dogville. Lembram-se quando escrevi uma crônica sobre a comoção que este filme me causou? Pois é! Ontem, ao sair do consultório, com a boca inchada, agradecido ao Doutor Cirurgião, me lembrei da Grace. Dela correndo para lá e para cá, preocupada em agradar a todos, em ser eficiente, sem opções, a não ser servir. Grace sou eu. E só agora me dei conta disso.

13 de dez. de 2005

Vou aumentar a dosagem da medicação, para ver o que acontece com o meu humor.

9 de dez. de 2005

Leia Livros: aproximando pessoas e livros

Para reler com calma.

Leia Livro

Existe sim, crime perfeito. Que o diga Ivan Karamázov.

8 de dez. de 2005

Bem próximo de nós


Campo, originally uploaded by ludzorzi.

Uma confissão de amor: um pau de arara desativado, atrás do Complexo Penitenciário da Papuda ( a uns 20 Km da Praça dos Três Poderes). Não era nada do que eu imaginava. Fiquei desapontado, assumo.
-- Então, vamos?
-- Você me fez trazê-lo aqui para quê? Curte o pôr-do-sol.

No horizonte, chamava-me atenção a chuva bem delimitada. Sentia ânsia de vômito. As barras da minha calça infestada de sementes de bidens pilosa me incomodavam. Não vou mais a restaurante nenhum. Vamos embora, não estou me sentindo bem. Imagens de Auschwitz me vieram à mente. Não deveria ter assistido ao documentário.

6 de dez. de 2005

 Posted by Picasa

Roberto Benigni: entrevista na ISTOÉ

ISTOÉ – A sátira política é dos seus gêneros prediletos. Qual é a sua opinião sobre a política?
Benigni – Como disse o jornalista Eugenio Scalfari, “a sátira é contra o poder, caso contrário não é sátira”. Porém, algumas personalidades atraem mais que outras. Por exemplo, Berlusconi (primeiro-ministro italiano). Mesmo se ele não tivesse tanto poder, seria satirizado porque ele atrai os cômicos. A sátira é a democracia que chicoteia a si mesma. Não sei fazer teorias sobre a sátira, talvez Dario Fo possa fazer melhor do que eu. O prazer de fazer rir é como o leite materno. Imagine que eu estou mamando aquele néctar... Eu não paro para pensar. Vou ficar olhando e pensando no sabor do peito? OK, eu sei que o seio não é o órgão mais apto para eu me explicar. (grifo nosso)

5 de dez. de 2005

Sorvete de pétalas rosa-menina, cobertura de espinhos


Snow and Flowers, originally uploaded by destinatio.

Disse-lhe que minha flor predileta era tulipa. Desapontado disfarçou o sorriso. Bobo. Desdenho todo o amor por mim.

2 de dez. de 2005

E saíram à caça


Caça de Combate, originally uploaded by joabe_brill.

Quando vi o Ten. Coronel atravessando a rua, em direção à loja, minimizei a caixa de entrada do outlook e sai imediatamente do campo de visão dele. Contive o sorriso. Pensei em beber água. Não dava mais tempo. Ele já havia entrado na loja. Esperar ele não podia. Estendera-me a mão, sem esperar minha defesa. A sauna, na cabine. A boate, na dark room. O estacionamento, no motel. Disfarçar que não o conhecia era fácil, difícil foi fingir que havia sido apenas sexo avulso de tão casual. Vamos fazer tudo de nova, mas dessa vez diferente? Anotei seu pedido sem compreender claramente o que ele dizia. A letra antes legível, rabisco. Mostrei-lhe as anotações para que ele conferisse a encomenda. Falhas seriam punidas com cadeia. Diante do meu nevorsismo, ele se confundiu. Jantar formal? Não sei. Acho que sim. Com certeza. Perguntado sobre as cores e as flores: Confio no seu bom gosto. Comecei a explicar-lhe como seriam os arranjos: Está ótimo! Perfeito! Ele poderia ter-me dito: calma. Não tenho pressa. Mas preferiu reclamar da dor de cabeça: estou sem almoçar até agora. (Já se passava das quatro horas.) Ele ainda se lembra de julho. Gostaria que tivesse esquecido.

Embora o test-drive na esquina dos beijos amanteigados, lamentasse todas as fossas enterradas em pedras de gelo, resistimos às água de coco-verde deflorada nas costas. Que costume bizarro misturar sexo com comida! Terça-feira da semana passada. Hoje, choverá diferente. Me sufoca, me bate, me espanca. Sou sua flor em botão. Ele acreditou. E ele acreditou. Insensato. Irresponsável. Por mais que nos esforcemos, o travesseiro ronrona à noite. Não dói, porque o cansaço não deixa. O sorriso banguela causava tristeza à vizinha da casa da fachada verde. Detalhe importante para um dente de siso. Ela estende as fronhas quando nos preparamos para partir. Agora é tarde, princesa, depois te conto. Suspiros de leve atenuaria nossos olhares d-e-s-c-o-n-f-i-a-d-í-s-s-i-m-o-s. Não consigo. Não dá liga. Ele chegou à quinze minutos. Me acena lá de fora. Já pedi que não viesse me buscar no serviço. Disfarço. Passo a mão no cabelo, finjo que estou ao telefone. Estou vulnerável. Do estacionamento, pode-se me ver movimentando dentro da loja. Se fosse o sniper... Ele está sendo inconveniente. Ascendeu um cigarro. Está decidido a me esperar. Test-drive no barracão da obra. Já me arrependi de tê-lo beijado. Cofiou a barba grisalha. Fuma tranqüilhamente como se estivesse acabado de gozar em cima de mim (sonha!) e eu aflito, arrependido, com vontade de me dar um tiro. Ele nem é tão bonito assim, nem tão gostoso assim. Eu era apenas a vontade de enlouquecê-lo de desejo. Brincar de beijar na boca. Tê-lo de joelhos, a me mordiscar os artelhos. Só de cueca na cama, a procurar estrelas no céu da boca com a ponta dos dedos molhados na vodka. E eu a negar-lhe a saciedade. Quero te ver de cueca branca, da próxima vez. Ele balbuciou latidos roucos. Se você quiser posso chamar uma amiga. Enfermeira do HFA. Há! Há! Há! A fantasia de todos nós. A classe que nos perdoe. Disse-lhe que bastava, nós dois. Queria um relacionamente fechado. Esse foi o meu erro. Ele vai investir numa instituição falida. Vai perder dinheiro.

Duração do efeito da cocaína

Euforia
Alforria
Eu iria
Se não fosse mais baixo.

1 de dez. de 2005

Chuva de Ouro


Mais um céu =P, originally uploaded by Érica_Roll.

Vou aguardar os apagadores me ensinarem a interpretar a sinfonia das poças de lama. O irascível problemático agente da ordem me cumprimentou. Estou feliz. Três a zero. Não soube eu prolongar o prazer. Sou estúpido, quando lírico. Paulistano doente por uma perfumada carreira de salmão, ele me convidara novamente para plotar a Avenida Paulista. Garoto arisco. Minha fama chegou a Beijing. Coração despetalado. Agressões verbais. Não escolho signos lingüisticos para externalizar a cólera que se alimenta do meu fígado. Nunca imaginei que seria capaz de dizer-lhe não. Quiçá... Não. Por atrás dessas nuvens, poderíamos acompanhar o suicídio do Sol. Ele se sensibilizou. Meu cinismo me assusta, mas é assim mesmo. É só tomar cuidado para não queimar as mãos. Vamos tomar uns gorós? Naquele boteco, onde há mais homens lindos que cerveja gelada? Fitei-lhe os olhos e murmurei uma desculpa qualquer. O agente se inquietou, estendeu-me a mão e falou num idioma que me surpreendeu: por favor. Óculos escuros resolverão o problema. Está fazendo um ano, amor. Estávamos distribuindo preservativos no setor hoteleiro e você fletando com as recepcionistas, só para me ver espumando. Por mim, ele morreria sem me conhecer novamente, estava eu mudado. Senti falta da sua boca me mordiscando a orelha, me repuxando o lábio inferior. Agora, pretendia me esconder atrás da comitiva de ursos brancos vestidos de ternos escuros. Promovo um bacanal, se você quiser, me dissera. Promessas perderão a validade quando chegarmos à Praça dos Três Poderes. Abelha perdida. Lábios ainda inchados. Além do mais, fantasia nos pêlos do joelho significam sonhos decifrados. Tão difícil de entender, não? Respirei fundo e me soltei do abraço que me acalmava. Queria um namorado, não um amante. Beijei-lhe com carinho, procurando o amor que ele trazia preso na garganta. Poderia fazer essa experiência, ir embora para São Paulo, até a aflição ceder, o desejo por mim esmaecer, mas ele não estava sendo convincente. Feliz Natal! -- lhe disse ao me despedir. Ele baixou a cabeça. E até agora não me respondeu os e-mails.

