30 de abr. de 2004
Tudo poderia ser resumido num lençol esticado diante armamentos ávidos pelo toque das patas dos ratos cinzas. Estou cansado de não-ser. O fulaninho me induzia a compactuar com a negação do travestismo caótico que chovia sobre nossos pés. Meu vampiro queria me sugar, mas a lua não favorecia. "Hem, Marcinho, quando você vai me acompanhar? Tenho uma garrafa de vinho branco nos esperando." E para me irritar, me lembrou: "tortura nunca mais". E repetiu: Tortura nunca mais, Marcinho. Com o ombro me empurrou, para logo em seguida me segurar pelo braço. O homicida agora está a inverter os papéis. Ao me recusar a entregar minhas esperanças ao fulaninho chumbado, ele me acusou. A prova: um filete de lágrima escorrendo-lhe por fora do nariz. Era fingimento. Mas eu gostava de precisar daquilo. Lá estou eu, sendo julgado por mau-tratos. Eu poderia ter apertado a ponta do dedo onde existira uma unha. Infecção. Ele gritaria de dor e assim nossos crimes seriam igualados. E ele me olhando com a cabeça baixa. "Olha o que você fez?" Só faltou me pedir para beijar-lhe o curativo do dedo mínimo. As catilengas cochichavam. Era sobre a gente, eu poderia ler nos olhos delas. "Relaxa, rapaz, dois amigos não podem mais conversar? Agora se fôssemos o que eu gostaria, seria diferente; a essa hora, você estaria em casa dormindo esperando seu amor voltar do serviço." Ri e lhe disse que já era hora de eu ir para o berço. Despedimos-nos com um aperto de mão excessivamente balaçado. Sai sonhando com aquela possibilidade. Só que ele não desconfia, nem o Naz.
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