30 de nov. de 2005


Kennedy, originally uploaded by theblue.

Mamãezinha, a senhora sabe o quanto te odeio, mas não quero que saia por aí me chamando de ingrato. Obrigado por aquilo. Como? Não entendi. Obrigado, por ter me dito (o trocadilho chulo é proposital). A senhora poderia ter optado por interromper sua gravidez, não me oponho ao seu direito conquistado, contudo, pergunto-lhe sem esperança que me respondas, porque seguiu com a gestação, se no final ia me deixar sozinho. Foi para você ir se acostumando.

29 de nov. de 2005

Por enquanto, não consigo mastigar, mas consigo escrever. Ler me distrai do pós-operatório. Medo. "Os Irmãos Karamazovi" ficou esquecido sobre a cama, emaranhado no edredon cor-de-rosa. Alessandra, Alesandra, Alessandra. Tenta relaxar, Marcinho, não cai uma agulha, sem que Deus saiba. Podia detalhar o sexo, ansiolítico natural, mas prefiro falar dos cirurgiões, da assistente. O desconto funciona mesmo? Funciona, sim. Consegui pensar rápido antes da anestesia. Cinco por cento. Já é alguma coisa. Imagine se fosse um aumento de cinco por cento na taxa selic? Eles riram. Me senti do povo. Deixei a sala de cirurgia sem esclarecer minhas dúvidas. Não era capaz nem de responder as perguntas. Até ali, tranqüilo. Vamos embora. Tchau, Senhor Doutor, Senhora Doutora e Senhora Assistente. Obrigado. Fiquem com Deus. Ainda não chove. É uma bênção. Tenho me agarrado a Ele, prometido fazer a lição sem queixas ou reclamações. Tem que fazer, não tem? Então faça. Não posso mais protelar. Pude ouvir o osso sendo raspado. A Assistente me fazendo cócegas com suas histórias de identidade dobrada dentro do bolso da calça. Senhora, cuidado! Eu sou escritor, tenho um blog. Suas falas podem virar literatura nas minhas mãos. (Ih! começou a pretensão.) Todos rindo e eu sentindo um alívio. Se estão rindo, é porque não está havendo complicações. E se eles forem sádicos? Papai do céu, nos havíamos conversado que nunca mais nos envolveríamos com esses tipos, por mais ricos, belos e charmosos que fossem. E pensar que por causa de um perverso, estava sendo aberto e costurado. Espero a Alessandra me ligar. Esqueci meu livro em cima da cama. Eu sei, eu sei. À noite, eu te levo. E quem me faria companhia, enquando chove? Beatriz. Sob efeito do Paraíso que faltava. Sim. O Paraíso de Dante. Anestésico natural. Tanto que acabei de escapar de um assalto. A cidade torna-se fisicamente violenta, mas do que a Ética permite.

28 de nov. de 2005

Fedor Dostoievski

Estou apaixonado. Finalmente. No começo me aborrecia, agora não consigo largá-lo. Presinto a dor do vazio que me desorientará ao ler a última frase, assim como em "Cem Anos de Solidão". Para mim essa seria uma das diferenças entre um clássico universal e um best-seller. Este, ao terminarmos a leitura, corremos atrás de outro, tal o adicto a procura do entorpecente. Aquele, nos mata para qualquer outro pensamento que não seja por quê?

Book3, originally uploaded by Erunion.

Acho que foi a Marfa Ignatievna. Desconfio também do Aliócha.

26 de nov. de 2005

Estamos todos bem

A morte é tão feia, tão feia, que acaba se tornando simpática. Rezo para que ela seja boa comigo e com quem quero bem, mas quase sempre ela é perversa. Nos acorda de noite, tocando o interfone. É o jeito. Entra, senta-se. Quer um cafezinho? Uma água? Aceito um aperitivo. Então, ela nos distrai, nos faz rir (daí o humor negro), elogia nosso cabelo e, finalmente, nos mata. Sim. Mata-nos. Porque a estima por quem falecera revestia o ventrículo direito do meu coração. Falta de ar. Deixa de frescura e vá ligar para funerária, meu papel termina aqui. Nossos sentimentos. Me dá um abraço e vai se embora.

Se me fosse permitido, escolheria morrer por uma efermidade, não por acidente. Eu sofreria muito é verdade(tem morfina, pra quê?), incomodaria muito mais (quando se tem herança, não é incômodo nenhum), em compensação, ninguém levaria um susto (susto mata, sabiam?), ao contrário, seria um alívio. Foi melhor assim. Ele foi descansar (nós também). Ao observar a chuva a fustigar o pára-brisa, imaginei-me eu a enterrar meu pai. Foi difícil conter o choro, como está sendo agora. Daria um interessante capítulo de introdução. Depois. Da morte, só consigo rir.

25 de nov. de 2005

Em suspensão até segunda ordem


180 words/hour, originally uploaded by Emaratioryx.

Não esperava ler "Harry Potter and the Half-Blood Prince" antes do carnaval. A fila andou rápido. Será que lá na Inglaterra, assim como no Brasil, a editora doa um volume para as bibliotecas? Creio que não. Do contrário, teria um carimbão na falsa folha de rosto. Então, o diretor da Cultura Inglesa (filial Brasília) aceitou o argumento das bibliotecárias que dessa vez, mais do nunca, transcorreriam longos angustiantes quinze dias para os pottermaníacos: Já chegou? Ainda, não. Ai, Meu Deus! Levar quinze dias para ler o Harry Potter! Só pode ser aluno do Intermediário. O nervosismo da garota recendeu no frio da biblioteca. Hermione Granger. Eu fui mais discreto: Oi, Kathy, tudo bom? Teria como eu dar uma olhadinha na lista de espera? Claro, meu anjo. Você não vai acreditar? Ela virou o monitor para que eu mesmo visse. Você é o próximo! Li meio incrédulo meu nome na tela do computador. Nunca tive tanta dúvida que aquele nome fosse o meu. Nem na lista dos aprovados do vestibular da UnB, fui tomado por tanto cepticismo. Tantos homônimos espalhados pelo país, deve ser outro... Se eu te contar, leitor, que ao sair do igloo-da-Kathy , abri a porta para a moça que ia devolver o livro, tu acreditas? Elegante morena de olhos azuis, magrela de tão alta, cachecol (ou echarpe?) vermelho enrolado no pescoço, perdida numa mini saia jeans. Fleur Delacour. Ela se dirigiu a uma cabine multimídia e passou toda a tarde aperfeiçoando sua pronúncia. Foi melhor assim, o desencontro me permitiu testemunhar um crime. Sou péssimo fisionomista, Doutor.

24 de nov. de 2005

A mão-de-gato dos blogs

Português oral castiço me irrita, prinpalmente quando o falante não se importa com a textura das cores. Imaginem a importância das cores para um pintor. Pois é! Eu sou assim: cor e luz, ritmo e melodia.
Pessoas restritas só servem para me certificar que há muita gente mal intencionadas neste país, ou ingênuas.

Fontes não identificadas esquentam noticiário e iludem leitor

"(...) Esse recurso da denominação vaga de fontes com informações cruciais não é novo na imprensa brasileira. (...) No período da ditadura, era comum encontrar "segundo fontes militares" nas reportagens para maquiar falhas na apuração, plantações de meias-verdades ou meias-mentiras e até mesmo opiniões pessoais dos jornalistas. (...) Está se tornando monótono e motivo para não acreditar integralmente no que se lê."

A Lebre e o Leão ontem à noite na fila do cinema.


Ride the tiger, originally uploaded by RandomMoth.

Sempre depois do coito tomávamos vermífugo. Ela se achava a esclarecida. A tia-madrinha explicava minusiosamente detalhes da genitália feminina, da masculina, como se limpar, o ciclo mestrual, como se desvencilhar de canalhas que "só querem nos ver sofrer." (Ela tinha experiência.)

Eu, por minha vez, procurava os livros, os quais apenas folheava. Não entendia absolutamente nada. Agora percebo que era minha ansiedade não me permitia me concentrar, portanto compreender o que se lia. Não sofria de uma idiotice pressumida. De uma coisa, eu sabia: camisinha era um método contraceptivo eficaz, desde que associada com outros métodos e não podia se confiar na tabelinha.

Todo mês por volta do dia dezessete, eu a perguntava: Laurinha, desceu? Ainda não, mas não se preocupa. Minha tia me explicou que meu ciclo ainda é irregular. É normal atrassar. Eu que comesse minhas unhas até o sabugo. Você, perguntou o que seria aquela dor que eu sinto. Ah! me esqueci. Deve ser doença venéria...

Uma manchinha arroxeada na glande me levou à visitar o consultório de uma renomada infectologista aqui na capital, dez anos mais tarde. Vai ali para aquele canto. Pode baixar as calças. A cueca. Agora expõem para fora a glande. Minhas pernas tremiam. Eu precisava sentar. Com a mini laterna focando a região pélvica, diagnosticou a médica: é um mancha de nascença. Pode vestir a roupa e lavar as mãos naquela pia. Eu queria ter lhe fazer várias perguntas, mas estava com vergonha. Hoje, eu sei que dor era aquela que eu sentia. Mas por que, então, a Laurinha nunca engravidou?

P.S.: Na realidade, ela estava mais para uma tigreza. Unhas grandes, coloridas de tão estravagantes que me marcavam as costas. Eu gostava. Nem sempre. Tenho orgulho das minhas cicatrizes e exibir minhas costas ossudas. Isso aqui foi uma louca. Explico, fingindo indiferença. Me restava, então, ser um lebracho. Admiro-me a misericórdia dela, em nunca ter me devorado a tenra carne que insistia em dizer sim, quando eu queria dizer não.

23 de nov. de 2005

Vou ter que fazer uma intervenção, não posso protelar mais; dissera-me o cirurgião. Poderíamos marcar domingo pela manhã. Era uma gentileza que ele estava fazendo a um amigo. Domingo não posso, tenho compromisso. O dia todo? Todo o dia, vou ser fiscal num concurso. Não pode faltar? Até poderia, mas eu precisava do dinheiro. Se fosse urgente mesmo, ele me operaria imediatamente. Sábado à noite? Que favor era esse que aquele estranho devia ao nosso amigo em comum. Ele consultou mais uma vez agenda, contraiu os lábios. Vamos fazer o seguinte: vou atender essa senhora... não. Vai para casa. Vou te atender terça-feira.

Trechos dostoievianos: meus preferidos


DSC00894, originally uploaded by Erbi.

Interrompemos a leitura quando atiraram o pão traiçoeiro ao famélico cão. Em Moscou deveria ser diferente.

22 de nov. de 2005

Oncídios do Jardim Botânico


orchids, originally uploaded by ana_maria_.

Não há nada melhor do que estar desempregado. Até quando? Até dia vinte nove do corrente. Vou entrar na cápsula de vento. Me sentirei um pouco abatido, mas sairei mais forte. A verdade alimenta a disciplina. Hoje finalmente coloco as mãos no tratado para sempre. Quem sabe não publique uma fotos. (Exibido!)

21 de nov. de 2005

O que eu gostaria de ganhar de Natal?

Leia no meu diário de navegação que você vai saber, respondi ao Comte., ao ser ingadado o que gostaria de ganhar de Natal. Perdão. Não entendi. Um livro qualquer, simplifiquei. Eu sabia que estava correndo um risco. Mas ele não poderia ser tão burro, a ponto de me presentear com um Paulo Coelho. Por que não? Porque estes estão disponíveis em qualquer biblioteca perto de casa. Ah! E Schopenhauer não estaria? Acontece que estes eu sinto necessidade de grifar, riscar, anotar nas margens sinais que perderão o sentido ao longo da semana. O que impede de fazer anotações no best-seller? Com o trivial também se aprende. Não o que eu preciso saber para convencer ao Comte me ajudar a escolher o enxoval.
Quanto inveja me escorria do pênis ao presenciar o criolo usando fucking como se fossem vírgula. Será que consigo? Outro giro pelo salão? Esquece. Hoje serei o homem mais feliz do mundo ao colocar as mãos no verbo convencer. Quero esbofetar o filha-da-puta que me abriu as asas durante uma madrugada de barba-de-timão. Mau-humorado, metido a rico. Um dia, aqueles dentes podres terminarão de cair e eu terei o prazer de oferece-lhe uma maçã-do-amor. Ofereço por educação e por educação deve-se recusar. Ele provará do sarcasmo que me retalhava madrugadas de sábado. Me expunham ao ridículo, me menosprezavam. Vingo-me com estrelas, clívias e castanha-do-brasil, versos que solapam lágrimas críveis. Vou-me embora, levando a ampuleta, o cuco, a cadeira-de-rodas e a santa, muletas escondidas pelo quarteirão. A menina se comprometera a bordar o enxoval. Aproveitando o espaço e o tempo que acabou: também sinto saudade sua, amado leitor. Saudade de ler o que meus amigos andam produzindo.

19 de nov. de 2005

Bienvenue sur le site officiel de Charles Aznavour

As madeleines estavam crocantes. Pedi a tropa que não contasse nada a ninguém ao meu "patrão". Nem para ser eu. Eles não presenciaram o enólogo me explicando a diferença do r pronunciado em Paris do pronunciado em Nice. Em Paris é debaixo do queixo -- não precisava me tocar, já havia entendido o que ele queria. -- Na minha região é mais grutural. Porque eu fui dizer que entendia perfeitamente duas crianças conversando em francês. Admirado, surpreso, pronunciou fonemas entuberáceos. Ele inventa palavras em português. Arcaismo gauliscista. E a boca salivando começou a falar, a falar, a falar uma língua, que por milagre eu ainda compreendia. Quatro anos de terror e humilhação. Valeu a pena? Aprendi a aprender. A quanto tempo eu não conversava em francês? Meu sotaque é horrível, disse-lhe. "En fogeant que l'on devient forgeron." Tu parles plus vite, respondi-lhe. Foi a única frase que me lembrei. É malhando que se torna ferreiro, traduziu. Parles! E o medo dele me convidar para sair. Jantar. Ele se entusiasmou. Os seus olhos faiscavam esmeraldas. Fingi que não entendi a cantada. Ele riu. Poderemos ser amigos. Nada mais. Não estou disposto em saber se este francês conseguirá me atravessar do Oiapoque ao Chuí (não que percurso seja interessante.) As fronteiras continuam bem vigiadas, eu bem sei. Uma trepada não vale o risco. E quando o diplomata voltar à loja (Que seja breve, meu Santo Antônio) estaremos ouvindo Charles Aznavour, Edith Piaf e porque não, Manu Chao.

18 de nov. de 2005

Festa do Beaujolais Nouveau termina em violência na França

Tenho que ligar para o Fontenelle afim de formalizar minha situação perante o partido, já que sou militante de fato. O que significa (se eu conseguir falar com ele) que a noite será de vinho tinto demi-sec escorrendo por polegares soltos. (Que inveja!). Por que tem que se acabar tudo em chuva de leite, quando poderia ser um simples caroço de azeitona? Porque não consigo dizer não, quando mãos passeiam no girassol do meu bíceps.

Escondido debaixo da cama

Enquanto os proxenetas se perdem em compras, reputação de cigarra me penetra a pele. Um amigo me ligara para saber se o papel moeda do nosso diploma voaria ao ser queimado. Não sei. Trata-se de uma outorga. Que as traças se refestelam no pó de leite. Eita! O Chefão acaba de assumir compromissos para os próximos anos. Fone de ouvido é ouro. O que o Fernando queria saber é se eu continuava com "aquela fudelância" (expressão dele). Tremor de pálpebras. Ele acreditava nas minhas histórias, fruto de uma etnografia capitaneada que não tive coragem de apresentar aos meus colegas de classe. Dipsomaníacos. Talvez agora o Fernando tivesse interessado em desbravar as latinhas e os latões. Procurava por dicas, sugestões. Não vale a pena. Nem por isso vamos usar cintos-de-castidades. Cintos só para prender o pescoço em latões de cobre. A violência se configura entre meus desejos. Impressão, tola. Depois dizem que o arroz será servido a todos. Jesus! O Chefão é muito irônico: "se vocês leram as reportagens..." Vou parar por aqui. Não consigo nadar no linha imaginária do equador, antes preciso dizer que nosso chefe se retratou. Amanhã trago detalhes. Para não me perder na curva do comum.

17 de nov. de 2005

Dentro do Toyota

Ao lusco-fusco, da Praça dos Três Poderes, via-se que as luzes do gabinete ainda não haviam sido acessas. O arranjo de rosas coral não poderia ter servido de desculpa suficiente para uma intimação. Lá estávamos. O polícia me flagrara antes da última colherada. E as novidade, Dr. Márcio? Nenhuma, Dentinho, nenhuma. Fiquei em dúvidas se lhe confiara meu novo imbróglio. (Ele poderia me julgar um promíscuo.) Dentido, você se lembra daquela história do estripador do cerrado? O conselheiro?! Claro! Haverá uma performace no assoalho do lago depois de amanhã. Queria saber quantos meses o dentinho levaria para se ajoelhar diante o estante de vendas do cacos adocicados da fábrica de refino de telúrio. Corta o cabelo. Faz a barba. Depois a gente conversa sobre quantos cães serão necessários para curar nossas nuvens oscilatórias. Vocês se amaram? Só permiti que facas de plásticos me ensinassem a capturar borboletas azuis. Massa podre com Beaujolais. Ninguém nos observava, com exceção as esculturas nigerianas. Antílopes machos mordiscando-se. Aproximei-me da orelha esquerda do Dentido, sua boina ainda suja de sangue seco. Acho que até o final do ano me caso. Casar-se para sair de casa, assim como as moçoilas faziam? Não convém. Ele me ama. Para o conselheiro, você não passa de um pedaço de pé-de-moleque moído. Refiro-me aos óculos de São Francisco de Assis. Ele vai me vencer todas as noites de sol sem ninguém para me explicar como se cozinha beringela. Não obstantes as curvas soltas, examinei minuciosamente o nó, sinal que os óculos profanos do Santo agiria sobre minhas fantasias. Dentinho praguejou, chamou-me de fraco e me aconselhou a não comentar com o diplomata meus planos. Este poderia pensar que eu queria vida fácil ou que estava chamando-lhe para o rola. Dificilmente, acredito em laranjas, principalmente quando muito azedas. Em retribuição a minha educação, provei da ironia do conselheiro: Dr. Márcio.

Próximo capítulo , oxímoro domingo: o coronel a me esmagar a mão.

São Google, olhai por nós plagiadores.

Feliz por observar o mar calvo. Me coçando por causa da chuva de pires. Simultaneamente, equilibrado na risca do rejunte.

Pixies: Discografia completa

A poesia declamada me escorria pelos pés. Os versos ainda ondulam na superfície do lago, posso tocá-los. Mas prefiro ser empalado pelos agentes da polícia federal no horário de almoço. Se não fosse por eles, eu ainda estaria passando fome. Me parece que estamos voltando ao cotidiano, atravessando o céu numa caça emprestado. Ei, piloto! O que é isso aqui na minha orelha? (Assim me parece mais fácil rascunhar.) Vamos tentar construir uma ponte na impossibilidade dos desfavorecidos. Foste à missa do arcebispo? Não, apenas escrevi um conto como se fosse ele um religioso russo. Ui! Deixa-me ler. Ih! Já limpei a lixeira. Fez bem. Não faça mais isso, me dissera o embaixador. Eu também queria lhe dizer: não faça mais isso, nem se fosse durante um sonho onde meu primo se relevasse um poeta de quizomba. Se houve um sentindo na vida, ele se escondeu de mim, talvez por isso não sou mais moderador. Pixies se espalharam por toda minha infância de leite-de-soja em pó. Não sinto saudade dos flatos que era obrigado a reter. Foi-se o incomodo, restou a microfonia. E a fúria, que não é uterina, mas sente-se capaz de criar. Agora chega, ultrapassei por demais a margem esquerda da folha de papel almaço.

16 de nov. de 2005

Nicolás Bratosevich

Sempre da direita para esquerda. De cima para baixo. Daqui a pouco passa. A enxurrada limpará nossas pélvis. Ainda está ouro? Fundição à fórceps.

Ricardo Piglia

Vencemos contra-argumentando com as idéias do proxeneta. Estrelas próximas saltitaram sobre o mar. Ondas no ermo caminho. Resta-me enxugar com a manga da camisa azul-aço a lágrima pelo perdido sopro.

Fundacion Mempo Giardinelli

Brilhos de poeira no tortuoso caule da brisa molhada. Prazer.

8 de nov. de 2005

Espane os móveis


bsb, originally uploaded by Miss Favs.

"... tudo aquilo que me disseste sábado, por telefone, ainda desperta no meu estômago desejos fédidos. Eu te amo, Bobão. Não é por causa do cavanhaque, aliás, desenho perfeito, que vou me desfazer do molho de chaves suíças. A dor se transformou num leve incomodo, nada próximo do sorriso braquiproctofilista do papai Ursinaldo Diego Pórfiro. De novo, não, por favor. Não sou mais aquele efebo. Quero morrer puro como rastilhos de sal que se secam sobre minhas maçãs, as quais você nunca mais beijou, em público, na fila de cinema, para as outras bichas morrerem de inveja. Elas que morram daquela outra coisa lá. (Sim, gosto de lhe ostentar feito troféu.) Nós dois seremos sempre parceiros das confidências ouvidas atrás da porta. E nem que as folhas caíssem quando você soprasse no meu ouvido fantasias proibidas até para nós que temos a mente arregaçada de tão liberal, nem assim, eu poderia fazer aquela diferença milimétrica. Serve-me, mais chocolate, a imagem do jeans se rasgando me deixou carente. Seus beijos não suprem mais as comportas da minha Itiquira. Cachoeira, amor. Nem me lembro da diferença entre gotas tingindo minhas costas (nuas) e latinhas de cerveja nos esperando para brindar nosso único aniversário que deveria ser comemorado. (Estou simplicando para você.) Sinto falta das suas amigas. Apenas das falas, não das ações. Sou aquele ciumento que não se importa em iniciar um interrogatório, as duas horas da manhã. Tudo nosso, aconteceu de madrugada: as velas, o carro, a mãe, seu padastro, seu filho, por que agora seria diferente? Tenho receio da cena da embriaguez volte repaginada. Só para não usar uma palavra. Vou dar uma fumada e volto em seguida para dizer-lhe que estou aos poucos levando meus livros para aquilo que você teima em chamar de forte e eu teimo em chamar de esconderijo. Lar, um dia, talvez, só Deus sabe. Que me importa a chegada da chuva. Os pintores não virão mais."

31 de out. de 2005

MENU DO DIA


take it easy, originally uploaded by a.L.

Di Cla,

Encontrei esse jogo da confissão que está circulando pela blogosfera no Sisifo's Curce, blog da nossa querida amiga Dayse. Tentei desvincular o alter ego, construído arduamente ao longo desses três anos, de quem ora lhe escreve. Espero que você não se incomode. Pretensão, às vezes cansa. Posto a explicação, vamos ao jogo:

Eu não sei:
1.Agradecer
2.Mentir
3.Guardar segredos
5.Pedir desculpas
6.Amar
7.Escutar
8.Dividir
9.Despedir-me
10.Compor sonetos


Eu sei:
1.Presentear
2.Atar nó borboleta
3.Preparar paella
4.Escolher vinhos
5.Receber convidados
6.Apresentar pessoas que não se conhecem
7.Dançar bolero
8.Divergir de opiniões
9.Reconhecer méritos
10.Nadar de costas


Tenho medo:
1.dos Ciumentos
2.dos Paranóicos
3.dos Carismáticos
4.dos Auto-confiantes
5.de Freiras

Não tenho medo de:
1.Assessores
2.Deputados
3.Senadores
4.Fazendeiros
5.Conselheiros
6.Embaixadores
7.Capitães
8.Comandantes
9.Almirantes
10.Brigadeiros
11.Generais
12.Delegados
13.Advogados
14.Promotores
15.Juízes
16.Desembargadores
17.Párocos
18.Empressários da noite
19.Filhinhos-de-papai
20.Leões-de-chácara


Detesto:
1.Marrentos
2.Gozadores
3.Atrevidos
4.Arrogantes
5.Extremistas
6.Alcóolatras
7.Vitimistas
8.Investigadores
9.Promíscuos
10. Rosas vermelhas

Sou fissurado por:
1.Cílios
2.Seios
3.Glúteos
4.Lábios finos, grossos; pequenos grandes e grandes pequenos
5.Prepúcios

Eu nunca:
1.Soltei pipa
2.Briguei na rua
3.Tomei banho de chuva
4.Respondi minha madrasta
5.Participei de ménages à trois, gang-bang ou sessões de SM

Eu já:
1.Sofri luxação no pulso
2.Apanhei com fio de ferro-de-passar-roupa
3.Fugi de casa
4.Reprovei de ano
5.Trafiquei
6.Roubei
7.Prostitui-me
8.Experimentei drogas
9.Recebi herança
10.Fui violentado
11.Cantei em coral
12.Dirigi elenco teatral
13.Interpretei papéis femininos
14.Jantei em Embaixada
15.Desci de rapel
16.Cavei valas
17.Pratiquei espeleologia
18.Xinguei professor em sala de aula perante testemunhas
19.Venci uma causa
20.Escrevi cartas de amor
21.Brinquei de roleta-russa
22.Observei uma autópsia
23.Presenciei tortura psicológica conduzida por oficiais do Regimento da Polícia Montada do Distrito Federal
24.Simulei estupro
25.Fui vítima de afogamento
26.Quebrei óculos-de-sol
27.Consultei cartomante
28.Montei e desmontei um fuzil Colt M-16
29.Devolvi aliança de compromisso
30.Compus sonetos

24 de out. de 2005

"Dogville e a poesia" - 12/9/2005 - Digestivo Cultural - Michel Laub - Ensaios

Sinto vergonha de dizer simplesmente: gostei desse filme. Sinto-me um idiota por não conseguir escrever uma análise no mínimo inteligente. Um dia quem sabe, consiga explicar a mim mesmo por que os filmes do Lars von Trier me causam prazer. Preciso pensar e pensar toma tempo, dinheiro, sem contar as dores nas costas, no estômago e na mãos (mas isso seria irrelevante). Dogville é um filme de e para intelectuais? Que seja! Gostei, mesmo não sendo um. Minha estupefação impede que as palavras se aproximarem de mim. Preciso descarregar essa vertigem em alguém, com alguém: "Telefone desligado ou fora da área de serviço." Talvez ele não seja a pessoa mais indicada. Sessões de cinema podem ter sido uma forma dissimulada de justificar o abuso e eu nunca havia me dado conta.
Enquanto os pais saíam, as crianças aproveitavam para preparar brigadeiro (não me lembro da receita). Indiferente. Da última vez, sobrevoamos de helicóptero o lago, coberto por algas. Ganha-se bem? Depende. Pode-se dizer que me arrependo dos fragmentos de rochas despreendidos com a pressão da vontade. Retornava àquela caverna ainda com o arranhado dolorido. Você deveria saber sobre essa vegetação. Eu somente sabia me prevenir contra possíveis dilacerações. Não soletre verbos que juntos não podemos conjugar. Não tenho nada a ensinar a ninguém, nem a mim mesmo. Você tem experiência. Ele tinha experiência de tanto assistir filmes de sacanagem na internet. Eu poderia ser preso. Eu amarraria frouxamente o nó, simulando um acidente. Cortaria a corta que me sustenta. Faria meu último rapel. Ele era tão forte, robusto e me saía com essas fraquezas imbecis. Viu porque você não pode ter uma arma? Eu te amo e você me ama. E nosso sexo é muito mais gostoso por essa razão. Molho madeira às duas horas da manhã. A intimidade que nos permitira preparar brigadeiro, pelo simples prazer de sujas nossas mãos de margarina.
-- Bom dia, meninos!
-- Bom dia, Dona Judith, tudo bem? A gente acordou a senhora, né?
-- Não durmo enquanto o Marden não chega.
-- Demostra o quanto a senhora e o Dr. Custódio se preocupam...
-- E não é só com ele.
Difícil não se emocionar quando ela me abraçou. Marden nos cobriu com seus longos braços, nos apertando desnecessariamente. Dr. Custódio acabara de entrar na cozinha nos surprendendo naquela posição enigmática. Rimos, soltamos gargalhadas. Ele fez cara de "vocês vão acordar a vizinhança." Cumprimentamos-nos. Procurou por uma colher no escorredor de pratos e sem pedir licença, se serviu do brigadeiro ainda quente, na panela mesmo.
-- Hmmm... Já podem se casar.

17 de out. de 2005

Sábado passado


Bang!, originally uploaded by cactusthesaint.

Estimado Comte Mandágora,

Desculpa a demora em respondê-lo. As flores tem me exigido integralmente. Semanas de quinze dias. Quando não são elas, são as mães de noivas indecisas, decorações colossais marcadas em cima da hora, fornecedores que esquecem pedidos, funcionários mal-criados. Para ter idéia, trabalhei todo o feriado decorando o salão de festa do clube ao qual você é associado. Será que tivemos trabalho? Colocamos girlandas em todas as pilastras, inclusive as duas da portaria. Não reclamo.

Acabo por me divertir, seja ao observar os clientes, seja ao escrever mensagens de-feliz-aniversário. Certas horas, atinjo o ponto ótimo do estres: esteja eu atualizando o site ou escrevendo um fax, sempre toca o telefone. Duas, três ligações simultaneamente surgem em seguida; madames que insistem em opinar na confecção dos arranjos com se entendessem de arte floral entram na loja esquilibrando-se elegantemente em saltos escandalosamente finos; motoristas apressados que mal se lembram do nome das flores que vieram comprar insistem em serem atendidos prontamente; ou pior, namorados apaixonados que não conseguem escrever um simples declaração de amor nos pede ajuda. "-- Isso é com o Márcio. Ele que é bom nisso." E não é que o coitado espera? E não é que tenho que escrever algo interessante e original baseando-me no vago e impreciso ela-curte-os-Strokes? "Que banda é essa caramba?" (Hmmm... Estou gostando.)

Desdobro-me em vários, sempre sorrindo, sempre atencioso. Para quê? Se não posso gritar por socorro, quando a banheira transborda. Não sei se essa correria me possibilitaria escrever um romance, uma coletânea de causos, talvez. Mas não espere por isso, prefiro tal você costuma sugerir: "vamos explorar a imaginação." Preciso beber da fonte, mesmo sendo de tempos em tempos. Pode me ligar, se for mais fácil para você.

Respeitoso abraço,

Marcinho


"(...)" <(...)@dpf.gov.br> escreveu:

>Caro Marcinho!

>Que saudades! Afinal, há quanto tempo não nos comunicamos?
assunto proposto seria, para mim, ótimo, uma vez que li todos os livros da série. Só falta o lançamento. Poderíamos falar de Lord Vald-Mort, inimigo número um de Harry e quais suas tramas para eliminar o bondoso e inocente Potter. Além da influência da literatura infantil, não na política econômica, mas na economia de mercado dos países emergentes.
Apenas uma curiosidade: você sabia que J.K. Rowling era muito pobre? Levava sua filha para a escola e para economizar energia de calefação em sua residência, ficava num Pub, perto da escola, que possuia aquecedor. Enquanto isso começou a escrever a série Harry Potter. Hoje é mais rica que a Rainha da Inglaterra.
>Atualmente estou um pouco sem tempo, em face de um curso que estou coordenando, de 19:30 às 22:40h. Talvez 4ª-feira que vem, dia 12 de out, esteja disponível para nossa conversa.
>Sinceramente, gostaria muito, Marcinho. Forte abraço!
>
>P.S.: Você foi suficientemente claro!



>Comte Mandágora

>> Bom dia, Comte Mandágora!
>>
>> Há muito tempo estou querendo te escrever, mas não sei se deveria. Qual assunto abordar? O lançamento do novo livro da J.K. Rowling no castelo escocês não seria apropriado visto o fato de eu ainda não conhecer tão bem as aventuras do Harry Potter, quanto gostaria. Contudo, se estives com tempo, poderíamos nos encontrar para conversarmos sobre os rumos que a literatura infantil contemporânea está tomando e se tal fato influencia as politicas econômicas das países emergentes. Pense a respeito.
>>
>>Frt abraço!
>
> Marcinho
>
> P.S.: Meu novo e-mail: (...)@gmail.com
> P.S.S.: Espero ter sido suficientemente claro. A que ginástica mental você me obriga!
__________________________________________________
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http://br.download.yahoo.com/messenger/

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http://www.uol.com.br/fone



-- Ah! O Senhor sabia que o Deputado Alberto Fraga é lobista da Taurus? Fonte quente.
-- O Márcio quer me convencer a votar no SIM.
-- De forma alguma, o senhor é voto consolidado. Apenas queria lhe passar a informação. Não é só uma questão de segurança, mas de altos interesses econômicos.

6 de out. de 2005

Orelha de pitbull (nunca ninguém havia me feito tal observação).


Van Gogh Monet., originally uploaded by JucaFii.

Tenho me esforçado para postar apenas uma vez por semana, de preferência às segundas-feiras, contudo, por mais que eu tente me manter afastado da web, algo me suga ao ciberespaço, ao mesmo que alguém me empurra para fora dele. Algo e alguém se desentendem e minha vontade de estrangulá-los se dissipa, quando descubro que as Circunstâncias estão se encarregando de cumprir meu desejo.

Tem sido extremamente difícil conviver entre desesperançosos. Ambiente tão rico quanto o Saara. Pára de reclamar. Encare a situação com estágio probatório a um cargo qualquer no Senado, ou na Câmara, ou quem sabe naquele Tribunal onde elevadores exalam à nenúfares azuis . Tenho aprendido a engolhir sapos. Minha imaginação os transforma em rãs e nós sabemos do ossinho da coxa levemente apimentada estralando na boca. Apenas suponho.

Olho para cima como se estivesse visto uma lagatixa. E quando você não puder olhar para cima, Márcio, alguém, que não seja sua terapeuta, vai te estender o lenço? Não. Minhas lágrimas retóricas se comportarão exatamente conforme o texto, uma embaixadora vai entrar na loja, estimular meu poder de persuasão, me levar o sorrir:

-- Você tem rezado, Márcio?
-- Tenho.
-- E já aconteceu um milagre na sua vida?
-- Ainda não.
-- Então está rezando pouco.
-- Espera ai... me aconteceu uma milagre ontem à tarde.

E as lágrimas vieram doce o suficiente para ela espontaneamente me abraçar entusiamada. O almoxarife tatuado, testemunha privilegiada da cena, discretamente movimentou os lábios: "Deu ontem, né, seu puto? Foi rola, não foi?"

Atento-me ao fato que nem poderia estar registrando essa história. Através do link do Dicla no Orkut, alguns amigos podem me descobrir na via dupla. Temos que remover aquele link de lá, depois. Depois, mesmo. Conta logo o ocorrido no fila do Pão de Açúcar. Vangloria-se. Promova-se. Sei que é bem isso que deseja. Diga logo que o pangaré foi safo, que mandou bem, que faturou uma estirpe jurídica.

A latinha de coca-cola quente, a fila parada, a revista Veja, meu comentário sobre a capa ao senhor de gravata, a contribuição ao meu argumento, a troca de olhares no estacionamento, a hesitação, a discreta patolada acompanhada de um sorriso, que de tão tímida tornou-se elegante. Aproximei-me, estendi a mão, apresentei-me, recusei a carona, mas não a conversa.


-- Sou uma pessoa contundente. Bato de frente com o poder. Odeio Brasília. Só consigo permanecer aqui por temporadas.
-- Ela é cosmopoLIta...
--Éeh...
-- ... por causa do corpo diplomático, dos políticos... e provinciana ao mesmo tempo.
-- Exato! O provincianismo mata essa cidade.

Um traço da personalidade me convenceu a fazer o que, onde e como ele queria. Advogado experiente me induziu a falar sobre mim, sem receios, preocupações, abertamente. Descobrimos que somos vizinhos (apenas um kilômetro nos separava), que sua esposa conhece meus padrinhos e que não a nada mais gostoso do que comer torta gelada de chocolate com castanha-do-Brasil na Di Lorenza observando o chuvisco apressar o passo da moça que havia descido com seu labrador.

Finnicius Revém [Finnegans Wake]


22, originally uploaded by Márcio Hachmann.

"Poderá ser recomendável, numa primeira leitura, passar pelo texto sem a preocupação de explorar o que ele esconde. Quem se confia a jogos sonoros, ao ludismo de imagens e idéias, pode ler Joyce com prazer."

Fissura(do)

No nosso caso não há sutura que corriga a imprudência.

A Paixão Segundo Martins ( Die Martins-Passion 2003)


IMG_5445, originally uploaded by supercommon.

Perco-me entre acordes, antes de tomar café-da-manhã, saudade de quando ruído (grunido) me vibrava a carne.

SEPULTURA : Official Website

Link puxa link, olha só onde caí, Leitor. Sim. Houve uma época que aquele menino com jeito de CDF ouvia Sepultura escondido de todos. Os moleques do bloco, com suas roupas pretas, suas correntes pesadas, expressões sissudas de tão marretas, fumando maconha (na época nem imaginava que fosse) nunca imaginariam que o germe da transgressão vigorava dentro de mim. Eles odiariam ainda mais se descobrissem que eu escutava a banda preferida deles (nem era minha favorita). Numa rodinha de conversa, na festa de aniversário de uma amiga em comum, quase ponho a perder ao corrigir o nome de uma música. Foi automático, desde então, nunca mais corrigi ninguém em público.

Novae: A astúcia venceu a soberba por Emir Sader

Um post atrás do outro. Só posso estar dodói. Virose? Não. Raiva. Constipação (chupa mais jabuticaba). E quando elas me atacam, me automedico com silêncio (O Fornazze o conhece bem.) Está tudo perfeito. Não discordo. Opino pouco. Sugestões não proponho. O porco transforma-se em cordeiro, a ponto de falarem que a supresa que prometi para essa semana seria a publicação de um livro que supostamente haveria escrito. Para quê?

"O senhor sabia que tenho um artigo publicado na SBPC, fruto de uma pesquisa sobre latossolo vermelho?" Ou seja, publicar seria de menos. Eu quero respeito. Se meu comportamento/moral/ética/ atitude/idéias incomodam alguém, isso seria problema pessoal dele. Até porque, não prejudico ninguém; ao contrário, me desdobro para ajudar, sem fazer qualquer tipo de cobrança depois. Serviço voluntário conta muito para onde vou. Entretanto, minha paciência envia sinais de saturação.

Casar-me (e mudar-me) seria fuga. Prefiro o combate. Permanecer pregado na tela do computador, como de fato fosse dono. Se querem jogar paciência, pinball, conversar no Messenger, ou ver mulher pelada, faça-os em casa, onde, caso a máquina seja contaminada por vírus, worms ou trojans , não prejudiquem outrem.

Uma vida pela vida

Agradou-me muito a proposta do ministro Jacques Wagner: reabrir o debate com os atores diretamente envolvidos na transposição do Rio São Francisco (não tenho opinião formada, até por minha bacia hidrográfica seria outra). Questões complexas encondem nos seus meandros sutilezas que para revelá-los pode-se levar décadas, vide o caso da da Unificação Européia, por exemplo. Portanto, querida prima, vou demorar o quanto for necessário para lhe escrever aquela dedicatória. Por que complicar o que é simples, me perguntaria, você. Porque é a resolução das questões mais difíceis que lhe garantirá uma vaga no curso de Engenharia Aeronáutica. Aceito seus contra-argumentos.

4 de out. de 2005

Cordel do Fogo Encantado

Pronto. Dançar me alterou o humor. Suado e bem-humorado. Por que essa cara amarrada, então? Não pretendo ser modelo para propaganda de dentrifício. "Até poderia." Vamos para o treino. Espero que não me quebrem meus dedos, o que tenho de mais precioso, depois da língua.

3 de out. de 2005

O Cérebro Nosso de Cada Dia

Depois de dois propanolol, consigo compreender a ironia da vida.

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-- Professor, não tem amarelo escuro.
-- Improvisa.
Assim tem sido, graças ao General Cartógrafo. Trilha das capivaras mapeada apenas mentalmente; "... fazendo covardia com os bichinhos." Minutos de espera. Esperaria mais, se lábios indisciplinados pudessem me responder. Cansado de sentir o suor gotejando nas minhas costas, leventei-o com a força da respiração e se vamos falar sobre sexo, leitora (não trago nenhuma novidade) culpe os serviços de CVV congestionados, a banca de jornais fechada, a video-locadora aberta. Dois rapazes conversando enquanto fumam. A vídeo-locadora está aberta! Vazia. Digo aos rapazes para ficarem à vontade, "só estou olhando", nem precisava. Onde estão os pornôs? Na pasta preta, seu burro. Cinco grossas pastas pretas de folhas-de-plático, apenas os encartes. Surfar na web sairia de graça. Sorrisos francos para webcam. (...) Enviar, aceito. Enviar, salvo. Encontros de cartões de crédito, após uma longa e prazerosa conversa. Quinze cervejas... Eu precisa de sexo, não de companhia, já que ninguém nem nada seria capaz de suprir a carência por mussarela derretida às cinco horas da manhã. Observar a cópula dos heterosexual (você ainda se lembra?) poderia ser interessante. "Marciiiiiiiiinho!" Assutei. Lógico. Érika me abraçou sem me dar tempo de reagir. Os rapazes entraram. Acabei sendo persuadido a alugar "Doce Novembro". Quase a arte que imita a vida imita a arte. Para confrontar, aceitamos a sugestão do atendente: Monster. A Érika entrou em êxtase quando lhe contei que não havia assistido a nenhum dos dois. Fujo de Oscar. Deveria fugir dos preconceitos que me revestem, impendindo de telefonar para os amigos que de repente nos surpreendem. Fios loiros dourados trançados me ajudaram a improvisar. Loiras são muito perigosas. Os mapas nem de longe correspondem ao ideal, mas foram traçados. E era apenas isso que importava. Não era o caso de usar maquiagem. (voltar pra revisar)


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1 de out. de 2005

Paradoxo xoxo: Duelo (réplica)

Posso ser quem eu quiser, virtualmente. Meus bíceps exalam polens de girassóis. Aquela tatuagem riscada no dia que provei do veneno sustenido Lá Bemol. Tranqülizantes às três horas na Praça dos Três Poderes, meu coração acelerado preste a me matar. Meu outro coração me chamando de fraco. Duas putas de rodoviária se oferecendo a 1 real. Para me acalmar ,o Bruno começou a cantar Ave Maria de Gounod. Baixo desafinado sacudindo com os trimbres minha carne sapecada. Minhas mucosas cheirando à polvora, dos seus dedos sujos de tantos pecados. Eu pedia mais, mais perto, mais forte, mais fundo. Até que desmaiei.

Blog paralelos

Observo o movimento e não vejo nada, além do minha massa cinzenta estigmatiza. Entrei no Messenger. Onde guardei os convites?

26 de set. de 2005

Chuva pesada. Enfiar o dedo na goela, nada adiantaria. Desde ontem após o sessão interrompida porque o cinema desabou, perseguia o rapaz de paletó azul-marinho, gravata preta e cavanhaque conhecido de algum lugar. O rapaz não se esconderia tanto se não tivesse um passado em comum com a testemunha. Em algum local haviam se cruzado. Disseram boa noite um ao outro, e se afastaram sem se apertar as mãos. Não era possível (não havia necessidade) . O rapaz se despediu da testemunha com um simples aceno de cabeça, suficientemente significativo para estragar os planos do amante. E a testemunha foi taxada de paranóica quando disse já ter visto o rapaz em outro local.
-- Deve ter sido numa sauna.
-- Provavelmente.
-- Como?!

Os amantes olharam-se, amunciando uma discussão. Que de fato aconteceu, de madrugada, em casa, no lençol branco manchado de sêmen, sangue e resquícios de fezes.

-- Porra! Você tem que fazer uma higiene...
-- Por que você não parou quando eu pedi?
-- Rebolando feito uma puta, você queria que eu parasse?
-- Tanto queria, que o lençol está sujo. Vamos combinar o seguinte: quando eu ficar calado por mais de três segundos, você me solta.

Assim ficou combinado. Até que uma das partes resolveu pedir desculpas. E começaram tudo de novo, inclusive uma discussão tola por causa da interpretação do Ed Motta para Bye bye Brasil.
Graves e agudos foram ouvidos da portaria. Pensou-se em chamar a polícia, mas tal idéia foi rejeitada por causa do espírito coorporativista da classe.

24 de set. de 2005

Em carta a seus alunos, Marilena Chauí fala sobre onipotência da mídia


Canus familiaris, originally uploaded by asmundur.


Nem sei quantas vezes interrompi a leitura para tomar fôlego, rir, delirar de prazer, por causa do conteúdo dessa carta tão carinhosa de contundente. Que pena... ler os textos da Marilena Chauí, ou suas sugestões bibliográficas, não me faça ser seu aluno. Mas posso ser partidário. E serei, em breve. Ficcionista engajado. Você antevê a consequência disso, Marcinho? Vamos para o sacrifício, como se já não estivéssemos.

Sempre questionei os livros, o que dirá da midia, "empresas privadas e, portanto, pertencem ao espaço privado dos interesses de mercado". Não que eu seja contra propriedade privada, ao contrário. Apenas, reconheço a importância e o significado de se usar adjetivos (você, fala cheio de autoridade). Como escreveu um poeta: "A borboleta é apenas uma borboleta. A flor é apenas uma flor." E a midia, deste quando adquiri o vício de folhear vários jornais diariamente, abusa de adjetivos, o que dirá do coitado do futuro do pretérito. Não está muito difícil descobrir a quem a mídia serve (ao leitor é que não é.) Basta seguir a lógica das commodities, minha hipótese de trabalho.

CRISP - Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública

Brasil: as armas e as vítimas

Desarme.org: site com artigos sobre produção e circulação de armamento.

23 de set. de 2005

Desafios do Desenvolvimento

Hmmmm... Encontrei assunto para a hora do licor.

Fomos premiados


apricots, originally uploaded by Nayantara.

Venham todos comer damasco na sede da Polícia Federal em São Paulo. Às custas do Tesouro? Não. Cortesia dos carcereiros. Se não compraram, ao menos facilitaram a entrada. Imaginem, queridos leitores, uma fotografia do EX-candidato à presidência da República, Doutor Paulo Maluf, servindo champagne francesa aos agentes e demais autoridades. "É assim que se trata subalternos." Nada mais digno, afinal, a Polícia Federal tem trabalhado muito ("eu te liguei, amor, até ficar cansado de ouvir 'telefone desligado ou fora da área de serviço.' ") só não sabemos em prol de quem.

Minha fonte (não nos parece) se vangloriou no dia que prenderam sua excelência: "Me dê os parabéns. Em nome da coorporação, mereço." "Parabéns, respondi, por ter finalmente conseguido cumprir com sua obrigação. Agora sim, você faz jus ao salário que recebe. E o dinheiro, conseguiram repatriá-lo?" Ele desviou o olhar para ganhar tempo, formular uma resposta excepcional, acenou para o garçon: "Irmão..." Irmão? -- disse-lhe -- Ele se chama Amanai, Amanai San. Não estamos num pé-sujo.
-- Pois não, Doutor.
-- Irmão, traz outra cerveja, por favor. Você quer mais sashimi?
-- De atum, por gentileza.
-- E um de salmão.
-- Você precisa aprender tratar bem as pessoas.
-- E é você que vai me ensinar isso? -- Se você quiser, vou.


Se eu quisesse despertar a fúria do Vesúvio, bastasse quando estivéssemos em público mostrasse intimidade com um desconhecido, mas não o lembrei disso. Preferi morder-lhe o calcanhar:
-- Espero que ex-governador não tenha privilégios na prisão.
-- E não terá, disse-me, interrompendo o gole. Você tem minha palavra. Somos uma instituição séria.

Como queria que o celular dele atendesse. Gozar da autoridade. Ou saber em que hotel ele se hospedou para enviar-lhe uma cesta recheada de damasco secos (hmmmm, chega deu vontade) com uma garrafa de Johnnie Walker Red Label 12 anos. Pena que ele não tenha paladar, nem senso de humor.

Na PF, damasco e champagne para Maluf por Soraya Aggege

22 de set. de 2005

À caminho de uma sauna qualquer


Rust, originally uploaded by Jаnnis.

Mustang Sally

written by Sir Mack Rice

Mustang Sally
Guess you better slow your Mustang down
Mustang
Sally , baby
I guess you better slow your Mustang down
You been a runnin'
all over town
I guess I'll better put your big feet on the ground, oh yes, I
will

All you wanna do is ride around, Sally (ride Sally ride)
All you
wanna do is ride around, Sally (ride Sally ride)
All you wanna do is ride
around, Sally (ride Sally ride)
All you wanna do is ride around, Sally (ride
Sally ride)

One of these early mornings
You gonna be wipin' your
weepin' eyes, yes you will
I bought you a Vintage Mustang
Of nineteen
sixty-five
Now you comin' right signifyin' woman, no
You don't wanna let
me ride

Mustang Sally, baby, yeah
I guess you better slow your Mustang
down, yes you will darling, I hope you will
Going around running' all over
town
I'm gonna put your big fat feet on the ground, oh yes Sally, well, look
at here

All you wanna do is ride around, Sally (ride Sally ride)
All
you wanna do is just ride around, Sally (ride Sally ride)
All you wanna do is
just ride around, Sally (ride Sally ride)
All you wanna do is ride around,
Sally (ride Sally ride)
One of these early mornings
You gonna put your bad
bad feet on the ground, oh yes I will, Sally

Sally (ride Sally
ride)
Sally (ride Sally ride)
(ride Sally ride)
(ride Sally
ride)
(ride Sally ride)
(ride Sally ride)

Estranho quando me deparo, em blogues desconhecidos, com letras de música publicadas. O que deseja dizer o blogueiro? Para o leitor que acompanha freqüentemente o blogue, ou conhece o canditado a cronista, seria fácil (!) responder tal pergunta. Mas para quem aparece vindo do Google resta, no meu caso, a indiferença ou a desconfiança de que a letra não esteja correta. Gostaria de vez em quando, ler ao menos uma justificativa, diferente do "porque eu gosto" subententido. Pode ter sido uma lembrança, que ressoa infinitivamente; pode ser vontade de ter para si aquele melodia, no caso ritmo. Mas não nos cabe agora levantar hipóteses, até porque não apresentamos justificativa. Poderia deixar para o leitor que acompanha o DiCla, responder-nos. E deixo. Ele que contextualize o espaço-tempo na seqüência de posts com o conversa no MSN que apenas os dois envolvidos tem acesso; seguida da conversa no telefone, que além do mim todo o nono andar ouviu. Que discussão sarcástica! (Como foi? Conte-nos!) Que telefonema desaforado! (Reproduza-o!)
Este post serve ao leitor chegado através do Google, com a intenção de apenas salientar-me minha ignorância, em público, em relação ao Blues. (Que me importa isso?) Não se pode conhecer tudo. Concordo. Mas não se pode ignorar que um longínquo amigo considerado seja aficionado por Buddy Guy, cuja canção (depois de escutá-lo na web) esteve incluída num musical de Allan Parker. Sei muito pouco sobre meus amigos virtuais e eles de mim (apesar de acompanhar seus blogues), talvez por isso sejamos amigos somente virtuais. Também aprecio Blues. A ponto de não ter ainda conseguido escrever sobre a ação do Katrina em Nova Orleans. Robert, você poderia ter sugirado outro tema.

21 de set. de 2005

Declaração de amor


Saudades., originally uploaded by Fabio Cherman.


Minha flor, minha flor, minha flor. Minha prímula, meu pelargônio, meu gladíolo, meu botão-de-ouro. Minha peônia. Minha cinerária, minha calêndula, minha boca-de-leão. Minha gérbera. Minha clívia. Meu cimbídio.Flor, flor, flor. Floramarílis. Floranêmona. Florazálea. Clematite minha. Catléia, delfínio, estrelítzia. Minha hortensegerânea. Ah, meu nenúfar. Rododendro e crisântemo e junquilho meus. Meu ciclâmen. Macieira-minha-do-japão. Calceolária minha. Daliabegônia minha. Forsitiaíris, tuliparrosa minhas. Violeta... Amor-mais-que-perfeito. Minha urze. Meu cravo-pessoal-de-defunto (foto). Minha corola sem cor e nome no chão de minha morte.

In: Andrade, Carlos Drummond. Poesia Errante. Record. 1988. 1ª Ed.

Lógico!


IMG_0042, originally uploaded by blurredvisionstudios.



Nos rebordos da chapada a guerrilha se esfumaça. Eis a ironia: ex-guerrilheiros foram finalmente alvejados, razão pela qual permitiram ascensão do grupo. Do mirante observo as emboscadas. Reprise do Fim-do-mundo. Plágio. Deputado canastrão.
Se fôsse nos EEUU, o político suicidaria com um tiro na têmpora, não por ter perdido os privilégios, mas por vergonha. Aqui em Bruzunganga, ele distribui autógrafo ao passear pelas ruas. Se o encontro na rua, escarro-lhe na cara. Não faça isso, Marcinho. O deputado gosta. Ele contratava go-go boys fluminenses para açoitá-lo enquanto não era convocado para apaziguar a gula dos correligionários. Há de se estudar lógica, sem esmorecer.

20 de set. de 2005


Takedown, originally uploaded by MacFlick.

Por alguns segundos, depois de meses de espera, pude vê-lo de longe. Aparentemente, ele está bem.

17 de set. de 2005

À cavalo


Mahood/McKenzie, originally uploaded by Ord.

Permita-me registrar dados biográficos, Dona Sintaxe.

Os leitores desse blog sabem que dificilmente comento com clareza acontecimentos que envolve meu ambiente de trabalho. Até porque não sei escrever como os cânomes exigem. Mas eu estou com fome. Então, escrevo para esquecer, não o estômago doendo, não a cabeça latejando, tampouco o socorro que se esquivou, mas para me esquecer do equívoco que cometi ao desistir do alojamento universitário, porque se eu tivesse aceito... Seria pior.

Essa sinusite que me faz achar que as pessoas fedem à galinheiro em dia de chuva, não é nada diante à frieza das paredes de cimento nu do duplex com vista para o lago (a universidade pública trata muito bem seus alunos). Minha sinusite adquirida (talvez pela quantidade de polens inalados) atrapalha apenas meu apetite. Não tenho hora para refeições. Como, quando meu olfato permite. Portanto, quando o almoço chegou, disse aos funcionários que fossem almoçar. Meu "patrão" sabendo que eles comem feito cachorros famigerados, mandou eu separar meu prato.

Obedeci, pois noutra ocasião os eles, avisados que eu ainda não havia almoçado, lamberam as panelas. Fiz meu prato (arroz, feijão, salada de tomate com cenoura e bife à cavalo), ou melhor, peguei a carne e coloquei na marmita do meu sobrinho (não sei por que mandam comida para criança se ela não almoça.). A marmita ficou em cima do microondas.

Voltei para o balcão, fui atender telefone, cliente, enviar uns faxs e disse para os funcionários irem finalmente almoçar (passava-se das 14 h). Acontece que me esqueci de avisá-los que não havia almoçado. Quatro horas mais tarde, quando meu apetite chegou, fui almoçar. "Onde guardaram a marmita? Comeram-na? Impossível. Havia comida para alimentar os animais do Zoo Hollembach por um mês."

Subi as escadas contando os degraus para não tropeçar em acusações sem provas e da porta da oficina, onde todos estavam preparando os arranjos de flores para o casamento de logo mais (ontem), perguntei para o engarregado pela copa, que se encontrava no fundo da oficina fuçando a unha com um canivete, se ele havia guardado meu prato. "Não! Não sei do seu prato, não!" Foi quando me lembrei do barulho vindo improvisada copa. "Não acredito que ele está lavando as louças." Meia-hora depois passa por mim com o saco de lixo. "Poxa! Hoje ele está disposto."

-- Danilo, você jogou fora a comida que estava em cima do microondas? -- perguntei-lhe.

-- Joguei.

Meu "patrão" permaneceu calado.

-- Inclusive a carne?

-- Foi.

-- Márcio, toma esse dinheiro e faz um lache. -- disse-me meu "patrão".

-- Obrigado! Perdi a vontade de comer. Até a minha dor-de-cabeça passou.

-- Eu ainda perguntei se todo mundo havia almoçado.

-- Guilherme, por favor, faz a entrega do Tribunal e passa no Habib's...

-- Compra quantas esfirras, chefe?

-- Pode trazer umas vinte... traz dois cocão.

-- Se é por minha causa, não precisa. -- gritei da minha mesa.

-- Você não pode ficar sem comer. -- argumentou meu "patrão."

Levantei-me da minha cadeira calmamente e me dirigi ao motorista.

-- Pode deixar que eu faço a entrega e compro o lanche de vocês, Guilherme. --disse-lhe com a mão estendida pedindo a chave do furgão.

-- Você não pode sair, não, Márcio. -- lembrou-me meu "patrão."

-- Eu não vou ter recolher os arranjos na Igreja?

-- Vai.

-- Então, preciso sair para fazer um telefonema.

Ninguém disse nada. Pois ouviram, quando a Emanuelle, pessoalmente, veio me entregar o convite do seu baile de formatura. "Você vai dançar a segunda valsa comigo." Prometi que iria. Peguei a chave, o dinheiro e fui responder uns e-mails.

-- Vai logo, Márcio. Está quase na hora do meninos irem embora.

-- Estou indo.

O motorista passou pela minha mesa e me fitou com um olhar de desespero. Pude imaginar o que ele pensou: "Porra, o veado vai pirraçar. Não acredito que vou perder esse lanche." Conclui o orçamento para o TST e o arquivei nos "rascunhos". Meia-hora depois, estava de volta. Comprei uma esfirra para cada e dos refrigerantes PET mais baratos.

-- Vem comer, Márcio.-- Já lanchei, obrigado. (Não sabe contar?)

Ao chegar em casa, passando pela cozinha, escutei:

-- O Márcio está sem almoço.

-- Eu lanchei.

-- Mas não almoçou.

-- Sabe porque, tia? Seu funcionário jogou a comida fora...

-- O quê?

-- ... com os bifes à cavalo dentro.

-- Vocês estão brincando.

-- Fartura né? Os pais dele devem amarrar cachorro com lingüiça.

-- Não, Márcio. Ele deve ter comido. Você precisa ver o jeito que eles comem.

-- Se ele comeu menos mau -- retruquei . Jogar fora é que não pode.

-- Você vai falar com ele, viu? Eu já queria tê-lo mandado embora, mas vocês o defendem.


Pedi a bênção, desejei boa noite. A decisão não cabia a mim. Subi as escadas tropeçando em dúvidas e medos: "...e se ele quiser nos fazer algum mal... quiser se vingar de mim... será que vou ter que voltar a sair sempre acompanhado? Com os amigos do Bruno! Por fim, acabei dormindo, a ponto de não ouvi ninguém vomitando sangue (?) às três da madrugada. Não sabe beber...

Hoje cedo, lá na loja, ninguém me cumprimentou e na hora do almoço...

-- Márcio, você come minha comida, tá? Mas guarda a marmita na geladeira, senão jogam fora de novo.

-- Jogam, não! O Danilo joga!

-- Eu jogo mesmo. -- respondeu se dirigindo a copa.

Ele perdeu a oportunidade de se desculpar. Paciência, possivelmente, não aliviaria minha fome.


UP DATE: Em decorrância dos fatos, recebi quinze dias de descanso. "Ah! Eu tenho direito à férias?" Minha mochila está pronta. Chapada dos Guimarães será o meu destino daqui três horas. E meus leitores, meu diário... ? Tenho que deixar algo substancioso para eles. Vou descongelar o contra-filé.